sexta-feira, 7 de dezembro de 2007
A LEI DE MURPHY
Do último livro de Nuno Crato, "Passeio Aleatório pela Ciência do Dia-a-Dia" (Gradiva), lançado hoje em Lisboa, transcrevemos um dos aliciantes trechos:
Em 1949, a Força Aérea norte-americana fez uma série de experiências para medir as reacções do corpo humano a acelerações elevadas. Para tomar as medidas, era preciso fixar aparelhos ao corpo de pilotos. Cada aparelho podia ser montado apenas de duas formas: uma certa e uma errada. O engenheiro que concebeu a experiência mandou instalar 16 desses aparelhos, de forma a melhorar a precisão das observações e reduzir as hipóteses de erro. Pois o técnico que os instalou conseguiu montá-los todos na forma errada e a experiência falhou.
O engenheiro chamava-se Murphy e, desapontado, formulou a célebre lei que toma o seu nome: «Se há uma maneira errada de fazer as coisas, então é certo que alguém as fará mal.» No dia seguinte, o piloto que tinha sido cobaia no teste, major John Stapp, deu uma conferência de imprensa. Transmitiu a reacção de Murphy, embora de forma um pouco diferente: «Se algo pode correr mal, então é certo que vai correr mal.» Alguns repórteres decidiram incluir esta frase nas notícias e o dito ficou conhecido como Lei de Murphy.
Esta lei pessimista é invocada quando algo corre mal, havendo esperanças de que tal não acontecesse. Um exemplo típico entre brasileiros é «a fatia da tosta cai sempre no chão com a manteiga para baixo». Mas há outros exemplos habitualmente citados: «a parte mais importante de um fax é sempre aquela que aparece menos legível», ou «só se têm furos nos pneus quando se tem pressa», ou ainda «os computadores só são atacados por vírus quando não se fizeram cópias de segurança dos ficheiros».
Na realidade, como toda a gente sensata reconhece, a Lei de Murphy é apenas uma ironia e a sua aparente aplicabilidade generalizada é uma ilusão psicológica. Invocamo-la quando algo corre mal e esquecemo-la sempre que as coisas correm bem. Em geral, o nosso cérebro faz automaticamente uma selecção dos casos que parecem ajustar-se ao padrão que se procura. No que se refere à Lei de Murphy, em particular, estão em causa situações desagradáveis, que por isso se recordam mais persistentemente: lembramo-nos daquele dia azarado em que um furo no pneu nos fez perder o avião e esquecemo-nos das vezes em que não tivemos nenhum problema e chegámos a horas ao aeroporto.
Recentemente, alguns cientistas discutiram seriamente a Lei de Murphy. O físico Robert Matthews, por exemplo, deu-se ao trabalho de fazer experiências com tostas e verificou, como seria de esperar, que, sendo estas atiradas ao ar, a probabilidade de caírem com a manteiga para baixo é 1/2. No entanto, se as tostas rolarem de uma mesa com cerca de 80 cm de altura, como é habitual, a probabilidade de caírem com a face barrada para baixo é muito superior. A razão é simples, verificou o mesmo físico. É que, a essa altura, as tostas apenas têm tempo para fazerem meia volta. Se as mesas tivessem dois metros de altura, então as tostas cairiam preferencialmente com a face barrada para cima.
O artigo de Matthews discute ainda outras pretensas manifestações da Lei de Murphy e conclui serem resultados perfeitamente explicados pelas leis da física e pela teoria das probabilidades. A lição é simples: em vez de procurar explicações na fatalidade ou na premonição, vale a pena usar a cabeça e a ciência para tentar explicar os fenómenos. Entendida como graça, a Lei de Murphy tem a sua piada. Enquadrada no reino da superstição, nem piada tem.
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5 comentários:
"Eu como aluno de 4º ano de um curso superior em engenharia, só tenho a dizer que a pessoa anónima, sabe zero de física, química, e muito menos sabe o que é a energia. De facto essas definições soltas, que nem essa pessoa (certamente) sabe o que significam, não passam de ideias soltas, que quase aposto teram sido copiadas e coladas para fazer o post. Se querem saber mais sobre o que é energia, leiam uns livros escritos por quem sabe. A gradiva tem excelentes livros, acessíveis ao todos publicados por cientistas fantásticos, entre os quais estão incluídos o Carlos Fiolhais e o Jorge Buescu.
Agora o post da pessoa anónima é no mínimo hilariante.
João Saúde"
Acho por bem esclarecer que o dito anónimo sabe "zero de física" como o caro clama, mas é mestrado em Física.
Portanto, puxando galões, não sei quem mais os tem.
"
7º Cá para mim o anónimo do comentário pateta, tão pateta que só pode ter sido escrito por quem não percebe raspas de física, é outro homeopateta em pele de "cientista" para confundir as hostes!
"
da cara Rita, se não me engano. Minha cara Rita, eu eventualmente sou isso tudo e mais.
Imagine-se no meu lugar, em que alguém lhe dizia que não percebia nada de Biologia (estou a assumir que é bióloga), iria sentir-se bem ou mal? E se fosse pensar, pensaria o quê?
Eu penso o seguinte: se calhar não sei o suficiente de física, mas acho que você sabe menos.
Finalizando, esta caixa de comentários é um festival de fanáticos.
O objectivo do meu comentário era apenas dar a entender que isto que se diz neste blog está longe de ter qualquer tipo de rigor conceptual. E é essa imagem que se passa, da falta de rigor conceptual, que faz com que muita gente se sinta capacitada para alvitrar os disparates que alvitra sobre os diversos assuntos, como está patente nos comentários sobre as homeopatias e derivados.
A Lei de Murphy é muito importante na concepção dos sistemas, organizações etc. Basicamente, ela lembra-nos que se uma coisa pode correr mal, cedo ou tarde isso acabará por acontecer - se as instrucções de operação não acautelam as possiveis interpretacções erradas, cedo ou tarde alguém fará a operação errado, se há algo que pode falhar num sistema, mesmo que tenha baixa probabilidade, cedo ou tarde acontecerá.
Sofistica-se a questão com a análise de risco. Uma ponte apresenta um determinada fragilidade? Qual é a probabilidade de ruir antes de estar substituida pela nova ponte projectada? Qual é o número de vitimas se ruir? Multiplica-se a probabilidade pelo custo das vidas humanas, estabelecido por tabelas, e outros prejuizos materiais, e toma-se a decisão de manter assim a ponte.
... o pior é que ela pode mesmo ruir e o valor da vida humana, tabelado em função dos ordenados que a vítima deixa de receber, vai parecer depois muito baixo em função das consequências políticas e sociais...
Não associem isto a uma certa ponte, o exemplo é inteiramente fictício, mas a teoria usada não é, e é usada em muitas decisões de engenharia...e confesso, face a cálculos destes dá muito jeito retorquir: pois, isso está muito certo, mas está a esquecer-se da Lei de Murphy...
Por isso, não digam mal da Lei de Murphy... graças a ela os engenheiros conseguem generosos "coeficientes de cagaço"...
A Lei de Murphy faz parte das 13 Pérolas da Burocracia, mas quem quiser consultar as 100 Melhores Leis de Murphy pode lê-las aqui:
http://www.humornaciencia.com.br/miscelanea/murphy.htm
Como se sabe, há inúmeras obras de pessoas que ganham dinheiro à custa da Lei de Murphy - em livros, artigos, etc.
No entanto, pouca gente sabe que o próprio Murphy nunca ganhou um chavo com isso!
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