quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

O que pode ser aperfeiçoado na educação

O leitor João Viegas pergunta, em comentário, se no extracto que seleccionei da recente entrevista a David Justino, a propósito da publicação do seu livro Difícil é educá-los, não terei omitido referências feitas pelo ex-Ministro da Educação (1) ao que está bem na educação e (2) ao que pode ser aperfeiçoado nesta área.

Considerando que se trata de uma entrevista muito completa de alguém que conhece o cenário educativo do ponto de vista da investigação e da política, voltei ao texto, fazendo, agora, uma análise do seu conteúdo em função dos dois aspectos enunciados pelo nosso leitor.

O que está bem na educação

David Justino destaca, em vários pontos o...

... PROGRESSO NA VERTENTE DA QUANTIDADE: há sem dúvida "mais pessoas com acesso à educação e simultaneamente com grau de sucesso”, existe "mais escolarização, mais escolas e mais professores".

O que pode ser aperfeiçoado na educação

Neste aspecto, David Justino alarga muito mais as suas considerações, destacando diversas ideias, que organizei em seis alíneas.

1) O DEBATE SOBRE A EDUCAÇÃO DEVE SER MUDADO, dado que:
- SE CENTRA EM QUESTÕES ACESSÓRIAS e eventualmente relevantes a curto prazo, deixando à margem questões essenciais a médio e longo prazo;
- REPRODUZ IDEIAS ANTIGAS, sendo que algumas delas se reduzem a estereótipos;
- ACONTECE MUITO NA LÓGICA DA INSATISFAÇÃO, dificultando a apreciação serena de novas propostas.

2) A LÓGICA DESSE DEBATE TAMBÉM DEVE SER ALTERADA, pois a “lógica do confronto" obscurece a "lógica da reflexão conjunta e construtiva". Na verdade, "a educação é uma espécie de constante campo de batalha onde as opiniões não fundamentadas se sobrepõem à investigação e à análise concreta".

3) ESSE DEBATE DEVE CENTRAR-SE NO TIPO DE EDUCAÇÃO que “capacite e prepare as novas gerações para os problemas do futuro”, problemas que a sociedade levanta em termos tecnológicos e culturais. É preciso, nomeadamente discutir como se deve educá-las para a sociedade do conhecimento, para saberem pensar e reflectir a partir de conhecimentos acumulados, que não é uma biblioteca fechada. Isto é tanto mais verdade se pensarmos que “vivemos numa ilusão tecnológica. O computador é como um livro. Mas o computador só dá respostas se eu fizer as perguntas adequadas”.

4) NESSE DEBATE NÃO SE PODE ESQUECER A EQUIDADE, QUE NÃO ESTÁ ASSEGURADA. Efectivamente, “os critérios tradicionais de selecção foram substituídos por outros, menos visíveis… os resultados demonstram que o sistema de ensino é muito selectivo e fica aquém do desejável, que é alcançar a escolaridade obrigatória de 12 anos”. Urge desenvolver um sério esforço neste domínio, pois “o melhor antídoto para as desigualdades e a pobreza é haver mais e melhor educação”.

5) NESSE DEBATE É PRECISO DAR ATENÇÃO À QUALIDADE, pois, progredimos em termos de quantidade, mas esse progresso não foi tão rápido quanto seria de desejar. Por outro lado, "a quantidade de educação não acompanhou a qualidade daquilo que é ensinado".

6) NESSE DEBATE É PRECISO SER-SE REALISTA, dado que, "os estudos internacionais revelaram que Portugal se mantém numa posição modesta. Nomeadamente nos testes internacionais feitos pela OCDE permanecemos teimosamente na retaguarda”. “Há países no mundo que já ultrapassámos no que diz respeito à adaptação, à rapidez de mudança, mas em relação a outros ainda estamos muito atrás”.

A terminar,
destaco uma ideia mobilizadora de David Justino: O SISTEMA EDUCATIVO TEM DE RECUPERAR, mas aqui “não há milagres”. "O trabalho tem de ser feito com tempo e persistência”.

13 comentários:

Anónimo disse...

Ao jeito de uma mensagem de Natal, é isto o que nos espera se a atitudes se mantiverem: http://www.henrymakow.com/attali.html

Digam-me lá que escola desejam?
Digam-me lá que o que pretendem fazer pessoalmente?
Digam-me lá se vão esperar que os políticos mudem alguma coisa?
Digam-me lá se gostam do futuro que se vislumbra para as crianças de hoje? E as de amanhã.

Digam ao menos, não calem mais.

joão boaventura disse...

Não vale a pena desmistificar em discursos, entrevistas, ou opiniões, o andamento ou descompasso do sistema educativo, porque chega-se a um ponto em que as pessoas, nas críticas que tece, a propósito do tecido educativo, acabam por se inserirem, ela mesmas, no grupo dos criticados. Não me alongo a referir os pontos da entrevista, porque com eles tropeçamos a cada instante em que a mesa se desenvolve.

Convém não esquecer que os governos dos países atrasados, como o nosso, por norma, não projectam nem planeiam a longo prazo, mas, para ontem, tal a pressa e o desejo de recuperar o tempo perdido, ou talvez aparentar que esse é o caminho… o de deixar qualquer obra feita, mesmo que mal feita, para que o próximo governo possa brilhar, desfazendo os erráticos cálculos do anterior, e passar a fazer as coisas bem. Simplesmente, nada sai bem, em cada ciclo, em cada regime ideológico obsessivo, autofágico

Daí o torpedeamento permanente das democracias, que nos oferece o Parlamento, a caminho dos tempos da Idade Média, ou tão simplesmente, à visão de Le naufrage de la civilisation, que a cada instante se nos antepara.

Não vale a pena chorar sobre o leite derramado, nem se A, B ou C, fez, não fez, o seu trabalho de casa, que é a construção do Templo do Conhecimento, vulgo Sistema Educativo, porque não nos abre portas, e não nos abre portas porque o sistema social em que se insere, está todo viciado nas bases, nos propósitos, na falta de inspiração..

Mas adoramos enterrarmo-nos em argumentos – como eu - esquecidos que não são argamassas para o Templo do Conhecimento, o tal Conhecimento que está omisso na aplicação das Novas Oportunidades, que optaram por privilegiar o economicismo e a entrada imediata no trabalho. Parece que é assim que se fazem os escravos do milénio.

Respeito muito os considerandos do Dr. David Justino, mas o discurso produzido não é argamassa, é argumentação do vago e indefinido retrato da Educação Nacional. As portas continuam fechadas para a juventude.

Augusto Küttner de Magalhães disse...

Como é evidente e vem sendo defendido por muitos, que o que interessa é fazer sempre "melhor" e não unicamente "mais".

Sendo que, não é só na Educação(mas também na Educação): estamos há muitos anos a iludir-nos com "muito mais" e vamos esquecendo o "muito melhor".

E, se não houver uma continuada vontade de todos se empenharem em melhorar, em dar o seu contributo, que não necessariamente da própria "classe" (em defesa deesta) seja ela qual possa ser, nunca mais "isto" ficará difrentemente "melhor"!

E, ninguem deve fazer o seu melhor, com outro qualquer intuito, que não "fazer melhor"!

Augusto Küttner de Magalhães

Augusto Küttner de Magalhaes disse...

Difícil é educá-los

Ao lermos o livro em questão, convém ter em atenção uma frase excelente que David Justino utiliza no respectivo prefácio:
…neste mundo virado do avesso que nos surpreende e atormenta dia a dia.

Muito importante e muito necessária esta frase, dado que apesar de estarmos menos bem relativamente a todos os outros, as incertezas, também na Educação são transversais a vários países e veja-se o que está de menos bom a acontecer, nesta área, no Reino Unido.
Logo, ao estarmos efectivamente menos bem e de facto termos que ficar – como? Quando ? - bem melhores, não podemos esquecer o contexto.
E, mesmo que muito divaguem quanto aos recentes resultados obtidos pelo nosso País no PISA, sejam por que foram comprados, seja pelo que possa ser, convém estudá-los e fazer algo mais, , também nesta área de positivamente diferente!
Para não ficarmos a sempre mal dizer e a não sair do sitio…….

Parabéns uma vez mais a DAVID JUTINO, por este seu excelente contributo.
Augusto Küttner de Magalhães

Anónimo disse...

Bom, em primeiro lugar muito obrigado pela atenção.

Pessoalmente, não penso que haja necessariamente oposição entre o que diz o ex-ministro Justino e o que comenta o João Boaventura. Ambos parecem conscientes de que não tem sentido falarmos em objectivos meramente quantitativos. E' claro que nos apetece aplaudir quando vemos mais jovens escolarizados, e durante mais tempo, e com mais diplomas, mas também é claro que isso não pode ser valorizado em abstrato, pois se o tempo passado na escola e os diplomas não corresponderem a nenhuma melhoria na acquisição de competências, de rigor, de abertura de espirito, de curiosidade, de habitos de trabalho, etc. então querera dizer que desperdiçamos tempo e recursos...

A questão é saber como se mede a acquisição e isto passa, necessariamente, por clarificar quais são os objectivos.

Não tenho certezas nem sou especialista, mas a mim não me choca que se tenha em conta a realidade economica e aquilo a que João Boaventura chama "o economicismo e a entrada imediata no mercado de trabalho". Concordo que a educação não deve ser so isso. Mas parece-me que a educação não pode alhear-se completamente disso. As competências, o rigor, a abertura, a capacidade de trabalho, o sentido critico, a curiosidade e a capacidade de aprender mais, são também qualificações importantes no mercado de trabalho e a chave da produtividade do trabalho. Não fosse assim, alias, e não seria compreensivel que gastemos tantas verbas com o ensino publico. O que o sistema da, ou melhor o que o sistema distribui, são também qualificações, são também oportunidades para enfrentar o mercado de trabalho e as possibilidades de criar riqueza economica...

Por isso sou sensivel ao discurso que diz : não devemos olhar apenas para a "excelência" e para os melhores, mas antes para a população no seu todo e ver se o sistema faculta de facto aos mais carenciados aquilo a que eles não teriam acesso de outra forma.

Este pressuposto é o do programa PISA que, apesar de emanar de uma organização com fama de ser um bastião do liberalismo, procura precisamente comparar os resultados globais atingidos pelos diversos sistemas nacionais de ensino. Pode-se criticar a metodologia (embora ela seja largamente publica e sujeita a controlo), ou pôr em causa a fiabilidade dos dados recolhidos. Mas a critica é um bocado facil : tal como para as politicas economicas, é sempre possivel apontar que existe um biés politico. Dai a concluir que os resultados não têm qualquer significado, vai um passo que acho muito exagerado.

Nesse aspecto, quero apenas realçar que o que diz o ex-ministro Justino não me parece descabido : se acentuarmos o aspecto selectivo (que ja existe), vamos correr o risco de sacrificar o que interessa, que é a acquisição de bases pelo maior numero de pessoas e, mormente, por aquelas que não as teriam adquirido de outra forma, e que não as vão adquirir se forem abandonadas pelo sistema logo na primeira adolescência e recambiadas para o mercado de trabalho onde vão ocupar empregos mecânicos.

Lembro que a selecção não precisa da escola. Alias, a selecção existia muito antes da escola obrigatoria e, como as entidades patronais sabem muito bem, continua a existir à margem da escola.

(continua)

João Viegas

Anónimo disse...

(continuação do comentario anterior)

Portanto a questão é mesmo : o que é que adquirem os alunos na sua generalidade ?

Não me parece, como ao João Boaventura, que o discurso do ex-ministro procure fugir a esta questão, que é a questão central...

Como leigo, vou até defender que a propensão que temos para armarmos "guerras" em torno da educação nasce provavelmente da consciência que temos de que os resultados atingidos pelo sistema educativo e os da economia estão profundamente inter-ligados...

Pode muito bem suceder que esses resultados sejam insatisfatorios, mas então temos o dever ainda mais agudo de nos preocupar em saber porquê e o que devemos mudar concretamente.

O sonho de um pais de especialistas doutores em Harvard é uma fantasia perigosa. O que a economia precisa, e também o pais, não é multiplicar por dez o numero de Antonios Damasios. E' ter uma população activa que, apos o ensino secundario, se encontra realmente com boas qualificações, ou seja com qualificações mais adaptadas às necessidades da sua vida - à sua vida profissional, como à sua vida de cidadãos, de responsaveis de familia, etc.

E espero, com o exposto, não passar por mais um vaticinador. Embora, mais uma vez, continue a dizer, e mesmo a sublinhar, que não sou especialista...

PS : Não sou especialista mas sou, ocasionalmente, entidade patronal e julgo saber o que procuro num colaborador. E julgo também poder medir, do meu ponto de vista, aquilo que ele beneficiou com o sistema de ensino...

João Viegas

joão boaventura disse...

Caro João Viegas

Respeito as suas observações mas, para mim, o que se passa é que continuamos, primeiro, a dizer sempre as mesmas coisas, e a alternar entre "o que já foi feito" - quando tudo é permanentemente desfeito - e "o que falta fazer" - porque já se sabe, mas actua-se como se não se soubesse.

Os antigos ministros da educação nunca deviam ser auscultados porque a posição é, à partida, de fragilidade, e o discurso é o de complacência para os ministros em exercício, o que é compreensível porque o sistema educativo nunca está, nem satisfatório, nem em construção, mas em permanente desconstrução.

Os estudos que se fazem sobre a matéria morrem nas gavetas, ou por utópicos, ou por economicamente insuportáveis, ou por incapacidade de pô-los em execução. E atados atavicamente a este posição cómoda tem-se optado pelo que "parece" (parecismo) ou pelo que se "acha" (achismo) pela via da legislação que é uma ordem que vem de cima.

Quando o Dr. David Justino fala que as pessoas falam por "achismo", esquece que esse "achismo" começa por onde nunca deveria circular: pelos corredores do Ministério da Educação.

Estamos cansados de verborreia alheia, e da nossa. Queremos a estabilidade no, e do, Sistema de Ensino, como forma de acabar com os "achismos", de cima e de baixo.

25 de Dezembro de 2010 12:21

José Batista da Ascenção disse...

Caro Doutor João Boaventura: em verdade lhe digo que não é por não haver entre nós quem veja o caminho/procedimento certo que tendemos a seguir para o abismo. E essas pessoas não só vêem claro como não estão silenciosas... Bem podíamos aproveitar (melhor...).
Isto é o que sinto, sempre que leio as suas opiniões.
Já que, não raramente, em meu modo de ver, a força dos seus comentários se impõe e sobrepõe aos textos de entrada. E eu venho aqui muitas vezes à procura deles, confesso. E agradeço.

Anónimo disse...

Caro João Boaventura,

Concordo com o que você diz. As minhas observações apenas pretendiam que passassemos a debater em termos de : tendo em conta os objectivos, melhoramos/pioramos em matematica/português/etc, aparentemente por causa da medida x/ausência de medida x.

Nesse aspecto, parece-me obvio que o caminho certo e a primeira precaução a tomar contra o achismo, é distinguir entre objectivos e resultados. Ambos podem, e devem, ser discutidos. Mas não ao mesmo tempo.

Boas festas para todos.

João Viegas

joão boaventura disse...

Caro João Viegas

Eu, em princípio, e por princípio, respeito as opiniões alheias, como a sua, porque fazem o discurso da procura e da revolta simultaneamente.

O que não admito é que um ex-ministro fale genericamente em "pessoas que não reflectem", "pessoas que não percebem nada disto", em "pessoas que acham", criando aqui a etiqueta do "achismo".

Eu estaria no mesmo direito de dizer igualmente que também o Dr. David Justino, enquanto Ministro da Educação, nos anos do XV Governo Constitucional (2002-2004), não terá reflectido, não terá percebido, ou terá achado, e não o digo porque o mal do sistema começou com o desprezo do 25 de Abril, que omitiu, desde o início, e por demasiado tempo, o problema do ensino. Deixou-o à solta.

Repare que todas estas achegas, são apenas lágrimas de revolta, de azedume, de raiva, pela desnaturalização do sistema educativo, que é tratado como se fosse uma "cobaia", com ensaios permanentes, injecções de novidades insanas, distorcidas, irreflectidas, ao Deus dará.

Não exagero, porque é fruta do tempo que deslizou aos sobressaltos, numa paz Romana até ao tempo em que um vendaval chamado Maria de Lurdes Rodrigues - aplaudida pelas elites, claro - entrou com um exército armado até à alma, e destruiu o pouco e bom que se fazia, arrasou todo o sistema, criou a revolta com os seus ensaios tentaculares, arbitrários, drásticos e musculados. Destruiu pelo incêndio, como Nero, e riu das Manifestações dos professores.

Feito o mal, durante quatro anos, entrou-se agora num faz-de-conta, onde não se vislumbra uma linha directriz, mas saltos de cavalo, um penso aqui, uma tintura ali, uma massagem acolá, e vamos iludindo o tempo com o faz que faz, mas não faz, porque não se sabe o que fazer, porque “não se reflecte”, “não se pensa”, e “não se sabe o que se diz”.

O Sistema Educativo anda ao sabor dos partidos que jogam à educação como se fosse um brinquedo que se dá ao camarada que se julga apto para o cargo. O eleito foi escolhido pela aparência, pelo ar sério e intelectual, por ter escrito sobre a educação, ou, se não escreveu, isso não é obstáculo, e vamos em frente. Depois se verá.

Depois a pescadinha pedagógica diz que o eleito para sobraçar a pasta vai escolher os "melhores" para o coadjuvarem e que são, por norma, os amigos de convívio, não os melhores mas os possíveis, porque antes dos melhores há necessidade dos que vão ser fieis ao chefe. Primeiro o bom ambiente de trabalho, o que é lógico. Depois o que fazer com o Ensino.

E a história torna-se repetitiva, cíclica, porque quem vai gerir a educação necessita de fundos, e fundos para a educação não há, porque na escala hierárquica, a educação é o último, o que, se não diz nada, significa muito em termos de interesse governativo.

Cordialmente

joão boaventura disse...

Caro José Batista da Ascenção

Vou contar-lhe uma história verídica que presenciei em Estocolmo, numa reunião do Conselho da Europa, relacionada com a violência associada ao desporto. Quem nos recebeu e abriu a Reunião, foi o Ministro das Finanças que se dispôs a dialogar com os representantes dos países europeus presentes.

Um deles teve a coragem de lhe manifestar a estranheza de, em vez da presença do Ministro da tutela do Desporto, a das Finanças. Ao que o Ministro respondeu, sorridente começando por dizer que não estranhou a pergunta porque sabia que ela viria. E então disse esta coisa singela. Na reunião do governo para a atribuição das pastas, ninguém quis assumir a do Desporto, e perante este quadro ele prontificou-se a sobraçá-la por duas razões: porque era desportista praticante, tinha gerido alguns clubes e federações, conhecia bem o ambiente, e depois, porque sendo Ministro das Finanças, poderia atender às reais soluções.

Isto para dizer, caro José Batista da Ascenção, salvo erro de maior, é provável que na escolha da pasta da Educação se possa passar algo semelhante, e o escolhido pode não gostar da Educação, mas, não tem outro remédio e, bem visto, fica compensado porque é Ministro. Este pensamento é volátil mas, o que se tem passado com o Desporto nacional é, exactamente o que se tem passado na Educação. O estado de um é o espelho do estado da outra.

(Continua)

joão boaventura disse...

(Conclusão)

Como sabe, na vida, há sempre uma hierarquia das pessoas e dos cargos. Num manual da 2.ª classe da década de 30, já era patente o cuidado de o notar. A professora explicava na classe que “todos nós precisamos de obedecer àqueles que têm o direito de mandar”. Uma das alunas chegou a casa e pretendeu saber mais sobre a impossibilidade da vida entre homens sem autoridade. O pai explicou que “era operário, obedecia ao capataz; o capataz obedecia ao engenheiro; o engenheiro, ao dono da fábrica, e este, à lei feita pelo Governo da Nação”. A filha, intrigada ainda perguntou ao pai a quem obedecia o Governo. Resposta paterna: “Obedece à sua consciência”.

Ora, o mesmo se passa agora com os 15 Ministérios que obedecem ao Primeiro Ministro, e este obedece à sua consciência, ou inconsciência.

E para o meu amigo José Batista da Ascenção ter uma ideia da importância que a educação tem no cômputo geral dos Ministérios, repare que a Educação figura em 13.º lugar na hierarquia governativa, ou seja, o lugar do azar:

• Presidência do Conselho de Ministros
• Ministério dos Negócios Estrangeiros
• Ministério das Finanças e da Administração Pública
• Ministério da Defesa Nacional
• Ministério da Administração Interna
• Ministério da Justiça
• Ministério da Economia, da Inovação e do Desenvolvimento
• Ministério das Obras Públicas, Transportes e Comunicações
• Ministério da Agricultura, do Desenvolvimento Rural e das Pescas
• Ministério do Ambiente e do Ordenamento do Território
• Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social
• Ministério da Saúde
• Ministério da Educação
• Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior
• Ministério da Cultura

Eu não ficaria satisfeito com o andamento do estado da Educação, porque o Ministério ficaria em sossego e despreocupado com a nossa satisfação. Por isso não devemos ficar em silêncio nem optimistas, porque queremos um Sistema Educativo estruturado, com forças para andar, concatenado nas ideias e nas realizações. Papeis e leis não chegam nem respondem aos apelos, servem apenas para fingir que a Educação está a andar.

Não se acomode, reaja, exija mais e melhor. Nunca as meias tintas. Mesmo que nos repitamos. O mais teimoso é que ganha sempre.

Cordialmente

José Batista da Ascenção disse...

Ah, caríssimo João Boaventura (de propósito, deixo de lado o Doutor...), para me dirigir mais à (sua) pessoa, corajosa, desassombrada e digna, (muito) para além (ou antes?) do formalismo dos títulos.
Aquilo a que chama "achegas", que "são apenas lágrimas de revolta, de azedume, de raiva..." são apontamentos cristalinos de quem lucidamente não aceita a macadada em que transformámos o sistema educativo, que (cada vez) mais parece a institucionalização da farsa e da loucura. Fôssemos nós capazes de nos olharmos francamente ao espelho e havíamos de desgostar da imagem. Em que todos temos responsabilidades, julgo. Agora o que não podemos é persistir nesta anorexia mental que faz com que vejamos bem nutrido e aprumado o que definha escanzelado e andrajoso. Iluda-se quem se quiser iludir. Mas não se atirem pedras a quem não aceita usar como óculos o filtro da conveniência institucional.
E olhe, o ministério da educação ser o antepenúltimo na hierarquia governamental até me surpreende. Eu pensei que, em conformidade com a guerra que tem sido alimentada com os professores e as escolas, a posição fosse mesmo a última. Do mesmo modo que cheguei a pensar que o objectivo fosse não deixar pedra sobre pedra. Em retaliação, talvez. A carrada de "papéis e leis", e agora também o "e-mail" (tão às carradas que mesmo na véspera do dia de Natal não diminui o seu número, e estou em crer que, já amanhã, será retomado o ritmo...) servem antes para atafulhar e aturdir aqueles que ainda se dão ao trabalho de ler, pelo menos alguns. E, claro, ao mesmo tempo pretende-se dar a ideia de que as coisas funcionam...
Nem sabe como gostaria de acreditar que o mais teimoso ganha sempre. É que em mim, como em muitos outros, já nem há vontade de teimar. O que em nós resta é apenas a impossibilidade do contorcionismo levado ao extremo, assim como a perplexidade, e a incapacidade de divisar qual é o rumo e a exequibilidade do que as tutelas pretendem...
Termino com o atrevimento de um pedido: continue, por favor a falar do ensino.
E não leve a mal que (me) repita: Agradeço-lhe.

Sociedade Civil

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