sexta-feira, 4 de março de 2011

VEM AÍ A BANCARROTA?


Minha crónica no "Público" de hoje:

A palavra bancarrota vem do italiano “banca rotta”: no Renascimento partiam-se mesmo as bancas, colocadas na rua, dos banqueiros que não conseguiam honrar os seus compromissos. Mais tarde, já não eram apenas os banqueiros, mas também os países que declaravam bancarrota: foi, por exemplo, o caso de Espanha e Portugal com Filipe II (para nós Filipe I) em 1596. Recentemente, estiveram à beira da bancarrota dois países da zona do euro, a Grécia e a Irlanda, que foram salvos através de uma grande ajuda externa acompanhada de medidas internas draconianas. Desde há pouco tempo esse mesmo perigo existe para Portugal. E o receio europeu é que o perigo se espalhe para Espanha, pondo em risco a moeda única.

Em 1983 (ainda não havia o Público, que amanhã – muitos parabéns! - faz 21 anos) passámos por situação semelhante. Fomos salvos, num governo do Bloco Central, pelo Fundo Monetário Internacional, pagando o preço de uma desvalorização drástica da moeda, de uma subida brutal da inflação e de um aumento enorme da carga fiscal. É voz corrente que vem aí de novo esse Fundo, numa operação combinada com a União Europeia, tal como aconteceu com a Grécia e a Irlanda. E, desta vez, não há escudo que nos salve.

Um indicador muito claro da nossa dificuldade crescente em obter financiamento externo é a subida ao longo do último ano dos juros da dívida pública a dez anos, que está nuns insustentáveis 7,5 por cento e com uma assustadora tendência para crescer. Apesar de estar em curso um esforço de aumento das receitas e de diminuição das despesas do Estado (a maior parte dos portugueses sente-o bem nos seus bolsos), os indicadores negativos chegam todos os dias. Foi anunciado que a taxa de desemprego em Portugal atingiu um máximo histórico de 11,2 por cento, com incidência especial na população jovem. E o governador do Banco de Portugal admitiu que estávamos numa situação de recessão, isto é, queda continuada do Produto Interno Bruto.

O que diz a tudo isto o governo da nação? Nada que seja muito credível. Por exemplo, o aumento do desemprego é assim comentado pelo governante que detém a respectiva tutela: “Durante 2010 o crescimento do desemprego desacelerou bastante em relação a 2009. Nesse sentido, falei em estabilização e mantenho essa perspectiva, estamos numa estabilização com valores muito elevados que temos de conseguir baixar". Pior do que a nossa dificuldade de crédito financeiro é, portanto, a nossa falta de crédito nas palavras que nos chegam dos responsáveis políticos. Ao mais alto nível, o primeiro-ministro exibe, nos discursos, uma auto-confiança que tem tanto de exacerbada como de insustentada. Não nos transmite confiança. Desconhecedor da velha máxima de que o mal se faz de uma vez e o bem aos poucos, faz precisamente ao contrário. Não acabou ainda o mal porque, esta semana, afirmou que “fará tudo o que for preciso para atingir os objectivos orçamentais de 2011”. Se passamos por maus dias, piores dias nos esperam. A obsessão dele é a de evitar um pacote de ajuda internacional mais pelos custos políticos que adviriam para o partido do governo do que por quaisquer argumentos de racionalidade económico-financeira. Um resgate próximo pode, de facto, significar eleições antecipadas, varrendo o governo tal como aconteceu na Irlanda. Foi, talvez, por recear isso que José Sócrates, após audiência anteontem em Berlim com a chanceler alemã, se imaginou num comício: "O meu país tem oito séculos de história, o meu país não é subserviente com ninguém, só é subserviente com o seu povo e com aquilo que o povo tem a dizer".

Sócrates está equivocado quando diz que, para evitar a bancarrota, “nos basta a confiança em nós próprios”. Não a temos na mesma medida que ele aparentemente a tem, mas, mesmo que a tivéssemos, ela não bastaria. Quase duzentos professores alemães de economia pediram há dias à sua chefe do governo que não flexibilize a ajuda europeia aos países necessitados, deixando-os antes entrar em bancarrota. Resta-nos confiar em que ela não os ouça.

5 comentários:

Francisco Domingues disse...

Defendo no meu blog "Ideias-Novas" que a solução para os males que afligem o mundo, e obviamente Portugal - aqui somando-se a incapacidade dos nossos políticos para fazerem reformas de fundo, acorrentados que estão aos interesses instalados - a solução passa por uma mudança radical dos modelos económico-financeiros que regem o mesmo mundo. Sobre os males específicos que afectam Portugal, creio que já foi tudo dito, mas que pouco ou nada se tem tentado corrigir, desde a justiça que não funciona até aos escândalos nas PPP, etc. Como a mudança radical proposta implica diversos pressupostos, difíceis de resumir em breves linhas, remeto para o meu blog onde se tenta uma explicação cabal do assunto. Utopia? - Talvez! Mas creio que será o único caminho a seguir para tornar o mundo sustentável a nível social e ambiental.
Francisco Domingues

Anónimo disse...

A ideia da bancarrota
no que toca a Portugal
é para o mundo em geral
um motivo de chacota!

Anónimo disse...

O mundo quer lá saber
do nosso ilustre passado:
quem vive só de emprestado
presunção não pode ter!

JCN

Anónimo disse...

Temos que ser realistas
verndo as coisas como são:
não se pode ser autista
não possuindo um tostão!

JCN

Anónimo disse...

Corrijo a gralha "verndo" por "vendo". JCN

O BRASIL JUNTA-SE AOS PAÍSES QUE PROÍBEM OU RESTRINGEM OS TELEMÓVEIS NA SALA DE AULA E NA ESCOLA

A notícia é da Agência Lusa. Encontrei-a no jornal Expresso (ver aqui ). É, felizmente, quase igual a outras que temos registado no De Rerum...