quarta-feira, 23 de março de 2011

Mundo 2.0

Texto recebido do físico Armando Vieira:

Estamos a viver tempos extraordinários. Comunicar, criar comunidades, partilhar notícias, pensamentos, ideias nunca foi tão fácil. Fazer revoluções também não. Bem vindos à era 2.0.

O mundo está a mudar a uma velocidade estonteante criando conflitos e rupturas próprias de um período revolucionário. Sinal dessas rupturas é o fosso que existe entre as possibilidades da tecnologia e a realidade da política. No mundo da web, sobretudo na web 2.0, os utilizadores são reis: os seus comentários são cruciais na avaliação de um produto ou serviço, as respostas às suas questões imediatas, as reclamações ouvidas.

Porém, quando nos voltamos para a nossa realidade política, o fosso não podia ser maior: as pessoas não se sentem ouvidas, os representantes eleitos acabam por exercer actividade sem prestar contas aos seus eleitores, o dinheiro é aplicado sem escrutínio, decisões importantes são apresentadas como factos consumados. Fica-se com a sensação que a única coisa que o modelo democrático permite aos seus cidadões é deixá-los por uma cruz num papelinho a cada 4 anos.

Vivemos num mundo largamente diferente da realidade na qual nasceu o modelo político actual, já com quase 200 anos. As pessoas não se identificam com os partidos e os seus representantes e poucos se revêem no modelo político. Mais do que ideologias, o mundo hoje rege-se por um desejo incontido de liberdade, criatividade, individualismo e interactividade. As pessoas procuram espaços de afirmação da sua individualidade, de expressar as suas ideias, a sua força criativa.

A geração actual não vive presa aos meios de comunicação em massa e aos seus “opinion makers”. Vivemos numa sociedade diversificada, fragmentada de micro-sociedades, onde cada pessoa é um mundo, cada consumidor um mercado. Assim como a era da produção de produtos em massa teve o seu fim, também a era da informação em massa está prestes a terminar.

E esta onda revolucionária está também a chegar à política. Já não são necessárias forças mono-bloco representadas por partidos, sindicatos ou federações para organizar manifestações. Este é o tempo do crowdsourcing.

Foi notável ver que uma manifestação sem lideres conseguiu mobilizar mais de 200 000 pessoas no dia 12 de Março. Podemos escrever o que quisermos, mas o mundo mudou. Hoje o poder está directamente nas pessoas. Esta não foi uma manifestação da geração, ou gerações, à rasca. Foi um grito de revolta de um país que se sente triste, enganado e deprimido. Este foi um movimento genuíno de pessoas que estão cansadas, desiludidas, sem esperança e que querem fazer ouvir a sua voz. Não é uma crítica ao governo mas ao modelo político autista.

O que estamos a assistir são as sementes de uma nova realidade organizativa da sociedade. A Internet, e em particular as redes sociais, a designada web 2.0, está a revolucionar a forma como as pessoas se relacionam e comunicam. Depois de transformar o e-commerce e os negócios, ela está a chegar à política. Auto-organizada, apartidária, feita pelas pessoas e não pelos “lideres de opinião”, baseada no crowdsourcing, a democracia 2.0 veio para ficar. Os governantes que se preparem pois o mundo nunca mais vai ser o mesmo.

Armando Vieira

9 comentários:

Anónimo disse...

A democracia é muito mais do que por a cruz a cada quatro anos. Quem assim pensa está simplesmente a retirar-se da democracia.

Há cruzes a por em todo o lado, diariamente. De cada vez que a caixa registadora regista um produto que compramos, estamos a por uma cruz, seja por alimentos de melhor qualidade e mais saudaveis, seja por um melhor ambiente, seja contra a exploração de trabalhadores que permite preços baixos e destroi economias nos paises ditos desenvolvido, seja... A lista é infindável e falando apenas do que compramos.

Hoje em dia com a facilidade de comunicação tudo se sabe rapidamente e pouco se consegue esconder. São maus tempos para os ditadores que desde sempre manipularam a informação e para os políticos desonestos.

É um big brother mas implementado não por governos ou qualquer entidade central mas pelas pessoas de forma distribuida. É positivo porque só podemos escolher quando conhecemos as opções. A ignorância gera medo, o medo leva aos conflitos.

Joana disse...

Excelente!
Ana

Cisfranco disse...

Esta mudança que se está a verificar, não pode ficar só por manifestações, que depressa passam sem se verem resultados concretos. Os senhores do poder, aonde chegam através dos partidos, continuam na mesma. Muita coisa, efectivamente, tem que mudar. A política que tem sido seguida, tem-nos conduzido até à beira do abismo.
Os partidos não podem ter o monopólio da política. Há que dar também a possibilidade aos cidadãos, que não se identifiquem com os partidos.
Arrepiar caminho precisa-se, venha quem vier.

tempus fugit à pressa disse...

Péssimo, o facto de se conseguirem fazer manifestações instantâneas não tornam ninguém mais esclarecido, o acesso imediato à informação cria apenas a noção ilusória que basta ter informação para automaticamente a compreender.

Considero estes tópicos especulativos, enfadonhos e basicamente são o principal erro daqueles que acreditam que acesso à informação é compreensão da mesma

Assim manifestam-se mas não sabem para quê, falam de generalides e previsões de futuros num mundo economicamente em crise e sem energia para manter os actuais consumos

Logo ver nisto uma época nova em que um wikileaks de mexericos é esquecido numa semana por uma nova causa

Excesso de informação não organizada e não filtrada traz o caos e não o paraíso

Pensar o contrário é ser....etc

António Viriato disse...

Conviria não ostentar tanto optimismo democrático, porque do folclore manifestivo à preparação de uma alternativa política vai a sua diferença.

Desde logo porque só se enunciam rejeições de fácil consenso ao mesmo tempo que se omitem ideais ou objectivos claros de acção política.

Até que estes sejam conhecidos, a moderação no optimismo reformativo será de regra.

Cisfranco disse...

Atenção, há um aforismo que diz que homem informado vale por dois. Estar informado já é muito e daí à verdadeira acção é um passo muito curto. O Povo começa a perceber as coisas e a saber ver onde é que está o problema.Estamos longe, felizmente, da populaça ignorante que só sabe bater palmas a quem lhe carrega na mona. A demagogia tem que ser muito mais requintada/refinada para poder passar.
A política(arte de mudar o rumo das coisas), não vai poder mais ser como até aqui.

Hona Borne disse...

Nave espacial é vista no momento que entra em um 'portal' estelar ... Clube Natureza Gleam ... Google it.

باز راس الوهابية وفتواه في جواز الصمعولة اليهود. اار الازعيم-O FLUVIÁRIO NO DESERTO disse...

A demagogia tem que ser muito mais requintada/refinada para poder passar

nota-se vamos para a Líbia e em força

joão boaventura disse...

Talvez começar por ver e ler a Web 2.0, com as ressalvas postas nestes termos

"Alguns especialistas em tecnologia, como Tim Berners-Lee, o inventor da World Wide Web (WWW), alegam que o termo carece de sentido, pois a Web 2.0 utiliza muitos componentes tecnológicos criados antes mesmo do surgimento da Web. Alguns críticos do termo afirmam também que este é apenas uma jogada de marketing (buzzword)."

Texto completo pode ser lido aqui.

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