sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Um Portugal Novo

Bula do Papa Alexandre III que reconhece o reino de Portugal (13 de Abril de 1179)

Portugal precisa urgentemente de uma mensagem positiva, de esperança, de confiança na nossa capacidade de gerar oportunidades e de ser o país certo para ser feliz. Os nossos decisores políticos estão velhos, cansados, vivem num mundo em que a correlação com o mundo real, com os seus desafios, é cada vez menor. Não entendem o que se passa, têm muita dificuldade em perceber o que motiva uma geração nova, educada e culta, capaz de sonhar, capaz de realizar e capaz de empreender. Uma geração que procura desesperadamente uma oportunidade de ser feliz, de se realizar profissionalmente, de constituir uma vida com momentos felizes que valham a pena, tenham sentido e deixem marca. A melhor e mais competente geração de sempre está a ser desperdiçada.

Essa geração não quer ouvir mais falar nessa pouca vergonha das dívidas, dos juros da dívida soberana, e de todos aqueles senhores e senhoras cheios de certezas e verdades feitas, mas que foram incapazes de um projecto de esperança para o país. Essa geração está farta de ser bombardeada diariamente com problemas de todos os tipos e com as suas negras consequências. Sabe que o país está paralisado. Está farta de incompetência, de irresponsabilidade, de corrupção, de decisões pouco transparentes, de amiguismo, de homens e mulheres providenciais, de pessoas que desistem, de não ter os melhores e os mais capazes a decidir e a realizar. Está farta de ver tudo subvertido a poderes misteriosos e obscuros. Está farta deste país cheio de esquemas, de cunhas manhosas, de coscuvilhice provinciana, onde o mérito não conta, mas tão só a qualidade das amizades e a forma como se fazem percursos sem ferir susceptibilidades.

Essa geração está pronta para trabalhar e construir um Portugal Novo. Aceita todo o passivo que lhe deixam e promete resolvê-lo, mas quer mudanças profundas e quer tomar as rédeas. Sabe que terá de trabalhar e aceita ter de fazer sacrifícios, mas só se forem decisivos. E quer ser feliz. Quer poder viver a sua vida, ter um projecto de médio-longo prazo onde se possa sentir realizada e contribuir para um país mais desenvolvido, livre e solidário. Quer contribuir para essa mudança, quer reformar a maneira como vivemos, quer de uma vez por todas que se cumpra aquilo que se anunciou há 36 anos atrás, numa manhã de revolução em que se gritou liberdade e democracia, mas também se prometeu progresso, desenvolvimento, abertura ao mundo, justiça, educação, saúde, uma sociedade baseada no mérito e na capacidade de cada um, solidária e responsável, isto é, em que se prometeu a construção participada de um Portugal Novo.

Essa geração é Portugal agora, em 2011. Essa geração vai embora se sentir que Portugal já não vale a pena. Parte dela já foi. Com muita pena, mas já foi. Está a sair, aos poucos.

É nesse Portugal Novo, dinâmico, empreendedor, competitivo, que conhece o mundo e que representa o melhor de que somos capazes, que deve ser baseado o futuro. É por eles que esse futuro deve ser construído.
É a altura.
Agora.

J. Norberto Pires

(editorial do comCentro publicado com a edição de fim-de-semana do diário As Beiras de 31/12/2010)

16 comentários:

Mário Reis disse...

E abandonar conceitos gastos... não???

Não há futuro para os povos e para a nossa casa comum, seguindo o passo dos capitalismos dinâmicos, empreendedores, competitivos, que tratam as pessoas como lixo. Um absurdo.


Um Ano de 2011 bem melhor para todos (com sérias dúvidas...)

Anónimo disse...

Eis o exemplo de um artigo em que se fala sem se dizer. Prega-se moral, façam, façam ... que nós estamos cheios de espernça e, se não nos agarram, vamo-nos embora e fazemos falta, depois quem prega? Na geração um pouco mais velha que a do autor já havia quem dissesse o mesmo. Não enfrentava uma crise financeira, em vez disso ia massivamente para a guerra e nunca ameaçava fugir (para evitar ser preso) que queria fugir não dizia nada e ia a salto. Os qeu não fugiam iam para a guerra "defender a Pátria", muitos regressvam inteiros, de pois de 2 anos em combate, outros voltavam mas deixavam por lá um braço ou uma perna e outros ficavam por lá mortos. Quem viveu essa vida só pode cahar o seu artigo uma charupada. Fuja para o estrangeiro que ninguém o prende e dão-lhe um passaporte barato e em poucos dias, já não é como dantes.

João Esteves disse...

O texto é bonito, mas concordo com o 1º comentário. Se os conceitos "empreendedor", "competitivo" e "dinâmico" têm o sentido que lhes é dado pela ideologia neoliberal vigente que os traduz em função da mais-valia monetária, então penso que o texto se torna paradoxal.

Anónimo disse...

ODE À VIDA

Quero uma pátria à altura dos meus sonhos,
de rosto limpo e corpo bem lavado,
ciosa do seu mítico passado,
sem governantes mórbidos, bisonhos!



Quero para os meus netos um país,
além de respeitado, encarecido,
por gente nova e válida gerido,
mas nunca por políticos senis!

Quero uma terra cheia de crianças
que sejam, no futuro, as esperanças
de uma nação de nível europeu!

Quero ter a afoiteza... de rezar
sem respeitos humanos no meu lar
com todo o clã que Deus me concedeu!

JOÃO DE CASTRO NUNES

maria disse...

também acho que empreendedor , competitivo e dinámico podem ir para o caixote do lixo.
trabalhador , humilde ( não confundir com servil : isso nunca! mais bem estilo Dr.Paiva do post lá em baixo) e pensar small e a longo prazo contribui muito mais para um país feliz e sustentável. quem quer muito e à borla é quem governa..se nos contentarmos com partilhar e não competir ou lucrar creio que a vida desses fracos organismos que não se compreende como dominam ( o Darwin há-de estar cheio de erros , só pode , ou então a Cultura mais valia estar quieta ) será muito mais dificil.

Anónimo disse...

Satirizando:

Um velho Portugal novinho em folha,
Deus no-lo dê! Deus faça esse favor
a este país que, sem se recompor,
há tantos anos anda atrás da rolha!

JCN

José Batista da Ascenção disse...

Maria (com maiúcula, porque a Maria merece):
Como é agradável ler o que escreve.
Realmente, porque há-de a economia (ter que) crescer, crescer sempre, mesmo quando o ser humano tem o suficiente? E porque é que havemos de falar sempre em competição e competitividade e não em cooperação e mutualismo?
Acontece que o ser humano é como é, e Darwin, infelizmente, não está errado, creio. Já a cultura em que estamos imersos, essa é que talvez seja não-cultura ou incultura ou usura ou... ou...
E por isso deixámos crescer "os trambolhos" que nos "governam" e em nós mandam, muito obedientes e servis aos senhores do verdadeiro poder económico.
A humanidade terá remédio?
Não podemos perder a esperança.
Pelo menos enquanto tivermos Jorges Paivas, Marias, Mários Reis, "Joões" e tantos, tantos outros.
Ora, pensando em toda essa gente não devemos deixar morrer em nós um fundo desejo de "Bons Anos Novos".

Anónimo disse...

Por que razão não há um único economista entre os ilustres membros do Rerum Natura? Creio que o seu contributo seria preciso para o esclarecimento da natureza de algumas coisas...
Américo Oliveira

José Batista da Ascenção disse...

Eles, grande parte dos economistas, têm explicado grandes coisas. E fazem previsões extraordinariamente acertadas.
É segui-los! É segui-los!
A eles e a mais uns quantos "cientistas"...
E não obstante, tiro o meu chapéu ao Professor Medina Carreira. Como tiraria ao Professor Ernâni Lopes.
O que diziam esses economistas, e por onde andavam, enquanto Medina Carreira era atacado e Ernâni Lopes mais ou menos ignorado?
Oh, o que a gente deve a tantos economistas...

Anónimo disse...

Como neste blog já foi escrito, um bom argumento de autoridade deve, entre outras exigências, ser apresentado por especialista na matéria. Só isso...
Aproveito para fazer uma correcção ao meu comentário anterior: onde está escrito "preciso" pretendia escrever "precioso".

Anónimo disse...

Como disse o 1º comentador...

Não há futuro para os povos...

sim não há, trocando a soberania do Estado Nação (Governo) pela Governança.
http://www.conpedi.org.br/manaus/arquivos/Anais/Alcindo%20Goncalves.pdf

Fim das nações e o Tratado de Lisboa
http://www.youtube.com/watch?v=sMy1BV2FdF0

Isto não é capitalismos, é cleptocracia,
e não, não se trata de olhar as pessoas como lixo. Os globalistas têm repetidamente afirmado que nos querem ver MORTOS, pois somos um fardo, sem utilidade, e sim, estão a realizar os seus maléficos planos e nós estamos a perder a guerra, apesar de ganharmos algumas batalhas.

Ainda temos demasiados zoombies a andar por aí.

Anónimo disse...

Mesmo com contas erradas,
Portugal pode ser novo
se houver à frente do povo
mentes mais iluminadas!

JCN

joão boaventura disse...

Há um tempo em que é preciso
abandonar as roupas usadas,
que já tem a forma do nosso corpo,
e esquecer os nossos caminhos,
que nos levam sempre aos mesmos lugares.
É o tempo da travessia: e,
se não ousarmos fazê-la,
teremos ficado, para sempre,

à margem de nós mesmos.

Fernando Pessoa

joão boaventura disse...

Recomeça….
Se puderes
Sem angústia
E sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.
E, nunca saciado,
Vai colhendo ilusões sucessivas no pomar.
Sempre a sonhar e vendo
O logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças…

Miguel Torga

joão boaventura disse...

Não se acostume com o que não o faz feliz,
revolte-se quando julgar necessário.
Alague seu coração de esperanças,
mas não deixe que ele se afogue nelas.
Se achar que precisa voltar, volte!
Se perceber que precisa seguir, siga!
Se estiver tudo errado, comece novamente.
Se estiver tudo certo, continue.
Se sentir saudades, mate-a.
Se perder um amor, não se perca!
Se o achar, segure-o!

Fernando Pessoa

joão boaventura disse...

PORTUGAL ENFERMO
PELOS VICIOS,
E ABUSOS DE AMBOS OS SEXOS

Portugal, Portugal ! Eu te lastimo !
E bem que velho sou ainda me animo
A mostrar-te os defeitos, e os excessos
Dos costumes, que tens já tão avessos
Dos costumes, que tinhas algum dia,
Quando mais reflexão na gente havia.
Tu de estranhas Nações foste envejado;
Hoje faz compaixão teu pobre estado:
Cada vez te vão mais enfraquecendo,
Todo o brilho, que tinhas, vas perdendo:
Paraiso do mundo te chamavão;
As mais Nações com tigo se animavão;
Ellas porém ficarão sãs, e fortes;
E tu todo o instante exposto aos cortes
Da usura, da ambição, da falcidade,
Do egoismo, da fuga, da impiedade:
Males, que aos que bem pensão cauzão tédio,
A que apenas descubro hum só remedio,
Que outro melhor não ha, a que se apelle,
E muita gente chora a falta d’Elle.
... ... ... ... ...

José Daniel Rodrigues da Costa (1757-1832)
1.ª ed. 1819

Quem quiser compulsar a obra pode aceder, pela sua extensão, às duas partes, Parte I, e Parte II, em que foi dividida.

Este poeta tinha os favores do Intendente Pina Manique e teve disputas com Bocage.

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