segunda-feira, 7 de março de 2011

Filosofia da educação: Como sair deste círculo?

A filosofia da educação tanto é uma reflexão sobre a educação, no sentido da acção a fazer, como uma projeção da educação feita num quadro racional interpretativo.

No primeiro sentido, revela a função orientadora da educação, fala do que a educação deve ser a partir de princípios e finalidades, que se traduzem em normas. No segundo, assenta sobretudo na análise do que a educação é.

Ambas as perspectivas são legítimas e necessárias, e, embora inversas, interactuam. Eu posso pensar no que a educação deve ser – a partir de uma cosmovisão – e orientar finalidades educativas coerentes com essa perspectiva. Mas a análise sociológica do fenómeno educativo, a verificação do que ele é na realidade, também necessita de ser pensada. E para quê? Para lhe encontrar linhas de força, debilidades, incoerências, isto é, os pontos por onde se poderá intervir fazendo a racionalização que qualquer situação de falência exige.

Estas duas perspectivas são conflituantes – uma teoriza sobre o que (e como) a educação deverá ser, a outra analisa e racionaliza o que ela realmente é; uma faz juízos de valor, outra juízos de realidade. Esta oposição explica, de algum modo, a situação algo confusa da filosofia da educação. Porque é hoje tarefa ingrata dizer aos educadores o que, sob um ponto de vista filosófico, a educação deve ser; os educadores não reconhecem à filosofia autoridade para isso. Mas os filósofos também não têm, na situação crítica actual, ideias muito seguras. Por outro lado, partir das práticas educativas para as melhorar, mediante racionalização, tem também as suas dificuldades teóricas. De facto, esta perspectiva pressupõe a anterior e carrega com as mesmas dificuldades, e, além disso, a concorrência da investigação educacional enfraquece, no paradigma científico dominante, o pensamento filosófico e a sua eficácia educativa.

Perguntar pelo sentido ou evolução da filosofia da educação obriga a perguntar para que esta serve. E para isso é necessário saber quais os grandes problemas que se colocam hoje à educação. O que, implicando análise, obriga a fazer filosofia da educação, revelando a sua utilidade, pois é óbvia a desorientação nas práticas e a diluição nas convicções. E, sendo assim, alguém tem de reorientar e dar força a esta acção porque as pessoas e as sociedades não podem dispensar a educação nem viver com formas educativas confusas e até contraditórias. A investigação educacional não resolve os problemas dos princípios e das finalidades educativas e, sem isso, não há educação. Toda a educação pressupõe e exige uma resposta a estas duas questões; mas estas respostas estão hoje debilitadas. Como sair deste círculo?

O enfraquecimento da educação normativa e a valorização da educação sociológica leva-nos mais para uma teoria da educação com base nas componentes científicas e sociológicas e menos na filosofia como fundamentação a partir de uma cosmovisão. As normas e as prescrições estão enfraquecidas pela desestruturação social resultante do esboroamento das forças da modernidade. Mas, como hoje é evidente a falta que o pensamento filosófico faz à educação normativa, mais tarde ou mais cedo avançará a filosofia. Porque, sendo a educação um processo de transformação para melhor (se o não fosse não era educação) este défice terá que ser superado por ideias educativas fortes, mobilizadoras, que só o trabalho filosófico pode dar.

Portanto, a análise do que a educação é hoje e a consciência dos seus maiores problemas, sobretudo ao nível dos princípios e das finalidades, obriga a recorrer à filosofia. É a própria dureza crescente do problema que obrigará a filosofia a reorganizar a intenção educativa, integrando, contudo, os contributos científicos que não cessam de crescer. Para adivinharmos o futuro da filosofia da educação teremos que saber para onde apontam as fragilidades da educação actual. É por este lado que a filosofia terá que avançar, só ela poderá resolver o problema.

João Boavida

3 comentários:

باز راس الوهابية وفتواه في جواز الصمعولة اليهود. اار الازعيم-O FLUVIÁRIO NO DESERTO disse...

se o objectivo era mostrar a falta de funcionalidade da dita sofia

então
O exercício da dita sofia é, pois ,em larga medida, um exercício escatológico, e pode afirmar-se que é a imagem da actual filosofia pedagógica, que dá preferência aos centros visuais e auditivos sobre as funções perceptivas e motoras.

ou seya....Homo ludens
principalmente com palavras e ideias

Anónimo disse...

Artigo muito interessante, com muitas pistas em que me apetece pensar - o único modo interessante de começar a filosofia. Pôr as pessoas com vontade de pensar é um grande contributo para a Filosofia.
HR

Leonardo disse...

Hoje qual autor deve-se ler dentro dessa perspectiva de filosofia da educação? Qual é o filósofo da educação expressivo em nossos dias?

Gostei do artigo.

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