A propósito do Dia Mundial da Filosofia que se comemorou na passada semana, uma nota da Sara Raposo, professora de Filosofia na Escola Secundária Pinheiro e Rosa, coautora do blogue Dúvida Metódica, que vale a pena visitar.
A Unesco assinalou, no passado dia 15 de Novembro, o Dia Mundial da Filosofia. É oportuno, nesta data simbólica, pensar no impacto que tiveram algumas decisões políticas no ensino desta disciplina nas escolas secundárias portuguesas.
Na legislação e no programa de Filosofia (e até de outras disciplinas), é repetida - como “elevada” meta a alcançar - a necessidade dos professores desenvolverem “a atitude crítica e a capacidade argumentativa” dos alunos.
Fica bem escrever essas palavras em documentos oficiais, mas serão elas mais do que formalidades necessárias? Serão tais competências realmente exercitadas nas aulas e alcançadas pelos alunos?
A introdução do exame nacional de Filosofia foi, a meu ver, uma medida muito positiva, apesar das críticas que possam incidir na formulação de algumas das questões nos exames entretanto já feitos. Contudo, os resultados obtidos pelos alunos sugerem que a resposta à pergunta anterior é “não”. Embora o exame fosse opcional, a média nacional negativa nas duas fases permite concluir que a maioria dos alunos avaliados - tal como acontece, aliás, noutras disciplinas - não adquiriu nas aulas conhecimentos e competências filosóficas básicas.
Este facto deveria levar os responsáveis do ministério a alterar o programa de Filosofia, tornando-o menos extenso e reformulando alguns dos seus conteúdos. Julgo que essa medida, associada ao exame nacional (que na minha opinião deveria ser obrigatório), teria um impacto significativo no ensino da disciplina e na formação das gerações futuras.
Por outro lado, serão dadas condições de trabalho aos professores do secundário para desenvolverem, junto dos alunos, a capacidade de refletir e argumentar? Não creio que isso aconteça na maioria dos casos. Deixo o meu exemplo: no presente ano letivo sou professora de cinco turmas, de três níveis e sou ainda diretora de turma. Sei de colegas que estão em situações piores.
Melhorar a qualidade do ensino da Filosofia através de medidas simples e eficazes, eis a minha sugestão para comemorar todos os dias o Dia da Filosofia.
Afinal, em Portugal, é ou não importante (para além de se encontrar escrito nos documentos oficiais dos diferentes governos) formar cidadãos capazes de pensar e de discutir ideias?
Sara Raposo
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1 comentário:
Eu creio que os documentos oficiais, pelo menos os que têm estado em vigor, de diferentes governos, precisando embora de conter umas "formalidades necessárias" contêm, fundamentalmente aquela ganga amalgamada cujo resultado é, nem mais nem menos, impedir que se formem cidadãos capazes de pensar e de discutir ideias. E isto para mim não é só nabice de quem manda...
Por um lado, é absolutamente necessário que as crianças aprendam a ler, a escrever e a saber fazer operações matemáticas elementares, desde pequeninas.
Depois é preciso que as aulas decorram obrigatoriamente em ambiente de serenidade e disciplina; e o que se passa no ensino básico (5º a 9º ano de escolaridade) é indescritível, e está a continuar-se para o secundário. Muitos professores reconhecem, em privado, que simplesmente não dão aulas...
Sobre um professor de Matemática cheio de experiência e de competência, que este ano recebeu um 8º ano, disse-me esta manhã um amigo comum que um dos seus alunos lhe apontou o dedo no corredor: "tenho-o, debaixo de olho". A ele que tem tal estatura e agilidade que, com um só estaladão, podia fazer o fedelho em picadinho...
Um outro professor dedicado, de C.F.Química, está de atestado por um mês, deprimido...
E... não quero acrescentar o "rosário". Para quê incomodar as "boas" consciências?
Esta é a realidade, que não deve escapar à inteligência e sensibilidade de Nuno Crato.
Por outro lado, um outro amigo, professor de longa data, desafiava-me hoje a escrevermos um texto conjunto, a defender que não há o direito de 2 ou 3 alunos perturbarem o trabalho de 25 ou 26, mesmo daqueles que querem e podiam aprender muito mais do que o que os programas recomendam... Daí o cuidado que devia haver com a dimensão das turmas...
Ajudar a todos sem discriminação, fazer com que todos progridam ao ritmo que puderem, não devia impedir o progresso de quem pode avançar a um ritmo muito mais elevado. E esse impedimento é... indecente, além de estúpido.
Que ganha o país com uma escola assim?
Ora, estas realidades há-de conhecê-las muito bem Sara Raposo. Não se me oferecem dúvidas sobre isso.
Por isso concordo inteiramente com as interrogações que (serenamente) coloca.
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