domingo, 9 de dezembro de 2007

Recepção de Euler em Portugal

Está a terminar o ano de Euler, que assinala os 300 anos do nascimento do grande matemático suíço. O Jorge e eu próprio já aqui assinalámos esse aniversário. Muito mais haveria a dizer. Mas ficam só duas palavras sobre a relação de Euler com Portugal (não, nunca cá veio, pois Euler viveu toda a sua vida na Suíça, na Rússia e na Prússia, mas teve cá estudiosos e terá tido pelo menos um amigo português na Rússia).

O acontecimento mais marcante da ciência em Portugal no século XVIII foi a Reforma Pombalina da Universidade de Coimbra, que teve lugar em 1772. Com essa reforma foram criadas duas novas Faculdades – as Faculdades de Matemática e de Filosofia – que tinham relação entre si. Entre os nomes mais marcantes dos primórdios da Faculdade de Matemática contam-se Anastácio da Cunha e José Monteiro da Rocha. Os dois matemáticos, que não se entenderam muito bem (as lutas entre catedráticos não são um assunto novo), foram dos primeiros professores de Matemática na Faculdade com esse mesmo nome em Coimbra. O primeiro escreveu o notável tratado de 1782 “Princípios Matemáticos” (“Principes Mathématiques”, na tradução francesa que saiu em 1811) tendo sido também poeta. Na parte final da sua vida o matemático foi perseguido pela Inquisição (o escritor Aquilino Ribeiro escreveu sobre o assunto o romance “O Lente Penitenciado”). Assinale-se que saiu recentemente uma belíssima edição sobre Anastácio da Cunha, contendo facsimiles de manuscritos encontrados no Arquivo Distrital de Braga: "José Anastácio da Cunha. O tempo, as ideias, a obra...", Arquivo Distrital de Braga / Universidade do Minho, e Centros de Matemática das Universidades do Minho e do Porto, organização de Maria Elfrida Ralha, Maria Fernanda Estrada. Maria do Céu Silva e Abel Rodrigues, Braga, 20o6). Quanto ao segundo, estudou num colégio de jesuítas no Brasil, país onde escreveu um livro descrevendo as suas observações do cometa Halley ("Sistema físico-matemático dos cometas", Rio de Janeiro, 2000) com base num manuscrito de 1760 encontrado na Biblioteca Pública de Évora). Esteve na base do estabelecimento do Observatório Astronómico da Universidade de Coimbra, que, após se terem gorado outros planos, acabou por ser construído perto da Biblioteca Joanina, no Pátio da Universidade. Esses dois matemáticos conheciam e citaram a obra de Euler, seu contemporâneo. Anastácio da Cunha refere, por exemplo, a célebre fórmula de Euler.

Mas há outras ligações entre Portugal e o grande matemático suíço. Na época do Marquês (e até antes) vários portugueses notáveis estiveram exilados. São os chamados “estrangeirados”, destacando-se entre eles o nome de António Ribeiro Sanches. Médico de origem judaica nascido em Penamacor e formado na Universidade de Salamanca, trabalhou na corte da Rússia de 1731 a 1947 (Euler viveu em S. Petersburgo entre 1727 e 1741). Foi médico assistente de Catarina II quando ela era adolescente. É possível que aí tenha encontrado Euler. Ribeiro Sanches é o autor das “Cartas sobre a Educação da Mocidade” (1760), que influenciaram as reformas educativas do Marquês de Pombal. No grande arquivo de Euler que está em crescimento na Internet encontra-se referência a cartas entre Leonhard Euler e aquele notável sábio português, escritas entre 1740 to 1766. Essa correspondência compreende cinco cartas, das quais duas foram escritas por Euler. Por outro lado, Euler foi sócio correspondente da Academia de Ciências de Lisboa, tendo o Marquês de Condorcet, no elogio fúnebre que lhe fez na Academia de Ciências, de Paris referido essa afiliação.

2 comentários:

Anónimo disse...

O Euler, esse sacana! Além das conspirações com o Lagrange, do apoio ao Hamilton e das resmas de papel gastas à família Bernoulli, ainda teve a lata de escrever uma identidade com um montão de letras e sinais essenciais, o

e^(i pi ) + 1 = 0

Grande burgesso!

Selena Sartorelo disse...

Boa noite,

Percebo que há muito não se tem um post novo por aqui, mas por favor gostaria apenas de saber o que signifca UM BLOG CONVIDADO DO P se puder responder ficaria imensamente grata.

VENERAR O QUE NÃO EXISTE

Sumptuosas catedrais e mesquitas, erguidas com fortunas e suor, votadas a um deus que não exista, servirão o fervor ou o terror? Tanta ...