sexta-feira, 14 de dezembro de 2007
O MUSEU DO CARAMULO
Se o Caramulo é um dos segredos turísticos de Portugal, o Museu do Caramulo é parte importante desse segredo. O Museu não devia ser segredo nenhum pois o seu grande edifício, no sítio do Caramulo, é fácil de encontrar pelos visitantes. De resto, no ciberespaço, há um “sítio” muito bem elaborado, por onde o visitante pode obter informações sobre o Museu e começar portanto a sua visita.
O que há para ver no Museu do Caramulo? Pois, para surpresa de muitos turistas, há no primeiro andar uma colecção de arte internacional, que começa por uma secção de quadros de grandes autores do século XX, onde sobressaem um Picasso e um Dali, que foram oferecidos pelos autores ao coleccionador Abel Lacerda, que dá o nome hoje à Fundação que gere hoje o Museu. E continua por quadros de autores portugueses de renome, como Vieira da Silva, Amadeu de Sousa Cardoso, Eduardo Malta (que fez um retrato a óleo de Salazar com a paisagem da Serra do Caramulo em fundo), Henrique Medina, Eduardo Nery, etc. A colecção é um pouco heterogénea, pois, além da pintura, inclui escultura, cerâmica, mobiliários, peças arqueológicas, etc. Digna de apreço especial é uma sala com tapeçarias flamengas do tempo de D. Manuel I.
Descendo para o rés-do-chão encontram-se, nas salas em redor do claustro, os modelos automóveis mais antigos. O mais antigo é um Benz de 1886 e o mais antigo ainda em funcionamento em Portugal é um Peugeot de 1889. É fantástico encontrar essas verdadeiras relíquias tecnológicas num sítio isolado como o alto da Serra do Caramulo, onde os automóveis antigos devem ter suado as estopinhas a subir. A exposição de carros continua num pavilhão ao lado do edifício principal do Museu, especialmente construído por João de Lacerda, irmão de Abel e apaixonado pelos automóveis antigos (infaustamente, falecido com apenas 36 anos), que contém o resto do total de 65 automóveis e 30 motas antigas. Lá está o Ford T de 1925, que foi o primeiro carro da colecção do Caramulo, devendo acrescentar-se que a empresa Ford, que já tem mais de cem anos de actividade, realizou há anos uma exposição temporária no Museu do Caramulo que documentou um século de Fords (se o leitor perdeu a mostra, ainda pode apanhar o catálogo, bastante informativo). O Ford T, resultado das ideias de massificação e democratização do automóvel do visionário Henry Ford (“O Ford T pode ser fornecido em qualquer cor, desde que seja preto”), foi considerado o carro do século XX, por nenhum depois dele ter tido a sua longevidade e impacto.
Uma particularidade bastante curiosa deste Museu do Automóvel é que praticamente todos os automóveis estão em perfeitas condições de funcionamento, podendo por isso sair do Museu para dar uma volta... De resto fazem-no duas vezes por ano, para “desenferrujar as rodas”.
Vários automóveis do Museu têm histórias interessantes. A mais mirabolante talvez seja a do Chrysler preto ao serviço de Salazar, que primeiro foi vítima de um atentado bombista e que depois, quando estava guardado no parque da prisão de Caxias, foi tomado por um grupo de presos políticos do Partido Comunista e usado para a evasão. Deve ter sido o cúmulo para eles fugir do cárcere no próprio carro do carcereiro! O carro foi na altura alvo de uma rajada de metralhadora, mas hoje está impecável, tal como os outros todos, no Museu.
Dá gosto ver o Museu do Caramulo dados o seu arrumo e conservação. Não há dúvida que surpreende a mescla que o Museu faz de arte e tecnologia. À primeira vista, os automóveis, produto tecnológico, parecem estranhos à arte. Mas, vendo-os com olhos de ver, eles são verdadeiras obras de arte e, por isso, não ficam mal perto dos quadros, das cerâmicas e dos tapetes. A ciência tem muito a ver com a arte. E a tecnologia, que é a ciência ao serviço das nossas vidas, também.
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