domingo, 8 de abril de 2007

GUERRA E PAZ NO MUSEU



Uma das minhas últimas crónicas do "Sol":

Depois de ter reformado a cidade de Lisboa, o Marquês de Pombal reformou a Universidade de Coimbra. Em 1772 mandou erguer o que é o primeiro edifício, a nível mundial, destinado ao ensino da Química, o Laboratório Chymico.

Em 1807, o país era invadido pelos franceses. O Laboratório desempenhou um papel essencial na resistência, ao ser transformado numa fábrica de munições. O lente de Química, Thomé Rodrigues Sobral, dirigiu o fabrico de pólvora, tendo chegado até nós o grande almofariz de pedra usado para o efeito. Foi nessa época que, devido a um incêndio, o arsenal armazenado no edifício esteve prestes a explodir. Valeu o sangue frio do professor, que evitou uma tragédia maior ao tirar água de uma cisterna próxima. Não conseguiu foi evitar o fogo em sua própria casa. Em represália pelo uso militar do Laboratório, os franceses incendiaram mais tarde a casa do chamado “mestre da pólvora”. Desapareceu para sempre não só a sua biblioteca como, pior do que tudo, os seus manuscritos inéditos.

Mas, além de cenário de guerra, o Laboratório foi também por essa altura cenário de paz. Em 1809 o edifício pombalino foi transformado em farmácia a fim de debelar um surto de peste. Para purificar a atmosfera, Rodrigues Sobral fabricou no Laboratório muitos desinfectadores de cloro e ácido muriático oxigenado, que foram distribuídos, a título gratuito, por habitações, hospitais e até ruas de Coimbra.

O edifício do Laboratório Chymico está aberto ao público, como sede do Museu da Ciência da Universidade de Coimbra. A remodelação do arquitecto João Mendes Ribeiro e colaboradores é espectacular. A exposição de abertura, intitulada “Segredos da luz e da matéria”, mostra não só como era a ciência na época em que a química nascia, mas também como é a ciência hoje. Todos os que gostam de história, de ciência ou de arte são benvindos!

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