terça-feira, 25 de dezembro de 2007

OLHOS NOS OLHOS COM A DIFERENÇA


Participei a convite dos organizadores (Associação Portuguesa dos Pais e Amigos das Crianças com Deficiência Mental de Coimbra) no 1º Encontro “Olhos nos Olhos com a Diferença”, realizado no dia 8 de Dezembro passado no Auditório do Museu de Conímbriga.

O Encontro assinalava o Dia Internacional da Pessoa com Deficiência (3 de Dezembro) e a recta final de 2007 Ano Europeu da Igualdade de Oportunidades para Todos. Os objectivos eram, nas palavras dos organizadores: "Responsabilizar a sociedade civil na promoção de estratégias para uma integração efectiva; contribuir de forma positiva para a quebra de tabus associados à deficiência; e incentivar a reflexão sobre a realidade portuguesa contribuindo assim para a redução do estigma, da discriminação e da marginalização das pessoas com deficiências". Eu, que fui aluno de um professor com deficiência e que tenho alunos também com deficiência (um deles, paraplégico, tem dificuldades em chegar ao meu gabinete), não podia ficar indiferente.

O tema que me foi dado era “Ciência e Deficiência”. Desenvolvi o tema apresentando alguns nomes do extenso rol de cientistas que foram, de uma maneira ou de outra deficientes. Deficiência não é falta de ciência! Um dos nomes mais importantes é o de Galileu Galilei, que ficou cego, segundo alguns autores em virtude das suas observações directas do Sol com o telescópio (em 2009 celebrar-se-á o Ano Internacional da Astronomia para assinalar os 400 anos das primeiras observações com o telescópio efectuadas pelo sábio italiano). Também o astrónomo alemão Johannes Kepler ficou com a vista seriamente diminuída. Outro cego notável nas ciências exactas foi Leonard Euler, o matemático suíço de quem este ano estamos a festejar os 300 anos do nascimento. Foi ele quem declarou quando cegou completamente: “Agora tenho menos distracções”, querendo dizer que se podia dedicar quase inteiramente à matemática. Na química, um famoso deficiente visual foi o inglês John Dalton, que detectou nele mesmo o defeito que tem hoje o seu nome (daltonismo) de que padecem cerca de dez por cento dos homens, eu próprio incluído.

Embora haja alguns cientistas com deficiência de audição (refiram-se Charles Bonnet, o naturalista suíço do tempo do iluminismo, e Henrietta Levitt, astrónoma norte-americana oitocentista), é curioso referir a relação com a surdez de dois tecnólogos do século XIX. A mulher do escocês Alexander Graham Bell, a quem é geralmente atribuída a invenção do telefone, era surda. A mãe de Bell também era surda, pelo que Bell jamais pôde telefonar à sua mulher ou à sua mãe… O pai era professor de surdos, tendo criado até um método especial. O próprio Bell ensinou surdos usando o método do pai, tendo encontrado como aluna a sua futura mulher, que foi uma extraordinária defensora dos deficientes auditivos. Por outro lado, o grande inventor norte-americano Thomas Edison, inventor do fonógrafo, também tinha um grande grau de surdez.

Na actualidade, o cientista deficiente mais conhecido é o inglês Stephen Hawking a quem foi diagnosticada quando era estudante uma doença neurológica degenerativa. O facto de ter ficado reduzido a uma cadeira de rodas e sem fala não o impediu de chegar a Professor Lucasiano na Universidade de Cambridge, o lugar ocupado por Isaac Newton, de ter escritos muitos artigos com impacte na área da cosmologia e de ter feito chegar a ciência a todo o lado através de livros como “Uma Breve História do Tempo”. A notícia recente de ter voado a bordo de um avião num voo “sem gravidade” veio dizer-nos que se pode ser portador de deficiência grave e, apesar disso, concretizar actividades que pareciam impossíveis…

Pessoas com deficiências mentais dificilmente poderão seguir uma carreira científica, mas pessoas com doenças mentais podem e têm-no feito. Embora chamando a atenção para as diferenças entre deficiência mental e doença mental, valerá a pena referir aqui cientistas com problemas do foro mental (dos quais os mais conhecidos são esquizofrenia e a doença bipolar) que atingiram patamares elevados nas suas áreas. Um dos exemplos mais conhecidos é o do norte-americano John Nash, o matemático Prémio Nobel da Academia de 1994 que parece ter recuperado de esquizofrenia (a propósito, Einstein teve um filho com essa doença, que acabou por morrer numa instituição psiquiátrica). O filme “Mente Brilhante” (“Beautiful Mind” no original) celebrizou Nash. Há outros cientistas com problemas mentais que singraram na ciência: basta referir o físico austríaco Ludwig Boltzmann, que se suicidou, ou o matemático alemão Georg Cantor, que morreu num hospital psiquiátrico, os dois do século XIX e início do século XX, que sofreram de doença bipolar, antigamente chamada doença maníaco-depressiva, um mal que alguns autores têm associado à criatividade artística.

No encontro "Olhos nos Olhos com a Diferença" um professor de Psicologia chorou ao contar o caso da sua filha que ficou esquizofrénica. E nós chorámos com ele. Agora que o Ano Internacional das Oportunidades para Todos está a terminar não é demais chamar a atenção para os nossos co-cidadãos diferentes. Tudo o que fizermos por eles será pouco!

22 comentários:

Anónimo disse...

Quando se escreve sem saber (também conhecido por deficiência de Fiolhas), escrevem-se coisas assim:

"Um dos nomes mais importantes é o de Galileu Galilei, que cegou em virtude das suas observações directas do Sol com o telescópio (em 2009 celebrar-se-á o Ano Internacional da Astronomia para celebrar os 400 anos das primeiras observações com o telescópio efectuadas pelo sábio italiano. Também o alemão Johnnes Kepler ficou com a vista diminuída" ou

"Embora realçando as diferenças entre deficiência mental e doença mental, valerá a pena referir aqui cientistas com problemas do foro mental (como esquizofrenia ou doença bipolar)"

Nem o primeiro nome de Kepler é Johnnes (é Johannes), nem Galileu ficou cego devido as suas observações directas (!) do Sol. Nem, por fim, a esquizofrenia é o mesmo que doença bipolar (ou, sequer, que qualquer uma delas seja uma deficência mental).

Este Fiolhais é uma caricatura ambulante do academísmo à portuguesa.

Anónimo disse...

Este Al Cunha é a caricatura ambulante do reaccionarismo à portuguesa. Toma lá esta, pá!
Rolando Almeida

Anónimo disse...

Então?! Tenham calma.

Anónimo disse...

Sou um apaixonado pela ciência, nomeadamente da astronomia e astrofísica,estou de acordo com o que aqui diz "Deficiência não é falta de ciência", grande cientista Stephen Hawking, então a "Breve História do Tempo Ilustrada", é espectacular.

Anónimo disse...

Esta al cunha não se confundirá com al alqueda.
Bem-haja Carlos Fiolhais.
FS

Anónimo disse...

Carlos Fiolhais fiolhou...perdão, errou. E os que aqui vieram defendê-lo, como bons homens de ciência que são, limitaram-se simplesmente a tentar insultar quem assinalou alguns dos erros de Fiolhais. Digam lá que isto não é o academísmo à portuguesa. Ah! Carlos Fiolhais é prémio Rómulo de Carvalho. Será que não deveria saber um pouco mais do que de história ciência gradiva?

Anónimo disse...

Al Cunha
Creio que se refere a mim no seu comentário. Então qual é o problema de um homem de ciência errar? É elementar, meu caro, ou julga que um homem é omnisciente? O Al Cunha foi ingénuo e continua a ser. Isto é insulto? Não me parece: é que é mesmo ingénuo.
Rolando A

Anónimo disse...

Não. Os seus comentários só podem ser insultuosos para si mesmo. Nem sequer percebeu que o problema não é "um homem de ciência errar"? O problema passa pela quantidade de erros, o tema dos erros e a incapacidade em reparar, lidar ou evitar os erros, dos homens de ciência aqui em causa. O problema é a pobreza e os traficantes de droga científica que vivem a passar produtos de divulgação sem qualidade ou rigor.

Anónimo disse...

Al Cunha,
Não sei. Como não sou físico, não reuno condições para saber se Carlos Fiolhais é ou não bom na física, mas é um excelente divulgador. Se o Al Cunha é físico saberá avaliar melhor que eu. Mas reuno condições para lhe dizer que não sei porque é que os meus comentários me insultam a mim mesmo. O que o Al Cunha parece ter dito e que me chamou a atenção resulta de uma mania parva de por as coisas em causa sem as fundamentar. Põe-se em causa porque se inveja. E se não foi uma destas razões que o levaram a fazer o seu primeiro comentário, pelo menos criou uma grande ilusão que foi. Depois, armou-se aos papagaios ao entrar naquela de insultar mas se armar em vítima quando alguém lhe faz o mesmo. e daí? Creio que este espaço de comentários não deve ser usado para conversas tolas, mas a verdade é que até eu tenho os meus limites e não apreciei o seu comentário, mesmo que não se destinasse a mim.

Anónimo disse...

Carlos Fiolhais cometeu, só neste post, vários erros básicos de história da ciência. Apontei claramente aqueles que me saltaram logo numa primeira leitura. Para piorar, a situação não é virgem. Se não aprecia este tipo de comentários, então só me dá razão quando acrescento que isto é sinal (um deles) do pobre academísmo português. E já agora, se não é físico como sabe distinguir a boa da má divulgação científica?

Seja crítico também - e principalmente - com as autoridades. A ciência sempre se fez, e só se pode fazer, contra as autoridades.

Anónimo disse...

Parece-me que o comentador Al nutre uma antipatia pessoal pelo físico Carlos Fiolhais.

Na minha opinião, antipatias pessoais para com os autores do blog não devem ser transportadas para a caixa de comentários, ainda mais por quem escreve de uma forma anónima.

As observações do comentador Al extravasaram as meras correcções do texto e estenderam-se para o âmbito pessoal com considerações mal educadas sobre a competência profissional e a personalidade do Carlos Fiolhais.

Festas Felizes,

Anónimo disse...

Al Cunha,
a minha formação é da filosofia, pelo estou razoavelmente habituado a não aceitar argumentos da autoridade. Como não sou físico, acredito nas autoridades da física, o que me parece normal. Em relação a distinguir um bom dum mau divulgador, dou-lhe um exemplo que espero seja esclarecedor: apesar de ser da filosofia posso não saber muito de Hegel. Mas quando sou confrontado com um livro de divulgação que exponha Hegel, creio ser perfeitamente admissível que saiba distinguir o que tem potencialidades didácticas daquele que não tem. Por essa razão, mesmo não sendo cientista, sei que os livros de Carl Sagam são bons para divulgar ciência, mesmo sabendo também, tal como Sagan também sabia, que é possível fazer mais, melhor e diferente. Para terminar: por não ser de formação da física isso não significa que não saiba de ciência, a menos que a ciência fosse somente a física, o que é falso.
Em relação à sua última frase, para ser crítico com as autoridades. Não tenho nada a objectar. Parece-me que é mesmo como o Al Cunha refere. Curiosamente é isso que mais tenho feito em alguns artigos que publico no meu blog e noutros locais, divulgar a necessidade do pensamento crítico. Estou farto de falar nele!!!
Rolando Almeida

Anónimo disse...

O antónio parente repete a justa medida daquilo que já foi dito Prefere conjecturar sobre os motivos do comentário, passando ao lado do conteúdo do comentário. Palha, portanto.

Rolando Almeida:

A ciência não se resume à física. Queria ter escrito ciência física. Não escrevi. Meu erro. Estamos de acordo aqui.

Quanto à questão de aferir da qualidade da divulgação parece-me, como indirectamente assinalou, que é uma questão de fazer fê no autor. Contudo, divulgar não é ensinar. E ao divulgador, mas do que "questões didáticas" deve-se exigir o máximo rigor. Mais do que a harmonia das palavras, devem haver consistência dos significados. E a forma de apreciar estes últimos passa pela leitura - quando possível - dos originais e de outros autores sobre o mesmo assunto. Se o fizer, perceberá a qualidade da divulgação destas autoridades locais. Não se pode ser complacente com a quantidade de erros e imprecisões dos CF que por aí andam.

Anónimo disse...

Por aqui termino

Anónimo disse...

Estimado cunha

A forma como escreveu superou o conteúdo. Não me lembrou do que corrigiu mas tenho presente a forma mal educada como escreveu. Por isso lhe dei palha. Não merecia mais.

Carlos Medina Ribeiro disse...

A propósito das dificuldades de mobilidade de pessoas com deficiência, veja-se, [aqui], o caso da passagem superior da via-férrea em Entrecampos (Lisboa).
Por sinal, há um prémio para o melhor comentário a este verdadeiro escândalo.
.

Anónimo disse...

Al Cunha,
Tenho razões para crer que o CF faz um bom trabalho no sentido em que aqui discutimos. Em relação ao que diz no resto da sua resposta, estou em acordo completo e o problema que foca acontece muito na filosofia, área que, sendo a minha, observo com mais cuidado a falta de rigor. Bom, creio até que não temos muita gente interessada em divulgar a ciência como o CF, mas mais em escrever algumas coisas para se mostrarem os "maiores da nossa aldeia" e mostrarem o seu umbigo aos outros. A academia portuguesa nesse sentido não funciona ou funciona muito mal. Com certeza que seria desejável existirem uns 20 a fazer o trabalho do CF.
Só mais uma justificação final: quando lhe respondi mais lá acima, fi-lo porque fiquei com a sensação que reagiu mal aos erros do CF. Isso acontece muito pelo menos no nosso país: ninguém faz nada de nada, mas quando alguém faz alguma coisa, mesmo que com as suas limitações, erguem-se logo as vozes de contestação. Este comportamento é indesejável e observo-o com muita frequência nas caixas de comentários deste blog. Não posso mesmo discutir o que sabe CF de física, mas é indiscutível a sua obra em matéria de divulgação.
Uma obra deve manter sempre a preocupação pedagógica. Não se ensina somente na escola. Em relação ao resto, como lhe disse, está muito bem visto. Mas mantenho dúvidas que a obra de Fiolhais seja assim tão desfazada da realidade científica.
Até breve
Rolando Almeida

Ashera disse...

Ahahahah
Gosto de ler trogloditas absolutistas e outros issssstásss aí?
Please, nunca lia tanto comentário sem sentido,, parabéns ao Dono da casa pelo artigo de esclarecimento.
Feliz 2008
Beijos

H. Sousa disse...

Bem, os erros históricos apontados por al cunha são, de certo modo, elementares, caros Watsons, elementares. Será caso para dizer que os reis vão nus? Disso nunca duvidei, agora tenho mais uma certeza.

Carlos Fiolhais disse...

Caro Rolando:
Boas Festas! Já deve ter reparado que nunca respondo a anónimos.
Um abraço do
Carlos Fiolhais

Anónimo disse...

Nem a anónimos, nem a professores universitários que se identificam claramente. Ver: o último comentário de http://dererummundi.blogspot.com/2007/12/grandes-erros-prmio-santilli-galileu.html#links

De resto, bastar-lhe-ia responder (corrigir) os erros elementares de história da ciência que vai por aqui espalhando.

Como era aquela história do mentiroso e do coxo?

Anónimo disse...

Caro Carlos Fiolhais,
Obrigado. Já reparei que não responde a comentários anónimos e faz muito bem.
Boas festas e espero sempre pelos seus livros que são uma companhia indispensável para quem gosta de dar uns toques de ciência.
Rolando Almeida

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