Algo que sempre me confunde em relação às pessoas que engolem a treta da «memória da água» tem a ver com o facto de que não é necessário saber muita química para ver que não passa de banha da cobra, basta apenas perceber que para haver «memória» é preciso existirem «recordações».
Mesmo admitindo por redução ao absurdo que a água manteria a estrutura de solvatação sem nada para solvatar, à diluição CH13, como vimos, não resta uma única molécula de água da «tintura» mãe. Mais algumas diluições e não há nas homeopatetices uma única molécula de água que tenha «visto» a tal «substância vital» de que é suposto lembrar-se. Ou seja, mesmo sem perceber nada de forças intermoleculares, basta fazer umas continhas simples para se concluir que não pode haver nenhuma memória, apenas imaginação delirante.
Chegariamos à mesma conclusão sem cálculos pensando que para ocorrer acção terapêutica de um determinado fármaco, tem de existir ligação ou interacção dessa molécula com um alvo. Ou seja, podemos pensar nessas moléculas como sendo chaves que encaixam numa determinada fechadura, um qualquer receptor, para abrir a porta à cura. Ora o que se pretende com a história da memória da água é que basta fazer um molde da chave em «plasticina», enfiar a plasticina na «casa», o corpo humano, e a porta abre-se, por artes mágicas ou por milagre (que tentam vender como «cientificamente» explicado)!
O outro argumento pseudo-científico utilizado, é a história (da carochinha) de que moléculas que não estão lá «agem como um catalisador por processos de biorressonância, amplificando os mecanismos homeostáticos do organismo», uma frase absolutamente sem sentido. Não faz nenhum sentido, em física, falar em catalisadores de ressonância, muito menos em ressonância de «mecanismos homeostáticos do organismo».
O termo catalisador é utilizado para designar substâncias que aceleram determinadas reacções químicas que de outra forma seriam muito lentas e que o fazem alterando o mecanismo da reacção, por exemplo ligando-se ao(s) reagente(s) formando um complexo activado com baixa energia de activação sendo depois regeneradas no fim. Se não há uma única molécula de catalisador não há catálise.
De igual forma, o termo ressonância designa um processo de transferência de energia entre pelo menos dois osciladores quando a frequência do primeiro coincide com uma das frequências próprias de oscilação do segundo. Ou, dito de outra forma, podemos dizer que um sistema entra em ressonância quando lhe é fornecida uma excitação a uma das suas frequências próprias.
Pode parecer complicado mas na realidade não é e um exemplo mecânico simples ajuda a perceber. Pensem que empurram alguém num baloiço, e que este baloiça (oscila) com uma frequência característica de 1 Hz, ou seja, 1 s para o movimento de vai-vem. Para que o balouço absorva ressonantemente a energia fornecida pelos empurrões é necessário que estes sejam realizados à frequência natural de oscilação do baloiço, ou seja, um empurrão por segundo. Se resolverem empurrar o baloiço com uma frequência de 1.8 Hz, na maior parte das vezes dão um empurrão no vazio e a transferência de energia via empurrão é pouco eficiente. Pelo contrário, empurrando o baloiço à sua frequência própria não é necessário fornecer muita energia (um empurrão muito forte) para se atingir (e manter) a amplitude máxima de oscilação (determinada pelo amortecimento).
A ressonância é a base, por exemplo, de várias espectroscopias que são ferramenta indispensável a todos os químicos. Nestas espectroscopias, faz-se incidir radiação de comprimento de onda apropriado para excitar a molécula, o que só acontece quando a radiação está em ressonância, tem a mesma energia que a diferença de energia entre dois níveis próprios, com a molécula/oscilador. Uma vez que não é apenas a energia electrónica que está quantificada, estes níveis podem ser rotacionais (radiação na gama das micro-ondas), vibracionais (radiação quente ou infravermelha) ou electrónicos ( radiação no ultravioleta/visível). Todos os estados excitados têm tempos de vida muito curtos e as moléculas decaem para o estado fundamental (o de menor energia) libertando o excesso de energia na forma de calor ou, nalguns casos, emitindo luz em processos de fluorescência ou fosforescência.
Temos ainda outros processos como os subjacentes à técnica de diagnóstico conhecida como ressonância magnética que deriva de uma técnica fundamental para obter informação a nível molecular, nomeadamente caracterização de estruturas tridimensionais de moléculas, designada por ressonância magnética nuclear (RMN). Esta técnica baseou-se na descoberta que mereceu a Felix Bloch e Edward Mills Purcell o prémio Nobel da Física em 1952, ano em que começaram a ser comercializados os primeiros aparelhos que sujeitando as moléculas em análise a campos magnéticos fortes provocam um desdobramento dos níveis de energia dos dipolos magnéticos nucleares, normalmente designados por spin nuclear embora em rigor se trate de um momento magnético nuclear.
A bioressonância - ou qualquer das versões muito em voga nos dias que correm, pomposamente designadas por «biorressonância quântica» e patetadas New Age afins, a que voltarei em breve -, que pelo nome deveria referir-se a processos de excitação de moléculas biológicas, na realidade não tem rigorosamente nada a ver com ciência, física, quântica ou medicina.
A bioressonância é apenas mais um exemplo em que charlatães sem escrúpulos se aproveitam da ignorância alheia utilizando, como escreveu um dos nossos leitores, «um arrozoado infeliz de termos científicos misturados pelo DJ Vibe» para vender a sua banha da cobra como ciência. Banha da cobra que se tem mostrado tão rentável que já há inúmeros praticantes de «biorressonâncias» sortidas à solta, prontinhos para extorquir dinheiro aos mais incautos.
Mas a minha principal objecção a estas charlatanices não é a fraude em si e já foi descrita por David Colquhoun, e é essencialmente uma objecção aos demónios do sono da razão, ao obscurantismo anacrónico de uma sociedade que se deixa reger por magias, e não faz um esforço para perceber quão mal estão disfarçadas de ciência:
«É verdade que consultar um homeopata pode pôr a vossa vida em perigo se isso corresponder a um atraso de um diagnóstico a sério ou se eles recomendarem placebos para prevenir a malária, mas a objecção mais forte [a estas charlatanices] é cultural. Os homeopatas são a manifestação de uma cultura em que o pensamento mágico é mais importante que a verdade, uma sociedade em que tudo o que se diga três vezes é verdade e não se olha para os factos».
Versão Completa:
Homeopatetices - O Memorial da Água
Homeopatetices: is it a kind of magic?
Homeopatetices - A Componente Mística
Homeopatetices - As Origens
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22 comentários:
Pois sim, talvez as pessoas não recorrecem a tantas homeopatetices se a medicina convencional desse respostas abrangentes para os seus problemas. As pessoas recorrem as terapias alternativas, sobretudo para tratar o chamado stress. A medicina convencional, fala muito de stress mas não o trata. A medicina convencional não responde às exigências de um tratamento mente/corpo/espirito. A medicina tradicional trata sintomas ou consequências do stress mas pouco faz no que respeita às suas raizes. As medicinas alternativas propôem tratamentos holisticos e não parciais. Quando a medicina tradicional, em vez de se limitar a criticar, começar a aprofundar os objectivos das medicinas alternativas, a interessar-se SÉRIAMENTE por eles, a estudá-los e a procurar resultados, todos poderâo ganhar. Até aqui, o que vejo é a ciência armada em "caçadora de bruxas" e não em investigadora da razão de ser de certas práticas.
Mais uma vez ignorância. A medicina científica aborda o stress, não apenas para tratar os sintomas mas também para compreender como o stress surge e como pode ser evitado. O que se passa é que nenhum processo, tradicional, alternativo ou homeopatético consegue "tratar" o stress. A medicina tradicional explica, contudo, como o reduzir. É conhecido: dormir bem, ter actividades físicas, não fumar, não beber café, comer moderadamente e correctamente, etc. Tudo o que a medicina alternativa faça no campo é análogo ao que a medicina tradicional fará. Um cházinho para acalmar nervos? Também há calmantes. Umas ervinhas para ajudar a dormir melhor? Pois, também existem os ansíoliticos e os sedativos. Uma acumpunturazinha para relaxar os músculos? A medicina também fala em massagens, exercícios de fisioterapia ou até em relaxantes musculares. Mas tudo isso vai dar ao mesmo. Pior: a medicina alternativa, eficaz que possa ser, não estuda histórias clínicas, não avalia efeitos secundários, não avalia se o tratamento é realmente adequado, nem resolve os problemas de base, embora deixe a impressão que o faz, preparando assim caminho para recaídas piores.
Quer resolver o stress? A medicina explica, cientificamente, como. Lá porque não há uma pilula mágica para resolver o problema não culpem a ciência. Até porque as alternativas também não resolvem absolutamente nada.
Então diga-me cientificamente como se resolve o stress. Dormir mal, beber muito café e fumar muito são efeitos do stress, claro que o agravam mas não são a sua causa.
Não, são efeitos de bola de neve. A falta de sono reparador, o excesso de cafeína, álcool ou outros, a falta de exercício, etc, são causas que, depois são agravadas. O stress pode ser causado também por falta de sono, mas é óbvio que também agravará essa condição. Por isso mesmo a prescrição de medicamentos que permitam um recuperar gradual dessas funções.
É uma situação semelhante à de uma febre causada por uma infecção. A infecção causa uma febre que, depois agrava a infecção por debilitar o organismo. É simples de compreender, não acha?
Portanto o fluxo de energia vital no organismo não tem nada a ver? O debloqueio dos meridianos do corpo usado na medicina chinesa e acumputura é tudo treta?
Não conheço o suficiente de acumpuntura e medicina chinesa para me pronunciar (talvez coisa para um post futuro do DRN), mas, da forma que fala, de "energia vital" ou "meridianos", sim, parece-me treta. O que não quer dizer que, no meio de tanta tentativa, algumas técnicas não acabem por funcionar em alguns casos. Ainda assim, muito mais gente evita e resolve o seu stress usando as técnicas simples que a medicina científica prescrevem do que usando a acumpuntura. O que se passa é que as pessoas querem soluções que passem pelo menor esforço possível e a qacumpuntura dá-lhes essa ilusão. Só têm que se deitar enquanto outras pessoas "tratam" delas.
O que me parece é que as pessoas procuram técnicas de tratamento que não sejam invasivas e a resposta da medicina convencional a esta procura é quase nula. Quanto à medicina chinesa, ela tem milhares de anos e parece-me pouco acertado da parte da medicina convencional não investigar os seus principios e métodos. E este é apenas um entre muitos outros que valeria a pena explorar mas infelizmente é mais fácil criticar e refutar aquilo que não se compreende.
Bom, andei a ler umas coisas sobre a acupuntura entretanto e cheguei à conclusão que realmente até é útil em alguns casos para tratamento de dores a curto prazo. Por outras palavras, serve para aliviar dores enquanto o tratamento convencional vai fazendo efeito. Aparentemente, isso é causado por libertação de endorfinas, as quais agem de forma a diminuir as dores. Não parece haver qualquer evidência de eficácia nos restantes casos. Será uma técnica de tratamento que, por puro acaso, funciona em alguns casos e que os seus praticantes acabaram por explicar, há vários anos atrás, com os conhecimentos que tinham, os quais eram baseados em superstições. A acupuntura funcionará às vezes, mas isso nada terá a ver com as razões invocadas, sendo antes uma coincidência.
O facto de as pessoas quererem tratamentos não-invasivos para tudo e mais alguma coisa não significa que eles apareçam. Também eu gostaria de não ter sido operado para me removerem o apêndice ainda há 3 semanas, mas a verdade é que não há qualquer alternativa. Ou há: a morte. Querer acreditar que acupuntura ou outros métodos que tais funcionam apenas porque não se quer métodos invasivos da medicina convencional é pura estupidez, nem mais nem menos. Poderão existir tratamentos alternativos que funcionam, mas as razões para funcionarem têm que ser estudadas, caso contrário só farão pior.
Aliás, se a medicina chinesa fosse assim tão boa, não teríamos o caso de ter uma esperança de vida de 72,58 anos comaprada com a da (por exemplo) Holanda, com 78,96 anos. E note que é muito possível que estes dados estejam distorcidos na China, com as populações mais pobres e mais interiores, provavelmente com esperanças de vida menores, a entrar provavelmente menos para as contas, se bem que isto são especulações.
Curiosamente, depois de ler tudo isto e admitindo a minha ignorância sobre o assunto (sendo que sempre desconfiei e nunca comprei com "intenção" tais produtos), gostaria de contar um pequeno episódio que me aconteceu numa farmácia.
Recentemente, ao procurar um medicamento leve para controlar uns problemas em adormecer, relacionados com um periodo de maior stress que atravessava, desloquei-me a uma farmácia (e não a uma parafarmácia, note-se bem), na qual fui atendido pelo farmacêutico e director técnico que ouvindo o meu pedido (dei a referência de uma sugestão de um amigo que me aconselhou um medicamento à base de extracto de raiz de valeriana - um tal de «valdspert», passe a publicidade), eis que o "Sr Dr", como gostam de ser tratados, sugeriu-me ter um "medicamento com efeitos bastante melhores e com menos efeitos secundário". Não me explicando minimamente ser um «medicamento homeopatico», e portanto inócuo, vendendo-o tal e qual um medicamento, como muitos outros. Aceitando o conselho de um profissional, eis que trago a tal embalagem e muito mais cara que o tal "valdspert" (facto que só comprovei depois - uma vez que não procurei o melhor preço mas o produto mais eficaz, tendo confiado na sugestão de um profissional). Tomei uma atitude errada (tal como muitos de nós o fazemos) e não liguei nem à embalagem nem a nenhum suposto folheto (que não existe) informativo, confiando na prescrição do farmacêutico, lá tomei como sugerido. Na verdade, ao fim de dois dias dirigi-me a outro estabelecimento (uma parafarmacia) onde adquiri o tal valdspert - uma vez que o suposto medicamento não estava a surtir qualquer efeito.
Lendo estes post's recentemente, eis que fui investigar a tal embalagem, que aparenta um medicamento perfeitamente normal. Dando um ar de credibilidade e segurança e eis que descobro para lá do nome tipicamente farmaceutico que ostenta, a designação de "produto homeopático"!!!
Ou seja, numa farmácia... supostamente um local de tanto controlo e qualidade ciêntifica foi-me vendida "banha de cobra", com base numa relação de confiança profissional - e possivelmente de forma consciente, pois não posso crer que um licenciado em farmacia acredite em tão grande patetice!
Mas a questão real que coloco é a seguinte: qual o sentido de uma farmacia vender estes produtos? Num estabelecimento tão controlado: obrigatoriedade de farmacêuticos no quadro, exclusividade na venda de medicamentos, monopólio quase absoluto na venda, controlos do "Infarmed", classe profissional que exalta as suas virtudes e serviços imprescindíveis para a sociedade e eis que... se quebra uma das mais elementares regras de confiança!
Já que se proibe tudo neste país, porque não regulamentar este sector e especificamente excluir a sua disponibilização em farmácias? Limitando nestas a venda de produtos para as quais tenham exclusividade!!!
E acabando com a injustiça e concorrência desleal entre estabelecimentos comerciais que vendem o mesmo. Incluindo "banha de cobra".
Ora bem, este último post levanta uma questão que ainda não vi aqui abordada e que diz respeito à aprovação de medicamentos homeopáticos pelo Infarmed.
Em relação ao "Valdispert" (extracto seco de raiz de valeriana) é um medicamento natural, tal como vários outros devidamente aprovados pela entidade que em Portugal regula a ...comercialização e utilização de medicamentos de uso humano, incluindo os medicamentos à base de plantas e homeopáticos... (definição do próprio site).
A valeriana e o ginkgo biloba, entre outros, são exemplos de plantas utilizados em medicamentos constantes da farmacopeia convencional - "Valdispert" e "Biloban", p. ex. - enquanto a lista de homeopáticos aprovados é relativamente extensa.
No site do INFARMED podem consultar-se diversas informações relativas a ambos estes grupos de medicamentos, que do ponto de vista da legislação vigente são perfeitamente equiparados às mais modernas drogas da parafernália quimioterapêutica.
Logo, apenas sob este aspecto é um pouco "coxa" esta campanha pouco esclarecida contra a homeopatia, esquecendo este simples pormenor importante e muito revelador.
Obviamente, poderão ser por ventura questionáveis os processos de aprovação e registo para comercialização destes produtos no Infarmed, mas é óbvio que tal obedece a regras claras e que por certo têm parâmetros mínimos de exigência. E tal como qualquer outro produto farmacêutico, nem todos são aprovados e poderão também ser retirados do mercado em condições específicas.
Por falar nisto, é de notar que em vários deles pode existir o rótulo "produto farmacêutico homeopático sem indicações terapêuticas aprovadas", que equivale aos tais casos aqui falados em que a sua acção, embora inócua, é indistinguível da de um placebo.
Os interessados em aprofundar um pouco mais o tema podem consultar a legislação vigente nesta página da Sociedade Homeopática de Portugal.
Por fim, e para além de qualquer aspecto de ordem científica, de saúde pública, legal, jurídica ou outra, convém recordar uma vez mais que existe algo chamado LIBERDADE - de expressão ou de escolha, neste particular - que é uma palavra que por certo todos acarinhamos mas já é talvez mais duvidoso que ponhamos sempre efectivamente em prática.
Qualquer pessoa, pelo menos de maior de idade e no uso das suas faculdades, tem o direito de ser tratada e escolher o tipo de terapia que muito bem entender, e os profissionais de saúde em quem confia, independentemente de toda e qualquer consideração teórica acerca da eficácia ou não do tratamento escolhido, que pode inclusive nem ter nada de físico e ser somente psíquico ou espiritual ou o que lhe queiram chamar.
Em suma, é sem dúvida positivo que exista debate e esclarecimento sobre este e qualquer outro tema, aqui especificamente dentro do campo científico e filosófico, que é esse o âmbito do Rerum Novarum. Mas cada um é perfeitamente livre de escolher e praticar aquilo que desejar, seja isso tratar-se no curandeiro da aldeia, no homeopata, no curador de reiki, no hipnoterapeuta, no acupunctor, no médium espírita, no médico de família, no melhor especialista de topo... ou seja lá o que for!
Mais ainda: TODOS esses "terapeutas" devem ter também a plena liberdade e garantia - com os respectivos deveres ético-legais - de exercerem a sua prática curativa, ainda que subordinados a normas apropriadas que possam regular as suas habilitações ou competência dentro do ramo terapêutico específico, algo que não se afigura quiçá muito fácil nem pacífico em muitos casos, convenhamos...
Recordo ainda uma vez mais que a poderosíssima componente psicológica no tratamento das afecções humanas tem comprovadamente um peso, talvez até preponderante, para que aquilo em que se acredita - a Fé, afinal! - possua um valor curativo superior quiçá à mera componente física da própria terapia, que por vezes pode mesmo nem existir! Vide aqui o caso das "curas milagrosas" ou "remissões espontâneas" inexplicáveis, pelo menos no estado actual do nosso conhecimento.
Logo, se a fé na "banha da cobra" cura...
Rui leprechaun
(...tal milagre bem perdura! :))
Olá, Pink and Blue... esperança ao sol aqui deste caracol!!! :)
E já adicionada aos contactos cá do Gnomo... isto aqui não se perde tempo! Aliás, vou mesmo visitar esse blog não tarda nada. Há muito que não experimento coisas novas, ando pouco saído da toca e da casca! ;)
Mas é interessante que essa troca de opiniões com o João Sousa... tá na Holanda!... me recordou também algo que há pouco disse aqui a propósito destas comparações medicina convencional quimioterapêutica vs. medicinas alternativas ou complementares.
É que o João afirma 2 coisas que são absolutamente contrárias à realidade facilmente constatável por quem procura as tais outras terapias. Uma delas tem logo a ver com o início do debate sobre as raízes ou causas da doença - o stress, neste caso - e não o mero alívio dos sintomas.
Ora bem, o modo como as outras medicinas abordam o Ser Humano - e não apenas a saúde e a doença - é de facto vastamente diferente da abordagem da medicina científica, é um facto. Podem chamar-lhe magia... uma belíssima e mui doce palavra!... mas esse termo "holístico" é perfeito e adequado. É que nós somos um todo integrado e harmonioso e não um mero conjunto de órgãos isolados. É de notar que nas outras medicinas não existe esta fantástica especialização que está a atomizar cada vez mais a medicina alopática. Com as consequências sabidas: tratam-se órgãos e NÃO a pessoa! O que diz o "Lancet", afinal?! ...the failings of modern medicine to address patients' needs for personalized care. Ah, pois é... depois queixam-se da falta de clientela! Não somos robots... we are human beings with emotions!
Ora essa desumanização não acontece nas práticas tradicionais onde o paciente é visto no seu todo - espírito e corpo - sendo a afecção específica em qualquer órgão apenas um sintoma de uma causa mais geral.
Ou seja, a medicina quimioterapêutica é que é essencialmente apenas sintomática, tendo dificuldade em aceder à mais funda raiz do problema, a qual é consabidamente muitas vezes de ordem psíquica ou espiritual. A etiologia nem tem de ser meramente física, e isto já é sabido nessas tradições muitíssimo antes das descobertas "psicossomáticas", há somente um século. Mas o corpo, a mera máquina viva é bem mais fácil de tratar... ou enganar...
Deste modo, é irónico que essa superficialidade na abordagem clínica e as fáceis recidivas que aqui são apontadas às medicinas naturais são de facto o epíteto natural e quase inevitável da quimioterapia em si! Isto para já nem falar da agressividade de muitos desses tratamentos, sem dúvida justificados em casos graves, mas não em muitas outras situações, onde aliás as próprias terapêuticas naturais podem complementar muito bem a medicina oficial, sendo o caso do stress até um exemplo excelente! Meditação, ioga e técnicas de relaxe mental e corporal são práticas já aconselhadas por muitos médicos licenciados para os seus pacientes.
A propósito disto, há ainda outra ironia num dos textos do João, em que se refere à acupunctura e à suposta atitude de passividade de quem procura essas terapias. Ora, é justamente o contrário que acontece, ou seja, o vulgar doente que procura o médico é que põe toda a sua fé no tratamento fácil de engolir a pílula!!!
A prescrição terapêutica nas medicinas não invasivas é muito mais vocacionada à intervenção activa do paciente, mormente na importantíssima questão dos hábitos alimentares e de higiene de vida, um assunto que é abordado muito pela rama... ou sem rama nenhuma!... numa consulta convencional!
Aliás, e para nem me prolongar, eu vou dar só um simples exemplo do que é essa demissão do doente que busca na medicina a cura "mágica" - aqui sim! - para todos os seus males, sem se preocupar em mudar de vida, como se não tivesse responsabilidade pelo seu próprio corpo.
Hoje em dia, um nº considerável de jovens que sofre de "refluxo gastroesogáfico" prefere fazer uma operação, mesmo quando esta não é a solução clínica ideal, a alterar os seus hábitos alimentares - sobretudo alcoólicos, claro! - porque isso é muito mais difícil!!!
Mas casos destes conhecemos às carradas, e pode dizer-se que, de um modo geral, quem recorre a homeopatas e similares tem muito maior cuidado com a sua saúde e modo de vida do que a maioria da população. Bem, há até uma razão óbvia para tal: é que paga o tratamento do seu bolso, o que pode não ser barato!
Só que não se diz que a saúde não tem preço? E se, afinal, os utentes das tais mezinhas e "banhas da cobra" até têm muitos melhores resultados do que aqueles tratados nos médicos e nas farmácias?!
Em casos comparáveis, claro, doenças agudas e traumáticas de gravidade devem ter uma abordagem mais invasiva, sim! Mas a maior parte dos achaques comuns reage bem melhor a essas terapias "doces", o organismo prefere ser bem tratado... e nós também! :)
Azul e rosa...
Rui leprechaun
(...dama formosa! :))
PS: E Gnomos tolos... da aldeia e mui parolos!!! :D
Gnomo:
Dos lençóis de disparates só se aproveita uma: que as homeopatetices são curas de fé.
Mas só se cura quem tem fé; não quem é enganado a pensar que está a comprar um medicamento (muito mais caro que os a sério) e afinal compra água.
Mas só vai a Fátima queimar velinhas quem acredita em milagres; devia ser proíbido vender homeopatetices em farmácias e ainda mais proibido que os farmacêuticos tentassem impingir tretas homeopatéticas aos que não as procuram.
Olá Rui leprechaun (Gonomo),
Até que enfim alguém que não têm vistas curtas!
Obrigada pelo seu comentário, pela participação no meu blog e pelo humor que tanta falta nos faz.
Vou pegar nesta deixa e escrever um texto a propósito no meu blog, onde direi de uma vez por todas o que penso sobre estes temas. Vou fazê-lo muito graças ao seu incentivo. Obrigada uma vez mais.
Entretanto vá aparecendo!
Bom, temos enfim o Dupont e Dupond, Pink&Blue e Leprechaun.
Ó gnomo verde, verja lá se entende que por se querer ter a abordagem total do corpo isso não significa que essa funcione. Seja: eu vou ter a abordagem total de lhe olhar para o corpo todo e colocá-lo em ácido clorídrico concentrado. Isso ajuda? Pensar que as tais abordagens de medicina tradicional funcionam não é mais que wishful thinking. A brutal falta de compreensão que tem apra com este assunto manifesta-se nessa transcrição que diz ter feito da Lancet (sem dizer de onde, mas enfim), apontando uma frase que aponta a falta de atenção ao tratamento individualizado dos pacientes (que pode continuar a ser apenas a órgãos específicos) em vez de os colocar numa espécie de máquina trituradora que despacha doentes.
A quimioterapia é agressiva? Pois é, por isso mesmo é que não é prescrita a um paciente se este não precisar realmente dela. O mesmo para a radioterapia. Poderão alguns produtos "naturais" tomar o lugar de algumas quimioterapias? Pois claro que poderão, mas nesse caso não serão mais que quimioterapias elas próprias, pois, como diz a Palmira, tudo tem químicos.
Nem sei, sinceramente, para que estou a tentar explicar isto tudo. Está mais que visto que estes dois já têm a cabecinha deles bem enfiada nas tretas alternativas, tal como o Jónatas nas do criacionismo. Há coisas que têm dito que são tão estúpidas (peço desculpa pela brutalidade do termo) que não podem ser contestadas. É como contestar uma criança que venha dizer que 1+1=25, acreditando piamente nisso e tentando meter um arrazoado de termos científicos na história para dar a ideia de ser verdade. Não se discute, não dá, simplesmente.
Pois é JSA, mas
Parece que não estamos sozinhos! nas tretas naturalistas de tratamento corpo/mente/epírito que você parece não querer entender!
Do tal Dr Simonton: «His pioneering approach has great potential to become the 4th tool in our armamentarium against cancer along with surgery, chemotherapy and radiation therapy». Não vejo aqui nada que não se saiba há muito tempo. A motivação e o estado de espírito são importantes para a cura, seja ela qual for.
Claro que basta o médico referir o "espírito" num dos links e lá saltam vocês como virgens em overdose de hormonas na primavera. O espírito, diz ele, é baseado naquilo que as pessoas acreditam e isso, obviamente, influencia as emoções. As emoções, como qualquer pessoa minimamente informada (ou que tenha lido Damásio ou outros) são originadas no cérebro. Sendo que o cérebro influencia o corpo, é normal que em cascata de acções se possa dizer que o espírito influencia o cérebro. O que não se pode dizer é que há uma "força vital" etérea, ou um "ânimo" ou outra treta semelhante. A acupunctura, como expliquei, nada tem a ver com as razões dadas pelos seus proponentes, antes com libertação de químicos que regulam percepções. O mesmo nesta explicação. Continuar a querer acreditar em espíritos é o mesmo que acreditar em OVNIs, infantil e de espírito muito pouco crítico.
Continua a não perceber onde eu quero chegar. Claro que acredito na alma e em Ovnis e na reencarnação mas para já não o quero convercer de nada disso. Aceito que não acredite mas tenho o direito de acreditar, pouco me importa a sua opinião a meu respeito. O que quero dizer é que a medicina deverá caminhar neste sentido:
"...a Psiconeuroimunologia não só deve contribuir solidamente para a compreensão da fisiopatologia médica como da visão holística da medicina."
Excerto que retirei
daqui de uma pesquisa por "psiconeuroimunologia" cujos resultados foram vários sites, todos brasileiros (curiosamente ou talvez não, a terra do misticismo!)
Cor de rosa:
Claro que acredito na alma e em Ovnis e na reencarnação
Não precisa dizer mais nada. A parte dos ovnis chega até para o crente mais convicto...
Como se sabe, entre os povos primitivos, acredita-se que, se o tempo e a natureza nos influencia, então também podemos, reciprocamente, influenciar o tempo e a natureza.
Encontramos neles esta crença realizada como um acto ritual, um gesto rogativo.
No encantamento, por analogia, ou conjuração homeopática, uma fé inquebrantável nas possibilidades de uma influência recíproca:
Os africanos fumavam repetidamente, na esperança de que o céu se enchesse de nuvens, e, repetidamente, imitavam o som da chuva, para obrigar a natureza a responder;
Os aborígenes australianos, nas danças, imitavam constantemente o cangurú para os atrair e caçar;
As danças repetitivas dos peixes e dos búfalos serviam para os índios americanos chamarem esses animais até ao alcance das suas armas.
Há mais homeopatias no mundo.
João Boaventura
Se não se importa fiz links para a excelente série homeopatetices.
Obrigado.
Parabéns pelo artigo, está muito bom.
De facto hoje em dia é-se mais «competitivo» no mercado de trabalho como astrólogo do que como cientista.
Mas ó Palmira, aquilo que eu acho que tem verdadeiros efeitos homeostáticos, a nível das «energias» zyn e Yen é, verdadeiramente, a sopa Palmira (sopa de beterraba).
Quem não a come acaba por ficar emocionalmente instável.
Em relação ao Valdispert, como sou utilizador habitual, gostsva de dar uma opinião.
Os ansiolíticos e anti-depressivos da psiquiatria têm um efeito mais imediato que a Valeriana: Toma-se um xanax ou uma benzodiazepina e aquilo «bate» logo.
O valdispert, que é feito de valeriana, não. O efeito tranquilizante e estabilizador demora dias a notar-se, sendo necessário tomá-lo várias vezes ao dia, às refeições. Mas quando começa a fazer efeito, não só é tão ou mais eficaz que os medicamentos da psiquiatria, como é bastante mais activante e sem efeitos secundários: não provoca o habitual abatimento provocado pelos ansiolíticos e melhora a líbido, em vez de a comprometer. E já agora, ao contrário das drogas medicamentosas, não altera a tensão ocular, que é uma coisa que muitos «senhores doutores» médicos pelos vistos não sabem...(tirando os oftalmologistas).
Anos de medicação neuroléptica originam invariavelmente tensões oculares elevadas.
É verdade que o mecanismo de acção da Valeriana não está esclarecido. Mas resulta melhor até que os ansiolíticos, embora não no sentido do «tiro-e-queda» que tanta gente gosta.
Não confundamos pois, os tranquilizantes naturais com a incrível história da memória da água ou da astrologia.
Espero ter ajudado alguma coisa.
Este vosso amigo emocionalmente instável.
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