terça-feira, 26 de maio de 2009

Morcegos garantem conservação dos livros


Notícia distribuída ontem pela Lusa:

"Centenas de morcegos vigiam diariamente duas das mais antigas bibliotecas de Portugal, na Universidade de Coimbra e no Palácio de Mafra. É a sua habilidade para capturar insectos que assegura a preservação dos livros.

Os morcegos são o único mamífero capaz de voar e só o fazem de noite, emitindo sons de alta frequência inaudíveis ao Homem e que dificultam a observação e estudo das 26 espécies deste animal que se sabe que existem em Portugal.

Numa noite do ano passado, Jorge Palmeirim, investigador de aves e morcegos na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, apetrechou-se com equipamento para medição sonora e deslocou-se à biblioteca Joanina de Coimbra para tentar perceber que morcegos continuavam a usar os abrigos daquele espaço, onde estão instalados há mais de 200 anos.

“Não consegui ver, só ouvir, mas cheguei à conclusão, pelos excrementos que encontrei, que estão lá pelo menos duas espécies de morcegos”, conta o professor.

Em todo o país, e além de Coimbra, só se conhece um outro abrigo de morcegos em bibliotecas, no Palácio de Mafra, supondo-se que a preferência da espécie por estes espaços possa estar relacionada com o revestimento antigo de madeira.

“Os morcegos são também muito conservadores nos abrigos. Têm tendência para repetir por várias gerações os mesmos locais de abrigo e preferem edifícios antigos”, explica Jorge Palmeirinha.

Em Coimbra existem documentos com cerca de 200 anos que comprovam a compra, nesse tempo, de peles semelhantes às que ainda hoje a biblioteca Joanina utiliza para, diariamente , cobrir mesas antigas de forma a protegê-las dos excrementos dos morcegos.

“Os morcegos habitam na biblioteca desde que há memória. As mesas da biblioteca são protegidas com peles todas as noites, porque são também antiguidades, e os morcegos circulam livremente, comendo os insectos”, diz o director da biblioteca da Universidade de Coimbra, Carlos Fiolhais.

Em Mafra também são os morcegos, e as boas condições climatéricas proporcionadas pelas paredes altas e a madeira do século XVIII, que explicam o “óptimo estado de conservação” dos livros, segundo a responsável pela biblioteca, Teresa Amaral.

Um morcego pode devorar 500 insectos por dia e, por isso, ninguém questiona que durante a noite se ausentem das bibliotecas para caçar. Estas entradas e saídas são facilitadas pelas fendas e orifícios comuns nas bibliotecas antigas.

“Uma pequena colónia de dez morcegos come um quilo de insectos por noite. Imagino quantos insectos são precisos para um quilo..”, comenta Jorge Palmeirim.

Das 26 espécies destes mamíferos que habitam em Portugal, e que representam várias centenas de milhares de morcegos, as que vivem nas grutas são as mais ameaçadas.

“Durante anos as grutas foram bloqueadas por pastores para proteger as suas ovelhas e também por pessoas que estigmatizavam a espécie' porque os morcegos são muitas vezes associados a bruxaria, conta Jorge Palmeirim.

Também os pesticidas da agricultura, por contaminarem insectos ingeridos por morcegos, têm sido responsáveis pelo decréscimo de algumas espécies."

6 comentários:

Helena Ribeiro disse...

Eu já gostava desses bichos, agora então... excelente notícia para ler com alunos em Formação Cívica.

Anónimo disse...

Os morcegos que se alimentam de insectos (Microchiroptera) são uma sofisticada e miniaturizada maravilha da criação.

Desde logo, eles não têm antecedentes evolutivos no registo fóssil. O mais "antigo", o Palæochiropteryx tupaiodon, é tão complexo e especializado como qualquer morcego actual.

Além disso, estes morcegos têm um sistema de sonar, ou eco-localização, absolutamente fantástico.

O sistema permite-lhes caçar no escurso, identificando a frequência do seu eco, no meio de milhares de ecos de outros morcegos e de muitos outros ruídos.

Mais, o sistema permite-lhes localizar um determinado insecto, distinguindo-o dos demais.

Para isso contam, desde logo, com uma laringe especializada que lhes permite emitir sons de alta frequência (ultra sons), com ondas curtas, essenciais para a distinguir os detalhes de objectos em milionésimos de segundos.

Graças ao seu sistema de sonar, os morcegos conseguem identificar, em pleno voo, a distância, velocidade, tamanho, forma e textura da sua presa.

As maravilhas de design destes morcegos não ficam por aí. Elas incluem os ouvidos, o sistema nervoso, as asas, etc.

Tudo isso corrobora a necessidade de sistemas altamente complexos e integrados, a funcionar instantânea e simultânea, com base em informação codificada muito precisa.

Sobre estes morcegos:

www.creation.com

www.answersingenesis.org

Anónimo disse...

Outra vez as condições climatéricas — no nono parágrafo do texto, aliás interessante.

Talvez se devesse dizer "climáticas", se porventura não são simplesmente "de tempo"… "metereológicas".

BRIGADO"

Helena Ribeiro disse...

Grata pela informação acrescida.

Freire de Andrade disse...

Já tinha lido algures que a presença de aranhas era favorável à conservação dos livros de bibliotecas. Mas a acção dos morcegos é novidade para mim. Em vez da desagradável visão de teias de aranha, teremos o problemas dos excrementos.

Anónimo disse...

As aranhas são favoráveis pois também se alimentam de outros insectos :), e apesar de não ser uma visão muito bonita, não é preciso ter medo delas nas bibliotecas nem nos arquivos porque normalmente não são venenosas :) ! ~~~~

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