A este propósito recordo um episódio da vida académica de Richard Feynman, investigador em Física, Prémio Nobel, mas também professor:
“Nesse encontro só aconteceu uma coisa... divertida... tinham lá um estenógrafo a anotar absolutamente tudo. No segundo dia o estenógrafo veio ter comigo e perguntou-me:Referência bibliográfica:
«Qual é a sua profissão? De certeza que não é professor.»
«Mas sou», disse eu.
«De quê?»
«De Física, ciência.»
«Oh! Deve ser essa a razão», disse ele.
«Razão para quê?»
Ele disse: «Sabe eu sou estenógrafo e anoto tudo o que se diz aqui. Ora, quando os outros falam, escrevo tudo o que dizem, mas não percebo nada. Mas, cada vez que você se levanta e faz uma pergunta ou diz alguma coisa, percebo exactamente o que quer dizer... pelo que pensei que não podia ser professor!»
- Feynman, R. (1988). Está a brincar Sr. Feynman: retrato de um físico enquanto homem. Lisboa: Gradiva, páginas 267-268.
9 comentários:
Esta... é de se lhe tirar o chapéu! JCN
Em matéria de clareza... tudo é uma questão de latim a mais ou latim a menos. Supostamente. JCN
Estas histórias do "Está a Brincar, Sr. Feynman"... Impagáveis!
A história tem graça, certamente.
Mas, o que não percebo é este constante colocar em causa da profissão de professor.
Um verdadeiro professor é aquele que sabe falar com os seus alunos com linguagem que estes entendam para que não se sintam amesquinhados, ou até irritados, pela sabedoria do professor.
Mas, também é aquele que cultiva nos alunos o gosto pela linguagem, pela clareza e simplicidade com que se pode transmitir conhecimento em linguagem elaborada. Aquele que, gradualmente, eleva o gosto dos alunos em usar a palavra, com toda a riqueza de interpretação e significado que a mesma tem para a compreensão do mundo. Isto não é incompatível como ser-se professor.
Tive, como qualquer um que fez um percurso escolar até ao ensino superior, muitos professores. Recordo os que sabiam usar a palavra de modo rico e profundo e que me desafiavam intelectualmente com a riqueza e clareza do seu seu pensamento. Muitos foram maus professores, mas não por usarem a palavra de modo incompreensível, mas, sobretudo, por serem ignorantes nos assuntos sobre os quais pretendiam falar.
IR
Ora aí está o fulcro da questão: nem todos temos o perfi ideal do verdadeiro professor em termos de linguagem simples, clara, estimulante e competente! JCN
Ora aqui está um belo exemplo de demagogia barata. A todos os grandes nomes da Ciência são atribuidas histórias deste tipo. Provavelmente é tudo falso. Posso falar de coisas muito simples de Matemática ou Física. >>>>or exemplo (limito-me à Matemática) posso falar de espaços topológicos. paracompactos, aneis dom condição de cadeia, equações diferenciais...e dizer as coisas mais simplórias. Só que um estenógrafo não entende salvo se tiver estudado bastante. Mesmo os alunos...bem há uma pequena percentagem que percebe um bocadinho. E até investigadores. São conhecidas inúmeras histórias de conferências internacionais em que o orador fala, fala e os outros abanam a caveça a fingir que entendem tudo.
Vão brincar com outros é o que me apetece dizer. >Agora há a mania do aprender a brincar...
Aprender a brincar é bojarda do eduquês. Aprender, só no marranço e duro se de facto se quer saber.
As explicações claras e simples são preferíveis, mas se o assunto é complexo, é complexo. Torná-lo claro e simples requer geralmente muito tempo, além de um conhecimento enorme e profundo de quem o transmite, aliado a uma grande capacidade de comunicação.
Em quê?! Facilita da causa,
e a quem?! seguiste por medo,
e o segredo por vil lhe acusa;
esconder-te a mão do credo.
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