Informação recebida do Centro Ciência Viva Rómulo de Carvalho relativa uma palestra sobre Clonagem na 6ªfeira, 29 Abril, às 21h15, no Centro Ciência Viva Rómulo de Carvalho, em Coimbra:
O tema da Clonagem (ou mais correctamente, o tema da Transferência Nuclear Somática), entrou de súbito no léxico e imaginário populares em 1996, com o nascimento da ovelha “Dolly”. Nunca tanto foi dito e escrito, especulado e exagerado a propósito de uma única ovelha. No entanto, a investigação nesta área era bastante antiga, remontando à década de 1950, e pretendia responder a uma questão de ciência básica muito simples. Uma célula de um embrião tem a possibilidade de formar muitas células diferentes. À medida que o embrião se desenvolve as células perdem essa capacidade, vão sendo cada vez mais especializadas e passam a desempenhar funções muito específicas no organismo. Um pouco à semelhança da escolaridade, onde a escolha de ramos, áreas ou cursos vai progressivamente limitando as saídas profissionais dos alunos. Chama-se a esse processo Diferenciação. Mas será possível voltar atrás no tempo e transformar uma célula especializada (da pele, do sangue) de um indivíduo adulto no equivalente a uma célula embrionária? Será possível reprogramar uma célula adulta para ser outra coisa? A Clonagem é uma das abordagens a essa problemática, que não se limita a tentar reproduzir cópias idênticas de indivíduos, algo de resto impossível. Mesmo que conceptualmente simples de explicar, a técnica levanta inúmeras questões científicas, técnicas e éticas. As questões científicas e técnicas, relacionadas com uma taxa de sucesso muito baixa e variável de espécie para espécie, e com várias malformações em fetos clonados, são universais. Já as questões éticas não o serão tanto.
A Clonagem é também um tema fascinante porquanto, se continua a ser muito debatido na sociedade, a verdade é que muito poucos investigadores trabalham neste tópico, e o mesmo não é considerado pelos especialistas particularmente interessante. Isto porque surgiram entretanto outras técnicas para reprogramar células, como a Pluripotência Induzida, mais simples, menos complexa do ponto de vista ético e mais reprodutível do que a Clonagem, apesar de ter também as suas limitações. Uma característica importante da noção das Fronteiras em Ciência é estarem em constante mutação, nunca ficando onde as julgamos encontrar.
João Ramalho-Santos
Centro de Neurociências e Biologia Celular
Departamento de Ciências da Vida
Universidade de Coimbra
jramalho@ci.uc.pt
terça-feira, 26 de abril de 2011
Clonagem, no Ciclo Fronteiras da Ciência em Coimbra
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1 comentário:
Que jeito que um texto tão curto, tão simples e tão claro dava nos programas de biologia (e geologia!) do ensino secundário, nos manuais e nos cadernos/livros de exercícios. É certo que os professores dizem isto aos alunos, mas as tranquibérnias lexicais de certos escritos relativos ao assunto são capazes de provocar a maior perplexidade no mais paciente dos espíritos.
E por isso o ensino da biologia no ensino secundário se tornou (n)uma mortificação.
De que quase nenhum indígena se atreve a queixar-se.
Obrigado ao autor.
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