Os leitores estarão lembrados: recentemente foi retirada do plano curricular do Ensino Básico (publicado ainda não há uma década) a área não disciplinar designada por Área de Projecto e, de seguida, a de Estudo Acompanhado.
Ora, ouvi no final da passada semana o próprio Primeiro Ministro, ufano com a subida dos resultados dos alunos portugueses no Pisa (2009), afirmar que o Estudo Acompanhado era para manter. Mais: imputava-lhe as virtudes, que cerca de um mês antes eram tidas por defeitos.
Devo dizer que as razões da inclusão destas áreas não disciplinares no currículo me parecem tão frágeis e algumas delas tão erradas quanto as da sua retirada, porém, mais do que a sua inclusão, retirada e nova inclusão, é a instabilidade curricular que me preocupa e que está longe de se ficar por este caso do Estudo Acompanhado: quando as escolas e, em especial, os professores começam a conhecer e a adaptar as decisões da tutela às necessidades de aprendizagem dos alunos, aos recursos que têm, etc., a tutela resolver tomar mais decisões, que, logo a seguir, retira, para mais adiante...
De notar, ainda, que neste caso do Estudo Acompanhado, a lógica que agora (e não antes) lhe foi atribuída pelo poder político já estava, de resto, a ser desenvolvida em muitas escolas: aprofundar o estudo de áreas disciplinares fundamentais, que acresce estarem em evidência em avaliações internacionais, como é o caso da Matemática, ou da Língua Portuguesa.
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6 comentários:
Discordo completamente da colonização que a Área de Estudo Acompanhado vinha a sofrer nos últimos anos por via da sua utilização para leccionar Matemática e Língua Portuguesa. Se era para este objectivo então que se distribuísse a sua carga horária para reforçar as das disciplinas em causa.
O que muita gente parece ainda não ter percebido é que as competências para estudar e rentabilizar o estudo são passíveis de serem ensinadas e optimizadas. A todos os que dão aulas no ensino básico e secundário sugiro que perguntem aos alunos quantos professores tiveram no seu percurso escolar que os ensinaram a estudar, treinando de forma sistemática e efectiva, competências básicas desde a organização de horário de estudo ou dos cadernos, até competências mais elaboradas, como identificar as ideias/conceitos principais de um texto, elaborar resumos ou esquemas. Aos que dão aulas no ensino superior lanço a mesma sugestão. Tenho a certeza, porque já fiz a pergunta muitas vezes, que muito poucos alunos levantarão as suas mãos.
A inexistência de um espaço curricular que aborde intencionalmente o desenvolvimento destas competências nos alunos dos ensinos básico e secundário constitui, objectivamente, um factor que contribui para o agravamento da desigualdade de oportunidades. Alunos oriundos de famílias socialmente favorecidas poderão ter a possibilidade de serem ajudados pelos seus pais ou outros familiares. Os restantes estarão entregues a si próprios.
Pensar que não se justifica um espaço curricular para esta finalidade e que cada professor pode abordar estas questões nas suas aulas, é não conhecer a realidade das nossas escolas. Alguns professores, raríssimos, fazem-no. A esmagadora maioria não o faz e, na maioria dos casos, nem sabe como o fazer.
PJ
Haverá coisa mais confusa, difusa e contraditória que a educação em Portugal? JCN
Sem sentido
Porque o único sentido oculto das coisas
É elas não terem sentido oculto nenhum,
É mais estranho do que todas as estranhezas
E do que os sonhos de todos os poetas
E os pensamentos de todos os filósofos,
Que as coisas sejam realmente o que parecem ser
E não haja nada para compreender.
Sim, eis o que os meus sentidos aprenderam sozinhos:
As coisas não têm significação: têm existência.
As coisas são o único sentido oculto das coisas.
Alberto Caeiro
(Heterónimo de Fernando Pessoa)
Que estranhas coisas tinha o Pessoa na cabeça!... JCN
E os resultados Pisa já estão analisados?
Mais uma pérola dos defensores do status quo:
"Pensar que não se justifica um espaço curricular para esta finalidade e que cada professor pode abordar estas questões nas suas aulas, é não conhecer a realidade das nossas escolas. Alguns professores, raríssimos, fazem-no. A esmagadora maioria não o faz e, na maioria dos casos, nem sabe como o fazer. "
Portanto, podemos concluir que os professores passaram a abordar e a saber abordar as tais "competências" de que fala o PJ pelo simples facto dos eduqueses do Ministério da "Educação" terem decidido criar um espaço no horário dos alunos com o nome "Estudo Acompanhado"...
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