Durante a semana que passou, um professor de educação pré-escolar – é conscientemente que uso a designação professor – mandou-me o texto A minha professora é brava, da autoria de João Miguel Tavares, publicado no Correio da Manhã, de 31 de Outubro, que, ao que percebi, teve grande divulgação em blogues e conversas.
Confesso que, quando o li, não me sugeriu grande reflexão. A outra face na moeda, pensei… Agora a delinear-se o movimento da “palmadinha nas costas” para a “palmada no rabo”, como antes se delineou o movimento da “palmada no rabo” para a “palmadinha nas costas” (expressões do texto)…
Por regra (admito, pois, excepções) ambos os movimentos me parecem fazer pouco sentido, sobretudo quando conduzem a extremos e por aí se fica… Na verdade, e centrando-me no plano académico, se o século XX, o designado século da criança, foi da (re)descoberta da infância, o que transposto para a escola se traduziu na crença de que ela, tal como as flores, desabrocha naturalmente (daí a designação de Jardim de Infância), de que os seus “interesses e necessidades” devem ditar tudo o que deve aprender, de que qualquer chamada de atenção perturba o seu desenvolvimento normal, o século XXI começa a dar sinais preocupantes do oposto, com retorno a perspectivas educativas acentuada e ininterruptamente austeras, que apelam a uma resistência física e psicológica notável, desde os níveis mais precoces de escolaridade, que se revela insuportável para muitas.
Sim, as crianças precisam de, como a imagem que acompanha o texto faz notar, aprender a organizar o seu trabalho, o sentido e a experimentação do esforço, da disciplina e do silêncio, e, sim, isso tem de lhes ser ensinado. Mas esse ensino pode ser feito, de modo eficaz, por um professor ou uma professora desfardada, com uma expressão menos cerrada do que aquela que se vê na dita imagem, a qual, devo dizer, entendi como um elogio incondicional, ainda que veiculado de modo mais ou menos subliminar, a essas tais pedagogias austeras.
Não liguei, como disse, muito ao assunto, até ao momento em que o professor a que aludi me interpelou sobre o texto, dando-me duas dicas muitíssimo preocupantes: A primeira é que, soube ele, vários professores colaram o artigo na porta da sua sala… parecendo, assim, que, na impossibilidade de usarem as suas próprias palavras para afirmar a fundamental importância da acção educativa que exercem para os valores acima expostos, recorrem às palavras de um articulista com coragem suficiente para contrariar o “clima de escola” em que (muitos) vivem.
E que clima de escola é esse? Não, não é o que o articulista conclui e que assim formula: “quando perguntam aos pais o que eles mais desejam para a escola dos seus filhos, a resposta costuma ser esta: regras claras e maior exigência. Os professores bravos fazem muita falta.”
O que este professor me disse é que pôr um menino ou uma menina de castigo, está fora de questão, porque a palavra “castigo” não pode se proferida em qualquer circunstância. Quando muito pode pedir-se ao menino ou à menina, que se porta notoriamente mal para "ir pensar no que fez", durante um bocadinho num outro contexto que não o do grupo de meninos…
Mas, ultimamente, quando isto acontece, é certo que o menino ou a menina em causa dirá ao pai e/ou à mãe, que no dia seguinte estará na escola a apresentar queixa junto do director que chamará o professor à atenção…
Devo dizer, com preocupação, que toda esta conversa foi muito em surdina, porque este professor não tem o emprego seguro e precisa dele para sobreviver.
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3 comentários:
Como eu percebo isto! Acabo de sair de uma aula infernal, onde as crianças, de uma sensibilidade de vidrinhos para qualquer admoestação que lhes faça, se espreguiçam, bocejam e soltam todo o tipo de ruídos indicadores do decorrer da digestão. Onde as crianças conversam animadamente com o colega de trás, da frente, da esquerda e da direita enquanto eu ensino a mesma coisa pela décima vez, porque aqueles que estão a conversar me pediram que fizesse revisão porque não perceberam bem, e ficam escandalizadas quando lhes digo que não, que não mando por mail resumos da matéria para o teste, nem faço exactamente as mesmas perguntas e os mesmos exercícios na aula anterior ao dito teste...
São os centros de entretenimento e guarda dos filhos dos outros que alguns teimam em chamar escolas...
Se calhar, o que está mal nisto da educação é o facto dela ser obrigatória e tendencialmente gratuita. O que não se paga, não tem valor. Assim pensa o português. Andavam todos tão escandalizados com o suposto fim do Serviço Nacional de Saúde mas, se calhar, a Escola Pública pode continuar a ser pública mas de outra forma. Para que haja maior respeito por ela enquanto instituição deveria ser paga por todos. Talvez assim, os pais metessem dentro da cabeça dos filhos que estão a gastar o seu dinheiro e que não podem ir para lá fazer tudo o que lhes paga pela cabeça, desde insultar tudo e todos, estragar o material, incluindo, os quadros interactivos que a União Europeia nos pagou (leia-se a "odiosa" Alemanha e outros europeus do norte).
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