A história, que muitos conhecerão, surge na sequência da publicação, no início dos anos quarenta, do livro Conceitos Fundamentais de Matemática, da autoria de Caraça. Acresce que tal livro não foi publicado por uma qualquer editora, mas sim pela Biblioteca Cosmos, fundada pelo mesmo Caraça para aumentar a educação do povo e, em sequência, o seu entendimento do mundo, nas suas mais diversas vertentes.
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Por essa altura, livro e editora impunham uma nova maneira de encarar o acesso ao conhecimento académico: este não deveria ficar apenas na posse de quem o produzia e de quem, por formação erudita, o conseguia compreender sem intermediários; deveria ser acessível a todos, mesmo aqueles que tivessem uma escolaridade restrita, que, ao tempo, eram a maioria. Assim, os cientistas e pensadores, uma vez que estavam próximo do conhecimento, teriam por dever divulgá-lo do modo mais acessível possível, sem nunca abdicarem do máximo de rigor. Desta maneira se proporcionaria, nas palavras de Bento de Jesus Caraça, ao "homem comum" o "património cultural comum" (Bebiano, 2001, 15).
Tal propósito estava longe de se afigurar pacífico, destacando-se António Sérgio entre os seus diversos contestatários. Luís Farinha (1998, 35) explica que enfrenta Caraça, acusando-o de...
“... com o livro (...), contribuir para um incitamento à incultura filosófica, à incompreensão da genialidade, à barbarização dos leitores, em virtude da vulgarização do saber que o livro tinha como objectivo realizar."
Por seu lado, continua Farinha,
"Bento Caraça deplora em Sérgio os exercícios que o levam a afastar-se da realidade e a edificar um modelo assente «na beleza intelectual e na limpidez do verbo», quando na verdade expressões verbais como «a unidade transcendental da percepção no eu» de Sérgio não constituíam para Caraça, como ele afirma, mais do que, «flautus vocis, porque não consigo ligar-lhes um sentido preciso» (B. Caraça, Conferências…, 323).
Se alguém conseguiu implantar a ideia da importância e necessidade da divulgação científica, esse alguém foi Bento de Jesus Caraça, alicerçando, entre nós, a tradição de dar a conhecer a todos o que só alguns conseguem construir.
Referências bibliográficas:
- Bebiano, N. (2001). Bento Caraça e a Matemática, aquela Difusa Substância. Gazeta de Matemática, n.º 141, pp. 11-23.
- Farinha, L. (1998). Um homem uno e integral. História. Ano XX (nova série), n.º 9, pp. 28-41.
1 comentário:
Dois gigantes do pensamento: dois conceitos de expressão distintos; duas sensibilidades diferentes. JCN
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