Meu artigo no Público de hoje:
Venho sugerir alguns livros para oferecer no
Natal. Não, não são as “bestas céleres”
(a expressão é de Alexandre O’Neill) da autoria de E. L. James, J. K. Rowling
ou M. R. Pinto, que têm inevitavelmente mais leitores do que merecem, mas obras
que merecem mais atenção do que aquela que provavelmente vão ter. A ordem é
alfabética pelo apelido do prmeiro autor:
- Cristina Carvalho. Rómulo de Carvalho / António Gedeão. Príncipe Perfeito (Estampa). Já havia uma auto-biografia (Memórias, Fundação Gulbenkian, 2010),
mas a filha do professor de ciências e poeta, também ela escritora, escreveu
uma biografia de uma personagem ímpar da cultura portuguesa do século XX. Um
retrato tirado de perto de um autor cuja memória é inspiradora.
- Umberto Eco, Confissões
de um Jovem Escritor (Livros Horizonte). Confesso-me devorador dos livros de Umberto Eco, sendo
este apenas mais um a juntar à longa colecção que possuo do professor e
ensaísta da Universidade de Bolonha. Eco fala aqui da oficina do escritor, do
entrelaçamento entre ficção e não ficção que ele concretiza nas suas obras de
um modo peculiar. O seu último romance ainda é O Cemitério de Praga (Gradiva),
saído no ano passado.
- Miguel Figueira de Faria (coordenação). Do Terreiro do Paço. História de um espaço
urbano (Imprensa Nacional - Casa da Moeda e Universidade Autónoma). Grande
livro, belamente ilustrado, vindo a lume de um prelo prestigiado, que documenta
as transformação da “sala de visita” da nação (recentemente pólo de atracção renovado
com a abertura ao público da ala nascente). No Paço Real, destruído pelo
terramoto de 1755, teve lugar no reinado de D. João V tanto a primeira ascensão
em balão como a primeira observação realizado num observatório astronómico
português. Houve também no Terreiro do Paço, convém lembrar, autos-de-fé, que
aquele rei tanto apreciava.
- Stephen Greenblatt, A Grande Mudança. Origem e história do pensamento moderno (Clube do
Autor). Um professor de Harvard, especialista em Shakespeare e no seu tempo,
conta-nos neste livro premiado com o Pulitzer a descoberta numa abadia alemã no
século XV de um manuscrito do poeta latino Titus Lucrécio Caro, De Rerum Natura (Sobre a Natureza das
Coisas). O encontro do poema clássico precedeu o Renascimento e a subsequente
Revolução Científica. O título de Lucrécio foi tomado por um blogue convidado
do Público, centrado no cruzamento
das ciências e das humanidades.
- Fernando Pessoa, Ibéria. Introdução a um imperialismo futuro (Ática). A arca pessoana
parece não ter fundo. Na nova série das Obras de Fernando Pessoa, com as
tradicionais capas brancas e austeras, esta cuidada edição de Jerónimo Pizarro e
Pablo Javier López faculta-nos a visão, fragmentada, de Pessoa sobre a
Península, cuja divisão apenas entre Portugal e Espanha volta hoje a ser
questionada pelos movimentos na Catalunha.
- Onésimo Teotónio Almeida e João Maurício Brás, Utopias em Dói Menor. Conversas transatlânticas
com Onésimo (Gradiva). O filósofo, historiador e cronista português, professor
da Universidade Brown, responde numa cativante entrevista a várias questões do
pensamento contemporâneo colocadas por um filósofo, não se esquecendo de
referir algumas idiosincracias nacionais que convém mudar. O prefácio é do
autor destas linhas e o posfácio de José Eduardo Franco, professor da
Universidade de Lisboa.
- Nuno Santos, Luís Tirapicos e Nuno Crato, Outras Terras no Universo. Uma história de
descoberta de novos planetas (Gradiva). Lançado no dia de aniversário de
Rómulo de Carvalho, Dia Nacional da Cultura Científica, no Centro Ciência Viva
da Universidade de Coimbra, o livro dá conta de uma das fronteiras mais actuais
da ciência: a procura de planetas extra-solares. O primeiro autor, astrofísico
da Universidade do Porto, é um dos investigadores mais activos na identificação
desse tipo de astros. O último autor, apesar de arredado nos últimos meses da
divulgação científica, continua a ser um dos maiores escritores de ciência
entre nós. O editor, Guilherme Valente, recebeu no referido dia o Grande Prémio
Ciência Viva, tendo na ocasião sido invocados os 30 anos da colecção Ciência Aberta de que este volume é o
número 197.
- Irvin D. Yalom, O Problema Espinosa (Saída de Emergência). Da pena de um professor
em Stanford e psicoterapeuta, autor de Quando
Nietzsche Chorou, um romance baseado na vida e obra de Bento Espinosa, o
filósofo de origem portuguesa que foi excomungado por heresia, na Sinagoga
Portuguesa de Amesterdão. Espinosa é também o tema de um livro do neurocientista
português António Damásio, Ao Encontro de
Espinosa (Temas e Debates e Círculo de Leitores, 2013), saído agora de novo
em edição revista e com novo prefácio.
Boas Festas e boas leituras!
3 comentários:
Espírito de natal é conforto no bolso!
Aqui fica uma sugestão:
«A Civilização do espectáculo», livro recente de M. Vargas Llosa.
Haja, ainda vontade(e dinheiro) para sabermos ler!!!
Obrigado pelas sugestões.
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