quarta-feira, 16 de março de 2011
Apocalipse Nuclear no Japão?
Segundo o comissário europeu para a energia, Gunter Oettinger, o acidente nuclear no Japão é um Apocalipse. E espera o pior nas próximas horas, até porque a situação parece estar "fora de controlo". A sequência de eventos mostra bem os esforços que foram feitos para impedir o desastre, e o desespero perante a falha dos vários mecanismos de segurança.
Neste momento a situação deve estar, infelizmente, muito perto do nível 7, e muito provavelmente (dado o alarme das reacções da UE e da Rússia) vamos ter de redefinir a escala tendo este acidente como referência máxima. Na verdade, na sequência de eventos reportada pela CNN aparece a seguinte nota:
March 15, 11.10 p.m.: The IAEA reports that Monday's blast at reactor No.2 "may have affected the integrity of its primary containment vessel."
Isso pode significar o acesso mais ou menos directo de material radioactivo ao ambiente com libertação de produtos e gases da fissão nuclear como o Crípton 85 e Césio 137 (com tempos de vida longos) ou o Iodo 131 (com tempo de vida curto mas muito facilmente absorvido por muitos dos elementos da cadeia alimentar humana: leite e vegetais, por exemplo).
A energia nuclear tem este problema sério: é um processo muito perigoso para o homem e muito difícil de controlar quando algo corre mal. E a NATUREZA tem essa característica que o homem insiste em não ter em conta: gera com alguma facilidade sequências de eventos catastróficos que fazem falhar todos os nossos sistemas de segurança. A sequência de eventos no Japão, que conduziram à falha de todos os sistemas de segurança, é verdadeiramente incrível.
Se aliarmos isso à incapacidade humana para aprender com os seus erros, desleixando a segurança em deterimento do retorno económico, verificamos que tudo isto se pode tornar num imenso pesadelo. Iouli Andreev - especialista em segurança nuclear e um dos homens que participaram nas limpezas de Chernobyl depois do desastre de 1986 - disse à Reuters que a ganância da indústria e a influência empresarial sobre a AIEA terão contribuído para o desastre japonês: "Depois de Chernobyl, toda a força da indústria nuclear foi direccionada para esconder o acontecimento, para não manchar a sua reputação."
O problema com as centrais nucleares é esse mesmo: quando algo corre mal rapidamente a coisa se torna num problema GLOBAL de saúde pública e de segurança. Se isto pode acontecer no Japão, que é um país disciplinado, imaginem o que poderá acontecer num país mais caótico e desorganizado que tenha centrais nucleares.
:-(
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5 comentários:
Norberto,
"Se isto pode acontecer no Japão, que é um país disciplinado, imaginem o que poderá acontecer num país mais caótico e desorganizado que tenha centrais nucleares."
Esse é um dos pontos principais de discussão do excelente livro de divulgação do Charpak (prémio Nobel da Física e responsável pelo programa nuclear francês): "De Tchernobyl en tchernobyls"
http://www.odilejacob.fr/0207/2141/De-Tchernobyl-en-tchernobyls.html
Mas deixa-me acrescentar que o Japão é de facto um país muito disciplinado, há uma obediência impressionante às hierarquias, mas essa disciplina não se traduz directamente em organização industrial, em particular da indústria nuclear. O Japão é um dos países que tem pior historial de acidentes: Tokaimura e Mihama foram dos piores acidentes que aconteceram até hoje. Em ambos houve muita negligência, irresponsabilidade e tentativas de esconder o jogo à população (ler o Charpak). Conheço engenheiros franceses que visitaram centrais japoneses e ficaram com péssima opinião. Um amigo engenheiro da Renault descreveu a fábrica da Nissan no Japão como uma chafarica, sem higiene com uma organização confusa e irracional.
A indústria nuclear francesa é a única de larga escala que nunca teve acidentes graves (Reino Unido: Sellafield, EUA: Three Mile Island, Suécia: Forsmark). Por isso levo muito a sério a opinião deles.
Alimentam-se muitos fantasmas sobre o Japão que nem sempre correspondem à realidade no terreno.
não esquecer que este acidente não tem que ver com falta de disciplina na condução ou gestão da central.
isto é um problema de engenharia sísmica e de ponderação de riscos, quem decidiu construir ali a central nuclear estava certamente informado da susceptibilidade da região a eventos tectónicos desta magnitude, da vulnerabilidade das estruturas civis, e da central neste caso, e dos perigos que tudo isso acarretaria.
não estou a querer dizer que os factores sociais não são preponderantes para determinar o perigo de uma central nuclear em diferentes sítios, porque o são, apenas que isso não se aplica a este caso.
cumprimentos,
joel mendes
Talvez, mas a questão continua. Se isto acontece num país disciplinado, imagine num país mais caótico.
:-(
O governo japonês acabou de dizer que a situação está fora de controlo.
:-(
Ainda queriam que eu fosse adapta do NUCLEAR! NUNCA!!!
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