quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Menosprezo pelos eleitores

A política local não está, infelizmente, melhor do que a nacional. O Presidente da Câmara Municipal de Coimbra, Carlos Encarnação, eleito há cerca de um ano para o seu terceiro mandato resolveu, sem qualquer explicação minimamente aceitável, renunciar ao seu lugar, colocando no poder o número dois. A confirmar-se, pode dizer-se que o acto revela, além do mais, um enorme menosprezo pelos eleitores e pelo sistema democrático. Assim vai a democracia em Portugal...

8 comentários:

Anónimo disse...

Renunciar ao mandato
pelo povo concedido
é pôr em causa, de facto,
o sistema instituído.

JCN

José Batista da Ascenção disse...

Talvez seja melhor esperar mais tempo, para sabermos se havia razões válidas ou não. É que, havendo-as, não é obrigatório que sejam reveladas de imediato...
Porém, se razões fortemente justificativas não houver, poderemos então falar de menosprezo pelos cidadãos e pelo conceito de democracia. Coisa que em nada espantaria, habituados que estamos...

Hélio Pires disse...

Um menosprezo moral, quando muito, porque está inteiramente dentro da letra e espírito do actual sistema democrático português, onde o que é eleito são listas partidárias anónimas, blindadas, imunes ao escrutínio popular e à avaliação do mérito individual. Quando muito é exposto o nome do primeiro na lista, mas é todo o conjunto que é eleito, não apenas o número 1.

Do mesmo modo que, legalmente falando, não há nada de errado na substituição dos cabeças de cartaz e listas ao parlamento ao final de poucos dias de exercício de funções, também nada de ilegal há na saída de um autarca para passar o lugar a outro.

É imoral? É! É um desprezo pela vontade dos eleitores? Só se eles estiverem mal informados sobre aquilo em que votam. O que não quer dizer que eu concorde com este sistema: quanto mais conheço a política portuguesa, mais anseio por um sistema em que todos os deputados e chefes de executivo sejam eleitos individual e livremente, sem subterfúgios de listas blindadas onde se dissolve a culpa, o mérito, a responsabilidade política e a representatividade do mandato popular.

Anónimo disse...

Discordo do Snr Hélio. Não gosto de cheques em branco a indivíduos, prefiro que pertençam a um partido a quem têm de prestar contas em vez de, uma vez eleitos, andarem em roda livre. Interessa-me mais a ideologia do que o fulano. E não vejo por que razão um eleito não poderá pedir a demissão? Se o fizer e cada um é livre de se candidatar ou demitir) só tem de se cumprir a lei. Se ela designa o número 2 da lista assim será. O primado da lei é muito importante mesmo que, em certos casos, nos desagrade. O que interessa é o princípio, não os casos pontuais. Há quem fale depressa demais...e para falar contra os políticos temos muita gente sempre pronta. Levantam uma pedra que lhes há de cair sobre os pés (como dizia o MRPP nos seus tempos áureos).

Hélio Pires disse...

Anónimo:

Andar em roda livre é o que acontece actualmente. São eleitos em bloco, livres de renunciarem ou mudarem de cargo, de dizerem e cometerem as maiores barbaridades e sem nunca terem de prestar contas do seu (de)mérito individual. Veja-se o caso da deputada que achava que as viagens a Paris pagas pelo dinheiro dos contribuintes só a ela diziam respeito... se nas próximas eleições legislativas eu quiser penalizar essa senhora, mas premiar um ou outro candidato a deputado pelo PS, como é que eu faço? Não tenho qualquer possibilidade de separar o trigo do joio, de olhar para o mérito individual de cada um dos candidatos em vez de votar neles em bloco como se fossem todos iguais em defeitos, virtudes e ideias. Isto sim é dar cheques em branco a indivíduos! Fazem e dizem o que bem entendem e depois escondem-se atrás do anonimato do colectivo.

Votar com o actual sistema é o mesmo que dar notas a uma turma em bloco em vez de a cada um dos alunos e tomar cada um deles como responsável pelo seu desempenho individual.

Anónimo disse...

Prefiro dar notas (no caso vertente que é muito diferente de uma escola, o paralelismo é forçado) a uma turma em bloco...
Quanto a Inês Medeiros, ela deveria ser paga (ou deixamos a política para quem tem dinheiro!) e demonstrou falta de fibra ao ter cedido perante a demagogia. Faltam grandes lideres como diz Mário Soares. Penalizá-la é a política da mesquinhice, poderia penalizar-se não por isso mas pela sua política. A política não interessa a muitos eleitores, só a pequena política e inveja contam.
É claro que os políticos poderiam não ser pagos, mais, poderiam ter de pagar para ocuparem os cargos. Idem para os eleitores, poderiam ter de pagar para votar ou só poderem votar os que tivessem rendimentos acima de uma certa fasquia...muita coisa se pode imaginar (algumas já praticadas no passado).

Hélio Pires disse...

Se o Anónimo prefere dar notas colectivas a uma turma, em vez de avaliar o desempenho individual de cada aluno e responsabilizá-lo pelo seu trabalho, então estamos conversados quanto à noção de mérito.

E a Inês de Medeiros pode ir para onde quiser, mas não pode usar o dinheiro dos contribuintes como se fosse seu: se não é (só) dela, então diz respeito a mais pessoas do que apenas ela. Até porque o caso não era sobre o seu vencimento como deputada, mas sim um subsídio extra.

Anónimo disse...

O desempenho de um aluno não tem nada a ver com questões
ideológicas... o de um eleito tem... não há paralelo possível...

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