terça-feira, 28 de dezembro de 2010

"A Ciência salvou a minha Alma"

É um vídeo fabuloso que tem saltado em blogs, em facebooks, em vários canais. No fundo, apresenta um lado espiritual da Ciência, em particular da Astronomia, e um certo "render de alma" perante os mosaicos e dimensões que o estudo do Universo apresenta. Apresenta também uma comparação (a meu ver perfeitamente escusada) entre Ciência e Religião, nomeadamente a religião organizada. A tradução para o português é deficiente, mas não deixa de ser um vídeo carregado de emoção.


12 comentários:

Carlos Ricardo Soares disse...

Deplorável sob todos os pontos de vista. Ciência não é nada disto. Isto é um xarope perigoso para ignorantes e iletrados.

Ana disse...

Salva a alma, mas não a conta bancária, infelizmente. E como precisamos desta última para colocar comida na mesa... :(

Anónimo disse...

Sim, de facto, também concordo e hoje, nas vésperas de 2011, podemos sim apreciar o perigo deste xarope.

Anónimo disse...

Sem o Amor... não há salvação possível para a alma: pura retórica! JCN

Anónimo disse...

Para chegar a Deus apenas há
um caminho seguro, que não passa
por outro trilho que não seja a graça
que tão-somente o Amor às almas dá!

JCN

Carlos Albuquerque disse...

O que o autor do vídeo faz é precisamente aquilo que censura nas religiões: tenta religar-se com o universo, introduzindo aspectos psicológicos e emocionais onde eles não existiam. No fundo o autor tenta apenas experimentar a criação de uma nova religião, cujos sacerdotes seriam os cientistas dispostos a isso.

Quanto às religiões existentes, não só a visão do autor está muito desactualizada como parece profundamente limitada.

Infelizmente é o que dá quando aqueles que sabem de ciência entram por campos que desconhecem, esperando que aceitemos que a autoridade que adquiriram num campo passe para outros campos.

Anónimo disse...

Cada macaco no seu galho! JCN

joão boaventura disse...

Deve haver qualquer relação incestuosa entre a Ciência e a Religião, mas ignoro quais sejam. A ideia não é minha porque acabo de receber a notícia de que vai haver na Faculte des Lettres et des Sciences Humaines daUniversidade de Agadir (Marrocos) um colóquio internacional , em 5 e 6 de Maio de 2011, subordinado ao tema “Sociologie et Littérature: une relation incestueuse ?”.

O Colóquio será coordenado por um Professor de Literatura Francesa e por um Professor de Sociologia, o que lhe confere equilíbrio entre as duas partes do debate, mas, em contraste – embora se saiba que constituem premissas de qualquer colóquio por causa das sensibilidades – o Comité Organizador conta com quatro professores de literatura francesa, um de sociologia e um de psicologia social, e o Comité Científico com quatro sociólogos, quatro professores de literatura, um especialista em ciências da educação e um professor de estudos anglófonos.

Fora destes considerandos pessoais, vamos ao que importa relativamente ao fulcro do post sobre CIÊNCIA e RELIGIÂO, bem como ao temário do Colóquio sobre SOCIOLOGIA e LITERATURA, onde se indaga da relação incestuosa.

Para não alongar o discurso, vejamos os pontos cardiais que o argumentário nos fornece:

« Dans la mesure où le message, en l’occurrence la littérature, peut être le reflet de la réalité, et dans le sens où nous pourrions définir la littérature comme étant la passion des gens, du monde, le colloque se propose de faire état des interactions entre deux disciplines paraissant, à première vue, complètement distinctes, à savoir la sociologie et la littérature. »

Depois destaca os romancistas e escritores dos séc. XVIII e XIX como verdadeiros autores de verdadeiras obras de sociologia, sem o saber, enquanto os sociólogos necessitam debruçar-se sobre os romances e os romancistas para fazerem sociologia da literatura. Partindo deste princípio a pergunta parece incidir na questão de saber se há incesto pelo facto de os romancistas – que são apenas romancistas – também fazerem sociologia, por acidente e não intencionalmente.

Dito isto, ignoro a possibilidade de pontuar qualquer hipótese de incesto na CIÊNCIA que, estudando toda a gama do desconhecido, também, por essa via, auscultará as verdades da RELIGIÃO, ou por via antropológica, ou por via arqueológica, ou pela paleontologia de que o padre jesuíta, também teólogo e filósofo, Teilhard de Chardin se serviu para encontrar as bases científicas da religião. E nestas circunstâncias teríamos, ou o paleontólogo procurando as bases da religião, ou o religioso servindo-se da paleontologia para conhecer s fundamentos da sua religião.

É verdade que Augusto Comte considerava terem os factos sociais um nível de realidade equivalente aos fenómenos naturais mas, de qualquer maneira, penso que a discussão ou antinomia que muitas vezes se tecem entre Ciência e Religião, deveria se mais contida, menos extremada, porque, como já aqui, noutro post-vídeo, demonstrou Hugo Marçal, o que parece impossível hoje poderá ser descoberto amanhã, o que agora parece ridículo poderá ser, para surpresa nossa, sério.

joão boaventura disse...

Lembrei-me agora da peroração de Henrique Raposo sobre a questão de Deus, desenvolvida no ciclo Deus, questão para Crentes e não-Crentes que, por me parecer interessante e a propósito, aí a deixo.

joão boaventura disse...

Ainda dentro do mesmo ciclo organizado pela, e na, Capela do Rato, merece ouvir-se Ricardo Araújo Pereira,

aqui,
aqui,
e
aqui.

joão boaventura disse...

A Voz de Deus

Brilha uma voz na noute...
De dentro de Fora ouvi-a...
Ó Universo, eu sou-te...
Oh, o horror da alegria
Deste pavor, do archote
Se apagar, que me guia!

Cinzas de ideia e de nome
Em mim, e a voz: Ó mundo,
Ser mente em ti eu sou-me...
Mero eco de mim, me inundo
De ondas de negro lume
Em que para Deus me afundo.

Fernando Pessoa

joão boaventura disse...

Ilumina-se a Igreja por Dentro da Chuva

Ilumina-se a igreja por dentro da chuva deste dia,
E cada vela que se acende é mais chuva a bater na vidraça...

Alegra-me ouvir a chuva porque ela é o templo estar aceso,
E as vidraças da igreja vistas de fora são o som da chuva ouvido por dentro ...

O esplendor do altar-mor é o eu não poder quase ver os montes
Através da chuva que é ouro tão solene na toalha do altar...

Soa o canto do coro, latino e vento a sacudir-me a vidraça
E sente-se chiar a água no fato de haver coro...

A missa é um automóvel que passa
Através dos fiéis que se ajoelham em hoje ser um dia triste...
Súbito vento sacode em esplendor maior
A festa da catedral e o ruído da chuva absorve tudo
Até só se ouvir a voz do padre água perder-se ao longe
Com o som de rodas de automóvel...

E apagam-se as luzes da igreja
Na chuva que cessa ...

Fernando Pessoa
in "Cancioneiro"

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