sábado, 25 de dezembro de 2010
Não procures nem creias: tudo é oculto
Natal
Nasce um Deus. Outros morrem. A Verdade
Nem veio, nem se foi: o Erro mudou.
Temos agora uma outra Eternidade,
E era sempre melhor o que passou.
.
Cega, a Ciência a inútil gleba lavra.
Louca, a Fé vive o sonho do seu culto.
Um novo deus é só uma palavra.
Este poema de Fernando Pessoa foi escolhido por Eugénio de Andrade para constar na sua Antologia Pessoal de Poesia Portuguesa. O poema inocentemente designado Natal que termina com as desarmantes palavras tantas vezes citadas: Não procures nem creias: tudo é oculto.
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6 comentários:
Se não fosse oculto, caro Pessoa, não se procurava! JCN
NATAL BURGUÊS
Sem o menor espírito cristão,
a festa do Natal da burguesia
pouco mais é do que a satisfação
de um ritual de pura cortesia.
Consoante a respectiva condição,
ou seja, social categoria,
juntam-se à mesa para a refeição
do bacalhau que é próprio desse dia.
Em lugar do presépio popular,
da tradição cristã mais genuína,
a dominar a sala de jantar,
arma-se ao canto um ramo de pinheiro
com toques de barata purpurina
dando a aparência de ouro verdadeiro!
JOÃO DE CASTRO NUNES
"Não procures nem creias"..., não é?
"Toda a vez que aparece uma obra-prima, faz-se uma distribuição de Deus. A obra-prima é uma espécie de milagre."
V. Hugo
Os versos-milagre são aqueles que entram na zona onde os olhos tomam banho no rio. Os outros versos, são aqueles que se compreendem e comentam com palavras. São completamente diferentes. Os primeiros acrescentam mundo, os outros vivem e morrem como seres do mundo. São todos importantes, mas os que me ajudam a sobreviver (e sobreviver é-me muito difícil) são apenas os milagres.
HR
Gostei desta escolha de Eugénio de Andrade porque gosto muito de Pessoa e a dúvida ou o oculto é sempre aliciante!
Boas Festas!
Terá sido precisamente o gosto pelo "oculto" que nos deu inveterados hábitos de trogloditas. Pessoa lá sabia, por experiência pessoal: sempre a fugir de si mesmo e a trocar constantemente de nome. Sempre a "ocultar-se"! JCN
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