sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Novamente o exame de acesso à carreira docente


“Para ensinar há uma formalidade a cumprir, saber” – Eça de Queiroz.

Em finais de 2007 lia-se na imprensa uma notícia intitulada “A vice-reitora da Universidade de Coimbra defende exame para acesso à docência". De forma institucional ficou-se a saber que Cristina Robalo Cordeiro, pois é dela que se trata, subscreveu um parecer suportado em três princípios: “qualidade de ensino e equidade de acesso à profissão docente; exigência acrescida para uma competitividade a nível europeu; e reconhecimento de que nunca a pedagogia consegue que um professor ensine aquilo que não sabe.”

Vivia-se então o tempo, que se perpetua em nossos dias, de alunos diplomados pelas escolas superiores de educação passarem à frente dos alunos saídos das faculdades nos concursos para professores do 2.º ciclo do ensino básico, através da classificação do respectivo diploma escolar. Desta forma, um escasso valor superiorizava-se (e superioriza-se) à maior complexidade de currículos, duração de anos de estudos e maior classificação de acesso trazida do ensino do 12.º ano do ensino secundário por parte dos docentes oriundos do ensino universitário.

Dias atrás, em post publicado neste blogue, “Um comunicado da Fenprof” (31/10/2009), deixei o seguinte post-scriptum: “Um outro ponto do comunicado da Fenprof merece uma análise aprofundada que ficará para outra altura. Refiro-me a uma outra exigência sindical: ‘A extinção da espúria prova de ingresso na profissão docente e respeito pelas qualificações dos docentes e pela autonomia das escolas na verificação das condições para o exercício da profissão’”.

É chegado, portanto, o momento de ser feita a abordagem de uma problemática que parece ter em pouca conta o princípio formulado por Eça citado em epígrafe: “Para ensinar há uma formalidade a cumprir, saber”.

A necessidade de exigência na formação dos docentes foi posta em evidência numa intervenção de Reis Torgal, professor catedrático da Faculdade de Letras de Coimbra que, num debate promovido pela Associação Académica de Coimbra, em 19 de Fevereiro de 2003, se insurgia já contra a formação de professores para o 2.º ciclo do ensino básico a cargo simultâneo das faculdades e das escolas superiores de educação. Mereceu, ainda, crítica o verdadeiro escândalo da atribuição do grau de licenciado a diplomados pelas antigas escolas do magistério primário, após a frequência de um curso de complemento de habilitações em escolas privadas de duvidosa credibilidade que ministram cursos de escassa duração e pouca confiança. Tudo deixa supor ter ficado retida à entrada das fronteiras portuguesas a advertência do transalpino Cesar Cantu: “Não mudem de sentimentos conforme as ocasiões e não namorem a popularidade, renegando a própria consciência”.

As escolas superiores de educação foram criadas, em doutrina e intenções iniciais, para regiões carenciadas de ensino superior. Mas, com a complacência ou mesmo pusilanimidade dos poderes públicos que navegam em cascas de noz num mar de ondas agitadas pelos sindicatos e interesses pessoais dos alunos, logo se instalaram, de armas e bagagens, em cidades de longa e cimentada tradição universitária como Coimbra, Lisboa e Porto!

Segundo notícia do “Expresso”, de 9 de Fevereiro de 2008, intitulada “Erros nas universidades”, alunos da Faculdade de Letras de Lisboa queixavam-se de que “os maus tratos do Português chegam ao corredor da universidade”. E prossegue a notícia: “Temos colegas que dizem ‘púzio’, em vez de pu-lo. (…) ‘Fizestes’, ou ‘dissestes, em vez de ‘fizeste’ ou ‘disseste’, ‘derivado a’ ou ‘tênhamos’ são mais alguns exemplos do que os estudantes escutam a toda a hora”. Ora, se é assim que os estudantes universitários se expressam verbalmente difícil me não parece extrapolar erros de palmatória a precisar da menina dos cinco olhos da antiga escola primária no que respeita aos seus textos manuscritos.

Da minha parte, a defesa de um exame de acesso à carreira docente não é de hoje, como prova a seguinte transcrição de um meu post: “Não posso deixar de estranhar que, em vésperas da discussão do exame de ingresso na carreira docente, Mário Nogueira, secretário-geral da Fenprof e porta-voz da Plataforma Sindical dos Professores, entre nestas negociações numa atitude que eu diria de pé em riste ‘garantindo que a Fenprof as não vai aceitar’. Há todo o interesse em se saber a posição dos outros sindicatos sobre a avaliação dos candidatos à docência versando o domínio da língua portuguesa e dos conhecimentos científicos da área a leccionar. Por exemplo, o que pensa o Sindicato Nacional dos Professores Licenciados que ‘nasceu para defender os interesses específicos dos professores licenciados por universidades?’” (De Rerum Natura, 28/01/2009).

Estamos, portanto, na presença de uma nova e mais acrimoniosa ofensiva por parte da Fenprof contra as provas de acesso à docência, adjectivada por Mário Nogueira de “espúria”. Com o mesmo direito que lhe assiste nesta renovada frente de combate, assiste-me a prerrogativa desta contra-ofensiva. E ela nunca foi tão necessária numa altura em que a Fenprof, a exemplo de um qualquer caçador desastrado, se prepara para atirar sobre tudo quanto mexe em benefícios de natureza duvidosa!

26 comentários:

Fartinho da Silva disse...

O Rui Baptista está convencido que o lobby das "ciências" da educação permitirá a realização de tal exame? Acha mesmo que o maior problema são os sindicatos?

rt disse...

Basta ver os erros que alguns professores dão ao escrever os sumários para perceber que essa prova de acesso é indispensável.
A Fenprof é uma força do passado. É verdade que mostrou muito eficácia prática e política ao mobilizar tantos professores para protestar contra a maneira estúpida como o governo anterior queria avaliar os professores. Mas as ideias que têm sobre educação fazem parte do problema e não da solução. E têm contribuído para o actual ruinoso estado de coisas.

Unknown disse...

Quando virá
uma verdadeira
e
necessária
Visão da
noção de
Educação?

Anónimo disse...

Penso que uma ou várias provas cuja nota seja relevante para efeito de concursos seria uma boa medida. Ajudaria a valorizar os alunos de melhores universidades.
Não posso concordar com duas ou três provas em que basta ter apenas 13 numa delas e cinco anos de ensino superior são deitados ao lixo.

José Batista da Ascenção disse...

Discordo totalmente do modelo de avaliação que o último governo pôs em prática e o actual intenta continuar. Trata-se de uma aberração artificial e arbitrária. Mas, dado o estado lastimoso a que o ensino chegou, e ao mau uso que alguns professores fazem da língua "mátria", em grande parte devido ao efeito pernicioso de duvidosas teorias de educação e à acção de escolas ditas "superiores" de educação, penso que é absolutamente imprescindível que os professores sejam sujeitos a provas de língua portuguesa, pelo menos, para poderem ingressar na carreira. E não apenas, entendo mesmo que deveriam ser os professores no activo a exigirem ser sujeitos a essa prova, para se mandar aprender a escrever todo e qualquer que precisasse... E deviam ser convidados a fazê-la todos os funcionários do ministério da educação, inclusivé o ministro da pasta, secretários de estado e directores regionais de educação. Naturalmente, disponibilizo-me para ser o primeiro a ser testado numa prova dessa natureza.

António Daniel disse...

Muitas pessoas opinam mas pouco sabem do que falam. Em primeiro lugar convém dizer que o estágio sempre foi um exercício de avaliação muito eficaz e exigente. A todos os estagiários eram-lhes dadas turmas para leccionarem, começando aí a sua responsabilização. Durante um ano, o estagiário assistia a aulas do orientador, eram avaliadas as aulas dadas às suas turmas e à turma do docente orientador. Incluía-se também aulas assistidas às turmas dos seus pares. Aprendia-se bastante, debatia-se ainda mais, orientava-se melhor. As práticas eram de extrema exigência tanto ao nível científico como a nível pedagógico. O problema está na forma como desenvolveram posteriormente esses estágios. Sem colocar em causa a seriedade de orientadores e estagiários, Actualmente os estágios estão diferentes, no meu ponto de vista para pior. Ora, é preferível voltar às boas experiências do passado a ter que optar por outro tipo de avaliação. Se continuarmos a falar de sindicatos ou se fizermos insinuações frívolas sobre o que sabem ou não os docentes, «futebolizamos» a educação. Mais do que uma prova, é importante que a avaliação passe por uma permanente dialéctica de discussão, como antes sucedia. Só assim o professor e qualquer profissional amadurece. Mas o que mais me aborrece mesmo é a pseudo-democracia militante que se vê nos blogues que, sob o prisma de «arranhar» algum assunto, já opinam. Além disso, os sindicatos servem para problemas que não se devem imiscuir com questões científicas ou pedagógicas.

rt disse...

António daniel:

Esses estágios eram melhores que os actuais, mas não eram nenhum modelo de virtudes. Hé inúmeras histórias de inflacção de notas, de discriminação de alguns estagiários, de critérios díspares de núcleo para núcleo, de universidade para universidade, de incompetência de alguns orientadores, etc.
Nestas coisas não há medidas mágicas que resolvam tudo sozinhas e que não tenham nenhum efeito secundário. É preciso um conjunto de medidas articuladas - e é aí que um exame de acesso bem feito entra.

Rui Baptista disse...

Dado que, devido à polémica que esta temática já levantou (e julgo que ainda irá levantar), fica a promessa que não fugirei, na devida altura, em complementar os meus pontos de vista (que não são meras opiniões pessoais).

Este país não deve tolerar mais opiniões dogmáticas que se explicam pelo prestígio de quem as emite e se salvaguarda da chuva debaixo do guarda-chuva de uma autoridade que não admite o confronto de ideias.Discutir ideias é uma forma de estar ao serviço da Democracia.

António Daniel disse...

Vera, percebo o que quer dizer. Temos é que reconhecer que havia excelentes estágios. Se havia menos bons, alguém devia ser responsabilizado. O problema é que tentamos resolver problemas de forma ad hoc. O que discutia era o post. Quem criou um conjunto de circunstâncias que tornou possível os problemas que vivemos na educação, são os mesmos que agora vêm a terreiro bocifrar contra aquilo que criaram. Enquanto anos e anos muita gente ganhou monetariamente com isso, agora ataca-se quem, por vários motivos, aproveitou simplesmente a oportunidade. Evidentemente que existem problemas que foram criados por medidas políticas, pelos sucessivos ministérios, devidamente enquadrados por uma legitimação pedagógica mais que duvidosa. E são esses que têm o poder. O que eu não gosto mesmo é paternalismo para cima dos profs por que isso desresponsabiliza e manipula. É o que tem acontecido, foi o que sempre aconteceu. Portanto, dêem possibilidades aos professores de criarem as suas próprias estruturas que pensem o que deve ou não ser necessário para se ser professor. Mas também os digníssimos professores universitários têm a sua parte de responsabilidade. Deixem de olhar para os outros como filhos de um deus menor. Tive um professor que passava boa parte do tempo a discutir a diferença entre o orgasmo vaginal e clitorial. Possivelmente há nisso alguma pertinência intelectual. (http://blog.criticanarede.com/2009/10/filosofia-e-snobismo.html) Mas também lhe digo, Vera, daqui a pouco tempo iremos pedir professores.

rt disse...

Quando se argumenta a favor dos exames e da exigência os erros tornam-se especialmente embaraçosos, mesmo que sejam apenas gralhas devidas à pressa e à falta de tempo.

Escreve-se "inflação" e não "inflacção". Na expressão "núcleo, de universidade" em vez da vírgula devia ter posto um "e".

Rui Baptista disse...

Prezada Vera:

Abro uma excepção para fazer um brevíssimo comentário. Apreciei a sua rectificação embora a tenha, um tanto ou quanto, por desnecessária.

A pressa como são escritos os comentários mais que justificam as pequenas gralhas que teimosamente pousam em certos galhos das mais frondosas árvores de quem domina a escrita da Língua Portuguesa. Mas os exemplos dos alunos da Faculdade de Letras (sem o perigo e a injustiça de os generalizar a todo o seu corpo discente) dizem respeito à linguagem verbal, e aqui não existe um corrector de erros ortográficos. Por isso, mais difíceis de corrigir são.

A maneira como a Vera escreve e expõe as suas ideias só por manifesta má vontade podem incorrer em erros de palmatória. Nada disso!

Agradeço, para já, os seus comentários e de outros comentaristas que satisfazem plenamente os itens propostos nas alíneas b) e c) das condições pedidas ou sugeridas pelos autores deste blogue.

E porque vem a propósito, e para amenizar um possível ambiente de maçudo mestre-escola , reproduzo um acontecimento que me contaram como verdadeiro sobre a errada forma de expressão verbal de um determinado professor de diplomado em panela de pressão de uma formação académica deficiente.

Esse docente entrando de rompante na sala dos professores da sua escola, com ar de ferrabrás e a ressumbrar de autoridade por todos os poros (ou melhor, de autoritarismo), diz em voz alta, não vá não ser ouvido por todos os presentes:

- “Na aula anterior, um aluno portou-se mal na minha aula e eu ‘puze-o’ na rua”.

Um outro professor, com intuitos pedagógicos e de boa camaradagem de não o pôr em xeque, resolveu, e bem, não emendá-lo na altura
guardando-se para uma altura mais propícia.

Ela chegou no dia seguinte: quando esse docente entrou na sala dos professores virou-se para ele, dizendo:

- “Hoje dois alunos meus também se portaram mal na minha aula, e eu pu-los na rua”.

De imediato foi-lhe retorquido: - “Pulos? Eu admitia lá que os meus alunos se pusessem aos pulos na minha sala!”

Para evitar que a referência que fiz aos alunos de Letras possa ser mal interpretada, desde já afirmo que a minha intenção foi no intuito de chamar a atenção para o perigo de eles poderem vir a chegar a professores contribuindo para as densas e perigosas nuvens de poluição sobre a arte de escrever que cada vez mais nos afasta do Padre António Vieira, num passado mais remoto, ou de Eça, em nossa quase contemporaneidade.

P.S.;
1. Este comentário (de longe não tão “brevíssimo” como o por mim prometido no início) não invalida, de forma alguma, a promessa que fiz de voltar a um assunto salutarmente polémico. 2. Ressalvo, desde já, quaisquer possíveis gralhas a que nem os melhores cultores da nossa Língua escrita se conseguiram subtrair. Quanto mais um simples e modesto amador (aquele que ama). E para escrever razoavelmente, ao contrário do que nos a voz do povo, nem sempre o amor faz milagres!

José Batista da Ascenção disse...

Gralhas são (apenas) gralhas.
Mas, "bocifrar"!!!...

Rui Baptista disse...

Aqui está ela, e juro que não de propósito para fundamentar a minha "tese": penúltima linha do último § - "nos a voz". Omiti "diz". Nos diz a voz. Caçar gralhas no defeso não é permitido por lei..

António Daniel disse...

Caro José Batista, obrigado pelo reparo. De facto é um erro grave mas que em parte se justifica, se tal é necessário!!! A falta do «e» é gralha. Já o «b» admito, embora não desculpe, que, como tipo do norte que sou, na oralidade a língua foge-me do «v» para o «b», o que, embora não sirva de desculpa, pode atenuar o meu presente sofrimento.
Obrigado.

António Daniel disse...

José Batista, a propósito do seu primeiro comentário, dir-lhe-ei que estamos enganados se consideramos que a escola, actualmente, é o principal difusor de conhecimento. Se considerar pertinente alargar essas provas a toda e a qualquer pessoa que directa ou indirectamente se relacione com a educação, então temos de pensar em promover mecanismos mais concretos para o sítio onde actualmente a transmissão do saber se faz notar: os mass media. É óbvio que isto não descarta a responsabilidade do professor dar o exemplo. Mas o exemplo encontra-se pulverizado.

António Daniel disse...

Sílvia, pertinente essa sua questão. Já agora, o que será um bom professor? Sem cairmos nos habituais epítetos românticos, Alguém me sabe responder?

António Daniel disse...

José Batista, já agora, no seu primeiro comentário, seria conveniente retirar o acento de «inclusive».

Rui Baptista disse...

Caro António Daniel:

A sua pergunta inicial a Sílvia -"Já agora, o que será um bom professor?" - generalizou-se com uma outra sua pergunta: “Alguém me sabe responder?"

Embora de difícil e directa resposta, todos sabemos reconhecer, pelo menos, os (bons) professores que nos marcaram pela positiva e sabemos, igualmente, distingui-los dos (maus) professores que nos marcaram pela negativa..
Todavia, a definição de um bom professor, embora de resposta difícil, não tem a complexidade filosófica com que se deparou Santo Agostinho perante a pergunta: “O que é o tempo?”

E tanto assim é que a sua resposta não deixa dúvidas sobre a complexidade da pergunta. Como é sabido, a sua resposta foi. “Se ninguém me perguntar eu sei, porém, se quiser explicar a quem me perguntar, já não sei”..

Julgo que uma boa definição poderá ser encontrada ( que não envolva todos os professores no mesmo saco, como sucedia com a antiga avaliação docente, haja a coragem em reconhecê-lo!) em William Athur Ward: “O professor medíocre diz, o bom professor explica, o professor superior demonstra e o grande professor inspira”.

Ou seja, mais concretamente, “o bom professor explica”. E o mau professor? Ou será que o sistema educativo deste canto europeu “onde a terra acaba e o mar começa” teve a suprema ventura de os expurgar?

Antes da divisão da carreira docente, em professor e professor-titular, esta questão não se punha. Com o nacional porreirismo lusitano, os professores eram considerados todos bons desde que não cuspissem na sopa (passe o plebeísmo) dos poderosos colegas com funções directivas que os avaliassem.

Com a nomeação dos titulares, “aqui d’el Rei!” ( e na maioria dos casos com toda a razão) que aquele colega nada vale e o outro muito menos, porque a avaliação inter-pares, que passava de boca em boca, tornou-se mais rigorosa com a separação do trigo do joio.

Meu caro António Daniel, a simples pergunta com quatro palavras que fez à Sílvia e a todo o mundo – “Alguém me sabe responder? - , obrigou-me a uma longa resposta que, concedo, poderá ser entendida como não satisfatória. Mas de uma coisa me responsabilizo: da não tentativa de fugir ou sofismar o assunto. Ou seja, na sugestiva linguagem popular, pão, pão, queijo, queijo!

Embora (concedo, sem grande dificuldade) o pão possa não ser da melhor farinha, de uma boa cozedura e o queijo não tenha a qualidade do excelente queijo da serra.

joão boaventura disse...

Caro António Daniel

Não há definição nenhuma para o bom professor.

Carl Rogers dizia que "só correndo o risco de novos caminhos pode o professor descobrir por si mesmo, se é ou não eficiente, se aqueles novos caminhos lhe convêm ou não."

Anónimo disse...

Aceito a prova e até subo a parada! Proponho que a prova seja realizada regularmente (por exemplo, de 5 em 5 anos) e por TODOS os docentes, sem excepção.

António Daniel disse...

Concluindo: ser bom, excelente, mau, péssimo professor depende única e exclusivamente da capacidade de autognose de cada um. Portanto, é impossível termos um plano unidimensional que qualifique um professor. E porquê? porque a sua actividade não se compadece com critérios estratificados, mas com uma contínua construção. E o bom professor não se produz, faz-se. Não sou contra a avaliação, todos gostam de um certo reconhecimento, mas não promovam a ideia que a partir de agora será tudo bom. Por este motivo, concordo com o João, se me permite tratá-lo assim. Quanto à ideia do Rui (desculpe o abuso), obviamente que só o simples facto de se desencadear a diferente classificação de professor «choveram» mecanismos de diferenciação informais. Os professores não são uma casta à parte. Algum profissional, seja de que área for, ficaria satisfeito com essa divisão superficial? Claro que não. Quais as soluções? não sei, sinceramente. Mas sei que poderá passar por uma avaliação externa. A ideia fundamental com a questão levantada (é certo que parti de uma evidência particular para um questionamento geral) prende-se com o facto de, nestes últimos 4 anos, nos quererem pintar o que é um bom professor, quadro com o qual não me identifico. Se juntarmos a permanente intoxicação informativa a que fomos sujeitos, torna-se difícil promover qualquer tipo de ideia. Por esse motivo, mais importante do que discutir a prova de acesso, será importante fazer a pergunta da Sílvia. O post do Rui (desculpe novamente o abuso) sugere questões que decorrem de medidas administrativas e de um número indeterminado de posições políticas que não possuíam qualquer ideia quanto aos rumos da educação. Peço desculpa pelo discurso alongado.

António Daniel disse...

Caro anónimo das 16.35, quem vai corrigir? Porque não de 4 em 4 anos, ou de 2 em 2 anos? Qual a razão para ser de 5 em 5 anos? Perde-se ou ganha-se qualidades (julgo que é assim que se escreve)? Desculpem, mas devem pensar seriamente em ganhar juízo.

José Batista da Ascenção disse...

Caro António Daniel:
Acredite que não foi minha intenção causar-lhe sofrimento. Entendo até que escreve muito bem.
Aceite um cumprimento.

Rui Baptista disse...

Caro Daniel:

No preciso momento em que inicio a redacção deste comentário,que terei de interromper por algum tempo, encontram-se publicados 21 comentários. Em termos de maior e vacinado, correspondia, tempos atrás, este número à maioridade do indivíduo. Atrevo-me a pensar que mesmo que o seu número viesse a corresponder à idade dos macróbios seria impossível chegar a uma conclusão sobre a forma ideal de quantificar ou, apenas, enunciar em termos absolutos e/ou relativos os professores que devem ser classificados como bons ou maus, para simplificar uma escala gradativa que não inclua os maus, os medíocres, os muitos bons e os óptimos professores.

Propõe o Daniel a autognose, como uma possível solução. Óptima solução, aliás, não se desse o caso de uma certa analogia com a anarquia, em que o indivíduo se acha emancipado de toda a tutela governamental, em que cada cidadão se responsabiliza perante si próprio e perante a sociedade sem necessidade de controlo externo ou estranho à sua pessoa.

Óptima solução, repito, se ambas, a autognose, como solução avaliativa docente, “per se”, e a anarquia não pertencessem a um mundo imaginário idealizado por Thomas More (1478-1535), no seu livro “Utopia”, sem tomar em linha de conta os defeitos humanos. Seja como for, esta discussão merece (pela cortesia de que se tem revestido) identificar-se com a prosa de Antero de Figueiredo: (…)”inventando alvitres, uns serenos, outros excessivos , alguns utópicos, mas todos repletos de sã intenção…”

A auto-avaliação docente corre o vício de forma denunciado pela escritora Anais Nim: “Na origem das mentiras está a imagem idealizada que temos de nós próprio, a que desejamos impor aos outros”. Viver no mundo de uma humildade utópica, transposto da Grécia para os nossos dias de que foi intérprete Sócrates, não me parece correr idêntico perigo perante a imagem retocada e aumentada que normalmente existe na vaidade humana.

Recordo que Sócrates ao ser proclamado o homem mais sábio da Grécia do seu tempo, terá respondido: “Só sei que nada sei!” Parece-me que, pelo contrário, logo surgiriam na nossa sociedade clones não de Sócrates, mas do indivíduo que, chegado à tertúlia do café habitual, se vira para os amigos, e diz “Eu sou como o Sócrates – só sei que nada sei!” De imediato, e em uníssono, os circunstantes viram-se para ele respondendo: “Então todos nós somos como o Sócrates, todos sabemos que tu nada sabes!”

Caro Daniel (abstraindo a forma com a avaliação docente deve ser feita; e aqui solidarizo-me 100 % consigo sobre a necessidade de uma avaliação complementar externa): por mais que se procure uma definição para a pergunta de Sílvia (“o que é um bom professor?”) teremos que aceitar a dificuldade da resposta a dar à inquietação que levanta outra pergunta: “o que é a verdade?” Não aceito a resposta de um cábula que possa “desenrascar-se” perante a pergunta dizendo que um bom professor é aquele que não é mau professor. Ou que a verdade é aquilo que não é mentira.

Vê, o meu bom amigo Daniel, o labirinto de Creta provocado pela sua pergunta- “Já agora, o que será um bom professor?” - , de que não encontro a saída por nele ter tido a ousadia de entrar sem um novelo de Ariadne que me orientasse para a saída?

Ademais, obriga-me a plagiar as última e antepenúltima linhas do parágrafo derradeiro do seu comentário: “Peço desculpa pelo discurso alongado” . O meu pedido de desculpa terá que ser maior, porque bem mais alongado é o meu discurso! Nada mais me resta que cumprir a minha penitência!

António Daniel disse...

O cumprimento é retribuído.

Rui Baptista disse...

Errata: Na 4.ª linha do 6.º § onde escrevi "para a pergunta de Sílvia", deverá ser emendado para "para a pergunta a Sílvia".

O seu a seu dono: as minhas desculpas a Sílvia que não fez pergunta nenhuma...

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