quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Um debate do outro mundo


No dia 30 de Novembro, Dinesh d'Souza, um católico conservador norte-americano, participou num debate na Universidade de Tufts sobre se Deus é uma invenção humana com Daniel Dennett, o filósofo autor de «Breaking the Spell: Religion as a Natural Phenomenon». O debate pode ser visualizado na totalidade no YouTube: Parte 1, Parte 2, Parte 3, Parte 5, Parte 6, Parte 7, Parte 8, Parte 9, Parte 10, Parte 11, Parte 12, Parte 13, Parte 14 e Parte 15.

Um dos argumentos recorrentes de d'Souza ao longo do debate, o estafado reductio ad Hitlerum que pode ser «apreciado» neste excerto, mexe fortemente com a minha capacidade de indignação, por, como já expliquei, ser completamente falso, mas as falácias e espantalhos reciclados ao longo da sua argumentação - que já me merecia muitas reservas -, e também a forma como fugiu sistematicamente a todas as questões que lhe foram endereçadas, não me deixaram grande impressão nem, obviamente, abalaram a minha posição sobre o tema em análise.

Talvez por o estilo de d'Souza impedir qualquer debate sério, prefiro a prestação de Daniel Dennett noutras ocasiões, nomeadamente na entrega do prémio Richard Dawkins em Outubro ou na conferência TED2006 (Technology, Entertainment and Design) em Monterey, Califórnia.

14 comentários:

Fernando Dias disse...

“Cada vez temos mais poder para conduzir as nossas vidas e tomar responsabilidade pelos nossos actos. À medida que vamos sabendo mais sobre as condições de tomada de decisão, mais reconhecemos a necessidade de aprovar sistemas que não sejam reféns de mitos falsos sobre a natureza humana, mas consentâneos com as desobertas científicas e os avanços tecnológicos. Por isso as ameaças reais à liberdade não são metafísicas mas políticas e sociais.[…]

A nossa autonomia não depende de algo miraculoso mas da integridade dos processos de educação e da partilha mútua do saber. A cultura humana encorajou a evolução de mentes suficientemente poderosas para captarem as razões para as coisas, mas a arena social em que vivemos alimenta processos de interacção dinâmica que tanto requerem como permitem a renovação e a aprovação das nossas razões.”

© Daniel Dennett – A Liberdade Evolui.

Unknown disse...

Dennett é o mais fantástico filósfo da actualidade. Acho que ele tem imensa razão quando diz que que o mundo do futuro vai estar polarizado entre racionalidade e irracionalidade, aka religião.

Ainda não vi todas as partes do debate mas pelo que vi (e li) este d'Souza é nojento!

Vale a pena ler esta entrevista de Dennett ao Guardian.

João Vasco disse...

Eu gosto imenso do Daniel Dennet, por tudo o que tenho visto e lido dele.

No entanto entristece-me reconhcer que ele foi massacrado neste debate.

Não foi capaz de pôr a nu as mentiras escandalosas a respeito do nazismo, e os argumentos dele foram tudo menos convincentes quando ele disse que os regimes comunistas foram "proto-religiosos" (o velho argumento da "deturpação", ou seja: a falácia do verdadeiro escocês) quando poderia ter desmentido algumas mentiras factuais a esse respeito, e dado argumentos mais sólidos.

Ficou abanado com tanta mentira e disparate, e perdeu muita capacidade de argumentação :s

João Vasco disse...

Nota:

As mentiras factuais foram a respeito da inquisição, etc... A quantidade imensa de mortos nestes regimes infelizmente não é mentira.

E no que respeita à Coreia do Norte (mas apenas nesse caso) o argumento da "proto-religiosidade" seria adequado.

Anónimo disse...

De uma forma geral, tudo o que é conservador (ou do mesmo modo uma ideia muito extremista), do lado da religião como do lado da ciência, poderá levar a visões muito ilusórias. Nada melhor do que a recomendação de Aristóteles: “o meio termo”, a phronesis.
Podemos cair no erro de dar atenção só a um lado…
Dinesh d'Souza tem uma posição conservadora, extremista. Mas, questiono se Dennet ou Dawkins também não terão uma visão demasiado conservadora e extremista?

João Vasco disse...

Será que entre o nazismo e o respeito pelos direitos humanos devemos procurar um meio termo?

Não me parece.

Há muitas coisas em que é bom procurar um meio termo. Há outras em que é péssimo.
Por isso mais vale avaliarmos cada posição pelos seus méritos e não procurar o meio termo por ser meio termo.

Se formos sábios seremos moderados várias vezes - mas não todas. Ser sábio também é rejeitar as posições moderadas, quando são erradas.

Isto aplica-se a vários debate e não apenas este.

perspectiva disse...

O problema da filosofia de Daniel Dennett reside no facto de ele partir de premissas fideístas de matriz naturalista, totalmente destimentas pelos factos.

Alguns, neste blogue, ainda foram ao ponto de falar de uma Lei de Darwin, ignorando o facto de que as mutações destroem informação genética e que a selecção natural diminui a quantidade de informação genética disponível.


Na verdade, a o evolucionismo é uma teoria da negação dos factos.

Daneil Dennett pertence à categoria daqueles que começam por dizer que a aparência de design na natureza é esmagadora, para depois negarem (sem qualquer evidência) a realidade do design.

Danniel Dennett chegou ao ponto de afirmar: ‘There is simply no denying the breathtaking brilliance of the designs to be found in nature."

Ou seja, para Dennett, a natureza está cheia de design brilhante (não apenas inteligente)

No entanto, sem evidência e contra toda a evidência, Danniel Dennett nega a Deus e entre uma obstinada cruzada a favor do acidente, do acaso, do aleatório, como se, no mundo real, esses fossem os ingredientes para criar máquinas complexas, especificadas, integradas e cheias de informação.

Na verdade, o perigo real da "ideia perigosa de Darwin", que Dennett popularizou junto dos incautos, tem que ver exactamente com isso:

o Darwinismo é pseudo-ciência, baseada na negação obstinada do Criador e do design da criação, mesmo quando totalmente desmentida pelos factos (como Dennett acaba por reconhecer, inadvertidamente, quando se refere ao design brilhante que encontramos na natureza.

Não é, de facto, por falta de evidências, que pessoas como Dennet negam o Criador e a Criação. O problema é mais grave.

Como dizia o apóstolo Paulo, "a sabedoria deste mundo é loucura para Deus".

Sobre os sábios deste mundo, que constroem a sua sabedoria sobre a natureza e não sobre o Deus da natureza, o Apóstolo Paulo diz: "dizendo-se sábios, tornaram-se loucos".


Apesar de tudo deve apludir-se o facto de Daniel Dennett não foi ao ponto de confundir DNA com detergente. Do mal o menos.

João Vasco disse...

«Na verdade, a o evolucionismo é uma teoria da negação dos factos.»

Mas o próprio perspectiva noutros comentários reconheceu o contrário. Não só disse que acreditava na micro-evolução (logo é evolucionista), como ainda por cima acredita que 6000 anos bastaram para que o ser humano alterasse a sua esperança média de vida em mais de 90%!
O perspectiva acredita na micro-evolução e na super-evolução. Depois diz que os factos não apoiam a evolução. A contradição é total. Para alguém que é muito mais evolucionista que os biólogos em geral (que nunca acreditariam numa evolução tão rápida) parece um tanto contraditório continuar a dizer que a evolução é uma mentira.

Anónimo disse...

"Será que entre o nazismo e o respeito pelos direitos humanos devemos procurar um meio termo".

Eu disse procurar o meio termo entre dois extremos... bem parece ser talvez universal que o nazismo é um extremos (extrema direita)... mas será que os direitos humanos são a respectiva extrema oposta?

mmm... não me parece...
mas primeiro temos que definir bem os conceitos que utilizamos. que queremos dizer com direitos humanos?

direitos humanos pode ser um meio termo entre dois extremos. ou talvez não !(?)...


Agora extremos tanto da ciência como da religião penso que não são boas formas de ver, contemplar, fruir o mundo.

João Vasco disse...

Imagine o extremo da justiça e o extremo da injustiça. Acha que se devia procurar um meio termo? Eu não.

Como tal, não devemos sempre procurar um meio termo.

Por isso, essa não é uma boa razão para se procurar um maio termo entre ciência e religião. Pode ser que existam, mas essa não é uma delas.

Na verdade eu creio que a crença religiosa, por ser uma crença em falsidades, é geralmente indesejável.

Anónimo disse...

Justiça elevada à potência máxima é uma utopia, um extremo, uma vez que é um exemplo claro de impossibilidade prática. O contrário também poderá nos levar "por maus lençóis"...

"Na verdade eu creio que a crença religiosa, por ser uma crença em falsidades, é geralmente indesejável"... Não sei como consegue ter tanta "certeza" disto! você tem a "certeza" (sabe que quer dizer certeza?) que uma crença religiosa se fundamente em falsidade?...primeiro tem que me definir o que quer dizer com crença religiosa? não acha que muitos dos pressupostos da ciência poderão do mesmo modo estar totalmente errados?

mas é normal você pensar assim... numa sociedade em que o positivismo se assimila de uma forma totalmente cega que não se consegue ver o que está em redor.

talvez seja melhor abrir os olhos...

João Vasco disse...

«Justiça elevada à potência máxima é uma utopia, um extremo, uma vez que é um exemplo claro de impossibilidade prática. O contrário também poderá nos levar "por maus lençóis"...»

Então acha que devemos procurar a justiça máxima ou um "meio termo" entre ambos os termos. Ou não devemos procurar justiça máxima por ser inalcansável: devemos tentar ser um pouco injustos apenas para sermos mais "moderados". Modferação assim não é sabedoria. É insensatez.


«Na verdade eu creio que a crença religiosa, por ser uma crença em falsidades, é geralmente indesejável"... Não sei como consegue ter tanta "certeza" disto! você tem a "certeza" (sabe que quer dizer certeza?) »

JV: Eu creio que B é verdade.

DF: Onde foste tu buscar tanta certeza?

Que raio!
Mas alguma coisa naquilo que eu disse lhe revelou o grau de certeza que eu tinha. Eu apenas disse que aacreditava em B, e a sua refutação ao que eu disse foi que é ridículo ter "certezas"?

Iso é tolo por dois motivos. O primeiro é porque eu nunca disse que tinha certeza. E o segundo é porque eu acentuei que não tinha. Em vez de dizer "a religião é falsa" disse "acredito que a religião é falsa". Acentuando que é a MINHA opinião sobre esse assunto, que pode ou não ser verdadeira.

Mas não haveria mal nenhum em ter certeza disso, desde que fosse justificada. Afinal o Domingos é que fez aquilo de que me acusa: teve a "certeza" de que a minha posição era injustificada, e que por isso era ridículo ter "certeza". Agora que se viu que quem tinha certezas aqui afinal não era eu (eu não tenho a certeza que Zeus não existe. Zeus. Odin. O Pai Natal. Não é sarcasmo. Acredito que não existem, mas não tenho certeza), pense em tudo aquilo de que me acusou em consequência de achar que eu tinha "certezas"...

perspectiva disse...

JáoTilde Vasco disse:


"Não só disse que acreditava na micro-evolução (logo é evolucionista)"

A micro-evolução não cria informação genética nova, criadora de estruturas e funções mais complexas. Não tem nada que ver com a evolução de micróbios para microbiologistas

"como ainda por cima acredita que 6000 anos bastaram para que o ser humanoalterasse a sua esperança média de vida em mais de 90%!"

O João Tilde ignora os efeitos do engarrafamento genético causado pelo dilúvio com perdas massivas de informação genética.

Além disso ignora a radical transformação do meio ambiente causada pelo dilúvio.

Além disso, ignora o efeito da acumulação sucessiva de mutações.

"O perspectiva acredita na micro-evolução e na super-evolução."

Os criacionistas acreditam nas mutações, na selecção natural, na adaptação e na especiação.

Mas não acreditam que qualquer desses processos consiga criar informação genética nova.

"Depois diz que os factos não apoiam a evolução."

É evidente que não. Se conhecer algum, diga-me, que logo veremos se suporta a evolução ou não.

"A contradição é total."

Só pensa que há contradição quem não conseguiu compreender a questão de fundo. Como se vê, não há contradição nenhuma.

Se acha que há contradição, porque não dá exemplos de mutações geradoras de nova e mais complexa informação genética.

Se a evolução fosse verdade, deveria ser fácil encontrar triliões e triliões de exemplos.

"Para alguém que é muito mais evolucionista que os biólogos em geral (que nunca acreditariam numa evolução tão rápida)"

Curiosamente, os estudos mais recentes admitem uma taxa de mutações e uma adaptação mais rápida do que se pensava.

Basta ver o último número da revista Proceedings of the National Academy of Sciences e o estudo liderado pelo professor
da Universidade de Utah, Henry Harpending, paleoantropologista.

De acordo com este estudo, a variação e a adaptação podem ser fenómenos rápidos.

O problema é que nem isso explica como se cria informação genética nova, aspecto essencial à viabilidade da teoria da evolução.


"parece um tanto contraditório continuar a dizer que a evolução é uma mentira."

Não há contradição nenhuma e a evolução é isso mesmo, uma mentira.

João Vasco disse...

«O João Tilde ignora os efeitos do engarrafamento genético causado pelo dilúvio com perdas massivas de informação genética.

Além disso ignora a radical transformação do meio ambiente causada pelo dilúvio.

Além disso, ignora o efeito da acumulação sucessiva de mutações. »

Não vou discutir as alegadas causas dessa evolução. Apenas constatar que o Perspectivas acredita que o ser humano deixou de poder viver cerca de 900 anos, e em apenas 6000 anos perdeu mais de 90% dessa longevidade. Isso é que é uma evolução bem rápida!


«Os criacionistas acreditam nas mutações, na selecção natural, na adaptação e na especiação. »

Exacto. Mas sobrestimam os seus efeitos se pensam que isso terá alterado 90% da longevidade humana em apenas 6000 anos.

«O problema é que nem isso explica como se cria informação genética nova, aspecto essencial à viabilidade da teoria da evolução. »
Isso está perfeitamente explicado. Mas não é o facto de desconhecer/recusar a explicação que faz de si um não-evolucionista. Uma vez que acredita que ao longo destes 6000 anos as formas de vida foram evoluindo. Como exemplo, temos o homem, que o perspectivas acredita que tinha mais de 1000%(!) da longevidade actual.

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Não pense que eu estou a negar as suas divergências com os cientistas em geral. Pelo contrário: admito que faz quase o pleno de contrariar tudo o que as ciências naturais e sociais defendem. Só falta a economia e a sociologia.
Apenas noto que, sendo super-evolucionista, devia lançar a sua cruzada anti-científica contra os geólogos, historiadores, antropólogos, físicos, químicos, antes de ir atrás dos outros evolucionistas.

"A escola pública está em apuros"

Por Isaltina Martins e Maria Helena Damião   Cristiana Gaspar, Professora de História no sistema de ensino público e doutoranda em educação,...