sexta-feira, 3 de dezembro de 2010
WIKILEAK
Habitual destaque para a coluna de opinião de J.L. Pio Abreu no "Destak":
O site wikileaks divulgou o que pensavam os políticos americanos sobre outros políticos proeminentes. O fundador do site, Julien Assange, foi de imediato acusado de violação e assédio sexual. Não se sabe quem o acusou, mas pensa-se que quem roubou os secretos pensamentos dos políticos foi um obscuro analista do exército norte-americano, Bradley Manning, um perdedor em relações humanas mas vencedor na tecnologia de computação.
Independentemente do impacto, o caso é simbólico. Mais do que secretos, os pensamentos são coisas privadas e, como tal, livres. O que conta, em política, são os actos e palavras públicas. Cada vez, porém, estas são menos divulgadas, e o que melhor se conhece são os enganos e pensamentos privados.
É verdade que a wikileaks divulgou emails, cujos autores sabem que ficarão escritos, embora guardados em segredo. Mas em Portugal, onde abundam Bradley Mannings à procura de protagonismo, também já se publicaram conversas de telemóvel que ninguém imaginava que ficassem para a posteridade, e as próprias conversas de pé de orelha dos políticos são captadas por microfones indiscretos. Insinuações sobre comportamentos sexuais também não são novidade.
Tudo se publica em nome da liberdade de imprensa. Se houver tecnologia suficiente, não faltará a captação dos pensamentos secretos dos políticos, que deixarão de poder pensar livremente. Quando isso acontecer, a liberdade de imprensa acabará com a liberdade de pensamento.
J.L. Pio Abreu
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19 comentários:
Por mais que se desenvolva, a tecnologia nunca poderá captar... aquilo que não existe, suponho eu. JCN
Talvez, mais importante para a liberdade do pensamento, imprensa, etc, que as opiniões de uns em relação a outros, seja a verdade.
A fronteira entre a verdade e a mentira; entre a boa intenção e a má intenção; entre o desejo e a realidade, é muito ténue e diferente para cada um, com a variável de depender de que lado estamos.
E-Mails e Telegramas entre embaixadas e departamentos de estado, e vice versa, não são exactamente PENSAMENTOS e COISAS PRIVADAS, semelhantes a lucubrações de CONFESSIONÁRIO. Parecem-me mais EXERCÍCIO DO PODER.
Por associação de ideias ocorreu-me a censura.
Na antiga Prússia um Imperador instituiu a censura, e um catoonista apresentou, no frontispício de um jornal diário, a fotografia do Imperador, mas com a cara tapada com um quadrado repintada a negro.
Desconheço as consequências para o cartoonista, mas o Imperador não deve ter gostado da censura imposta pela redacção do diário.
De certa forma, se me permitem, não vejo nenhuma novidade no que o sr.Julien Assenge tem revelado.
Ele tem-se limitado a trazer à luz do dia a sentença de Churchill: "O político que não mente é um irresponsável".
Isto para dizer que Julien Assenge limitou-se a revelar o negativo da fotografia política, e comprovar que afinal os políticos, ao mentirem, mostraram e demonstraram que são responsáveis, e Julien Assenge, um irresponsável.
Bem pensado... e primorosamente dito, como aliás tem sido habitual, lisonja à parte! JCN
O que foi revelado não surpreende muito mas espanta que os governantes deixem tamanho rasto dos seus crimes. Será que é por pensarem que ficam sempre impunes?
Não me interessa muito conhecer os pensamentos privados dessa gente mas estas revelações mostram bem o seu carácter.
Não me parece que o que foi revelado seja sobretudo privado. Muitas coisas estão directamente ligadas aos cargos que ocupam e mexem com a vida (e a morte) de muita gente.
Para os teóricos medievais a existência de dois mundos - o terrenal e o celestial – que se distinguiam pelos seguintes parâmetros, respectivamente, um, criado e administrado pelos homens, logo, falível e decadente, e o segundo, criado por Deus, logo, imperecível e incorruptível.
Para obviar às fraquezas políticas humanas, dentro deste quadro, só havia uma forma de dar autoridade, imperecível e incorruptível, aos reis e imperadores, pela outorga da vontade divina, de acordo com o ditame de S. Paulo: “Todo o poder emana de Deus”. Fica assim compreendida durante séculos a cumplicidade entre monarquia e a Igreja, o domínio desta no poder secular, e os fundamentos dos liberais vintistas e os revolucionários republicanos, os laicos, retirarem os poderes da Igreja, e humilhando-as por vezes, indo ao ponto de encerrarem também conventos, para os transformarem em quartéis.
Isto porque, apostavam na sentença inscrita na Política de Aristóteles, baseada na “Efigénia em Aulis”, de Európides, de que “é justo que os helenos dominem os bárbaros, e não jugo alheio submeta os helenos (…) eles são escravos, nós somos livres por nascimento.” Portanto, os laicos liberais e republicanos, por serem “livres por nascimento” devem, já não, dominar a Igreja, mas afastá-la do Estado.
Com isto acabava-se o poder divino dos monarcas, e a influência dominante da Igreja, que passava para os constituintes liberais, constituindo o rei uma figurava decorativa ou simbólica da monarquia constitucional, ou seja, adiantava-se o passo para o Estado tendencialmente falível e decadente, pela extinção do “poder emanado de Deus”.
Fica agora evidenciada a falibilidade e decadência dos Estados com a revelação dos documentos da WikiLeaks, e sobre os quais os líderes mundiais se limitaram a esboçar um sorriso cuja interpretação possível seria a de que todos têm documentos e segredos desse teor, mas esperam que não os descubram nem divulguem.
Este caso WikiLeaks lembra-me ainda o sr. Bernard Mandeville, e a sua “Fábula das Abelhas”, nas longínquas paragens de 1714, onde as públicas virtudes do Estado, se fazem à custa dos vícios privados do Estado, considerando o autor que os progressos da época ficaram muito vinculados ao egoísmo/individualismo, dado que vício e virtude, constituem o cerne do egoísmo.
Quem estiver interessado em ler a Fábula poderá ceder à versão inglesa The Fable of the Bees: or, Private Vices, Publick Benefits, ou com ortografia actual From the fable of the bees: Or, private vices, publick benefits, ou à versão francesa La fable des Abeilles.
Em Política, tudo o que parece não é, porque o que é não aparece, portanto a WikiLeaks só meio destapar a casa das abelhas, e estragou o espectáculo da política, em permanente actuação no palco do mundo. E é pena porque o “faz de conta” sempre nos encantou. Foi o mesmo que revelar os truques com que os filmes nos brindam com maravilhas que só a nossa imaginação sonha.
Posso ter defeitos ...
Posso ter defeitos, viver ansioso e ficar irritado algumas vezes,
mas não esqueço de que a minha vida é a maior empresa do mundo.
E que posso evitar que ela vá a falência.
Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver apesar de todos os desafios, incompreensões e períodos de crise.
Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e
se tornar um autor da própria história.
É atravessar desertos fora de si, mas ser capaz de encontrar
um oásis no recôndito da sua alma .
É agradecer a Deus a cada manhã pelo milagre da vida.
Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos.
É saber falar de si mesmo.
É ter coragem para ouvir um 'não'.
É ter segurança para receber uma crítica, mesmo que injusta.
Pedras no caminho?
Guardo todas, um dia vou construir um castelo...
(Fernando Pessoa)
Em que terreno?! JCN
No meu comentário das 18:27
Como as letras "i" e "o" vivem juntas, no teclado, em vez de escrever Eurípides, correcto, saltou um falseado Európides.
Pelo lapso, as minhas desculpas, com a compensação de poderem aceder ao texto de Eurípides, Efigénia em Aulis, em caso de interesse.
Entre as versões Eurípides e Eurípedes, eu iria vernaculamente pela segunda. JCN
Para o Dr. João Boaventura, sob as asas de Pessoa:
INTROSPECÇÃO
Se eu for capaz, conforme diz Pessoa,
de para dentro de mim próprio olhar
e não achar senão matéria boa,
feliz me poderei considerar.
Infelizmente assim não deve ser,
pois como qualquer outro ser humano
de olhos fechados faço por não ver
a nódoa derramada sobre o pano.
Nesta incerteza, nesta ambiguidade,
evito a meu respeito me indagar
entrando pela minha intimidade.
É como se tivesse uma mordaça
que sobre mim me impede de falar
por ante Deus não me encontrar em graça!
JOÃO DE CASTRONUNES
Caro JCN
Agradeço os poemas que me são endereçados, com a lhaneza que o caracteriza, e mal me fica esquecê-lo.
Relativamente a Eurípides ou Eurípedes, e sua opção pelo segundo signo, penso que as duas acepções são aceites por as ter visto vestidas das duas maneiras.
De qualquer forma repare que também tenho lido o signo Tucídides, como o signo Tucídedes, das duas formas mas, sem ter feito um escrutínio sobre qual o que impera, tenho visto mais vezes Tucídides e Eurípedes, o que não invalida a sua versão vernacular.
Com um abraço amigo
Caro JCN
Corrijo a última linha que me saiu deturpada, porque onde está Eurípedes, deve figurar Eurípides porque nas minhas leituras, é a forma dominante.
Com as desculpas pela minha desatenção.
Será, caro Dr. João Boaventura, que, ao trocar Eurípides por Eurípedes, lhe fugiu a língua para a verdade?
De resto, excluindo, por não pertinente, a comparação ou aproximação de ambos os antropónimos gregos em questão, eu tive o cuidado de apelar, quanto ao nome do tragediógrafo, a sua vernaculidade ou tradição lexical portuguesa sob a forma Eurípedes, chegada ao idioma luso pela ponte do latim e não directamente da fonte grega. De qualquer modo, repare na minha Expressão "eu iria", ou seja, entre ambas as versóes, quiçá legítimas, eu optaria por aquela que academicamente tem mais consenso entre nós. Foi autor que me tirou noites de sono em prolongadas vigílias até de madrugada! O maior dos trágicos? Não, mas o mais trágico dos trágicos, na dita de Aristóteles. Quem pudera voltar a esses tempos de quase menino e moço! Com simpatia. JCN
Não se amofine, caro Dr. João Boaventura, não se amofine... por matéria de tão pouca monta! No fundo não é mais que uma opcional permuta de vogais: um aristocrático "i" por um vulgaríssimo "e". Tudo... minudências ou rabulices filológicas, para as quais falta pachorra nos socráticos dias que nos tocou viver. JCN
Será que, com a crise, está escasseando o sal em Portugal? JCN
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