Quase a terminar o ano de 2010 (e com ele a primeira década do novo milénio) é a altura de fazer o balanço anual da edição de livros de ciência em Portugal. Escolhi, com um critério necessariamente pessoal, uma dúzia de livros que ficam da safra editorial deste ano. Sete deles são de autores portugueses. Os temas preferenciais são a astronomia, a física (com destaque para a história desta ciência) e a medicina (principalmente neurologia). Deixo evidentemente de fora o livro que escrevi com Décio Martins “Breve História da Ciência em Portugal”, uma edição conjunta da Imprensa da Universidade de Coimbra e da Gradiva. A ordem é alfabética do nome do autor.
1 - Ivo Alves, “Atlas do Sistema Solar”, Imprensa da Universidade de Coimbra.
Um geofísico da Universidade de Coimbra, que tem estudado a geologia de Marte,é o autor de um interessante atlas do sistema solar, com informação actualizada sobre o nosso sistema planetário e imagens escolhidas dos vastos arquivos da NASA e da ESA. É uma obra de referência para todos os que se interessam por astronomia, numa edição cuidada de uma editora universitária de referência.
2 - João Lobo Antunes, “Egas Moniz. Uma Biografia”, Gradiva.
O Professor de Medicina da Universidade de Lisboa que foi distinguido há uns anos com o prémio “Pessoa” é o autor não “de uma” biografia, mas sim “da” biografia do nosso até agora único Prémio Nobel em Ciências. Fazia falta uma obra como esta, muito bem documentada e extraordinariamente bem escrita, da pena de um especialista nas matérias em que Egas Moniz sobressaiu.
3- Luís Miguel Bernardo, “História da Luz e das Cores”, Vol. 3, Editora da Universidade do Porto.
Um físico da Universidade do Porto especializado em óptica moderna publicou na editora da sua universidade o terceiro e último volume da sua monumental obra sobre a evolução do modo como fomos vendo a luz e as cores. A história do laser, nele incluída, surgiu na altura das comemorações dos 50 anos da invenção do laser.
4 - Rómulo de Carvalho, “Memórias”, Fundação Gulbenkian.
Pouco antes do Natal, a Gulbenkian traz a lume o magnífico volume de memórias do grande poeta, professor de Físico-Química, historiador da ciência e da educação e divulgador de ciência. Este é, sem dúvida, um dos maiores momentos editoriais do ano, por nos permitir compreender melhor um grande personagem do século XX português.
5- Eugénia Cunha, “Como nos Tornámos Humanos”, Imprensa da Universidade de Coimbra.
A antropóloga forense da Universidade de Coimbra traça de modo sumário a evolução do homem num livro de bolso da colecção de bolso “Estado da Arte” da editora da universidade coimbrã, em boa hora ressuscitada depois da extinção no tempo de Salazar.
6 - António Damásio, “O Livro da Consciência”, Temas e Debates.
O médico neurologista português, autor de “O Erro de Descartes”, que é um “estrangeirado” nos Estados Unidos (e, como João Lobo Antunes, Prémio “Pessoa”) fornece um relato actualizado do que é a consciência humana. Imprescindível para todos os que queiram saber o que se sabe sobre o cérebro humano.
7- Galileu Galileu, "Sidereus Nuncius. O Mensageiro das Estrelas", tradução e notas de Henrique Leitão, Fundação Gulbenkian.
No final do Ano Internacional da Astronomia, que pretendeu assinalar os quatrocentos anos das primeiras observações de Galileu realizadas com o telescópio, esta é a primeira tradução em português, realizada a partir do latim original, dos registos dessas primeiras observações. Foi seu autor um dos melhores historiadores portugueses, Henrique Leitão, da Universidade de Lisboa.
8 - Stephen Hawking (coordenação), “Aos Ombros de Gigantes”, Texto Editores.
Num enorme e belo volume, esta é uma colecção de textos clássicos de alguns dos maiores gigantes da Física – Copérnico, Kepler, Galileu, Newton e Einstein - , num volume organizado pelo astrofísico inglês que se tornou famoso com a sua “Breve História do Tempo”. Coordenei a equipa da Universidade de Coimbra que efectuou a tradução para português europeu, feita com a ajuda da tradução em português do Brasil, onde o livro saiu primeiro. Curiosamente, quase na mesma altura a Gulbenkian fez sair uma outra tradução dos “Principia” de Newton aqui também contidos, feita directamente a partir do latim original.
9 - Hubert Reeves, “Já Não Terei Tempo”, Gradiva.
Mais um livro, este de memórias, do conhecido astrofísico canadiano, que com “Um Pouco Mais de Azul” foi o autor de um dos primeiros êxitos de venda da colecção “Ciência Aberta” da Gradiva.. Essa notável colecção aproxima-se, mantendo a qualidade do início, dos duzentos livros. É obra!
10- Silvan Schweber, “Einstein e Oppenheimer. O Significado do Génio”, Bizâncio.
Um historiador de ciência norte-americano traça perfis paralelo de dois dos maiores génios da física do século XX. Os dois eram judeus e estiveram ligados, de uma maneira ou de outra, ao projecto que conduziu à primeira bomba atómica. Mas o seu génio excede em muito essa ligação.
11 - Manuel Sobrinho Simões, “Genes, Célula, Ciência e Homem“, Verbo.
O Professor de Medicina da Universidade do Porto e também Prémio “Pessoa” reuniu aqui alguns dos seus textos e entrevistas que dão conta não só do seu pensamento original mas também do seu notável poder de comunicação.
12- Simon Singh, "Big Bang. A descoberta científica mais importante de todos os tempos e porque precisa de a conhecer", Gradiva.
Um conhecido autor de livros de divulgação de ciência apresenta um relato pormenorizado e actualizado do modelo do Big Bang, que triunfou na cosmologia e na astronomia, num outro volume da colecção “Ciência Aberta”.
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2 comentários:
Uma excelente escolha.
um abraço
Augusto Küttner de Magalhães
Há mais trabalhos biográficos sobre Egas Moniz
Bibliografia de Egas Moniz, Separata do Boletim dos Hospitais da Santa Casa da Misericórdia do Porto, 2ª Série, Vol. I, 3, Maio 1974.
FERNANDES, Barahona, Egas Moniz, Pioneiro de Descobrimentos Médicos, Lisboa, ICLP, 1983.
PEREIRA; Ana Leonor; PITA; João Rui; RODRIGUES, Rosa Maria, Retrato de Egas Moniz, Lisboa, Círculo de Leitores, 1999.
PEREIRA; Ana Leonor; PITA; João Rui, org., Egas Moniz em livre exame, Coimbra, Minerva Coimbra, 2000.
Bom ano novo
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