quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

SOBRE "AOS OMBROS DE GIGANTES"


Depoimento que prestei ao JL sobre o livro "Aos Ombros de Gigantes" (Texto Editores):

JL- O que podem encontrar os leitores nesta volumosa obra? E que a que público se destina?

CF- O volume é, de facto, grande. E grandes são também as obras que contém: obras de cinco dos maiores cientistas da história, Copérnico, Galileu, Kepler, Newton e Einstein, comentados por Hawking. Levar para casa num só volume os principais livros, traduzidos em português, destes nomes notáveis da física é uma grande tentação. O público será formado por todos aqueles que se sentirem tentado por saber mais sobre a história da ciência e por ter os clássicos da ciência perto de si. Não é um livro só para especialistas, mas também para os cidadãos com alguma curiosidade sobre a ciência. Este livro tem tido várias edições internacionais, com enorme êxito, incluindo uma edição brasileira usada para a preparação do presente volume. Tardou um pouco a vir a lume pelo cuidado que foi necessário na sua preparação, mas veio a tempo do Natal. Parece-me uma óptima prenda.

JL- Como surge na coordenação científica da tradução desta obra?

CF- A Texto Editores, que tem publicado manuais escolares da minha autoria, pediu-me ajuda para a edição. Era obra demais para uma só pessoa só, pelo que eu próprio pedi ajuda a alguns colegas, tendo coordenado o respectivo trabalho. Escrevi também o prefácio. Demorou a verter para o nosso português, a traduzir partes do original inglês que os brasileiros deixaram de lado e a ver provas sucessivas, que passaram pela revisão literária além da revisão científica. Há edições da Fundação Gulbenkian de alguns textos dos presentes autores, mas, salvo erro ou omissão, é a primeira vez que aparece em português moderno um texto extenso de autor tão importante como Kepler. E há a vantagem de ter todas estas obras concatenadas num só volume a um preço razoável. É uma espécie de "Bíblia" da Física.

JL- Quem são estes "gigantes" a cujos ombros nos colocamos? O que resta dos seus legados científicos, numa época acelerada, em que tudo é refutado muito depressa?

CF- A expressão gigantes vem de Newton, que foi quem disse: "Se consegui ver mais longe foi porque estava aos ombros de gigantes". Estava a referir-se aos astrónomos e físicos que o antecederam, tais como Copérnico, Kepler e Galileu. Newton foi ele mesmo um gigante. E Einstein foi um outro gigante que, para ver mais longe, teve de subir aos ombros de Newton. Esta pirâmide humana simboliza a construção de progresso científico. A ciência é cumulativa pois não há ciência do presente sem a ciência do passado, que ao contrário do que por vezes se pensa é em larga medida respeitada e conservada. Einstein propôs uma nova mecânica, mas esta concorda num certo limite com a mecânica de Galileu e Newton. A pirâmide não está terminada. Cem anos depois de Einstein, ainda ninguém conseguiu subir aos ombros dele. É o que Hawking tem tentado fazer. Ou o português João Magueijo... Mas Einstein continua actual. Não é, portanto, verdade que tudo seja refutado muito depressa. Quem levar este livro para casa ficará com boa parte do nosso conhecimento científico actual. Pode ver o que os gigantes viram.

JL- Como avalia o estado actual da divulgação científica em Portugal?

CF- Os livros de divulgação científica continuam ser muito procurados por jovens de todas as idades. Não estamos na época de ouro da divulgação científica que se deveu a Carl Sagan e outros nos anos 80, quando surgiu entre nós a editora Gradiva, mas a literatura de ciência está bem e recomenda-se. Estamos no período de Stephen Hawking, de quem a Gradiva, que já tinha lançado o fenomenal "best-seller" que foi "Breve História do Tempo", lançou há pouco um novo livro. E há novos autores que nos transmitem as "últimas notícias do cosmos". Leitores interessados pela ciência sempre houve pois a ciência tem este poder mágico de atrair os jovens de cada nova geração sem alienar as pessoas das gerações anteriores que antes foram atraídas.

JL- E a crise está a afectar a produção de pensamento científico?

CF- Não, de modo nenhum. O cérebro humano, que é a parte de nós que quer saber mais, não conhece crises. O pensamento novo continua a emergir, ainda que possa haver dificuldades conjunturais no financiamento de laboratórios e institutos. Nunca, na história da humanidade, existiu nem tanta gente a fazer ciência nem tanta gente a viver melhor graças à ciência. Sagan disse muito justamente o que "O nosso destino é o conhecimento". E o nosso destino continua a cumprir-se.

6 comentários:

João disse...

Depois de lhe terem já explicado que a frase não é do Newton e que os gigantes a que ele- Newton - se refere não serem (apenas) Galileu, Copernico e Kepler, o Fiolhais continua a repetir o erro. É de asno.

Anónimo disse...

No sentido e no contexto em que Newton a emprega, a frase é incontestavelmente dele em primeira mão, originariamente, pois não se trata de anões aos ombros de gigantes, mas de super-gigantes como, entre outros, o próprio Newton, sobre cujos ombros se haveria de empoleirar o nosso contemporâneo Einstein, que de burro, ao que parece, não teria nada, embora às vezes se deixasse ter por isso. JCN

Anónimo disse...

OMBROS DE GIGANTES

Também nóa os poetas de hoje em dia
temos os nossos ombros de gigantes
que nos antecederam na magia
dos sonhos e dos sons gratificantes:

Vergílio, Homero, Dante, José Régio,
Luís Vaz de Camões, João de Deus,
Antero de Quental e o sortilégio
dos salmos de David entre os judeus.

Sobre os seus ombros temos a vantagem
de voar mais alto e de mais longe ver
sem postergar em nada a sua imagem.

Como a abelha que vai de flor em flor,
de cada qual tiremos o melhor
na mira de os podermos exceder!

JOÃO DE CASTRO NUNES

Anónimo disse...

No 1º verso, corrijo a gralha "nóa" por "nós". JCN

Anónimo disse...

Prof. Fiolhais
Ao invetigar a frase "anões sobre ombros de gigantes", encontrei a sua entrevista que me parece ter uma pequena incorrecção: o primeiro autor da frase julgo que foi Bernard de Chartres muito tempo antes ("Somos anões empoleirados aos ombros de gigantes". Será que Newton já sabia? Mas a história da ciência está cheia destas coisas (Banting e Best sabiam de Paulesco? Einstein sabia de Michelson e Morley?). Aproveito para lembrar que também eu já fui citado por si ("se a medicina funcionasse como a justiça já estávamo todos mortos") sem indicação da fonte.
Cumprimentos
Barros Veloso

Anónimo disse...

Prof. Fiolhais
Li por acaso a sua entrevista quando pesquisava o tema "anões aos ombros de gigantes" e julgo que ela contém uma pequena imprecisão: foi Bernard de Chartres quem primeiro disse que "somos anões empoleiradods aos ombros de gigantes". Será que Newton já sabia? Mas a História da Ciência está cheia destas coisas Banting e Best sabiam de Paulesco? Einstein sabia de Michelson e Morley?). Também eu já fui citado por si("se a medicina funcionasse como a justiça já estávamos todos mortos") sem indicação da fonte.
Barros Veloso. tozebv@gmail.com

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