Tenho acompanhado os múltiplos esforços duma professora e (mais recentemente) dum professor para manter o ensino da cultura clássica na sua escola, para levar alunos a eventos internacionais. A ainda recente revisão da estrutura curricular abalou o débil equilíbrio de constituição de turmas de Latim, pelo que esses professores, conhecendo o que se faz noutros países, delinearam, em brevíssimos dias de final de ano lectivo, um projecto que tem por título pari passu (aqui).
Curiosa por saber o que resultou desse trabalho, perguntei à professora Alexandra Azevedo o estava a acontecer. A resposta é a que se segue.
(Imagem ao lado: desenho de Alice Pedrosa, aluna do 5.º ano que participa nesse projecto).
Uma vontade. Duas vontades, aliás. Três. (Um grande obrigada às várias vontades!)
Desenhámos o projeto. Escolas públicas. Alunos portugueses teriam pela primeira vez cultura clássica no segundo Ciclo do Ensino Básico.
As reações fizeram sentir-se? Latim? Crianças? Para quê? Risos de incredulidade… Cultura clássica!? Para quê, afinal!?
Num país onde o latim praticamente morreu à luz de leis que não o souberam defender nem compreender, tentávamos agora fazer crescer o interesse pela matriz civilizacional do ocidente, para que os mais novos possam saber que há uma escolha cultural que fará diferença na sua formação.
Latim não apenas para formar latinistas; latim sobretudo para pensar melhor, escrever melhor, para lembrar o passado e perceber caminhos para o futuro.
Nasceu, deste modo, o projeto «pari passu» para a ocupação da oferta complementar, recentemente criada. A experiência, na Escola sede do Agrupamento Rodrigues de Freitas com 9 turmas de segundo ciclo, tem sido excelente.
Os alunos adoram as aulas e os 45m semanais parecem muito pouco para tanta curiosidade. E mesmo as turmas mais problemáticas e barulhentas parecem render-se à surpresa do novo que é afinal o «velho» latim.
Observar a facilidade com que os alunos de dez, onze anos entendem, na globalidade, frases simples em latim, o olhar surpreso e entusiasmado com que questionam cada pormenor lendário e mitológico, tem refrescado ânimos mais apagados por todo um contexto cinzento em que as escolas estão hoje envolvidas.
Sentimos que é apenas um princípio. Vamos continuar, com a certeza de que em passos iguais, ritmados e seguros, teremos certamente ajudado a formar cidadãos mais cultos e criteriosos.
Alexandra Azevedo
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2 comentários:
Em "compensação" este fim de semana dois alunos meus, do décimo ano de escolaridade, levaram para casa o seguinte castigo:
escrever vinte vezes as palavras "fóssil / fósseis", que repetidamente grafaram com "cê... cedilhado!"
A brincar até lhes disse para tomarem cuidado, não vão um dia chegar a... ministros!
Ideia que, a propagar-se, pode acrescer aos motivos para os encarregados de educação vituperarem os "tpc". Ainda por cima recomendados como castigo (olhem se estou a impedir os pimpolhos de chegarem longe...).
A minha esperança é que os miúdos aceitaram cordatamente a pena.
Só mais um pormenorzito: nenhum daqueles alunos é destituído. Fica dito.
Estou de acordo com a professora Alexandra Azevedo: Latim fortalece a dimensão do saber.
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