“É muito bom professor, cientificamente, mas pedagogicamente é um desastre”, ouve-se por vezes dizer. Sempre me pareceu que esta afirmação era uma contradição nos termos. Se pedagogicamente é um desastre, não pode ser bom professor. Talvez seja bom investigador. Mas mesmo disso duvido muito. Quer-me parecer que, se não há uma conexão causal, há pelo menos uma forte correlação entre o domínio seguro da sua área de estudo e a capacidade para explicar os seus aspectos mais sofisticados e complexos aos estudantes, numa linguagem simples e despretensiosa, clara e directa. O que se passa muitas vezes é que a própria insegurança científica do professor se esconde por detrás de um discurso falsamente ultra-especializado, precisamente para impressionar os papalvos. E impressiona mesmo. Por um tempo.
Mas depois os anos passam e quando olhamos para trás o que faz realmente a diferença não é a vontade de exibir imaginadas genialidades de salão mas antes a seriedade e honestidade intelectual, a modéstia e a vontade de ensinar realmente. São esses os grandes professores que mais tarde recordamos com gratidão e saudade. Não são os arrogantes que até acabámos mais tarde por descobrir que, no fundo, nem percebiam muito bem o que andavam a ensinar. Ao fim de alguns anos, continuamos a sentir respeito e gratidão pelos professores que sabiam dizer “não sei”, mas apenas nos dá vontade de rir quando nos lembramos dos pavões que se arvoravam em deuses com cérebros de barro.
Quando se fala na importância do domínio científico das matérias, como condição necessária do ensino de qualidade, vem sempre alguém insistir que a pedagogia é muito importante. Bom, se uma pessoa estiver a dizer que uma condição necessária para se estar em Braga é estar em Portugal, que relevância tem responder-se que, todavia, isso não é uma condição suficiente? Claro que não é. Mas nem por isso deixa de ser necessária.
Uma condição necessária para um ensino de qualidade é o domínio das matérias que o professor tem de leccionar. Outra condição necessária é a sensibilidade e formação pedagógica. Nenhuma das duas, nem as duas conjuntamente, são condições suficientes — porque o ensino é muito mais do que isso. Infelizmente, há uma tendência para se pensar que é a falta de formação pedagógica que explica a miséria do nosso ensino. Contudo, isto é falso. Haverá sem dúvida professores com insuficiente formação ou sensibilidade pedagógica. Mas o problema realmente grave que temos é a falta de domínio das matérias centrais que os professores têm de leccionar.
Dêem-me professores com um domínio sólido das áreas que leccionam, o que implica um conhecimento sólido da bibliografia relevante, e eu dou-vos uma boa escola.
sábado, 7 de abril de 2007
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29 comentários:
sem tirar nem pôr! os piores professores que tive foram aqueles que se refugiavam numa terminologia impenetrável e quando lhes perguntávamos alguma coisa ou respondiam com o mesmo palavreado ou diziam que era muito difícil de explicar a ignorantes como nós.
esses deixei de me dar ao trabalho de assistir às aulas teóricas.
os bons professores eram aqueles que conseguiam tornar simples as coisas mais complicadas. todos os bons professores, aqueles que dominavam bem as matérias que leccionavam e despertavam o interesse no que ensinavam, não tinham problemas de pedagogia.
os únicos com problemas de pedagogia eram os maus professores, simplesmente porque não percebiam eles próprios o que ensinavam.
os maus professores por norma eram também os pavões exibicionistas que passavam a vida a dizer como eram bons e como nós devíamos estar agradecidos por eles condescenderem em nos ensinar.
e sabiam tudo! e nós também devíamos saber se por acaso lhes perguntávamos alguma coisa que estava na cara nem faziam pálida ideia o que era.
os bons professores diziam que não sabiam ou nunca tinham pensado nisso, mas que iam procurar.
Eu tive um óptimo professor que na primeira aula chegou à sala com um molho de livros, todos com pelo menos com 3 a 4 centímetros de espessura, e disse "Se vocês querem aprender alguma coisa disto têm de se habituar a conviver com um molho deste tamanho todos os anos". Nunca mais fui ás aulas dele mas foi a melhor lição que aprendi.
Caro Desidério Murcho
Excelente... permita-me que o aplauda!
A propósito de livros, e desta discussão, partilho convosco um 'sketch' simples e fabuloso.
Quando se ensina a dizer que é assim e não se explica porquê, nem com o manual se vai lá...
http://www.youtube.com/watch?v=xFAWR6hzZek
ps. parabéns pelo vosso blog
Concordo com a análise feita pelo Desidério, no entanto há que convir o seguinte:
Os maus professores também são importantes para a formação de um aluno. Importantes porque são aqueles que entregam o aluno a si próprio, obrigando-o a aprender sozinho. E aprender a aprender sozinho é muito importante, especialmente quando se quer seguir o ramo da investigação.
Ao longo da vida não podemos contar com alguém do lado que nos explique pacientemente e professoralmente, temos de aprender por nós e, em grande medida, sozinhos.
Agora, claro que dói imenso ver um mau professor à frente, dói porque já sabemos o que nos espera na cadeira, esforço e mais esforço, tentativa e erro para perceber, cálculos e mais cálculos inúteis por se concluírem errados, desmotivação, no dia seguinte volta-se a tentar, com a cabeça arejada, até que percebemos o assunto, ou até que ficamos a pensar que percebemos o assunto.
E depois é natural que maus professores reproduzam novos maus professores, que têm sensações vagas que percebem por terem feito o esforço da suposta aprendizagem sozinhos.
Um aluno que aprende sozinho, está a trabalhar em dois sentidos, no sentido da cognição interpretativa (explico: tentar perceber o assunto em termos intuitivos, perceber a linguagem, perceber a ideia), e no sentido que lhe dá a nota (resolver correctamente os exercícios).
Ora, não poucas vezes, especialmente quando os exercícios de exame são sobre-simplificados, onde a utilidade da temática pressuporia exercícios tão complicados que demorariam 4 horas cada, neste caso, o aluno sabe resolver o caso simples, mas não tem um método robusto (que viria por uma aprendizagem sólida) para atacar os problemas sérios.
Conclusão: há bons professores que resultam em mal, e maus professores que resultam em bem. Um aluno que caia de pára-quedas no curso de física do IST, que está habituado a ter bons professores, dificilmente vai conseguir aguentar a pressão dos maus professores que estão por toda a parte, especialmente no departamento de física. O de matemática, por outro lado, tem excelentes professores.
Convém no entanto ressalvar que muita da chamada "bibliografia relevante" é por vezes contraditória ou redundante. Ainda este ano cheguei a deparar com um livro lançado o ano passado por um autor de renome que não faz mais do que reproduzir a sua interpretação de conhecimento, precisamente na àrea da cognição, já muito mais desenvolvida por outros autores porque é actualmente uma 'área de ponta'. Aqui o prestígio académico também pode desempenhar um papel enganador.
Será que só os maus professores obrigam o estudante a trabalhar sozinho? Não me parece. Claro, se o professor é mau, o estudante não tem mesmo outra maneira de aprender a não ser sozinho.
Mas o bom professor não é o professor que explica tudo muito direitinho para o estudante poder ter boas notas sem esforço. O bom professor é aquele em que as dificuldades de aprendizagem resultam EXCLUSIVAMENTE das dificuldades das matérias, e não da linguagem obtusa usada pelo professor ou da sua frágil compreensão das matérias.
O bom professor dá aos estudantes os instrumentos e bibliografias que permitem ao estudante ir longe por si próprio.
Outro aspecto dos maus professores é que fogem das matérias realmente centrais e relevantes das suas disciplinas, detendo-se em pormenores irrelevantes (e não nos pormenores relevantes) e distorcendo a disciplina a tal ponto que nada tem a ver com a disciplina tal como ela é representada na melhor bibliografia introdutória sobre o tema. Depois, dá-se o aparente paradoxo de um estudante com excelentes classificações, mas que na realidade pouco ou nada sabe da disciplina tal como ela realmente é; o que o estudante sabe é fazer testes feitos por aquele professor, mas não domina os conteúdos e competências fundamentais da disciplina em causa. Esta é uma das razões pela qual muita gente pensa em Portugal que o conhecimento prático, do "mundo real", é mais importante do que o conhecimento escolar. Isto é um disparate, mas é compreensível se por "conhecimento escolar" se tem em mente os artificialismos escolares leccionados pelos professores que andam a leste do paraíso.
"Dêem-me professores com um domínio sólido das áreas que leccionam, o que implica um conhecimento sólido da bibliografia relevante, e eu dou-vos uma boa escola."
Exactamente. Se houvesse mais esta preocupação seria fácil perceber que o "eduquês" não passa de um moínho de vento contra o qual muitos têm andado a gastar demasiado tempo.
Muitos professores são vítimas de certos "cantos da sereia" pedagógicos por falta de segurança científica. E a solução não é clamar contra a sereia: é dar uma formação científica tão sólida que não deixe margem às "sereias" para darem palpites sobre matérias científicas.
anónimo das 11:38
a minha experiência no Técnico foi diferente: tive excelentes professores de física (o Brogueira, p.e.) e péssimos de matemática. tão maus que aprendi depressa a ir às aulas dos bons profs de matemática. o melhor de todos o Buescu, claro.
nem todos os alunos querem seguir uma carreira de investigação. os que querem têm aulas de mestrado e doutoramento para aprenderem a desenrascar sózinhos um assunto novo.
um aluno de 1º ano apanhar com uma nulidade pela frente é mau. várias nulidades é péssimo. no meu 1º semestre só apanhámos um bom professor, professora, que por acaso também escreve neste blog...
"Outro aspecto dos maus professores é que fogem das matérias realmente centrais e relevantes das suas disciplinas, detendo-se em pormenores irrelevantes (e não nos pormenores relevantes) e distorcendo a disciplina a tal ponto que nada tem a ver com a disciplina tal como ela é representada na melhor bibliografia introdutória sobre o tema."
tão verdade que até dói!
A noção de "mau professor" que é dada está cada vez mais longe de obter consenso e de ser realizável em algo concreto.
Por exemplo:
"Outro aspecto dos maus professores é que fogem das matérias realmente centrais e relevantes das suas disciplinas, detendo-se em pormenores irrelevantes (e não nos pormenores relevantes) e distorcendo a disciplina a tal ponto que nada tem a ver com a disciplina tal como ela é representada na melhor bibliografia introdutória sobre o tema."
Não sei o que é "matéria realmente relevante", mas diria que são todas. Esse tipo de análise de relevância, traz-me à memória professores pouco rigorosos, que estão tão preocupados com os aspectos centrais da temática, que o formalismo apresentado para chegar lá é nulo.
E sem formalismo, sem consistência, parece que temos cadeiras de merceeiro onde se empilham conhecimentos, sem entrosamento, e ficamos com a sensação desgostosa que a física, por exemplo, fala diferentes línguas, e que só se tocam por aproximações introduzidas de forma ad-hoc. Isto é uma espécie de ciência por conveniência.
Um professor que "perca" muitas aulas a explicar uma nuance teórica, mas a explicá-la em profundidade e com olhos de ver, está a dar muitas coisas a um aluno. A nuance teórica é central, a meu ver essencial, porque dá-nos feeling para tratar problemas mais complexos, dá-nos acima de tudo robustez formal, e é disso que precisamos.
Menos matéria com mais rigor, é melhor que mais matéria com menos rigor.
Falo por exemplo, de um aluno que sabe Lagrangeanas. Ok, o aluno sabe lagrangeanas, normalmente introduzidas a propósito de problemas mecânicos.
Depois colocam um problema simples ao aluno, algo que tenha a ver com a minimização de uma determinada quantidade ao longo de um caminho. O aluno não sabe resolver o problema, no entanto parece que sabe lagrangeanas!
A questão é: sabe lagrangeanas ou não sabe lagrangeanas? Eu diria que não sabe lagrangeanas.
joão pedro:
os primeiros anos não te ensinam nada de física. há cadeiras que não estão lá a fazer nada, são uma perca de tempo, exemplo: "introdução à física" ; "mecânica e ondas" ; "química".
Esses anos servem para obter bagagem matemática para depois teres a física propriamente dita.
Com o tempo ganhas pedalada, e rapidamente concluis que há bons professores que são tão bons que até podes nem ir às aulas deles, porque se cingem bem à matéria que normalmente está escarrapachada num livro qualquer, tão bem explicadinha como eles a explicam.
o mau professor surpreende-te sempre, convém ir às aulas desse. Se pegares no livro, vês que é imenso e está cheio de coisas que demoram muito tempo a perceber. Se fores às aulas dele, rapidamente ficas a perceber quais os tópicos, do vasto livro, que o professor privilegia e que tipo de tratamento (e de rigor) ele gosta.
mas eu não sou de física (livra!). entrei em LEEC e saí em informática.
Gostei, como sempre, de ler o Desidério. Queria postar sobre o
assunto dos professores, mas qualquer problema no software do blogger mo impede.
Assim, vou inovar postando aqui
como comentário ao Desidério (ao fim e ao cabo a motivação foi dele)
um meu texto
OS MEUS PROFESSORES
Somos o que somos, sabemos o que sabemos, devido em primeiro lugar aos nossos pais, que nos transmitem os seus genes e a sua educação. Mas somos o que somos, sabemos o que sabemos, devido em segundo lugar aos nossos professores, que nos transmitem a cultura que a humanidade acumulou e a educação ligada a essa cultura.
Por isso, nunca estamos nem estaremos demasiado gratos aos nossos pais nem aos nossos professores. Eles acompanham-nos pela vida fora, mesmo quando estamos sozinhos. O nome dos pais põe-se sempre no "curriculum vitae", porque de certa forma fazem parte da nossa identidade. O nome dos professores devia também fazer parte de todos os "currricula", porque a nossa formação se deve em grande parte a eles. Na minha teses de doutoramento na Alemanha coloquei, numa página final, o nome de todos os professores da licenciatura e da pós-graduação (fui um pouco injusto para os professores da escola primária e do liceu, que foram professores antes dos primeiros e que nalguns casos foram até bem mais importantes, mas segui os hábitos locais).
Falar do papel dos pais seria redundante, toda a gente os tem e toda a gente sabe o que eles significam para eles. Mas falar dos professores talvez não seja de todo redundante: há infelizmente no mundo quem não tenha os professores que precise; e há, também infelizmente, quem os tenha e não reconheça suficientemente o valor que eles tiveram, têm ou podem vir a ter nas suas vidas. As crianças e jovens (todos nós, afinal, porque já o fomos) têm alguma dificuldade em fazer imediata justiça aos professores com quem convivem diariamente. Mas à medida que crescem (que crescemos), vão descobrindo a dimensão da herança que lhes devem e construindo dentro de si, ainda que escondida, uma gratidão profunda.
É difícil definir em geral e abstracto o que são bons professores (os que ensinam muito? os que ensinam bem? os que ensinam muito e bem?). Mas para mim são os professores que sabem ou que, não sabendo, querem e fazem por saber. E são, além disso, os professores
que gostam de o ser e que gostam dos seus alunos. É fácil a quem teve bons professores colocá-los num lugar especial. Temos, de facto, um lugar especial dentro de nós onde guardamos com saudade alguns dos nossos professores. Para as pessoas que aí colocamos a nossa gratidão é maior. A escolha dos nossos melhores professores não é apenas racional. Escolhemos afectivamente alguns dos nossos mestres, porque sentimos que eles, além de educação e cultura, nos transmitiram um afecto enorme. Gostamos deles por várias razões, mas também porque eles gostaram de nós. E como o gostar é uma característica humana, muito humana, os melhores professores são imensa, intensamente humanos.
Carlos Fiolhais
Olá,
O eduquês também produz, na sua fábrica da ignorância silenciosa, professores modelo eduquês. São professores que passaram demasiado tempo a decorar apontamentos do "marrão" da turma, a copiar dos apontamentos, e a "chorar" suor e lágrimas na altura dos exames, somente porque passaram cinco ou seis semanas, pasme-se, a "marrar" para exames. O eduquês também já produziu professores para os quais o estudo mais não significou do que o martírio de "despejar" copiosamente os conhecimentos que nem sequer compreende muito bem. Também por essa razão, ouvimos, com frequência, recém licenciados em todas as àreas a afirmar: "a teoria nada tem a ver com a prática", como se andassem uns anitos a "marrar" teorias que só servem para ter um canudito dentro duma lata (ainda por cima feia), mas depois não são capazes de estabelecer a relação mais elementar: a prática e reflexão teórica sobre ela, a vida e a reflexão. Tomam-nas como realidades distintas e, pura e simplesmente, não acreditam no poder da reflexão, dos argumentos, das teorias, do conhecimento e da ciência. Falamem interdisciplinaridade sem saber qual o compromisso de tal esforço no desenvolvimento de um projecto. E, tal como um dia, "marraram" teorias para alcançar um canudo, também agora dão aulas para alcançar o estilo de vida burguês com um ordenadozeco ao fim do mês. Esta venda da dignidade em troca de uma torradeira topo de gama advém dessa formação eduquesiana de anos a fio sem pensar, sem dedicação e com muito stresse à mistura para meter na cabeça muitas teorias "empinadas" com cafés e comprimidos à mistura na época de exames.Mais tarde é só fazer o trabalhinho e cumprir com todas as formalidades legais escrevendo actas enormes nas quais mais não se faz que a desculpa da ignorância.Mas é no meio da lama que os mais interessados e responsáveis começam a criar alguma resistência. E é desses que mais precisamos, os mais inquietos, curiosos, estudiosos. Enquanto esses existirem teremos sempre um foco de luz que são os bons professores. Claro está que,nestas condições, um professor que ame o seu saber, está sempre em vantagem, uma vez que vive o ensino e não sobrevive dele.
Penso, acima de tudo, que é muito importante criar mecanismo de mobilização dos professores em grupos de trabalho. O que mais preciso na minha experiência de professor é de apoio. E, neste sentido, o Desidério apresenta as soluções que vão directamente às minhas necessidades: preciso de bons livros, boas introduções. Preciso de boa formação, que me obrigue a trabalhar e aprender. Preciso dos livros do Carlos Fiolhais para ficar com umas noções básicas, mas sólidas, na física, uma vez que não é a minha àrea de formação. Preciso de livros com títulos: "Introdução à Biologia" e não, " a relação epistémico-fenoménica entre a unha partida de cristo e a possibilidade do dasein na ressureição - implicações subentendidas com o milagre de fátima(das unheimlich???)", enfim, preciso de gente que trabalhe a sério e com humildade e não de gente que me olhe de lado e me diga: "muito respeito que eu sou formado no Texas em Astroculinária de saturno", ao que terei de me calar. E também, já agora, preciso de um Ministério que valorize este empenho e trabalho e que se deixe de tretas saloias e plitiquices de entreter.
Claro que também não posso estar aqui a criticar os senhores professores, senão terei de levar com as reacções habituais. Mas quero deixar claro um aspecto: o que aqui questiono é a minha formação como aluno do ensino público português, do primário ao superior e o seu sentido unidireccional: o eduquês. De resto, não duvido que exista muita boa gente no ensino. E é a esses que eu devo a minha gratidão.
Rolando Almeida
Este texto faz-me lembrar Feynman!!!
Nenhum Professor devia poder dar aulas sem ter um curso de Formação de Formadores, ou seja todos deviam ter o CAP (Certificado de Aptidão Prifssional). É incrível o que 100 horas de formação podem fazer.
Ainda sobre esta discussão gostaria de comentar que as características que fazem um bom professor dependem muito da àrea que ensina. Um excelente professor em gestão por exemplo pode dar um péssimo professor em matemática apesar de a dominar perfeitamente e vice versa. Um óptimo professor em sociologia pode dar um péssimo professor em filosofia e vice versa, etc... cada área científica requer características muito específicas que nada têm a ver, no caso do ensino superior, com o domínio das matérias.
Falndopor experiênci própria, acho que isso não é verdade! Conheci um exclente professor que era um mau investigador, nuca publicou nada, e também conheço o inverso, excelentes investigadores que são péssimos professores. Não adianta virem cá com teorias, porque não há teorias para estas coisas!
luis
Luís,
Pode não existir leis, mas existem critérios minímos. Um professor de inglês que não conheça a gramática de inglês, será, com certeza, um mau professor. Só o eduquês nos permite pensar que um professor de inglês sem saber inglês, pode ser um bom professor de inglês. Esta é uma confusão que é bom desfazer.
Rolando Almeida
Obrigado pela sua intervenção, professor Fiolhais.
Concordo profundamente com o que diz o Desidério e o Carlos Fiolhais. Só acrescento alguns pormenores. Tive um colega, tido por bom professor por alguns, que se esforçava imenso por explicar todos os pormenores, resolver imensos exercícios que exploravam todos os truques e malabarismos, escrevia apontamentos aos quilos com tudo isso muito bem explicado. Alguns alunos dele vieram ter comigo em desespero porque tinham uma resma enorme de papel para estudar, exasperados porque se enjoavam nas aulas e não conseguiam preparar-se para os testes e exames. Sentiam-se perdidos sem perceber o que era essencial saber. Quando eu lhes expliquei em poucas horas o que havia de importante, relevante e interessante naquela resma de papel, foi um alívio enorme. Conseguiram entender o âmago da disciplina, aprender as regras básicas que lhes permitiam pensar e resolver problemas novos sem ter de se perder em inúmeros truques e exercícios particulares. Ás vezes as árvores escondem a floresta. Este professor não era exactamente mau, esforçava-se imenso, mas não conseguia fazer passar a mensagem.
Com esta técnica consegui salvar alguns alunos de desistirem do curso. Acho que um professor que goste e entenda o que ensina consegue passar ao aluno o que é realmente interessante num determinado assunto. E se o aluno perceber isso, naturalmente adere e vai tentar saber o resto dos mecanismos para lidar com esse assunto.
Outro caso muito comum nalguns professores com fraca bagagem científica é o de se tornarem extranhamente exigentes. Soube de casos em universidades privadas em que alguns professores cometem erros graves por ignorância nalguns assuntos, não abordam matérias importantes nas quais não se sentem à vontade, mas em contrapartida são capazes de reprovar alunos por pormenores sem importância nenhuma.
Magnífico.
Concordo inteiramente.
Com efeito, tenho para mim que dominando-se bem, ou pelos menos razoavelmente uma qualquer matéria, com todas as suas implicações mais relevantes e com um mínimo de sentido crítico e a pedagogia necessária (leia-se capacidade de comunicar/explicitar tal matéria) resultará naturalmente.....
Tudo o resto (vg., o eduquês) são mitos.....
Pedro Madeira Froufe
A facilidade em comunicar uma ideia, como o faz brilhantemente o autor do post, também conta.
Mas concordo que quanto mais profundamente se conhece uma matéria, mais fácil se torna comunicá-la.
Mesmo disléxico.
Antes não tivesse saído de Física (FCUL) por causa da ultraortodoxia vigente, ou dir-se-ia, antes fossem todos Pinto Peixotos e menos, ou raros, Corte-Reais. Excelente post.
Como isso me lembra as minhas aulas de matemática. tivesse eu tido bons professores, com um bom domínio da lingua, e não teria tido metade dos problemas que tive e a dor de nunca me ter dedicado a uma das minhas paixoes - a Fisica em particular, as ciências em geral
Isso do discurso falsamente ultra-especializado aplica-se também, muito, aos médicos.
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