domingo, 27 de março de 2011

O teatro escolar jesuíta

No Dia Mundial do Teatro, reavivamos, pela mão de António José Saraiva e Óscar Lopes, a memória do teatro escolar jesuíta.
"Os Jesuítas, na sua Universidade de Évora, no seu Colégio das Artes coimbrão, nos colégios de Lisboa, Braga, da Índia e do Brasil, continuam a servir-se do teatro como exercício conversação latina e como número de festas comemorativas para visitas ilustres (pessoas régias, provinciais, prelados, etc.) ou para grandes acontecimentos escolares (distribuições de prémios), tal como tinham feito os professores bordaleses trazidos por André de Gouveia.

Os géneros mais representados eram a tragédia bíblica (predominante no século XVI), a fantasia alegórica, já cultivada por Naharro e Gil Vicente, denominada (como na Compilação dos autos vicentinos, 1562) de tragicomédia e enquadrada numa cenografia que pretende deslumbrar, a tragédia hageográfica (dominantes desde 1619), e espectaculosas pastorais, sobretudo pretextadas na história de David (frequentes sob domínio filipino).

A grande novidade apresentada em Portugal pelo teatro escolar jesuíta foi uma encenação enriquecida com as criações cenográficas italianas do século XVI: os panos de fundo pintados segundo as leis da perspectiva, mutações mecânicas de cenário, decoração e guarda-roupa aparatosos, efeitos de acompanhamento instrumental ou coral.

As personagens contavam-se em regra por dezenas (ou centenas); os coros serviam, mesmo nas tragédias, de entremês vistoso; e a intenção edificante era condimentada com cenas truculentas, duetos oratórios ou sentenciosos, cortejos, marchas sob fanfarras e pendões, caçadas bailados e apoteoses finais.

Na sua fase final do tempo de D. João V, a coreografia e a cenografia jesuíta atingiram o apogeu, com profusão de bastidores movidos a máquina, dispostos em profundidade, coros à vista ou ocultos, e complicados conjuntos de ballet.

Mas nunca se igualou a magnificência da tragicomédia A Conquista do Oriente, representada no Colégio de Santo Antão por ensejo da visita de Filipe II (de Portugal) em 1619, cujo guarda-roupa, reunido por empréstimo de conventos, igrejas e famílias fidalgas, contava alguns milhares de pedras preciosas, tecidos e baixelas riquíssimas, num estendal espalhafatoso.

Deve acrescentar-se que o conteúdo ideológico, psicológico ou poético deste teatro não tem originalidade. A Ratio Studiorum, admitindo-o como exercício escolar, recomendava a seu respeito a máxima cautela, excluindo a intervenção de personagens femininas, ou o uso de outra língua que não fosse o latim e preceituando o confinamento a assuntos pios.

Entre os dramaturgos jesuítas neolatinos cujas peças se representaram em Portugal destaquemos apenas, pelos méritos literários, e por certo cunho temático algi nacional (advertências veladas a D. Sebastião, certo aparente anticastelhanismo), o Padre Luís da Cruz, ou Ludovicus Crucius, cujas Tragica e Comica e que Actiones foram impressas em Lião, 1605."
Referência completa: Saraiva, A. J. e Lopes, O. (1976, 9.ª edição). História da Literatura Portuguesa. Porto Editora, 228-229.

1 comentário:

Mea Culpa Mea Maxima Culpa Miserere Dominus Meo disse...

vaidade é a nobreza do sangue

pois todos os homens são do mesmo barro de Adão

todos se convertem na mesma cinza da sepultura

Vaidade é a presunção das letras

pois o maior sábio do mundo de boamente trocará

a parte que sabe pela que ignora

e isso mesmo que sabe quási tudo está reduzido a opiniões

vaidade é o que o mundo chama honra, fama ou crédito

pois depende da opinião dos outros que a dão ou a tiram


VAIDADE É O TEATRO DOS HOMENS

ASSIM NO MAR DO SÉCULO NÃO HÁ SENÃO VAIDADE SOBRE A VAIDADE

35.º (E ÚLTIMO) POSTAL DE NATAL DE JORGE PAIVA: "AMBIENTE E DESILUSÃO"

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