Antes de continuar com a análise das homeopatetices convém explicar aos nossos leitores umas noções básicas de forças intermoleculares - que determinam a estrutura de líquidos. Estas noções parecem-me suficientes para todos se aperceberem de que a memória da água não passa mesmo de uma patetice pseudo-científica.
O esquema acima, ilustrado com azoto, mostra as diferenças fundamentais entre estado líquido e estado gasoso, diferenças essas que têm a ver com o facto de que no estado gasoso as distâncias entre moléculas são muito maiores (o volume molar de um gás é muito maior que o de um líquido ou de um sólido e por isso temos airbags e explosões, em que em ambos o que acontece é uma reacção com formação de um grande número de moles de gases). Para além disso, como as moléculas não se «sentem» umas às outras, no estado gasoso não há restrições aos movimentos das moléculas, nomeadamente às translacções (movimento da molécula como um todo) , rotações e vibrações.
As moléculas vibram como um todo mas podemos decompor essa vibração nos chamados modos normais de vibração que correspondem a abrir e fechar ângulos ou esticar e encolher ligações específicas. As vibrações só são congeladas ao zero absoluto, temperatura a que não há qualquer movimento. Nesta página de um grupo alemão, podem ver uma animação de um modo normal de vibração da água, a «stretching vibration» que corresponde ao esticar e encolher das ligações O-H, e em que se representa as elongações dos átomos numa vibração com período de 10 fs (um fentosegundo é 10-15 s ou 0,0000000000000001 s)
O Jorge Dias de Deus deu alguns anos a minha aula de apresentação de Química Geral aos alunos de Física Tecnológica e costumava brincar dizendo que a Química era aquela parte da Física que se restringia a distâncias em que as únicas forças operantes eram forças electrostáticas. E, na realidade, as forças intermoleculares são também interacções electrostáticas, nomeadamente aquelas que designamos por forças de van der Waals e que são fortemente dependentes da distância, r, (variam com 1/r6) e das propriedades eléctricas das moléculas: o seu momento dipolar ( que já foi abordado no post «Message in a Bottle» e está representado na figura seguinte) e a polarizabilidade, que mede a capacidade de deformação ou volume da núvem electrónica de uma determinada molécula.
As propriedades físicas das substâncias moleculares são explicáveis com base nas forças intermoleculares e no caso da água, uma molécula muito pequena e consequentemente com uma núvem electrónica igualmente muito pequena, não obstante o momento dipolar elevado as forças de van der Waals são pouco intensas e só com estas forças a água seria um gás à temperatura ambiente e não existiria vida tal como a conhecemos.
Mas há outro tipo de forças intermoleculares, não puramente electrostáticas, a que chamamos ligações de hidrogénio e que se estabelecem sempre que há numa molécula um hidrogénio ligado a um átomo muito electronegativo, como sejam o flúor, o oxigénio e o azoto. Esse hidrogénio, deficiente em electrões, estabelece uma interacção com um par de electrões não partilhado do flúor, oxigénio ou azoto. Essa interacção, a ligação de hidrogénio representada na figura, é direccional - e também muito fortemente dependente da distância.
Custa muita energia partir estas ligações de hidrogénio e por isso a água, que pode estabelecer quatro ligações de hidrogénio, tem uma temperatura de ebulição tão anomalamente elevada (a temperatura de ebulição corresponde à temperatura à qual a agitação térmica «vence» as forças intermoleculares e as moléculas passam para a fase gasosa onde não há interacções entre elas).
Quando dissolvemos algo em água há uma alteração da estrutura da água que tem a ver com a natureza química do que dissolvemos. Se dissolvermos um sal iónico, por exemplo sal de cozinha, NaCl, o sal dissocia-se nos iões constituintes, neste caso Na+ e Cl-, que são solvatados por interacções ião-dipolo. A água dispõe-se em volta dos iões com o oxigénio (o centro de cargas negativas) voltado para os catiões (de carga positiva) e os hidrogénios para os aniões (de carga negativa) como ilustrado na figura.
Nem todos os compostos iónicos são (macroscopicamente) solúveis em água, nomeadamente aqueles em que o catião ou anião são demasiado grandes e não apresentam grupos com os quais a água pode estabelecer ligações de hidrogénio. Assim como não são solúveis em água compostos moleculares com os quais a água não estabelece ligações de hidrogénio e mesmo alguns em que isso acontece, se forem demasiado grandes, podem não ser muito solúveis (ou miscíveis). Há casos curiosos como por exemplo o fenol, C6H5OH, que é muito pouco miscível em água (ou solúvel, de Inverno) mas em que a inversa não é verdade: a água é bastante miscível no fenol (o que mais uma vez tem a ver com dimensões e com a grande dependência da distância de todas as forças intermoleculares).
Mas deixemos esses casos menos triviais: para ocorrer dissolução de qualquer coisa em água é então necessário que ocorra uma alteração da estrutura desta para solvatar essa qualquer coisa e a estrutura final da mistura é aquela que confere menor energia ao sistema, ou seja, em que são maximizadas as interacções atractivas e minimizadas as repulsivas (o que acontece também com a minimização possível das distâncias entre moléculas, porque como se tem visto ao longo do texto, todas estas interacções são fortemente dependentes das distâncias).
Todos estes processos são muito rápidos, aliás, reacções envolvendo a água são as reacções mais rápidas que se conhece - sendo as «campeãs» as reacções de transferência de protão, nomeadamente no estado excitado (após absorção de luz) em que os chamados superfotoácidos transferem um protão na escala dos picosegundos (1 ps= 10-12 s), o que não é de espantar se pensarmos que a transferência de protão não é mais que uma vibração mais alongada de um hidrogénio envolvido numa ligação de hidrogénio.
Posto tudo isto, de onde vem esta treta da memória da água esgrimida pelos homeopatetas, em que supostamente a água «recorda-se» do que solvatou em tempos idos e mantém a estrutura que apresentaria na presença do ausente soluto, ou seja, apresentaria «buracos» na sua estrutura (com distâncias que implicariam um impossível «dispêndio» de energia para manter)?
Existem de facto materiais (sólidos, metais e polímeros) com «memória» de forma, mas esta memória é fácil de explicar quimicamente e não passa de uma mudança de fase induzida termicamente, com tensão ou com luz. Desde quasi a Idade do Ferro que se sabe que há uma alteração das propriedades do mesmo por aquecimento acima de uma determinada temperatura (a temperatura de transição alotrópica do ferro de uma estrutura cúbica de corpo centrado, CCC, para estrutura cúbica de faces centradas, CFC ) e que se pode metaestabilizar a estrutura CFC (austenite) com arrefecimento rápido (a têmpera).
O que se passa com estes materiais com «memória» de forma, muito utilizados em medicina, por exemplo para stents (para a manutenção dos vasos sanguíneos abertos), é que se metaestabiliza o material à temperatura ambiente numa determinada estrutura, a que corresponde uma forma que se pode guiar sem problemas na veia, quando o material chega ao local de destino procede-se a, por exemplo, um aquecimento por efeito de Joule, o material muda de estrutura, muda de forma e dá suporte e/ou mantém a veia «aberta».
A treta da memória da água é uma impossibilidade química introduzida por um imunologista francês, Jacques Benveniste, ou antes, por uma sua colaboradora, Elisabeth Davenas, que Benveniste convenientemente «esqueceu» de informar ser paga por uma empresa homeopateta, a Boiron.
Lembro-me perfeitamente da história quando esta saiu em Junho de 1988 na revista Nature e das reacções incrédulas - que uma revista como a Nature publicasse semelhante disparate, mesmo com um disclaimer só visto no artigo sobre Uri Geller - dos meus colegas que trabalhavam mais perto da dinâmica da água. O editor, John Maddox, publicou o artigo de Benveniste - que pretendia que a homeopatia era um fenómeno real, ou mais especificamente que uma solução infinitamente diluída de anticorpos conseguia activar glóbulos brancos devido à tal «memória da água» - com uma reserva editorial que afirmava «Os leitores deste artigo podem partilhar a incredubilidade de muitos referees».
Como parte do acordo editorial, Maddox, James Randi (especializado em desmascarar banhas da cobra sortidas) e Walter Stewart, um perito em fraude científica, viajaram ao laboratório de Jacques Benveniste para repetir as experiências em ambiente controlado. Os três não demoraram muito a refutar as pseudo-experiências subsidiadas pela empresa homeopateta e publicaram logo na edição de Julho de 1988, o artigo «'High-dilution' experiments a delusion», em que, simpaticamente embora apontando que dois dos colaboradores de Benveniste eram pagos pela Boiron, afirmavam que não tinha havido má fé do senhor, apenas péssima ciência e ilusão.
As conclusões do trio de investigadores foram as únicas possíveis: «A hipótese de que se pode imprimir na água a memória de solutos passados é tão desnecessária quanto quimérica (fanciful no original)».
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17 comentários:
É boa a tentativa Palmira, mas quem acredita nas tretas da "memória da água" certamente que será ignorante a ponto de não ficar esclarecido com este post. Mas é sempre bom tê-los.
O artigo pode estar correcto do ponto de vista científico mas é ineficaz. Duvido que algum adepto da memória da água perceba o que está escrito no post.
O grande problema de quem faz divulgação científica é a capacidade de transformar assuntos díficeis em fáceis, utilizando uma linguagem acessível, simples, "literária", com metáforas que todos entendam.
Mas os autores do blogue saberão, melhor do que ninguém, a quem se dirige o que publicam.
Todos estes artigos sobre a falsidade da homeopatia estão todos mto bem escritos e correctos. É óbvio q homeopatia é uma banha da cobra, q oferece pouco mais do q um placebo na melhor das hipóteses. A grande questão é: se as pessoas vão aos homeopatas, pagam balúrdios pelas consultas e pelos medicamentos, mas no fim saem satisfeitos, qual é o problema? A resposta q normalmente ouço (e dou) é q impede as pessoas q efectivamente estão doentes de serem tratadas convenientemente. Mas até q ponto isto é efectivamente verdade, nomeadamente em Portugal? Há estatísticas sólidas sobre se efectivamente as medicinas alternativas impedem as pessoas de receberem tratamento adequado qd precisam?
Mal comparado, a música pimba não presta, mas há muita gente q gosta de ouvir, e sendo inócua, não há razão para a proibir. O mesmo com a homeopatia, não faz nada e é uma aldrabice, mas também se não faz mal e as pessoas saem satisfeitas para voltar... só se tivermos uma grande necessidade q todos pensem e olhem para o mundo como nós, mas isso simplesmente não resulta!
A resposta é óbvia, caro anónimo: podem sair satisfeitas, mas os dias de satisfação que ganham antes de terem uma recaída (ou, se forem teimosos e reincidirem, outra e outra) e consultarem a um médico podem custar-lhes a cura ou, no limite, a vida.
Mas, claro, pode ser que morram satisfeitos; juntamente com famílias desfeitas, amores quebrados, projectos inacabados, a água cá estará para recordá-los.
Caro Jorge,acho q não leu o meu comentário com a devida atenção. Eu referi essa justificação,e referi também q era essa mesma justificação q eu dava qd confrontado com a pergunta. Agora se queremos ser rigorosos temos q o ser em todos os campos e não apenas naqueles q nos convém. A minha pergunta (q fiz assumida ignorância) foi se efectivamente se sabia qtas pessoas evitam o tratamento médico adequado (qd este é efectivamente necessário) por terem preferido as medicinas alternativas (nomeadamente a homeopatia). Destes, em qtos casos o resultado foi a morte (como o caro Jorge referiu de forma tão perfeitamente fatalista)?
A um rigor na análise da fundamentação científica da homeopatia, em respondo com rigor na análise da influência social da mesma.
Mas ainda há outra justificação q não precisa de grandes fundamentações cientifico-estatísticas. A homeopatia é uma fraude! Vender uma cura q não existe é ilegal, por ser fraudulenta. Voltando as analogias do dia a dia,é como comprar um rolex em ouro q afinal é feito de latão e foi montado na china. Aqui o caso já é mais bicudo, pq apenas é grave se as pessoas q consomem o produto são efectivamente ignorantes daquilo q estão a consumir. O problema é qd falamos de medicinas alternativas, as pessoas nao querem saber, mesmo depois de lhes ser demonstrado q estão a ser enganados. Voltando à analogia do relógio, muitas pessoas compram rolexs falsos pq apenas querem sentir-se bem com a sua aparência (e não se preocupam com a qualidade de construção). E aqui voltamos ao argumento inicial. Se as pessoas se sentem bem e não lhes faz mal, qual é então o problema? Sim, já sei, eu já disse, o caro Jorge relembrou-mo, e eu afirmei-o outra vez: impede as pessoas de recorreram ao uma tratamento eficaz. Mas novamente, até q ponto isso acontece mesmo? Alguém sabe? Foi feito sequer esse estudo? Novamente, pergunto porque não sei mesmo e gostava de saber, não porque esteja a tentar atacar o post, q acho muito bom!
O meu estilo foi propositadamente fatalista, mas não o estava a atacar: percebi que esta a retorizar contra a homeopatia, e decidi fazer o contraponto para reforçar.
Isso é que é embrulhar convenientemente a incapacidade do que não se consegue (ainda) explicar com o jargão científico conveniente!
E, obviamente, associar as experiências de Benveniste e Ennis à homeopatia, o que é simplesmente uma forma fraudulenta e totalmente desonesta de pretender refutar aquilo que não se pretende aprofundar.
Nesse artigo da "Nature" (vol. 334, 28-07-1988), o imunologista francês recorda que a investigação científica é muitas vezes financiada por empresas privadas, já que os seus custos podem não ser nada meigos, claro:
...does the fact that homoeopathic companies are paying two researchers (contract approved by INSERM administration) mean that they order them into improper conduct? How about research in — or supported by — industry, including numerous Nobel prizes? We could not
self-finance a long-term international cooperation nor the expenses of this large group of investigators. Did the source of the money influence their judgement? What a level of argument!
Não há contudo nada de novo neste modo de proceder, que obviamente desde logo qualifica quem o faz, pelo menos na sua rigidez intelectual que é o evidente oposto da atitude de abertura que qualquer cientista sempre deve ter.
A questão da ainda hipotética e controversa "memória da água" - um termo popularizado na imprensa mas a que Benveniste chama de "sinalização molecular" - é puramente física e científica e nada tem a ver directamente com a homeopatia em si, excepto pelo facto de poder oferecer um suporte teórico para o tal pretenso efeito terapêutico das grandes diluições, certo!
A este respeito, será interessante recordar a afirmação mordaz de Arthur Schopenhauer:
All truth passes through three stages: First, it is ridiculed. Second, it is violently opposed. Third, it’s accepted as being self-evident.
Estamos algures na transição da 1ª para a 2ª fase, depois da tal equipa pan-europeia ter repetido, se bem com uma metodologia diferente, os resultados de Benveniste e colaboradores. Que eu saiba, os mesmos não foram refutados nem tiveram a tal oposição que Benveniste teve de suportar, com a ostracização a que foi desde então votado pelo sacrossanto edifício da ciência oficial, que aqui está excelentemente representada... no doubt about it!
Talvez uma das razões é que não havia empresa alguma ligada à homeopatia por trás dos diversos laboratórios - Irlanda, França, Itália, Bélgica e Holanda - que reproduziram, com ainda maior rigor, a experiência de Benveniste e com as mesmas conclusões.
Já me referi atrás e com mais pormenor a esta questão, fornecendo inclusive os respectivos links que os autores destes artigos "patetas" convenientemente têm resolvido ignorar. Deixo apenas mais 2, o original do imunologista francês e o da associação Jacques Benveniste que continua actualmente a sua obra.
Aí podem os interessados beber directamente na fonte tudo o que está directamente relacionado com as diversas pesquisas do cientista francês e o actual "estado da arte" a este respeito. E para que não subsistam dúvidas, a questão da homeopatia é inteiramente secundária a este respeito, o tema deve ser tratada em moldes unicamente de validade científica e a sua comprovação ou não, o que - repito! - ainda NÃO foi feito até à data, por muito que os sábios cá do pedaço se esforcem o mais possível por convenientemente ignorarem essa simplicíssima realidade!
Por último, e deixando a controvérsia sobre a homeopatia de parte, a forma como, quase 20 anos volvidos, as experiências e a memória de Benveniste continuam a ser tratadas é a mais perfeita e infeliz demonstração de como NÃO deve ser feita ciência, comprovando aliás o que Magueijo também tão acerbamente critica no seu livro, já que, cientistas ou leigos, somos seres humanos emocionais e imperfeitos.
Ainda para centrar a discussão no único terreno a que ela pertence - o da Ciência e não o do obscurantismo dos fait-divers - eis o que Benveniste tem a dizer sobre a forma como, na tal 1ª fase das novas verdades nascentes, a sua revolucionária descoberta foi ridicularizada e desacreditada:
Where is the heresy? What is "hard to reconcile with what we know about molecules?" ( D. Herscbach, Nature, 395, 535, 1998).
Why the fuss, excommunication, resentment, insults, injuries and, last but not least, the crash landing of fraud-seeking commandos? Will the eternal "Understand I do not, therefore it is not" prevail forever in science? Can we not say once and for all "bye-bye" to Galileo-style prosecution and replace it with genuine scientific debate? Given my painful ten-year experience, we may as well start by throwing out the 'pire-review' system which has become, behind its facade of excellence, the main antibody blocking the nearly deceased scientific free exchange, which once was the cornerstone of scientific progress.
Como curiosidade final, eis um artigo intitulado 13 things that do not make sense, onde a experiência de Ennis e a sua vasta equipa também é referida e, curiosamente, é o tema que maior número de comentários suscita no final. Recomendo em particular a leitura do mais recente (13 Nov.), onde aliás são tecidas outras considerações sobre o efeito placebo e a correlação corpo-mente, que também por diversas vezes aqui tenho abordado.
É que... et pur si muove!... e a verdade não é estática, mas dinâmica!!!
E porntos! Discutem-se as tretas New Age, o ganha pão do gnomo, e cá aparece qual praga com as palermices do costume!
Não tenho pachorra para gente desta, queria só lembrar ao Leprechaun que o que está escrito no post é
que Benveniste convenientemente «esqueceu» de informar ser paga por uma empresa homeopateta, a Boiron.
No final de cada artigo deve ser mencionado quem financiou os estudos, quem pagou as bolsas ou salários do pessoal envolvido. Benveniste não fez isso, «esqueceu-se» de mencionar o financiamento por uma empresa homeopateta.
Por coincidência, certamente...
Depois, também não há pachorra nem para comparações absurdas com Galileu, Inquisição, e sei lá mais o quê.
Se houvesse um pingo de fundamento nas homeopatetices, aos anos que essa banha da cobra por cá anda e aos rios de dinheiro que move já se tinha dado por ela.
...podem sair satisfeitas, mas os dias de satisfação que ganham antes de terem uma recaída (ou, se forem teimosos e reincidirem, outra e outra) e consultarem um médico podem custar-lhes a cura ou, no limite, a vida.
Uma resposta ainda a esta consideração dúbia sobre a homeopatia, aliás é ela o cavalo de batalha desta série de artigos.
Como já referi, e qualquer pessoa minimamente informada sobre as medicinas complementares - porque complementam a quimoterapia quando ela é necessária! - sabe, o campo de acção preferencial das terapias "doces" ou não agressivas diz respeito aos estados de doença crónica ou surtos agudos, mas não de perigo de vida iminente, como é óbvio.
A patente má fé e total desinformação dos mais radicais e intransigentes defensores da quimioterapia a todo o custo, com exclusão liminar das terapias tradicionais e milenares, é evidente quando ignoram este facto simplicíssimo: é que as outras medicinas NÃO negam a alopatia e os seus incontestáveis benefícios, muito menos o progresso técnico-científico que a mesma trouxe para as ciências médicas em geral.
Deveras, é sempre o filho que pode rejeitar o pai, no complexo de Édipo mais do que patente em toda a ciência, de forma geral, não só no afastamento da religião mas também na recusa do pensamento mágico sincrético que, afinal, acompanhou os primórdios do pensamento filosófico e científico, na Antiguidade.
Não há nada de surpreendente neste comportamento, afinal a Ciência apenas se pretende afirmar como um corpo de conhecimento válido e autónomo e cortar as amarras com outras formas de pensamento, que no passado inclusive a limitaram. Tudo bem, no problem!
Onde a "porca torce o rabo" é já na estulta e deveras ridícula pretensão de que SÓ o pensamento lógico e racional - pese embora a sua enorme importância - pode desvendar a realidade ou atingir a tão elusiva verdade.
Quem assim pensa, navega num oceano de quimeras onde muito bem pode naufragar. Uma coisa é a Ciência já ter conquistado o seu espaço próprio, mas outra bem diferente é pretender ter o monopólio da verdade, como outrora a religião também o fez.
Deveras, somos chegados no limiar deste século a um estado tal em que, como Eisntein afirmou: Science without religion is lame, religion without science is blind.
Claro que ele não se refere à religião dos dogmas e da fé, mas ao tal estado de maravilhamento que é o verdadeiro espírito da alma religiosa!
Já que falo disto, e porque até vem muito a propósito, recomendo a todos aqueles que sinceramente querem mesmo aprofundar este tema - o que só é possível com um espírito de abertura e não dogmático - a leitura do livro Science, Religion, and the Human Experience
Anyway... desviei-me um pouco do tema inicial homeopatia et al. vs. alopatia. Como facilmente sabem aqueles que se dedicam a estudar todas as diversas formas de cura - e muitas existem ainda para além dos cânones oficialmente reconhecidos - um número considerável de doentes só recorre em última instâncias às tais outras terapias quando já está perfeitamente desenganado e desiludido com a medicina convencional. Por vezes, após anos e anos de tratamentos infrutíferos em que, ou nunca é debelada uma enfermidade crónica ou simplesmente se passa da enfermidade A para a B e depois a C e assim por diante.
Ora são mesmo estes estados de deficiência crónica - mas que não implica perigo de vida eminente, óbvio! - que fornecem o maior número de casos em que as terapias alternativas são reconhecidamente úteis e efectivas. Certo que tais exemplos anedóticos ou casuais não fazem prova científica, além de que é perfeitamente possível que muitos deles se devam simplesmente ao tal efeito placebo já discutido. Só que a sua realidade não pode ser desmentida... ponto final! O que é, é... ó Zé!!! :)
Por fim, há deveras um argumento simplicíssimo para comprovar o real benefício terapêutico destas medicinas "suspeitas". Já falei nisso ontem, mas o excesso de cientifismo e racionalismo da presente era parece que nos cega para aquilo que é mais simples e evidente. Logo, repito os 2 aforismos hipocráticos que as tais medicinas "mágicas" ainda seguem, mas que na prática de há muito foram abandonadas pela quimioterapia, que aliás de certa forma até se lhes opõe:
Primum, non nocere!
Que o teu alimento seja o teu medicamento.
Deixando os efeitos iatrogénicos de parte, os efeitos secundários são por vezes inevitáveis mas aceitáveis, pergunto apenas o que é que a esmagadoríssima maioria dos médicos convencionais percebe sobre alimentação?! E que importância prática é dada ao regime alimentar no acto da prescrição médica?! Compare-se isto com o extremo cuidado e minúcia que os praticantes das outras medicinas põem na anamnese do paciente antes de fazerem o diagnóstico e o peso que os cuidados alimentares e higiene de vida têm na terapia a prescrever, e tirem-se as simplicíssimas conclusões. Easy, easy, easy!!!
Logo, caro Jorge, parece-me que nessa afirmação são mesmo de inverter os termos!
E basta, por agora, quem tem a experiência concreta do que eu digo... mesmo através de um familiar ou conhecido... sabe muitíssimo bem aquilo que está mesmo em jogo.
Onde está o obscurantismo e o statu quo, afinal?! Ou o que faz bem e o que faz mal?!
Honestidade radical...
Rui leprechaun
(...medicina natural! :))
Olha, a brava Rita, tão catita!!! :))
Antes de mais, volto a esclarecer que tenha de facto formação na área de saúde, sim - Faculdade de Medicina do Porto - mas nunca exerci a nível profissional. Deveras, não fiz o estágio obrigatório e preferi vagabundear pela Europa... belíssimos tempos! ;)
Ganho a vida como tradutor e revisor de textos, mas claro que sempre me interessei e continuo a interessar por todos os temas que dizem respeito ao Ser Humano e acredito, piamente, que Ciência e Espiritualidade convergem na mesma direcção. Deveras, parece-me que isso é cada vez mais evidente e a oposição pouco esclarecida que ainda se vê irá baixando progressivamente de tom.
Quanto à questão do laboratório, insisto que é um fait-divers. Que eu saiba, tal não se verificou no caso da confirmação independente pela equipa chefiada pela Prof.ª Madeleine Ennis, nem em outros estudos que forneceram resultados estatisticamente inconclusivos, mas onde o nº de amostras positivas foi ainda assim bem significativo.
Em suma, e pondo a homeopatia de parte, a questão fulcral da "memória da água" ou "sinalização molecular" ou aquilo que lhe queiram chamar permanece em aberto, esse é um facto!
Se constitui ou não um desafio aos cânones científicos vigentes, isso já é outro assunto, mas Benveniste NÃO era dessa opinião e, de facto, não vejo mesmo nada de extraordinário na teoria que ele desenvolveu para explicar esse hipotético fenómeno. Por outro lado, esta investigação ainda é relativamente recente, afinal a confirmação pela equipa de Ennis foi apenas efectuada há 8 anos... not that much!
Ora falando de psicologia humana, é óbvio que temos aqui um bias bicudo, isso sim! É que da forma, algo caricata e de cientificidade muito duvidosa, como a experiência de Benveniste foi tratada, e ainda o modo como isso lhe pôs termo à carreira "oficial", não parece muito fácil que outros lhe queiram seguir as pisadas. Mais ainda, tirando então as empresas homeopáticas, quem quererá mesmo financiar um estudo que pode afinal desacreditar parte do cânone científico vigente?
So... Science is an open space...
Rui leprechaun
(...where truth must find its place! :))
"All truth passes through three stages: First, it is ridiculed. Second, it is violently opposed. Third, it’s accepted as being self-evident."
Frase interessante. Mas nem todas as novas teorias que surgem correspondem à verdade - aliás, a maioria delas acaba por se revelar o contrário.
Não partas já do princípio que a homeopatia é verdade.
Bom, a ignorância é absolutamente impressionante (e estúpida) quando se julga conhecimento.
As medicinas "alternativas", essencialmente as que são à base de medicamentos ditos "naturais", de ervas ou afins, são realmente eficazes de tempos a tempos. São-no porque possuem um ou mais princípios activos que agem de forma a combater os sintomas (ou mesmo a doença). Existem nas plantas (por exemplo) porque as mesmas tiveram, no passado, de lidar com os mesmos problemas e acabaram por evoluir defesas naturais. O ser humano, muito mais recente, ainda não o fez, pelo que a ingestão de uns chás ou de umas plantas muitas vezes ajuda. Até aqui nada contra.
Bem pelo contrário, até porque, quando se descobre cientificamente que determinada planta possui realmente certos benefícios, há uma imediata corrida das farmacêuticas à mesma para identificar o princípio activo. Depois de identificado surgem os estudos sobre a melhor forma de o produzir e comercializar. Diversos medicamentos hoje presentes nas prateleiras das farmácias tiveram os seus princípios como partes de uma planta qualquer que se sabia ser benéfica a uma qualquer maleita.
O problema é que nem sempre essas plantas são indicadas. É que as plantas (ou outros produtos "naturais", uso as plantas como exemplo genérico) são um verdadeiro cocktail extremamente complexo de substâncias. Poderão, muitas vezes, ter certos componentes que sejam benéficos, mas poderão ter outros que não o serão. Em medicina chama-se a isso "contra-indicações" ou lá o que é. Também há o risco de certa planta, considerada ideal para combater, digamos, a febre, acabe por agravar a doença porque, ao mesmo tempo que combate a febre, mascara os restantes sintomas deixando assim a doença correr à vontade. É essencialmente essa a objecção da medicina sobre os medicamentos ditos "naturais". Não há um controlo real. Tanto pode ser indicado, como não o ser. Com um medicamento que foi exaustivamente testado do ponto de vista científico tal situação não se põe: existirão algumas objecções, certamente, mas serão conhecidas.
Há, é verdade, casos de erros, de medicamentos que causam outras doenças, situação desconhecida inicialmente. Só que essas situações são frequentemente ínfimas, apenas sendo recordadas pela mesma razão que a Lei de Murphy: temos tendência a recordar as situações más que se coadunam com os nossos pré-conceitos.
Os estudos, está mais que repetido, refutaram as "experiências" homeopatas. Outras irão confirmar algumas da "alopatia", possivelmente, tal como outras refutarão. O que está no cerne da experiência, além do resultado, é a explicação do mesmo. Não basta dizer que algo acontece: é necessário apresentar uma explicação convincente. A explicação convincente pode realmente ser atacada para, no fim, ser aceite como evidente, mas os resultados nunca passarão pelo mesmo processo. Tão só porque ou são confirmados ou são explicados. Para serem aceites realmente, terão que cumprir ambos os critérios. A homeopatia não cumpre nenhum. Cientificamente, a Palmira explicou porque razão a "explicação" é treta. Em termos de resultados, só acredita neles que é homeo-pato!
Alguém foi deixar um comentário arrogante no meu blog na tentativa de me insultar.
Pelo estilo deve ser um/a Mensano/a.
Já me tinham avisado que as reuniões de Mensanos em Portugal primavam pelos insultos misturados com comida e bebida.
Eu, da experiencia que tenho com reuniões de Mensanos, era de curiosidade e partilha generosa de conhecimentos. Pois ser inteligente provoca curiosidade pelo infinito de conhecimentos que ainda nos resta abarcar.
Estes comentários aqui chocam-me por demasiado agressivos e arrogantes.
A pachorra de investigar como cada grão de farinha se relaciona com o grão de farinha do lado apesar de inútil merece respeito.
Com franqueza ao menos respeitem-se pelo esforço que fizeram para aprender o que neste aqui e agora julgam ser uma verdade insofismável.
Eu nem no tempo da minha adolescência em que acreditava piamente no culto da deusa Ciência era tão pouco respeitosa ao atazanar a cabeça aos meus pais com pretenções de que tudo o que não estivesse provado cientificamente não era de considerar.
Mas eu tinha 14 anitos, apenas.
Aos 20 anos já tinha percebido como aquilo funcionava e abandonei uma faculdade onde tinham os objectivos todos baralhados só para prestarem culto à deusa Ciência, com sacrifícios humanos e tudo.
Nunca me arrependi disto. E hoje sei que encontrei por outras paragens as respostas que não estavam lá.
Despeço-me com sinceros votos de muito discernimento e sabedoria.
E que o Universo vos dê multiplicado por um bilião tudo o que me desejarem.
Um abraço com muito amor.
E já agora eu prefiro curar-me com um pseudo-placebo que me envenenar com um medicamento alopático.
Adeus e muito amor para todos.
Bolas, que a epidemia de patetices New Age tem proporções mais assustadoras do que eu pensava se já produziu exemplares como a comentadora acima.
hà muita gente a ganhar fortunas à custa da ignorãncia alheia, é um facto mas nunca pensei que estas tretas se tivessem alastrado desta forma.
A explicação da Palmira deixa de fora um componente extremamente importante que é o CONTENTOR da água ou das soluções. Normalmente é de vidro, ou seja de sílica que se dissolve, embora em pequenas quantidades em água. Ora é essa sílica que pode ser responsável por alguma "memória", não da água mas da sílica:
"The process of silica dissolution has been much studied [1109, 1207] ever since it was proven by Lavoisier over 200 years ago and fits with this argument. This may explain why glass is preferred over polypropylene tubes. It should be noted that dissolved silica is capable of forming solid particles with complementary structures (that is, imprints) to dissolved solutes and macromolecules and such particles will 'remember' these complementary structures essentially forever." (http://www.lsbu.ac.uk/water/memory.html#r1211)
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