sábado, 28 de novembro de 2009
SOUTH KENSINGTON EM LONDRES
Continuo aqui a minha série de crónicas de viagem, do meu livro "Curiosidade Apaixonada" (Gradiva). Depois de Bruxelas e Frankfurt, esta é sobre Londres, tendo eu efectuado algumas ligeiras actualizações. Na imagem o Museum of Natural History.
Os voos para Londres são mais económicos do que os voos para a maior parte dos outros destinos europeus, incluindo alguns mais próximos como por exemplo Madrid. É por isso sempre tentador ir a Londres. Convém procurar a melhor tarifa porque dois passageiros que vão sentados lado a lado no mesmo avião podem ter pago preços muito diferentes pela mesmíssima viagem (as companhias aéreas têm razões que a razão desconhece!).
Londres é tão grande que o seu conhecimento exige uma estada prolongada. Se o visitante só puder estar na capital da Grã-Bretanha por escassos dois ou três dias, em vez de andar ao desatino por tudo quanto é sítio, o melhor é apontar a uma zona precisa e tentar conhecê-la bem. Mesmo assim há zonas para as quais não chegam dois ou três dias...
Qual é a melhor zona de Londres? A resposta variará conforme os interesses do visitante, mas, se me fizerem a pergunta, responderei que é, sem dúvida, South Kensington. Não é propriamente o centro de Londres, onde há na minha opinião gente demais, mas não está longe do centro. Usando o metro e partindo da estação de South Kensington são quatro estações até Westminster, pelas linhas Circle ou District, e são também quatro estações até Picadilly Circus, pela Picadilly Line. O “tube” (nome por que que é conhecido o mais antigo metro do mundo, já que remonta a 1863) é bastante profundo e estreito, mas funciona com uma eficácia e regularidade espantosas.
South Kensington começa por ser uma zona elegante e, por isso, cara para se viver. Para se ter uma ideia da qualidade do bairro bastará ao turista sair das profundezas da Terra em South Kensington e dirigir-se à Old Brompton Road. Encontra logo à entrada uma loja que vende Lamborghinis. E encontra ao longo da rua todo um conjunto de serviços de qualidade, que vão desde restaurantes com jazz ao vivo até mercearias abertas “around the clock” passando por bancos e livrarias. South Kensigton tem, como Myfair e outros bairros londrinos, bonitas residências do século XIX. É uma zona de embaixadas e consulados, facilmente reconhecíveis pela placa e bandeira à porta (algumas embaixadas junto ao Palácio de Kensington são belíssimos palacetes). South Kensington tem também o Hyde Park, que se junta harmoniosamente aos jardins do palácio de Kensington. Antiga coutada, o parque é hoje uma enorme zona de lazer, onde o visitante se pode deitar em espreguiçadeiras alugadas, alimentar os patos e outras aves que chapinam no grande pântano, andar de barco na Serpentine (lago artificial onde se afogou a mulher do poeta Percy Shelley, quando os suicídios românticos estavam na moda), ver uma exposição de arte moderna na galeria Serpentine e apreciar pavilhão do arquitectura moderna. Não longe do Hyde Park, na Brompton Road, encontra-se o Harrods, o mais espectacular armazém do mundo, onde vale a pena uma visita aos “Food Halls” embora os preços refreiem um pouco o apetite das compras. Como o palácio de Kensigton era ocupado pela princesa Diana e o Harrods era da família do seu último namorado, South Kensigton está portanto associado de perto ao mais famoso drama, para não dizer melodrama, britânico dos últimos tempos.
Mas a atracção de South Kensington está muito longe de se resumir a esse drama recente. De facto, o principal interesse de South Kensigton é cultural e bem antigo. É nessa zona que se situa o Royal Albert Hall, onde no Verão se realizam os famosos concertos Promenade. O programa pode ser comprado em qualquer quiosque e os bilhetes são relativamente fáceis de obter, excepto o do concerto final, em que a multidão canta em coro patriótico com a orquestra temas de Elgar e de outros compositores britânicos. Junto ao Royal Albert Hall, do lado do Hyde Park e no local onde em 1851 se realizou a Grande Exposição de Londres, ergue-se um grandioso monumento edificado pela rainha Vitória em memória do seu marido Albert, falecido de febre tifóide com apenas 41 anos, em 1861 (o monarca não chegou, portanto, andar de metro!). Vale a pena acrescentar, para benefício de quem não tem as datas históricas presentes, que a rainha Vitória, cujo pudor obrigava a tapar com longas toalhas as pernas das mesas, sobreviveu 40 anos ao seu consorte: ela reinou de 1837 a 1901 à frente de um vasto império, dominando o século XIX. South Kensington é também o sítio do Victoria and Albert Museum, dedicado às artes aplicadas e que é um excelente repositório da época do casal real. Tudo nessa zona de Londres nos faz lembrar a próspera época vitoriana!
Quando se fala de cultura tem também de se falar de ciência. South Kensington é um centro de cultura e é também um centro de ciência. Situam-se lá, bem ao lado do Museu Victoria and Albert, dois dos maiores e melhores museus de ciência do mundo, o Science Museum e o Museum of Natural History. Construídos na segunda metade do século XIX, são produtos da época vitoriana. Os dois são acessíveis a partir da estação de South Kensington por um longo túnel, cujo chão está gasto de tanto ser calcorreado pelos adultos e principalmente pelas crianças e jovens que demandam os museus. O Museu de História Natural consegue ser maior do que o seu vizinho Museu de Ciência, já de si grande. De resto, o seu edifício enche mais o olho: o impressionante estilo neo-gótico faz o museu parecer um mosteiro. É obrigatório referir o arquitecto Alfred Waterhouse, autor desse “mosteiro da história natural” cuja fachada está ornamentada com motivos naturais em vez de anjos e santos. O “hall” do Museu tem uma dimensão que torna anão o enorme dinossauro que ocupa o centro. Por falar em dinossauros, a ala dos dinossauros é uma das principais atracções do Museu. Pode ser vista à entrada virando logo à esquerda. Como nos outros museus públicos britânicos, a visita ao Museu não se paga (há mum contributo facultativo), excepto as exposições especiais. O Museu de História Natural tem-se modernizado incluindo hoje o Centro Darwin, que homenageia o maior naturalista de todos os tempos, contemporâneo da rainha Vitória, cuja estátua domina o "hall".
Mas, como se faz tarde, ala para o vizinho Museu de Ciência... Se por fora o edifício não é nada de especial, a grande sala de base impressiona o visitante pelo número e tamanho das máquinas, que documentam a origem da riqueza da época vitoriana: a Revolução Industrial, que começou ainda no século XVIII com as máquinas a vapor mas ganhou alento no século XIX com as máquinas eléctricas. Tal como o Museu de História Natural, o Museu de Ciência demora algum tempo a ser visto: entre os seus inúmeros tesouros sobressai a colecção do rei George de instrumentos científicos, que é semelhante mas ainda melhor que a colecção do Gabinete de Física da Universidade de Coimbra. No ano 2000, foi inaugurada um novo espaço que permitiu acrescentar cerca de 30% ao Museu. Esse novo espaço, que inclui um IMAX (cinema de grande ecrã), encontra-se no lado oposto à entrada principal, depois de atravessar quer a sala das grandes máquinas quer uma galeria dedicada à exploração espacial. No rés do chão há um café-restaurante com luzes que dão um ar de ficção científica. Na cave há um zona de brincadeiras científicas para os mais pequeninos, género “Ciência Viva”, onde eles podem mexer à vontade. Nos primeiro e segundo andares há exposições bem montadas sobre moderna ciência e tecnologia. No último andar há jogos electrónicos sobre a vida no futuro, para serem jogados colectivamente sobre mesas futuristicamente inclinadas. Os miúdos não querem sair de lá...
Muito mais haveria a dizer sobre South Kensington... “Last but not least”, tem de se referir que mesmo atrás do Museu de Ciência fica o Imperial College, uma dos melhores escolas de ciência do mundo. Aí trabalha o astrofísico português João Magueijo, que era o mais famoso português em Londres antes de lá ter chegado José Mourinho...
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
AS FÉRIAS ESCOLARES DOS ALUNOS SERÃO PARA... APRENDER IA!
Quando, em Agosto deste ano, o actual Ministério da Educação anunciou que ia avaliar o impacto dos manuais digitais suspendendo, entretanto,...
-
Perguntaram-me da revista Visão Júnior: "Porque é que o lume é azul? Gostava mesmo de saber porque, quando a minha mãe está a cozinh...
-
Usa-se muitas vezes a expressão «argumento de autoridade» como sinónimo de «mau argumento de autoridade». Todavia, nem todos os argumentos d...
-
A “Atlantís” disponibilizou o seu número mais recente (em acesso aberto). Convidamos a navegar pelo sumário da revista para aceder à in...
1 comentário:
É mesmo incrível que quem desça a rua do Albert Hall até lá baixo ao cruzamento do V&A e do NHM, passe também pelo Imperial e pelo Science.
Não é de admirar se se pensar que os londrinos se gabem de ter 200 museus, como o British Museum, que foi o primeiro do mundo e que parece que tem 11 km de galerias, incluindo dentro a biblioteca onde escrevia o Marx, e que fica ali ao lado do University College, que também é das melhores universidades do mundo, aliás, não foi lá que passou o meu querido Desidério?
Quanto ao Magueijo ser o tuga mais famoso antes de chegar o special one, é uma boa piadinha mas que não sei se está certa. Primeiro porque antes do Mourinho já lá estava o Luís Boa Morte, no Arsenal e depois Fulham, e depois não podemos esquecer a nossa pintora residente em Londres, que os ingleses já dizem inglesa, a Paula Rego, que deve ser mais famosa do que o Magueijo.
O Luís Jardim não era muito famoso, mas quem toca com Rolling Stones, David Bowie, Roxy Music, etc, etc, também não nos representa mal.
Eu também fiz a minha perninha para não nos deixar ficar mal, a trabalhar como jardineiro na melhor companhia do ramo, tratando dos jardins dos finecos ali em Kensigton, Chelsea, etc, e alguns dos finecos, incluindo gente da realeza, chegaram a dizer que eu tinha sido o melhor jardineiro que tinham tido, até me serviam o cházinho com bolachinhas, olé!
luis
Enviar um comentário