terça-feira, 8 de março de 2011

Esta geração não vai em cantigas pá!


Como era de prever as coisas vão estar na RUA!
Mas nada se resolve na RUA.

Num país como o nosso, onde existe um enorme deficit de atitude das pessoas, esta seria a coisa mais previsível. Mas a verdade é que a situação a que chegamos é culpa de todos.

1. Culpa do(s) governo(s), porque é(foram) incompetente(s).
2. Culpa de quem quis ser alternativa, porque nunca o foi.
3. Culpa da Comunicação Social, porque é muito fraca e não faz o seu trabalho: não investiga, não pergunta, não tem imaginação, não quer saber. Anda ao sabor dos "deolindas" desta vida, dos fait-divers, dos namoros do Ronaldo, das conferências de imprensa do Mourinho, dos convites para a RTP, da espuma dos dias. Numa situação de emergência como a que vivemos, olhar para a nossa Comunicação Social é verdadeiramente kafkiano.
4. Culpa dos cidadãos porque não avaliam, não discutem, não querem saber, não exigem que lhes expliquem, ..., deixam passar tudo ao lado, as eleições são um interminável Benfica-Sporting onde se vota por clubismo. Não podem culpar o governo, ou o PS, ou os políticos no Parlamento, porque foram eles que os elegeram. De facto, o PS e José Sócrates ganharam as eleições, de novo, no final de 2009 (quase com maioria absoluta).
5. Culpa dos intelectuais da treta que temos (a palavra elite até dá vontade de rir), salvo raras excepções, que vivem ao sabor de headlines, sem o mínimo de independência, reflexão ou poder de antecipação. É confrangedor!
6. Culpa desta nova geração, bem formada, culta, conhecedora do mundo, que não toma conta do país e o deixa entregue a oportunistas.

A nova geração não é "deolinda", nem é parva. Aliás, até se sente insultada com isso.
A nova geração não está à rasca, nem é rasca.
A nova geração não se deixa instrumentalizar.
Não. Esta é a melhor geração que fomos capazes de gerar.
Sabe distinguir e não vai em cantigas pá!

Esta nova geração vai tomar a vida nas suas mãos.
Porque tem talento.
Porque tem formação de qualidade.
Porque é capaz de levantar a cabeça e olhar em volta.
Porque sabe que vive num mundo onde nada é garantido.
Porque percebe que a formação superior é um activo muito valioso. Mas só isso.
Porque percebe que o futuro depende de si e da sua estratégia de vida.
Porque vai ser capaz de gerar novas oportunidades.
Porque percebe que vive num mundo diferente que mudou radicalmente enquanto ela crescia.

Esta geração é um novo início para Portugal.
Está muito disponível, e isso é um perigo!
Por favor, prestem-lhes atenção.

27 comentários:

Anónimo disse...

Adorei :)
Não faço parte dos que acham que uma cantiga fala da minha vida.
Sou diferente. Sou mestre, estou desempregada, mas não estou de braços cruzados à espera de uma oportunidade. Estou a tratar de criar a minha oportunidade.
Bem-haja!

Anónimo disse...

Desejo apenas que tenha razão e eu tenha uma má amostra da juventude actual: que não se interessa pela política e não toma o país nas mãos, mas exige condições.
Pode contudo os mentores de protestos serem fermento para uma juventude que tem os potenciais que referiu mas que nunca os utilizou.

Anónimo disse...

A crise que temos provem da estrutura do sistema capitalista. Não é uma questão de rasquice de ninguém. Depois desta, outras virão. O sistema não é estável. A tendência mais primária e ingénua é atribuir as culpas aos políticos, para gáudio dos verdadeiros responsáveis que vivem descansadinhos sem ninguém lhes pôr a vida ao léu. O desaparecimento das crises capitalistas vai demorar séculos, não está para breve.

Carlos Albuquerque disse...

Caro Norberto

Este post parece wishful thinking:

"Mas nada se resolve na RUA."

Como pode ter tanta certeza? Não protestar é que não resolve nada, sobretudo quando muitas das causas dos problemas são exteriores aos que os sofrem.

"A nova geração não é "deolinda", nem é parva."

Que a geração se identifica com a canção é notório. Que a geração não é parva também está na canção.

"Aliás, até se sente insultada com isso."

Li a letra da canção e não vejo nenhuma razão para alguém se sentir insultado por ser identificado com a canção.

"A nova geração não está à rasca,"

Com actual situação do país acha que pode dizer isto?

"Esta nova geração vai tomar a vida nas suas mãos."

Já está a fazê-lo e os protestos na rua são sinal disso mesmo.

"Porque tem formação de qualidade."

Uma pequena percentagem, sim. A grande maioria, provavelmente não.

"Porque sabe que vive num mundo onde nada é garantido."

Toda a gente precisa de um mínimo de segurança e garantias para poder arriscar. Quando nada é garantido, qualquer salto arriscado pode acabar muitíssimo mal.

"Porque percebe que a formação superior é um activo muito valioso."

Isso depende muito do tipo de formação e das necessidades do país. A canção constata precisamente que em Portugal há muitos desencontros. Ou eventualmente exploração da abundância de mão de obra.

"Porque percebe que o futuro depende de si e da sua estratégia de vida."

É bonito de dizer mas não é verdade. Dependemos muito do meio em que nascemos e vivemos. Dependemos muito das políticas dos governos, dos monopólios que dominam o país, das rendas que o estado se comprometeu já a pagar e que vai pagar por TGVs e coisas que tais.

"Por favor, prestem-lhes atenção. "

Talvez se possa começar por analisar o que diz a canção com que tantos desses jovens se identificaram em vez de lhes dizermos aquilo que gostaríamos que estivesse na cabeça deles.

Anónimo disse...

12 DE MARÇO

Somos o fruto de uma geração
que não cuidou de nós como devia
quer no que diz respeito à educação
quer aos princípios da cidadania!

Deixaram-nos à rasca no que toca
aos nossos meios de sobrevivência:
além de nos faltar pão para a boca,
para o ganhar não temos competência!

Há que deitar abaixo, de raiz,
esta situação que sem critério
levou à derrocada este país!

Estamos fartos deste despautério:
venha um sistema que, pelo seguro,
nos deixe construir nosso futuro!

JOÃO DE CASTRO NUNES

Anónimo disse...

Quero para os meus netos um país
de rosto limpo e de cabeça erguida
perante os outros povos, cuja vida
tem todo o visual de ser feliz!

JCN

Anónimo disse...

Perfeito , caro Carlos Albuquerque!

E, temo que, atrás de um qualquer cortinado, esteja Karl Marx a rir-se, às bandeiras despregadas, deste mundo tão distorcido.

Anónimo disse...

Não foi acaso Karl Marx... que começou a distorcê-lo?! JCN

José Batista da Ascenção disse...

Concordo com a análise de Carlos Albuquerque.

Anónimo disse...

(continuação)

Não quero que eles vivam de emprestado,
mês após mês, de braços estendidos
aos fundos cada vez mais reduzidos
do banco mundial... indesejado!

Desejo, a todo o transe,que eles tenham
a intrepidez e o ânimo bastante
para inverter esta ordem degradante!

Instigo-os, desde logo, a que mantenham
metaforicamente vertical
a linha da colun vertebral!

JOÃO DE CASTRO NUNES

Augusto Küttner de Magalhães disse...

Muito oportuno este post.

De facto todos temos CULPAS, e não sempre só os outros, dado que a dada altura tambem somos os OUTROS:

- Se não nunca estaríamos em lado algum, seriam sempre os Outros.

E é facil ser os outros, quando estamos do contra!

Quanto a esta juventude ter muito valor, não tenhamos quaisquer duvidas, mas aos descontruirem o que está mal, devem conseguir construir BEM; para este mal substituir.

Augusto Küttner de Magalhães

Anónimo disse...

Dos dinheiros emprestados
de que estamos a viver
os nossos netos vão ser
os grandes sacrificados!

JCN

Anónimo disse...

Os jovens têm o direito
de repensar Portugal
ao seu critério, ao seu jeito,
ou seja, o seu ideal!

JCN

Mário Reis disse...

Esta posta é uma fraude.

Só falta assinar uma declaração de apoio a um regime que não serve ao povo e ao país e se apressa em garantir a estruturação de um império legislativo e de opressão, para submeter quem vive do seu trabalho, instabilizando a vida das familias em nome da segurança dos interesses de um pequeno grupo de parasitas (tretas dos mercados).
Lembra-se dos tempos em que os impostos eram só para o povo, que além de trabalhar de sol a sol, passavam fome e pagavam os tributos aos senhores.

O que é isto, caro amigo? Acredito que não defende esses tempos, mas atente no retrocesso civilizacional que está em marcha. O horizonte que nos apontam é de exploração e extinção dos direitos sociais.

Quanto ao que mudou no mundo? De facto muita coisa mudou, que a cosmética, a moda e os estilistas e os photoshop's e outras manipulações vieram adornar. Mas no fundo o problema mantem-se: a riqueza, que resulta do trabalho dos homens e dos recursos naturais que são roubados séculos após séculos pelos grandes senhores, deve reverter e ser distribuida para gerar dignidade humana.

J. Norberto Pires disse...

Muito brevemente:

1. O inverso de não ir para a RUA não é não protestar. É fazê-lo de forma consequente. A RUA resolve pouco, ou nada. Talvez só funcione como adiamento da necessidade de enfrentar problemas. A RUA só faz sentido com objectivos. Ir para a RUA só porque sim, ou com manifestos de “demissão de toda a classe política”, etc., são soluções de há 40 anos.

2. Esta geração não é identificada pela canção dos “deolinda”. Porque esta geração é melhor do que todas as outras que constituíram a nossa história comum. Muito melhor.

3. Vivemos numa situação complexa, que afecta todos. E que precisa de soluções criativas e eficazes. Eu diria que é esta geração que está em condições de dar respostas. Não está à rasca, recebe é uma herança muito difícil. Reduzir as coisas a estas frases e palavras é uma forma, essa sim, “rasca” de colocar os problemas. Temos é um deficit de atitude, de participação, de discussão, de planeamento, de responsabilidade, de ética, de serviço público. Em democracia isso é das piores coisas que podemos fazer. Dá em desastre, como estamos a ver. E pode terminar noutro regime totalitário, com homens/mulheres providenciais.

4. Esta geração vai tomar conta do país enfrentando os problemas: tenho a absoluta certeza disso. A RUA não é sinal de nada. Pelo menos esta RUA.

5. Comparem com a geração do 25 de Abril. A percentagem de pessoas com formação de qualidade é muito superior. O problema é um certo deficit de atitude.

6. O paradigma mudou. Nas gerações até aos anos 80 um curso superior significava emprego. Hoje não significa. Significa preparação que tem de ser complementada com atitude pessoal e estratégia. A esmagadora maioria das pessoas não terá emprego à saída da universidade, vai mudar muitas vezes de emprego até eventualmente estabilizar, e muitos vão ter de criar a sua própria oportunidade. E isso faz toda a diferença. Ninguém lhes disse isso durante o curso, para que se preparassem, e agora apanham com uma tempestade perfeita... tudo de uma vez. É, de facto, uma situação muito difícil.

7. A formação é sempre um activo muito valioso. Sempre.

8. É bonito dizer que estamos sobre-endividados e cheios de compromissos, e usar isso como desculpa ou arma de arremesso. Só que aqui não existem “nós” e “eles”, mas sim um todo nacional que se demitiu de tomar opções e deixou que a situação chegasse a este ponto. A herança que a nova geração recebe é muito difícil. Por culpa de todos nós. Vamos para a RUA protestar contra nós próprios?

9. Talvez cada um de nós perceber o que está mal sem tentar sacudir a água do capote. Porque um país chega a este ponto com responsabilidades partilhadas. Não foram “eles”. Fomos todos “nós”, com graus de responsabilidade diferentes, mas “nós” de qualquer forma. Eu confio nessa nova geração porque ela é muito melhor do que qualquer outra que já viveu em Portugal. É bem formada, culta e percebe o mundo. Tem obrigação disso.
:-)

10. Quanto a mudanças de regime, eu estou convencido que estamos perante uma mudança de regime como escrevi aqui:
http://dererummundi.blogspot.com/2010/10/oe2011-o-momento-zero.html

e aqui:

http://dererummundi.blogspot.com/2010/10/oe2011-momento-zero-actualizacao.html

Carlos Albuquerque disse...

Caro Norberto

Duas notas apenas:

1) A manifestação da Geração À Rasca não pede a demissão de toda a classe política. O desmentido formal está aqui:
http://geracaoenrascada.wordpress.com/2011/03/08/sic-direito-de-resposta/

2) A qualidade da democracia portuguesa tem-se degradado muito. Há já muitos tiques de autoritarismo e um controlo apertado da comunicação social. A culpa terá sido de todos, mas para mim não é óbvio que a educação política dos portugueses hoje seja muito melhor do que era em 1974.

Anónimo disse...

Um "regime totalitário com homens/mulheres providenciais" é pressuposto 9inverificável, porque entre nós, neste preciso momento, é fauna que simplesmente não existe! Esse risco... não corremos! Temos que nos remediar... com o que há. JCN

J. Norberto Pires disse...

Eu diria que a educação política é hoje um ponto fraco, mas é melhor do que em 1974. Há mais consciência, mais informação e mais noção sobre como funciona o mundo.

Sobre a RUA, e sobre os movimentos que por aí se organizam (e parece haver alguma contra-informação), digo que não se vai para a RUA só porque sim e sem objectivos.

Anónimo disse...

Dada a crise política actual
causada por senil decrepitude,
há que reconhecer que em Portugal
a voz pertence agora à juventude!

JCN

Anónimo disse...

Os dados estão lançados,
não havendo volta a dar:
consoante os resultados,
assim se tem de actuar!

JCN

Anónimo disse...

Parece-me que o Norberto tem de vir mais à rua.
Ninguém vai para a rua só porque sim. Estamos a asfixiar. Uma nova ordem, feudal, está a nascer. Os Estados já pouco valem perante as todo poderosas multinacionais.
E quanto a homens ou mulheres providênciais, temo que, em menos de dez anos, apareça um.

Anónimo disse...

Esperemos que não passe de... "temor"... infundado! JCN

Anónimo disse...

Que a juventude saiba construir
uma democracia alicerçada
numa cidadania que por nada
se deixe corromper ou poluir!

JCN

J. Norberto Pires disse...

Talvez. Mas acredito que vamos ser capazes de resolver os nossos problemas de forma séria, aproveitando a enorme capacidade que temos e que não está a ser usada nem potenciada.
:-)
Precisamos de um evento mais positivo, que constitua um "protesto" positivo, criativo e mobilizdor.

Anónimo disse...

http://www.rr.pt/informacao_detalhe.aspx?fid=92&did=146078

Bolseiros de investigação juntam-se ao protesto.

Anónimo disse...

RESSURGÊNCIA

Ao cabo de oito séculos de história,
a nação portuguesa, deprimida,
desembocou num beco sem saída,
impondo-se uma muda peremptória.

Há que de almas em riste ir para a rua
clamar justiça social na crença
de que é preciso, sem qualquer detença,
que tudo de raiz se reconstrua.

Não vai seguramente ser nos paços
desta governação desautorada
que a solução terá ser achada.

Teremos, conforme hoje se passou,
descer à rua e, sem qualquer detença,
chamar a contas quem nos defraudou!

Coimbra, 12 de Março de 2011.

JOÃO DE CASTRO NUNES

Anónimo disse...

Por sair gralhado, substituo o penúltimo verso por:

de ir para a rua e, sem baixar os braços,

JCN

EMPIRISMO NO PENSAMENTO DE ARISTÓTELES E NO DE ROGER BACON, MUITOS SÉCULOS DEPOIS.

Por A. Galopim de Carvalho   Se, numa aula de filosofia, o professor começar por dizer que a palavra empirismo tem raiz no grego “empeirikós...