A frase pode parecer incompreensível, mas poderá ler-se assim: Pode o invisível ser visível e o visível invisível? Pode este tornar-se naquele e aquele neste? E podem ambos ser visíveis e invisíveis ao mesmo tempo? Ou ainda: podem ser e não ser simultaneamente? E, sendo e não sendo, são ou não são? Eis o problema a partir da exposição - o invisível/visível e vice-versa, a visibilidade/invisibilidade que passa pelos nossos olhares. E a filosofia a entrar no problema ou a transformá-lo, a assenhorear-se dele e a dar-lhe, se quisermos, outra amplitude.
A exposição era constituída por seis projeções simultâneas, formando dois enormes ecrãs em cada lado da sala, com imagens articuladas de modo a formar duas unidades independentes, num apuro técnico já de si louvável. De um lado, a Escola da Noite, do outro a FBA – design gráfico. De um lado, fotografias de algumas cenas, desenhos, figurinos, esboços de cenários e prospetos relativos a peças que a Escola da Noite levou à cena. Desde Uma Visitação, a partir de Gil Vicente, em 1995, até Atravessando as Palavras, a partir de Kafka, em 2009, passando por Eurípides, Abel Neves, Beckett, Pierre Voltz, Ruy Duarte de Carvalho, Tchékov, Ignacio Cabrujas, num percurso de inovação, revisitação e recriação onde o material, visual e sonoro, ganhava profundidade – temporal, racional, afetiva. Pela sala e nas bancadas, sob focos, manequins encorpando personagens passadas.
Na outra parede, simultaneamente, apreciavam-se os trabalhos da FBA. Desde três ou quatro coleções de livros, que vão fazer história, até às sinaléticas para certos edifícios e lugares, e às exposições. No que diz respeito a coleções de livros, podíamos ver edições da Fenda, Temas de Psicanálise (Almedina), História & Sociedade (Edições 70), Minotauro (Almedina) e Nova Delphi. São capas de estilos bastante diferente mas esteticamente inovadoras, fortes e coerentes, nalguns casos verdadeiramente inesperadas E por isso quase todas premiadas internacionalmente e ao mais alto nível.
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Faltavam lá as criadas para os livros da coleção Psicologia, da Almedina, e é pena. No referente a exposições havia ilustrações da exposição dos Primitivos Portugueses, das Tapeçarias de Pastrana sobre a conquista de Arzila, e da Weltliteratur e o respectivo catálogo, ambos também premiados. E ainda trabalhos para o Museu Machado de Castro, Palácio de Estói, Santa Clara-a-Velha, Museu da Ciência e Centenários da República e da Faculdade de Letras de Lisboa. E mais prémios!
E assim se volta à ideia inicial sobre a visibilidade ou invisibilidade nas artes, ao seu claro-escuro e aos seus jogos de interferência. Quantas coisas ficaram por ver nas representações cénicas, quantos pormenores, quantos instantes de força, e que as imagens agora fixam e realçam criando em cada um pontos de partida e aventuras pessoais no re-olhar? E quanto do interesse por um livro pode estar na sua capa? E no todo do livro como objeto? O livro como um outro eu com quem se dialoga, e cuja beleza ou harmonia nos reflete, nos continua e assim nos seduz continuamente? Só quem não viveu o fascínio que certas capas exerceram na infância e juventude, por exemplo, e as imaginações e recriações que produziam não perceberá isto. E sobre o que não vemos e só a arte realça? E o que se guarda num pormenor, num instante que se fixou? E que o momento criou e logo destruiu; e assim se recupera?
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Toda a arte vive no jogo do visível e do invisível, que se serve de nós para se recriar e permanecer. Sugestões de criação e renovação, sobreposição de expressões transformando em visível o que antes talvez não fora.
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João Boavida
3 comentários:
Pois
é assi a modos de contra census 2011
o mundo é invisível e visível vou num rio
visível vou vogando, invisível irei chegando
pois visível sou, apesar do vermelho desvio
mas no invisível cresço, no invisível vazio
visível sou, mas pouco a pouco me vou apagando
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No soy mas visible.....
isto das visiblidades e das invisibilidades da matéria e da burocracia têm muito que se lhe diga
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