sexta-feira, 1 de abril de 2011

FUKUSHIMA NÃO É CHERNOBYL


Minha crónica no "Público" de hoje:

A magnitude do recente terramoto no Japão foi superior à do terramoto de Lisboa de 1755. Os dois foram os maiores de sempre nos respectivos países, mas o do Japão entrou para o quarto lugar da lista dos maiores terramotos mundiais, empurrando o de Lisboa para fora do top ten. Além do enorme poder devastador, tiveram em comum o modo como ele se manifestou: primeiro o forte abalo com epicentro no mar, depois um gigantesco tsunami e depois ainda focos de incêndios. A terra, a água e o fogo criaram o caos. Mostrando o enorme progresso ocorrido na prevenção sísmica, o número de mortos é bem menor: estima-se em cerca de 27 000 no Japão, um país densamente povoado, dos quais apenas 11 258 confirmados até à data, e cerca de 50 000 em Portugal. Aprendemos com o terramoto de Lisboa a defender-nos das fúrias da terra. Foi na capital lusa onde, pela primeira vez, se reconstruiu rapidamente uma grande urbe arrasada por forças naturais.

No Japão, está, contudo, a ocorrer uma desgraça outrora inimaginável. Com efeito, foi no início do século passado que o casal Curie descobriu que um só grama de rádio, um elemento presente em minérios de urânio, dava para aquecer numa hora um grama e pouco de água desde o ponto de gelo ao ponto de vapor. Era cem vezes mais calor do que o fornecido por um grama de carvão, com a vantagem de que este se consumia, enquanto o rádio podia continuar a aquecer água. Pois agora, em Fukushima, dada a inusitada amplitude do abalo, quatro reactores, que usavam a descoberta dos Curie, foram danificados. A situação é grave, mais grave do que em Three Mile Island, em 1979, onde a radioactividade não se espalhou, mas, felizmente, não tão grave como em Chernobyl, em 1986, onde se difundiu a grande distância uma nuvem radiante.

Os reactores não resistiram ao tsunami, que inutilizou os sistemas de refrigeração. Mantendo-se o combustível nuclear muito quente e não havendo circulação da água onde ele está imerso, as coisas não podiam correr bem. Tornou-se necessário colocar mais água de fora, o que foi feito e continua a ser feito por várias maneiras. A má notícia é a libertação de isótopos radioactivos. Não é uma fuga em massa e repentina como em Chernobyl, mas sim pequena e continuada. Cálculos aproximados indicam que a fuga será, no máximo, equivalente a dez por cento da de Chernobyl. É mau, mas muito longe da tragédia que alastrou na Europa oriental e na Escandinávia. Há dois mortos em Fukushima (devido ao sismo) contra cerca de 4000 em Chernobyl. O evento é local, sendo a notícia da chegada de uma nuvem aos Açores um disparate completo, já que ninguém detectou aí radioactividade adicional minimamente significativa. Os engenheiros, técnicos e operários japoneses estão, num esforço sobrehumano, a atacar o problema. Tem sido um trabalho de Sísifo: a água entra por cima e uma parte aparece contaminada por baixo. A luta pelo arrefecimento e contra o derrame poderá durar, não se sabe quanto tempo. Planeia-se colocar robôs-bombeiros e aplicar uma resina sintética que fixe as partículas radioactivas. Os japoneses têm mais meios que os soviéticos...

Pierre Curie, ao profetizar que “a humanidade tirará mais bem do que mal das novas descobertas”, acertou. Apesar do mal sofrido na pele pelas populações de Hiroshima e Nagasaki, a utilização pacífica da energia nuclear prevaleceu. Hoje cerca de 15 por cento da electricidade mundial é gerada em centrais nucleares e a cura de doenças graves é feita em todo o lado com a ajuda da física nuclear. Como ninguém quer regressar ao século XVIII, será impossível abdicar a curto e médio prazo do nuclear. As centrais a carvão poluem e provocam mais vítimas do que as nucleares, se levarmos em conta as doenças que dizimam os mineiros. Por sua vez, o petróleo é uma matéria-prima escassa, estando o seu preço em subida galopante. As energias renováveis são, por ora, muito caras e pouco eficientes. De modo que não há outro remédio a não ser reforçar a segurança das centrais nucleares. Nada de novo, pois foi afinal o que se fez com a construção mais segura após o desastre de Lisboa.

10 comentários:

Anónimo disse...

A curto/médio prazo será impossível abdicar do nuclear.
A médio/longo prazo (30/40 anos) é desejável que isso aconteça...

Dervich

Semisovereign People at Large disse...

1º não é possível medir a magnitude do de 1755

2º o epicentro foi muito mais longe da costa e logo existiu dissipação de energia

3º o hipocentro foi mais profundo

atesta-o relatos de abalos sentidos da itália à rússia
emanações vulcânicas em regiões pouco dadas a esses episódios nos últimos 500 anos

sem querer comparar o tamanho de Portugal e a àrea atingida com o Japão

viveriam 200 a 300 mil pessoas em Lisboa
e provavelmente mais de 700mil nas zonas atingidas

as réplicas duraram 2 anos

e há registos disso

o solo tremeu durante meses

aqui (Japs) poucas réplicas de grau 6
de resto terem começado a reconstrução e repavimentação definitiva
e não apenas uma repavimentação provisória

sugere que não esperam réplicas maiores que 6
Vervolgreacties worden verzonden naar

Semisovereign People at Large disse...

Foi na capital lusa onde, pela primeira vez, se reconstruiu uma grande urbe arrasada por forças naturais

esquecer cidades gregas e latinas reconstruidas após sismos
a parte baixa de Alexandria debaixo de água e similares

Unknown disse...

2º o epicentro foi muito mais longe da costa e logo existiu dissipação de energia

Só um pequeno reparo, apesar de isso ser verdade, Lisboa encontra-se numa base sedimentar que dá origem a ondas superficiais de grande amplitude. E 400 km não é um distância significativa para diminuir a energia de uma onda maritima como se pode verificar nos registos históricos que afirmam que o mar entrou vários km's para dentro de terra!

Anónimo disse...

Pedro C. A, Ferreira.
É incompreensível que alguém tão conceituado ande tão mal informado dobre essa matérias. Quando diz 10% da radiação esquece-se de dizer que a quantidade de Iodo 131 foi nos primeiros 3 a 4 dias cerca de 20% de Chernobyl, e que neste momento ronda os 70% de Cs 137 libertado por Chernobyl.
Continua a insistir que não houve detecção daquilo que foi previsto, ou seja esquece-se que no dia 29 foram identificados isotopos provenientes de Fukushima nos Açores na segunda estação de Ponta Delgada e esquece-se que foram identificados isótopos de Fukushima pelo ITN ontem em Lisboa.
Ainda bem que não se detecta acréscimos de radioactividade e é um facto que essas emissões não contribuem para alterar o fundo. Mas porque razão não se informa convenienetemente para não perder credibilidade com afirmações pouco racionais como "10% da radiação", ou "nuvem nos Açores disparate completo". Esses seus artigos pouco informados é que tendem a ser disparatados.

Para a Posteridade e mais Além disse...

ricardo disse...

2º o epicentro foi muito mais longe da costa e logo existiu dissipação de energia

Só um pequeno reparo, apesar de isso ser verdade, Lisboa encontra-se numa base sedimentar que dá origem a ondas superficiais de grande amplitude. E 400 km não é um distância significativa para diminuir a energia de uma onda maritima como se pode verificar nos registos históricos que afirmam que o mar entrou vários km's para dentro de terra!

logo como o próprio refere

o de 1755 pode ter sido muito maior

e como diz Raúl de Miranda

assistente de geografia física em Coimbra

em 1930 no seu estudo sobre o terramoto

de 2 a 6 de novembro sentiram-se tremores

novamente a 8,15,16,18 e a 21 e 24, 25 em Colares

ou seja o sismo activou falhas na região de Lisboa

9 Dezembro e a 11 violento tremor
repetido a 23

e tremor no dia de Natal (25) e seguinte 26

Janeiro a terra treme a 18,20,22
Fevereiro 18 Março 1,7,8,11,20
Abril 15 e 24 e nem o 25 escapou 26, 27 e 30
3,4,5 de -Maio e a 30 em Cintra

3 de Julho grande tremor
11 forte tremor
18 tremor

e a 3 de Agosto de 1756 em Óbidos

e podia continuar

1º o complexo vulcânico de Lisboa e os calcários
afloram em vários pontos

por isso a natureza sedimentar de Lisboa é muito diversa

mas o facto de as réplicas terem persistido tanto tempo

e as falhas activadas pelo sismo abrangerem
grande parte de Portugal

leva a pensar ter sido de maior magnitude
do que o nipónico

era esse o ponto

Para a Posteridade e mais Além disse...

continuando

5 de Agosto 20 e 26 em Lisboa

e 28 em Barcelos

mais uns em setembro outubro e novembro

e de 4 a 9 de Dezembro a terra treme em Cascais Cintra Colares e Cezimbra

isto sucede em 1756 um ano após o sismo de 1 de Novembro

em 1757 a 16 de Janeiro Lisboa

e a 8 de Fevereiro 15 de Fevereiro e 16 de Fev de 1757 sentem-se tremores de terra no país

.....e continua continua



a 20 de Novembro de 1757 em évora

1758 1759 e 1760 têm poucos registos

e em 1761 começam no dia 31 de Março fortes tremores sentidos em Lisboa Beja Porto e Coimbra

e de 1 de Abril a 14 de Junho vários tremores em Lisboa 13 no total

de 61 a 64 só um registo a 26 de Dezembro
dois em 1765
1768
1769
1770
1772 tudo em Lisboa

e de 6 a 22 de Abril de 1772 tremores de terra no Algarve

tal concentração de tremores de terra em 1755-1761 faz pensar que foi um dos maiores em tempos históricos

além dos registos sísmicos em Novembro de 1755 em vários pontos da europa

obviamente são subjectivos

grande tremor forte tremor tremor

fraco tremor em 4 de Dezembro de 1780
mas dão um panorama

a probabilidade de 2 ou mais focos sísmicos serem responsáveis pelos tremores desse lustro
não é de descartar
mas são muitos mesmo
pelo menos os de 1755-57 devem ser devidos
ao sismo principal
e deverão ser considerados réplicas
o filho do Orlando Ribeiro deve ter feito provavelmente trabalhos sobre isto
Tectónica António Ribeiro
Bases de dados das FCUL's devem ter quelque chose penso eu de que...

Pinto de Sá disse...

Chamaram-me hoje a atenção para o seu artigo. Se me permite uma correcção, sobre a comparação entre Chernobyl e Fukushima quanto á radioactividade libertada:
- Em Chernobyl o reactor, esventrado, ficou 10 dias a arder a céu aberto, com as barras de grafite que usava como moderador a reforçarem a combustão, assim produzindo continuamente aerossóis que se depositaram em grande quantidade, depois, em extensas áreas dos países vizinhos.
- Em Fukushima os reactores nunca se esventraram porque estão contidos em envólucros de aço grosso dentro de outros de cimento. As libertações de radioactividade aqui é que foram pontuais, apenas quando as ventilações programadas dos reactores (para lhes aliviar a pressão do vapor) e que correram mal, por terem dado origem á explosão do hidrogénio resultante da oxidação do revestimento de zircónio das varas.
É precisamente porque em Fukushima as libertações de aerossóis foram pontuais e em Chernobyl continuadas (por 10 dias) que os efeitos e as quantidade de material libertadas são completamente diferentes. As de Fukushima são irrisórias e é de lembrar que as populações foram evacuadas num raio de 20 km, não porque haja lá muitos resíduos radioactivos, mas por precaução quanto à possibilidade de vir a haver. O que com enorme probabilidade se não verificará.
Cumprimentos

Tá na laethanta saoire thart-Cruáil an tsaoil disse...

FAlando no...

Pinto de Sá disse...

Chamaram-me hoje a atenção para o seu artigo. Se me permite uma correcção, sobre a comparação entre Chernobyl e Fukushima quanto á radioactividade libertada:
- Em Chernobyl o reactor, esventrado, ficou 10 dias a arder a céu aberto, com as barras de grafite que usava como moderador a reforçarem a combustão, assim produzindo continuamente aerossóis que se depositaram em grande quantidade, depois, em extensas áreas dos países vizinhos.
- Em Fukushima os reactores nunca se esventraram porque estão contidos em envólucros de aço grosso dentro de outros de cimento. As libertações de radioactividade aqui é que foram pontuais, apenas quando as ventilações programadas dos reactores (para lhes aliviar a pressão do vapor) e que correram mal, por terem dado origem á explosão do hidrogénio resultante da oxidação do revestimento de zircónio das varas.
É precisamente porque em Fukushima as libertações de aerossóis foram pontuais e em Chernobyl continuadas (por 10 dias) que os efeitos e as quantidade de material libertadas são completamente diferentes. As de Fukushima são irrisórias

Por enquanto.....é uma boa síntese
ulterioare vor fi trimise la jm serve como .....

Anónimo disse...

Agora Fukushima é Chernobyl!!!

"A escola pública está em apuros"

Por Isaltina Martins e Maria Helena Damião   Cristiana Gaspar, Professora de História no sistema de ensino público e doutoranda em educação,...