Num extenso e bem elaborado post, o Prof. Carlos Fiolhais, “UM ANO DE EDUCAÇÃO” (15/11/2012), publicado no DRN, aborda, “ao correr da pena”, como diria Eça, a criação de uma Ordem dos Professores. Desse texto, respigo as linhas finais do respectivo parágrafo sexto:” Multiplicam-se os sinais de descontentamento dos professores relativamente à acção sindical. Algumas vozes têm-se levantado desde há algum tempo em favor de uma Ordem dos Professores que, sem se substituir aos sindicatos, pudesse valorizar a profissão”.
Este facto torna-se impositivo para que, de entre “as vozes que se têm
levantado desde há algum tempo em favor de uma Ordem dos Professores”, eu exaltasse (e continue a exaltar) a acção do
SNPL nestas conjuntura, através de artigos nos media e inúmeros posts por mim publicados
neste blogue em defesa de uma associação pública de professores que, de acordo
com o artigo 267, ponto 4.º da Constituição, “só pode ser constituída para a
satisfação de necessidades específicas não podendo exercer funções próprias das
associações sindicais tendo organização interna baseada no respeito dos
direitos dos seus membros e na formação democrática dos seus órgãos”.
Fazendo
um pouco de história, o SNPL teve a sua génese na Associação Nacional dos
Professores Licenciados (criada em Agosto de 90, na cidade de Viseu). Dois anos
mais tarde, reunidos os seus dirigentes, nessa mesma cidade, o Jornal de Notícias (27/05/92) disso dava
conta, em notícia intitulada “Professores Licenciados Forma Ordem”. Do referido
text, transcrevo estes breves excertos:
“Nesta
reunião os dirigentes da ANPL, visivelmente descontentes, manifestaram a sua
total disposição para avançar ‘decididamente’ com a constituição da Ordem dos
Professores, tendo mesmo constituído uma comissão a que preside o coordenador
distrital de Coimbra, dr. Rui Baptista. Os professores licenciados pretendem
com a criação da Ordem, ‘moralizar o que
sucede no País relativamente aos falsos licenciados por Institutos e
Universidades que se multiplicam’ (mantém-se o negrito do original) e às quais os professores catedráticos
emprestam apenas o seu nome”. Ou seja, a procissão ainda ia no adro do que
viria a acontecer com casos escandalosos que têm sido notícia recente nos jornais, na rádio e na televisão nacionais.
Sobre
os posts publicados neste blogue, da minha autoria, referentes à criação de uma
Ordem dos Professores, elaborei uma lista de 28, publicada em anexo, para que o leitor interessado ou os
próprios poderes institucionais os possam consultar in loco.
Por
outro lado, encontrando-se a Associação Nacional dos Professores entre as vozes
que se têm mostrado activa na defesa da criação da Ordem dos Professores entendi, de
justiça, referenciar
a acção daquela associação neste particular. O
leitmotiv? O leitor, desta forma, poder cotejar a acção do SNPL e da ANP neste contexto,
transcrevendo, parcialmente, o post aqui publicado em 29 de Outubro de 2012,
intitulado “A Ordem dos Professores, o Sindicato Nacional dos Professores
Licenciados e a Associação Nacional de Professores”. Nele escrevi:
“A recente nomeação, para secretário de Estado do
Ensino Básico e Secundário, de João Granjo, diplomado pela Escola do Magistério
Primário do Porto (1980), habilitado com o Curso de Estudos Superiores em
Administração Escolar (Instituto de Ciências Educativas, 1993) e Mestrado em
Administração e Planificação da Educação (Universidade Portucalense, 2007), foi
noticiada no jornal “Público (26/10/2012) referenciando o facto de ter
sido presidente da Associação Nacional de Professores e defensor da criação da
Ordem dos Professores.
Esclarece-se que a Associação Nacional
de Professores sucedeu à Associação Nacional de Professores do Ensino Básico,
constituída por diplomados pelas antigas Escolas do Magistério Primário e
Escolas de Educadores de Infância, sendo reclamante da criação da Ordem dos
Professores desde 1985 e tendo anunciado 'num seminário realizado em 91, em
Viseu, o firme propósito de se transformar em Ordem”' (“Diário de Coimbra”,
07/05/91). Reclamação, aliás, sem tradição, ou simples analogia, com as ordens
profissionais existentes, porque destinadas a representar, apenas, profissões
detentoras de licenciatura universitária. Só, posteriormente, foram criadas
ordens profissionais sem obedeceram a este requisito, como sejam os casos da
Ordem dos Enfermeiros (Decreto-Lei n. 104/98, de 21 de Abril) e da Ordem dos
Técnicos Oficiais de Contas (Decreto-Lei n.º 310/2009, de 26 de Outubro). Lá
mais para diante se voltará a esta temática que me mereceu estudo aturado no
livro 'Do Caos à Ordem dos Professores' (Rui Baptista, edição do SNPL,
Janeiro de 2004) e, posteriormente, num pequeno opúsculo 'Livro da Ordem'
(Edição do SNPL, 1997) sobre uma 'Proposta de Estatutos da Ordem dos
Professores' de que fui o coordenador. Da respectiva 'Nota Prévia',
transcrevo:
'A proposta de estatutos elaborada por um grupo de
colegas que o SNPL patrocinou com apoio logístico e financeiro, foi entregue ao
Presidente da Assembleia da República (20/06/96) e foi difundida por todos os
Executivos do SNPL, pelas Associações Científicas de Professores, por
instituições de Ensino Superior ligadas à formação de professores, pela
Confederação Nacional das Associações de Pais, grupos parlamentares e partidos
políticos e outras organizações intervenientes no processo educativo, e também
pelas Ordens existentes'.
A páginas tantas, nesse estudo é feita, com a isenção
que um trabalho desta natureza impõe, referência destacada ao papel do
Sindicato Nacional dos Professores Licenciados nesta matéria que se transcreve
textualmente:
'De acordo com Baptista (2006), já em 20 de Junho de
1996 o SNPL submeteu à Assembleia da República uma proposta de estatutos da
possível Ordem a criar. Mais tarde, a 25 de Fevereiro de 2004, este sindicato
submeteu, também à Assembleia da República, uma petição para a criação da
Ordem, contendo 7857 assinaturas. Por último, e de acordo com o autor supra mencionado,
no dia 2 de Dezembro de 2005 debateu-se na Assembleia da República a petição
n.º 74/IX (2.-ª) do SNPL e outros para a criação da Ordem'.
(…) Uma pequena rectificação, mas uma correcção de
fundo do supracitado Estudo Nacional, que se transcreve: 'De acordo com
Vilarinho (2004), o SNPL exigia o grau de Licenciatura e o cumprimento do
código deontológico para aceder à Ordem'.
Vamos por partes. Quanto 'ao cumprimento
deontológico para aceder à Ordem', nada a corrigir porque aqueles que
pretendem estabelecer um código deontológico sem ser a Ordem dos Professores a
fazê-lo e a zelar pelo seu cumprimento (como tenho visto para aí defendido…)
assumem para si o papel de porem o carro à frente dos bois, em linguagem
popular. Quanto à exigência de uma licenciatura universitária (deixando de fora
os diplomas de ensino médio e bacharelatos politécnicos), é facilmente
desmentido pela leitura da 'Proposta de Estatutos da Ordem dos Professores',
publicados em 1977. Nela especifica-se, sem lugar a qualquer dúvida por no
ponto 1, do artigo 13.º estar escrito, preto no branco, o seguinte articulado:
'Podem inscrever-se na Ordem, como membros efectivos, os portugueses ou
estrangeiros que residam em Portugal de posse de uma licenciatura e
profissionalização, por si reconhecidas'.
Para a inscrição de indivíduos, de posse do diploma
das antigas Escolas do Magistério Primário, por exemplo, foi estabelecida a
categoria de membro associado (Pontos 1 e 2, do respectivo artigo 15.º)
obedecendo aos critérios seguintes:
Ponto 1: 'Podem ser inscritos como membros
associados os docentes profissionalizados de nacionalidade portuguesa que à
data da publicação deste Estatuto exerçam funções docentes com o grau de
bacharel ou com habilitação constante do artigo 13.º conjugado com o artigo
31.º, n.º 5 da Lei n.º 44/86, de 14 de Outubro.'
Ponto 2: 'A inscrição como membro efectivo dos
membros associados está condicionada à obtenção dos requisitos exigidos pelo
artigo 13.º do presente Estatuto.'
Aliás, estas condições de inscrição na Ordem dos
Professores encontra inspiração na doutrina por mim encontrada em poeirentos
textos legais que dizem que a Ordem dos Médicos e a Ordem dos
Farmacêuticos contemplaram nos seus estatutos os direitos dos profissionais sem
o grau de licenciatura, embora com restrições, como sejam os médicos formados
pela Escola Médico-Cirúrgica de Goa, pela Escola Médica do Funchal e diplomados
com o curso da Escola de Farmácia de Coimbra (Rui Baptista, Correio da
Manhã, 06/03/19969).
Todavia, embora o reputado filósofo e sociólogo
francês, Pierre Bourdieu, tenha defendido que 'só uma política inspirada pela
preocupação de atrair e promover os melhores, esses homens e mulheres de
qualidade que todos os sistemas de educação sempre celebraram, poderá fazer do
ofício de educar a juventude o que ela deveria ser: o 1.º de todos os ofícios',
em Portugal vigora o princípio de habilitações diferentes para o mesmo grau de
ensino. Assim, a título de mero exemplo, antes do Processo de Bolonha, a
habilitação para a docência da Matemática, no 2.º ciclo do básico, tanto
contemplava uma licenciatura universitária em Matemática como uma licenciatura
pelas escolas superiores de educação habilitando para ministrar,
simultâneamente, esta disciplina e Ciências da Natureza fazendo, como tal, jus
à maior das injustiças. Ou seja, a de igualar desiguais dando, com isso, ar de
virtuosa medida a uma medida de duvidosa moral!
(…) Se outros motivos não houvesse (mas há-os, e
muitos!), estes os suficientes para a urgente criação de uma Ordem dos
Professores sem se deixar enfeudar por interesses sindicais e/ou das escolas de
formação de professores para que “não insultemos a democratização pela
mediocratização de tudo”, como escreveu o catedrático jubilado António
Manuel Baptista”.
Para finalizar e em resumo, de entre “algumas vozes que se têm levantado
desde algum tempo em favor da Ordem dos Professores”, outra mais alta se tem
levantado passando, inclusivamente, das
palavras à acção pela apresentação na Assembleia da República (25/02/2004) de
uma petição com 7857 assinaturas para a criação de uma Ordem dos Professores, aí
debatida em 2 de Dezembro de 2005. Refiro-me,
como é evidente, ao Sindicato Nacional dos Professores Licenciados.
ANEXO: Listagem de
26 artigos sobre a Ordem dos Professores por mim publicados no DRN:
Ano
de 2008: “Do Caos à Ordem Dos Professores” (15/06); “A (Des) Ordem dos Professores” (03/08); “A
Génese das Actuais Ordens Profissionais” (25/08); “O Professor Oliveira Marques
e a Ordem dos Professores” (01/0); “Dez Perguntas Sobre a Ordem dos Professores”
(25/09).Ano de 2009: “Vital Moreira e a Ordem dos Professores” (18 Maio); “A Ordem dos Professores na Ordem do Dia” (09/06); “A Ordem dos Professores: a Canção e os Cantores” (10/06); “De volta à Ordem dos Professores” (07/09); “A Ordem dos Professores e a Política do Compadrio” (09/09); “Um singular Combate às Corporações” (06/10).
Ano de 2010: “Uma Ordem dos Professores”(17/04); “Ordem dos Professores: Breve Historial das Ordens Profissionais” (21/04); “Dicionário Histórico das Ordens e Instituições Afins e Ordens Profissionais” (15/07).
Ano de 2011: “Reflexões Sobre o Sindicalismo Docente” (13/01); “A Docência como Profissão Liberal” (19/03); “Para Memória Futura: A Ordem dos Professores” (12/04); “Uma Carta Sobre a Ordem dos Professores” (11/05); “Um Comentário Sobre a Ordem dos Professores” (23/06); “Marçal Grilo e a Ordem dos Professores” (06/07).
Ano de 2012: “A Revisão Curricular e a Ordem dos Professores (08/01); “Ordem dos Professores versus Sindicatos” (12/01); “A Ordem dos Professores e o Mito de Sísifo” (12/02); “Ao Correr da Pena: Ordem dos Professores”(25/04); “O Ministério da Economia, a Ordem dos Professores e a FENPROF” (02/06); “Ainda as Ordens e as Câmaras Profissionais”(06/06); “A Ordem dos Professores, o Sindicato Nacional dos Professores Licenciados e a Associação Nacional de Professores”(29/10); “Já Agora, a Ordem dos Professores e a FENPROF” (31/10).
5 comentários:
Demore mais ou demore menos, a Ordem de Professores far-se-á.
Digo-o eu, que nunca fiz nada para que existisse, excepto ter-me convencido, desde há algum tempo a esta parte, de que isso é não só desejável como... inevitável. E passei a afirmar esta minha convicção junto de outros colegas.
"Culpado" disto: Rui Baptista.
["sentença minha"]
Caro José Batista: Sagrada culpa a minha culpa! Como aliás por si foi reconhecido. E nesta luta em que, por vezes, sinto o desânimo que, paradoxalmente, me dá novas forças para continuar em frente encontro no seu apoio (e de outros colegas) um arrimo valioso. Só lamento que a polémica, sal necessário para condimentar qualquer debate, por parte dos opositores à criação da Ordem dos Professores não seja assumida.
Sou levado a entender que esse facto perspectiva a falta de razão, ou a timidez, de quem se remete ao silêncio. Espero que, numa altura em que a criação da Ordem dos Professores se assume como uma realidade futura, essa falta de coragem (ou simples timidez) dos seus opositores, sejam cidadãos ou sindicalistas, pertença ao passado.
Escreveu Ortega y Gasset: “Surpreender-se é começar a entender”. “Ipso facto”, surpreendo-me com o silêncio dos que se não manifestam a favor ou contra a criação da Ordem dos Professores. Mas começo a entender!
A Ordem é uma necessidade de há muitos anos. A questão é:
- Será que ainda vem a tempo de deter a má influência construtivista?
A crer no ditado, nunca é tarde para tentar.
A má influência construtivista combate-se com programas actualizados e docentes bem preparados e atentos à rápida evolução de um conhecimento que renega dogmas. Nesse sentido, à Ordem dos Professores competirá uma acção a não desprezar. Logo, evocando eu, por meu turno, outro ditado,direi que mais vale tarde do que nunca.
Numa época de um pedagogismo de banha da cobra, que se substitui a uma sólida transmissão do conhecimento científico, é reconfortante ouvir o que nos tem para dizer o sociólogo italiano Francesco Alberoni: “Na verdade a pedagogia que nivela tudo por baixo no intuito de esbater as diferenças tem como consequência tornar ignorantes milhões de pessoas não privilegiando aqueles que podem ir para a universidade e para escolas de excelência com professores respeitados e programas rigorosos; é por esta razão que há cada vez mais pessoas a quererem uma escola mais séria, mais rigorosa, com professores preparados e mais respeitados”.
Não será altura de os professores, para além do sindicalismo, assumirem para si um associativismo de natureza pública que os responsabilize perante a sociedade dos actos docentes por si praticados, deixando, como tal, de serem meros títeres dos gabinetes da 5 de Outubro que, não poucas vezes, vêem na docência uma profissão servil?
De mérito a decisão louvável.
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