Minha crónica no jornal "Sol" de hoje:
Em 1996 circulou em todo o mundo a notícia de que teriam sido encontrados vestígios de bactérias num meteorito caído na Antárctida vindo de Marte. A origem da informação era a NASA e o próprio presidente Clinton se pronunciou sobre o assunto. Mas a controvérsia foi grande e hoje permanecem sérias dúvidas quanto à hipótese formulada na altura. Pode muito bem ter havido uma contaminação por bactérias terrestres.
Apesar de esforços incessantes de muitos investigadores, não se sabe se há vida noutros sítios do vasto cosmos além da Terra. A astrobiologia, o cruzamento da astronomia com a biologia, é uma das áreas mais activas da ciência: os astrobiólogos prescrutam com os seus telescópios sinais de química no espaço, enviam a Marte e a outros astros do sistema solar sondas capazes de detectar vida, procuram marcas biológicas em meteoritos caídos na Terra. A notícia do achamento de vida extraterrestre seria, decerto, um grande evento.
Mas até agora nenhum organismo vivo que possa ser considerado ET se achou de um modo confirmado e reconhecido. Nenhum? O Journal of Cosmology acaba de publicar um artigo de Richard Hoover, cientista da NASA, que pretensamente mostra fósseis de cianobactérias em meteoritos carbonatados. Os meteoritos, examinados com modernas técnicas físico-químicas, já não são novos, estando hoje guardados em museus de ciência (dois deles caíram em França no século XIX tendo sido examinados por grandes químicos da época). Hoover notou que alguns filamentos microscópicos presentes nos meteoritos se assemelham a bactérias que são comuns nas águas dos oceanos e cuja capacidade de fotosíntese terá sido responsável pela forte presença de oxigénio na Terra. O padrão de elementos químicos identificados levou-o a afirmar que estas bactérias não são como as terrestres, vindo por isso de fora.
A Fox News propalou a novidade, logo difundida por outros órgãos de comunicação social. Mas a questão não é simples e, tal como há quinze anos, as reacções adversas não se fizeram esperar. É discutida a credibilidade da revista, uma recente publicação de acesso livre cujo rigor no processo de avaliação pode deixar a desejar. O editor da área de astrobiologia é Chandra Wickramasinghe, um acérrimo defensor da panspermia, a tese segundo a qual a vida na Terra teve uma origem extraterrestre (tem um livro sobre o tema, com Fred Hoyle, o bem conhecido adversário de teoria do Big Bang).
A comunidade dos astrobiólogos está a achar precária a sustentação científica fornecida por Hoover. A análise do artigo continua, como é apanágio da ciência. Mas o mais provável é que esta “descoberta”, tal como a das bactérias marcianas de há alguns anos, não passe na severa avaliação externa. A busca de ET continua...
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