terça-feira, 15 de março de 2011

ALERTA NUCLEAR NO JAPÃO

A situação na central nuclear de Fukushima no Japão, devido ao terramoto com enorme tsunami, não é desesperada mas é bastante grave. Existe uma classificação internacional de acidentes em centrais nucleares com o máximo em 7 (Chernobyl, 1986), e, depois de ter sido classificada de grau 4, a classificação pode estar a evoluir para grau 5 (Three Miles Island, 1979) ou mesmo 6. Desesperada seria se se verificasse o cenário de Chernobyl, com fusão total do combustível nuclear e espalhamento de radioactividade, provocando acréscimo de doenças cancerígenas numa larga zona. Verificaram-se nos últimos dias explosões em três edifícios de reactores. Estas explosões não são nucleares (nada parecido com Hiroshima ou Nagasaki!) mas sim rompimento do texto ou paredes do edifício devido à pressão de gases, designadamente hidrogénio e vapor de água. Não há ainda informações seguras, mas tudo indica que algumas barras de combustível nuclear teriam estado expostas ao ambiente sem cobertura de água ou do contentor interior de aço, contaminando com material radioactivo o ambiente (por exemplo, isótopos radioactivos de césio e iodo). Não se sabe, até porque é difícil ou mesmo impossível a monitorização in loco, em que medida houve fusão do material nuclear (esta fusão não é nuclear, mas a passagem da fase sólida a líquida devido a sobreaquecimento), mas, se isso tiver acontecido em larga escala, como em Chernobyl, não é nada bom por aumentar a contaminação radioactiva do ambiente.

O que correu mal nesta instalação e uma indústria que é reconhecidamente uma das mais seguras do mundo? Pois houve o maior terramoto de que há memória do Japão (ou melhor maremoto) , o quarto maior do mundo (o de Lisboa, de 1755, saiu do top ten). Com um desastre natural desta magnitude dificilmente qualquer estrutura natural se aguenta, mesmo uma barragem muito bem construída. Ao contrário de Three Miles Island e Chernobyl, onde também falharam sistemas de arrefecimento, não parece ter havido - com a ressalva que ainda é cedo para avaliar - grandes erros humanos. É uma catástrofe natural. Uma central nuclear não se desliga carregando simplesmente num botão já que o material que aquece a água que faz mover turbinas continua quente mesmo depois de diminuída a reacção nuclear, o que foi feito pela inserção imediata de moderadores de neutrões. Os vários sistemas de refrigeração falharam por quebra de energia eléctrica e limites dos geradores locais. E agora o meio que estava a ser utilizado, o de bombagem da água do mar com equipamento de bombeiros, pode falhar devido à impossibilidade de ter trabalhadores a a operar numa zona com maior radioactividade. A radioactividade é muito fácil de medir e está, de facto, a aumentar na zona. O primeiro-ministro japonês não escondeu a gravidade do acidente e decretou um raio maior de protecção da central. Esta é uma outra grande diferença relativamente a Chernobyl: um governo não pode mentir numa situação destas de emergência da saúde pública. Os japoneses são um povo disciplinado e estão mais bem preparados para uma emergência grave do que outros povos: veja-se a sua reacção a este terramoto, de magnitude semelhante ao de Sumatra, mas que vai ter provavelmente muito menos mortos do que os mais de 200 000 na Indonésia (é ainda cedo para fazer o balanço de os mortos). Resta-nos esperar para ver o que acontece em Fukushima, enquanto no terreno se tenta fazer o melhor que o homem sabe e pode para controlar os danos. O exemplo do Japão mostra-nos mais uma vez que vivemos num mundo onde há riscos naturais e temos de nos habituar a viver nessa situação, prevenindo-os e combatendo-os o melhor que soubermos.

18 comentários:

João André disse...

A comparação com o sismo de Sumatra de 2004 não faz sentido. Na altura o tsunami varreu ilhas sem grandes elevações onde a maior parte das construções eram frágeis e se espalhavam por uma enorme área. No Japão a densidade populacional é elevada mas apenas e só nas regiões onde existem de facto povoações. Cerca de 70% do Japão é inabitado devido à sua orografia, o que significa que o próprio tsunami não teria como se espalhar em terra como no caso de Sumatra. Só depois entra de facto a resposta do estado e da sociedade ao estado de emergência.

Considerando que o terremoto nem terá sido muito responsável pelas falhas nas centrais nucleares (aparentemente terá sido o tsunami, até porque o terremoto não foi certamente tão forte em terra no Japão como no epicentro), fica a dúvida sobre a capacidade humana de conseguir de facto garantir a segurança nas centrais nucleares.

O facto é que as centrais nucleares são seguras apenas e só contra aquilo que sucedeu no passado, sendo que podem sempre suceder novos problemas no futuro. Considerando os problemas inerentes à indústria (a incapacidade física de simplesmente terminar a operação) e o potencial destrutivo da mesma (explosões - nucleare ou não, radiação, contaminação do solo por metais pesados, etc) bem como os custos que são constantemente ignorados (desmantelamento, segurança e construção) pelos seus proponentes, somando aos problemas dos resíduos, este assunto apenas me vem reforçar a convicção que a energia nuclear baseada na fissão não é viável para o planeta no longo prazo.

Anónimo disse...

Deus nos deu a inteligência
para combater o mal:
só que às vezes a ciência
nos é prejudicial!

JCN

Anónimo disse...

Podem arranjar as desculpas que quiserem que foi uma catástrofe natural e o que mais entenderem. Se não existisse lá a central nuclear o mundo neste momento não estava em sobressalto.

Prefiro as eólicas e o sobrecusto associado.

Diogo Morgado Conceição disse...

Senhor Professor:
Muito obrigado por este esclarecimento. É muitas vezes difícil a quem, como eu, conhece apenas os rudimentos da aplicação da energia nuclear perceber exactamente o que se está aqui a passar, sobretudo com toda a carga de informação contraditória que é tão típica do nosso século.
Naturalmente que cada um pode ter a opinião que entender sobre a utilização de energia nuclear para fins civis (eu também tenho a minha), mas considero este texto um retrato lúcido e muito esclarecedor.

Bem haja!

Tiago Santos disse...

Só fiquem sem perceber se acha as centrais nucleares uma boa opção ou se os custos e riscos a elas associados superam as vantagens. No fundo, o que todos precisamos neste momento de ouvir, vindo de alguém que perceba do assunto...

good churrasco ó auto de café.... disse...

Fukushima é a norte de Tóquio

Tukushima é a sul de Osaka

acho que há aqui e nas notícias alguma confusão devido à sonoridade similar

Fukushima tem uma série de reactores em mau estado..Tukushima tem centrais térmicas
a não ser que haja duas Tukushima's

Diogo Morgado Conceição disse...

Para mim, numa perspectiva de investimento / retorno e custo / benefício, a longo prazo, e considerando aquilo que são os recursos (científicos, humanos, tecnológicos, naturais e financeiros) ao nosso dispor, não tenho dúvidas que o caminho a seguir é o das renováveis. "Em massa", com a maior eficiência possível (ao menos numa coisa, concordo com o nosso Governo!...). Mas percebo o porquê de se ter investido nisto no passado e não posso simplesmente criticar e dizer "Resolveram brincar com o fogo [energia nuclear], não se queixem que queima...". Não creio mesmo que possa ser criticada esta opção que gerações anteriores de políticos em todo o mundo fizeram (ao contrário de outras, naturalmente), na medida em que a energia nuclear chegou a prometer muito mais do que aquilo em que se tornou...

Mas creio que a pergunta não era para mim, pois não, Tiago? :) Pelo menos, não acho que perceba do assunto... :P

good churrasco ó auto de café.... disse...

The restus the comunidade di físicos e geophis
Lubos Motl inclusibe andam in :

Today, near the worst reactor building in Fukushima, they detected 400 millisieverts per hour: this figure was ultimately confirmed by IAEA (which was, until very recently, trying to downplay all radiation risks in Japan - a fact that may be related to the current Japanese leader of IAEA, Yukiya Amano). I want you - including all fellow big fans of nuclear energy - to understand that this is just a huge number. We have quantified one death to be 5 sieverts above: and the kids playing next to the reactor receive 0.4 sieverts per hour. Thank you, you're welcome.

If you spend twelve hours by playing in the vicinity of the worst reactor of the Fukushima power plant, you will probably die. And if you die, who will continue to fight against the meltdown threats? Between the reactor buildings 2 and 3, the equivalent dose is 0.03 Sievert per hour. That will give you 150 hours of life over there - unless you are protected in some way.

Of course, it's much more important what the radiation levels will be in the nearby large towns - and I don't even want to use the word Tokyo in this paragraph. But be sure that if the radiation level in Tokyo or another city managed to jump to something like a millisievert per hour, or even per day (and it would be sustained for a day), that would mean that 1/5,000 of the population of the city would ultimately die as a consequence of the exposure during the hour (except for those who would manage to die earlier because of another reason) unless they were successfully kept indoors all the time.

good churrasco ó auto de café.... disse...

também essa da catástrofe natural ao invés de falha de segurança em centrais de 3ªidade

e a manutenção de centrais em plena laboração durante 30 e tal anos
o último reactor data de 78 ou 79
e o 1º é do início dos anos 70

Tiago Santos disse...

Caro Diogo,

A pergunta era também para quem educadamente me desse uma perspectiva interessante e informada sobre o assunto, o que foi o seu caso, pelo que agradeço...

Anónimo disse...

Para além das catástrofes naturais, existe sempre o perigo das falhas causadas por erro humano, ataques militares ou sabotagem terrorista. Desagrada-me a hipocrisia daqueles que afirmam que acidentes como Chernobil tiveram poucos mortos, omitindo os habitantes da zona que posteriormente contraíram doenças, os nado-mortos e as crianças com malformações congénitas. Poluir gravemente e interditar uma região durante centenas de anos é um risco que não considero de forma nenhuma "aceitável atendendo aos benefícios" como tantos gostam de dizer.

good churrasco ó auto de café.... disse...

todas as renováveis tem custos de manutenção e de substituição

a vida útil das turbinas eólicas instaladas há 20 anos na Dinamarca está chegando ao fim

energia geotérmica é limitada geográficamente

biomassa implica transporte de grandes volumes com baixa energia BTU per unidade de massa
requer dispêndio energético elevado na recolha e transporte

hídrica tem pouco potencial de expansão

solar (limitações de ocupação de território)
hectares ocupados para iluminar uma localidade de alguns milhares dealmas

é impraticável para grandes cidades
no presente estado da tecnologia

energia atómica....sempre

ou redução dos consumos actuais

Anónimo disse...

As centrais nucleares nunca serão seguras com a tecnologia actual e são uma péssima opção tendo em conta a relação custo/risco. Independentemente dos sistemas de segurança que tiverem e de onde forem construídas. O que aconteceu no Japão nem sequer foi o pior cenário possível. Se o terramoto tivesse provocado um falha no solo que acertasse em cheio na central não havia sistema de segurança que lhe valesse e tinham uma terceira catástrofe em cima do terramoto e do tsunami. Com excepcção das barragens de grandes dimensões, nenhuma das outras formas de energia tem um potencial de destruição tão grande como a nuclear. Será que não aprendemos nada como o colapso financeiro e vamos continuar a com a cultura do risco para o proveito financeiro mais fácil?
E podíamos ainda falar do lixo nuclear das centrais...

Anónimo disse...

Muito haveria por dizer mas, por falta de tempo e oportunidade, limito-me a reforçar o que escreveu e bem o Anónimo das 23.28 de 15-03

Dervich

Anónimo disse...

Chernobil teve milhares de mortos e muitos mais milhares de vítimas que ainda hoje sofrem. Se é ignorância ou hipocrisia de quem afirma o contrário, não sei, mas sei que a palavra "sempre" num argumento só o reduz.
Eu prefiro energias mais seguros e menos poluentes mesmo que mais caras. Até porque o "caro" é relativo. Quantos prejuízos causados por desastres relacionados com o petróleo e a energia nuclear ficaram por pagar e que não se reflectiram no custo destas energias? Qual o custo das doenças provocadas pela poluição? Qual o custo dos solos contaminados com a exploração de gás natural?
A larga maioria das comparações que se fazem entre os custos das renováveis e outras é basicamente hipócrita.

باز راس الوهابية وفتواه في جواز الصمعولة اليهود. اار الازعيم-O FLUVIÁRIO NO DESERTO disse...

Chernobil teve milhares de mortos e muitos mais milhares de vítimas que ainda hoje sofrem

e a Rússia continua com as centrais porque tem urânio e é mais barato e eficiente que queimar o petóleo ou o carvão que podem exportar

tem riscos
muitos
é suja
é
necessita de técnicos especializados e de custos gigantescos para a instalação

também as outras

3 grandes acidentes

e 200 menores

também a indústria química teve Bophal

e pesticidas fertilizantes e plásticos

continuam a fazer dezenas de milhares de vítimas por ano

logo por esse prisma

Demosfen disse...

Chernobil é na Ucrânia.
Na Russia nunca aconteçeram esses desastres.... E não te preocupes União Europeia e Rússia irão fazer inspecções de todas as estações nucleares

Anónimo disse...

Fico muito mais descansado por saber que vão fazer inspecções em todas as centrais nucleares na UE e Rússia. Se fossem seguras não havia necessidade de as fazerem agora à pressa depois do desastre!
Vale de muito dizer que este terramoto e tsunami foram muito para além do previsto... Previsto? Está em todas as notícias que foi o 5º terramoto mais potente desde que há registo. Parece mais é que a história foi ignorada.

"A escola pública está em apuros"

Por Isaltina Martins e Maria Helena Damião   Cristiana Gaspar, Professora de História no sistema de ensino público e doutoranda em educação,...