A falta de ensino (entendendo-se, naturalmente, no seu sentido mais edificante) é um perigo para a democracia. A aposta no ensino dumas áreas disciplinares, sejam elas quais forem, e o descuido no ensino doutras áreas disciplinares, sejam elas quais forem, é um perigo para a democracia.
Isto porque o conjunto das áreas científicas, humanísticas, artísticas, desportivas... concorrerá para ampliar o discernimento, para ponderar diversas possibilidades de análise, para seleccionar caminhos...
Este tem sido o caminho mais recente da educação ocidental? Não, propriamente, com prejuízo para as humanísticas, sobretudo para a literatura, a filosofia as clássicas (cultura e línguas).
Sobre a secundarização das clássicas no currículo escolar vale a pena ler uma entrevista deMartha C. Nussbaum, filósofa norte americana que ganhou Premio Príncipe de Asturias de Ciencias Sociales, que se pode ler aqui. Num certo passo pode diz o seguinte;
-¿Se imagina un mundo sin enseñanzas humanísticas ni clásicas?
-Sería una amenaza muy grande para la democracia. Si la gente no aprende a pensar de forma riguosa y analítica, si no sabe construir argumentos filosoficos, serán como los esclavos de los tiempos de Sócrates. Son necesarias enseñanzas como los Diálogos de Platón, porque es necesaria la imaginación y la curiosidad para que las personas amplíen su mente y piensen en algo más que su familia y su círculo. Votarán sin la menor preparación, no entenderán a la gente de otras razas, religiones y clases sociales. Pero no hablo solo del latín, del griego, de la cultura clásica, es necesaria toda la literatura, el arte, la filosofía, la pintura
2 comentários:
Um perigo sim. Um grande perigo.
Por cá também há quem faça análises profundas sobre o mesmo tema.
Respigo do Jornal de Letras nº 1097, de 17 a 30 de outubro de 2012, de uma entrevista a Mário de Carvalho:
..."não é inocente o que se tem feito. Quando amputamos durante anos, no Secundário, o conhecimento da História e dos nossos textos clássicos, estamos a retirar capacidade de compreensão da língua e até a empobrecer o contexto. Porque os pensamentos e os conceitos fazem-se com palavras. Quanto menor for o domínio vocabular, menos acesso temos à realidade e ao pensamento. E há quem esteja interessado nisso. Nos primeiros tempos de Salazar, os professores, na sua maioria republicanos, foram substituídos por regentes escolares, que ensinavam a ler, escrever e contar e, na verdade, pensava-se que, quando muito, era isso que os portugueses deviam saber. O que se passa agora? O consumidor precisa de ler Camões e «Os Lusíadas», a mitologia? Não. Basta que conheça o vocabulário elementar que lhe permita compreender um anúncio. A pobreza, a miséria vocabular, em que estão encurralados e enclausurados os portugueses é da mesma natureza do ler, escrever e contar que Salazar entendia que bastava para o povo".[página 10]
Por isso o chamado "eduquês" é um crime.
Quem diz que ele não existe?
Num mundo (o nosso), num continente (a Europa) e num país (Portugal) com um historial tão grande de manipulação ideológica do ensino da História e da literatura, temos efectivamente que ficar preocupados com a modo como se menospreza as Humanidades em tempo de crise financeira.
Sustenta-se que o apoio financeiro para a investigação deve centrar-se em áreas cruciais para o desenvolvimento económico do país, apontando-se genericamente a criação de tecnologia ligada ao mundo empresarial. Frequentemente, surge a par da investigação em medicina. Não discuto esta questão, parece evidente que são áreas que têm de ser apoiadas. No entanto, remete-se para o estudo da História, Literatura, Antropologia, entre outras disciplinas, como se fossem actividades de lazer, hobbies, omitindo-se o seu potencial papel no fomento de uma melhor cidadania. Uma cidadania bem informada e mais consciente. Não é este também um caminho essencial para o futuro do nosso país?
João Pedro Tereso
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