domingo, 13 de março de 2011

Química das coisas banais: Meias de vidro...

Não são obviamente de vidro mas de nylon, um tipo de poliamida, estas peças do vestuário feminino. Trata-se de um polímero obtido pela condensação de uma amina e um ácido carboxílico ou cloreto de acilo. A designação meias de vidro está a cair em desuso e é provavelmente devida ao seu tradicional brilho e transparência.

Desenvolvido entre 1928 e 1937 por Wallace Carothers e colaboradores na DuPont, o nylon é o primeiro polímero a ser explorado comercialmente. Durante esse período, em que foram lançadas as bases da indústria e ciência dos polímeros sintéticos, Carothers não fez as suas descobertas por acidente. Procurou de forma sistemática obter polímeros similares aos das cadeias proteicas da seda e da lã, mas em vez de aminoácidos, testou a utilização de aminas e ácidos carboxílicos. Carotheres esteve também envolvido na invenção do neopreno, a primeira borracha sintética, mas infelizmente uma depressão que o acompanhava desde a juventude levou-o ao suicídio com cianeto em 1937. Em 1938 apareceu o primeiro produto de nylon, uma escova de dentes, e em 1939 foi feito o lançamento das meias de nylon (na fotografia uma operação publicitária da época).

Posteriormente surgiram as meias de lycra que são feitas de elastano, uma fibra baseada no polímero poliuretano, e hoje em dia é possível encontrar a combinação dos dois materiais. Um problema das fibras de nylon é o facto de serem hidrofóbicas, ou seja repelirem a água, não deixando passar o vapor de água através do tecido. A partir dos anos 1980 foram realizados desenvolvimentos tecnológicos sobre a textura das fibras de nylon de forma a eliminar o brilho, dar-lhes textura semelhante ao algodão e finalmente criar tecidos de poliamida que deixassem passar o vapor de água, mas não a água líquida, ou seja que sejam impermeáveis ao mesmo tempo que “respiram.”

Quem já foi a uma estação de triagem automática de lixo pôde ver centenas de meias de nylon a circular no sistema. Estas, assim como outras poliamiadas sintéticas acabam por ir parar aos aterros sanitários e ficam lá bastantes anos, embora tenham sido descobertas bactérias que conseguem degradar naturalmente o nylon com uma enzima que ficou conhecida como nylonase.

Incinerar estes polímeros para valorização energética apresenta algumas dificuldades devido à possível libertação de gases tóxicos enquanto que a sua reciclagem também não é simples, em especial por não serem recolhidos de forma selectiva. Sendo um termoplástico, ou seja um polímero que se torna líquido quando aquecido, as poliamidas podem ser moídas para serem reutilizadas, como aconteceu durante a segunda guerra mundial em que milhares de mulheres entregaram as suas meias para fazer pára-quedas. Existem também alguns estudos sobre a reciclagem de nylon usando solventes e, na internet, podem ser encontradas sugestões muito criativas para a sua reutilização, desde sacos para guardar cebolas a panos de polir sapatos.

O nylon tem uma densidade superior à da água e por isso é usado em redes de pesca. Se estas meias acabarem por ir parar ao mar não vão flutuar...

1 comentário:

Cláudia da Silva Tomazi disse...

Ora, para desenvolver a utilidade do polímero, certamente haveria de competência em outras, soluções.

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