sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Avaliação dos professores versus avaliação dos juízes


“A resignação passiva, por ensurdecimento progressivo do ser, é o falhanço completo e sem remédio” (Sophia de Mello Breyner, 1919-2004).

Em nossos dias, os sindicatos de professores fazem finca-pé na questão da avaliação docente sem tomarem em linha de conta a aberração de um mesmo paradigma no que se refere à educação infantil e ao ensino secundário, como se a exigência, sob o ponto de vista científico, de ambos devesse assumir a forma de um prêt-à-porter. E desta forma repetem-se os erros de um espartilho, vestido à força por alguns sindicatos, de uma carreira docente única para o ensino não superior, qual Leito de Procusta – título de um meu livro publicado em 2005 -, em que se esticaram as pernas aos docentes menos ilustrados e se cortaram os pés aos mais habilitados, situação sem precedentes em outros países da comunidade europeia. Tudo isto foi alcançado em difícil parto, com recurso a fórceps, de negociações dos sindicatos com o então ministro Roberto Carneiro.

Como se compreende, embora não seja de aceitar, nesta importante questão, nenhuma discordância tem separado os sucessivos ministérios da tutela dos sindicatos docentes. Salvaguarde-se, todavia, o tempo em que contra este statu quo se levantou a voz do Sindicato Nacional dos Professores Licenciados logo abafada pela sua entrada numa plataforma sindical, através de um pacto que faria corar de vergonha o próprio Fausto quando trocou com Mefistófeles a própria a alma por mais alguns anos de juventude.

Entretanto, para que se não pense ter sido esta temática motivo de desinteresse da minha parte, por só agora aparecer a terreiro, de um acervo de mais de meia dúzia de posts publicados neste blogue, transcrevo de um deles, “A complexa avaliação dos professores” (22/03/2008), o seguinte trecho:

“Em nome do mérito, entendo que o processo avaliativo da passagem do 7.º escalão aos escalões imediatamente superiores deve ser feita por provas públicas e não cozinhado, apenas, entre as quatro paredes da escola ‘inter pares’ permeáveis a simpatias pessoais, a identificações política ou de natureza clubística ou a meras manifestações de curvatura da cerviz. A continuação do antigo sistema de avaliação para a passagem dos escalões inferiores poderia eu aceitar, mas, mais uma vez o digo, sob a seguinte condição: sem incluir os professores que entretanto se reformaram, faleceram ou desistiram da carreira docente, a divulgação pública da percentagem de docentes que, cumpridos os requisitos legais de permanência nos escalões inferiores, não chegaram ao topo da respectiva carreira, 9.º e 10.º escalões, respectivamente, para bacharéis e licenciados. Na hipótese dessa percentagem ser diminuta, por não chegar ou pouco ultrapassar um número de um único dígito, a conclusão a tirar-se é a de que a triagem da qualidade docente não satisfaz padrões mínimos de exigência, sendo de a excluir liminarmente pelo prejuízo causado aos bons professores e benefício trazido aos maus professores numa injusta e gritante igualdade entre desiguais. Não, não se trata de exigir um quadro docente utópico preenchido apenas por professores excepcionais. Basta contentarmo-nos com homens e mulheres que, na opinião de Eça, referindo-se, salvo erro, a Pinheiro Chagas, ‘não têm ambições – excepto saber, não têm receios – excepto errar’”.

Este silêncio ao meu pedido é tanto mais estranho quanto em outras profissões, com a de juiz, por exemplo, os dados estatísticos são tornados públicos como nos dá conta Sofia Pinto Coelho, jornalista da SIC licenciada em Direito, num polémico e corajoso livro acabado de sair do prelo e de que transcrevo um elucidativo e oportuno excerto:

”Se olharmos para as estatísticas, verificaremos que a esmagadora maioria dos juízes é óptima. Para ser mais precisa, nas classificações, os resultados costumam ser assim. 96% obtêm ‘Bom’, ‘Bom com Distinção’ ou ‘Muito Bom’. Sobram 4% de ‘Suficientes’ e um mísero 0,1% (ou seja, apenas um juiz) com ‘Medíocre’. Estas estatísticas dão que pensar. (…) A partir do momento em que ascendem ao Tribunal da Relação, e depois ao Supremo Tribunal de Justiça, os juízes nunca mais são sujeitos a qualquer tipo de escrutínio por mais que se verifiquem sinais de demência, alcoolismo ou psicopatias. Por outro lado, os critérios de progressão na carreira também são peculiares. É possível subir-se por mera antiguidade, mesmo estando arredado dos tribunais” (“As extraordinárias Aventuras da Justiça Portuguesa”, A Esfera dos Livros, 2009, p. 18).

Desobrigo-me de mais transcrever por tanto bastar para um juízo sobre a avaliação dos juízes, em que, ao contrário de certos filmes, nos quais é feito o aviso de que qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência, a coincidência entre a avaliação dos juízes e a avaliação dos professores é uma realidade nua, crua e triste.

Reconheço de antemão poder não agradar esta minha análise a gregos e troianos. Mas é esse o preço a pagar por mim, mas que, porventura, terá a recompensa no facto de os bons professores não se reverem nos maus professores. Ou só haverá defeitos comportamentais nos juízes numa “ditosa pátria” que só é obrigada a reconhecer defeitos nos professores quando os escândalos de acesso sexual aos jovens alunos, por exemplo, saltam para a praça pública?

Como escreveu um poeta da pátria de Racine , “com ratos em cima do telhado e pássaros na cave” (exemplifico com o caso de algumas nomeações para professor titular que criaram um natural e evidente mal-estar entre oficiais do mesmo ofício), foi dada generosa guarida a este injusto, insólito e inqualificável statu quo. Em sua defesa, logo acorreu a belicosa a guarda pretoriana encarregada de proteger fortes lóbis sindicais ao serviço de bastardos interesses dos seus associados em que uma avaliação séria e exigente não interessa aos medíocres protegidos, até pelo nacional porreirismo dos próprios colegas, ainda que prejudicados por um sistema que não valoriza os melhores. E, desta forma, se presta vassalagem ao demérito e a quem o promove!

13 comentários:

joão viegas disse...

Caro Rui Baptista,

Não digo que o assunto não mereça reflexão cuidada mas o seu texto parece-me enviesado.

Com efeito, esquece-se de mencionar os principios de inamovibilidade e de independência dos juizes, principios que constituem garantias fundamentais num estado de direito e que não me parecem ter correspondência no caso dos professores do ensino publico. Por conseguinte, a questão da avaliação não se põe da mesma maneira nos dois casos.

A não ser que se pretenda levar a noção de independência dos professores a um ponto extremo, que nunca vi ninguém defender. Com efeito, julgo que é pacifico que os professores do ensino publico estão numa relação hierarquica com o ministério e que esta relação hierarquica, não so é um corolario da sua inserção num serviço publico administrativo (sendo que neste caso têm a incumbência de ministrar os programas definidos pelo ministro de acordo com o programa de governo, que nem sequer são matéria de lei), mas não afecta de maneira nenhuma, directa ou indirectamente, o principio da separação dos poderes.

Portanto não digo que o assunto não mereça reflexão, e também não digo que a questão da avaliação dos magistrados não seja delicada.

Mas o paralelo parece-me inadequado.

Fartinho da Silva disse...

Caro Rui Baptista,

Concordo, uma vez mais, com o diagnóstico e gostaria de reforçar que o marxismo-leninismo (é disto que se trata e estou fartinho dos portugueses fingirem que não percebem) implementado neste sector (o da educação) conseguiu fazer o seguinte:
1. Um "professor" do 1º Ciclo do "Ensino" Básico tem exactamente o mesmo vencimento de um "professor" do "Ensino" Secundário;
2. Um "professor" de Educação Física do 2º Ciclo do "Ensino" Básico tem exactamente o mesmo vencimento de um "professor" de Biologia do 12º ano;
3. Um Educador de Infância tem ... (já sabem o resto);
4. Foi retirada toda e qualquer autoridade aos "professores" de forma a proteger a classe oprimida ("alunos") da classe opressora ("professores");
5. Os "professores" do "Ensino" Secundário e do 3º Ciclo do "Ensino" Básico foram transformados em meros burocratas a mando do aparatichik nomeado pela nomenklatura de forma a retirar aos mesmos qualquer perspectiva de poderem assumir a sua missão - ENSINAR - e de não terem tempo de reparar que há muito que deixaram de ser professores;
6. Os "alunos" foram transformados em brinquedos com os quais o lobby das "ciências" da educação pode brincar à sua vontade;
7. Os "encarregados de educação" foram transformados em seres assépticos que entregaram as suas crianças à nomenklatura para que esta as eduque como bem entende;
8. A "escola" foi transformada num centro de guarda e entretenimento de crianças e jovens e num centro de experiências "pedagógicas" pelo lobby das "ciências" da educação.

Aquilo que mais me assusta na discussão do estatuto dos professores e na avaliação dos mesmos é o facto de através desta confusão não se discutirem os VERDADEIROS problemas deste sector. Ou seja, enquanto andarmos a brincar aos estatutos e às avaliações dos professores continuaremos a brincar ao ensino.

Muito antes de se poder discutir o estatuto e a avaliação de professores é necessário discutir o que queremos da escola, dos alunos e dos professores, mas parece que este raciocínio é demasiado elaborado para o aparatchik instalado na 5 de Outubro e para os opinion makers oficiais do regime!

Anónimo disse...

Sobre a classificação dos professores confesso que nada sei. E como não estudei o assunto, calo-me por iniciativa própria.
Quanto à dos juízes, é a lei, no artigo 33º e seguintes do Estatuto, que indica os critérios e efeitos das classificações.
Por experiência própria, posso garantir que nenhum juiz tem classificação superior à de bom na primeira inspecção (terá havido um caso ou outro, como mera excepção). E posso também garantir que o bom se arrasta pelos anos seguintes, de forma insistente e, para muitos, vexatória. O bom passou a ser, na prática, o degrau inferior das classificações. Ninguém "sobe" na vida de juiz com um simples bom.
Ora, o que se diz no escrito do Autor do Leito de Procusta é que "a esmagadora maioria dos juízes é óptima. Para ser mais precisa, nas classificações, os resultados costumam ser assim. 96% obtêm ‘Bom’, ‘Bom com Distinção’ ou ‘Muito Bom’. Sobram 4% de ‘Suficientes’ e um mísero 0,1% (ou seja, apenas um juiz) com ‘Medíocre’."
Estas estatísticas dão-lhe que pensar também a Ele, Autor do Leito de Procusta, que parece contentar-se com prosas alheias.
Quem lê isto fica com a impressão de que noventa e seis por cento dos juízes são classificados de maneira absolutamente excepcional. Pelo que me toca, posso jurar que tive notação de muito bom aos sessenta e poucos anos de idade, por inspecção de Novembro de 1999. E foi porque, entre outras muitas (!!) qualidades (?!) gozava "de absoluta idoneidade cívica e ética e de que [me conduzia] na Magistratura com total independência e grande dignidade". Pudera!, durante anos não provei uma gota de vinho, não fui mais de três ou quatro vezes ao cinema, não andei em festas e cavaqueiras, não cheguei a fazer amigos, e nunca me deitei antes da meia-noite porque tinha de trabalhar… recomeçando no dia seguinte, às nove da manhã…
Não me valeu de nada, nem a velha mentira da "satisfação do dever cumprido". Eu não tinha o dever de ser burro! É que disso fica-me apenas o grito amargo do meu filho que um dia, em jeito de desabafo, se não de intensa censura, me atirou… que não tinha lembrança do pai antes dos oito anos!
Dá que pensar, e disto me tenho feito eco junto dos juízes mais novos. Eles que concluam.

Ah, pois, o Leito de Procusta. Era um bandido lendário da antiga Grécia, que submetia as suas vítimas ao tormento de lhes adaptar os corpos à medida da cama em que se estendiam. A expressão é utilizada no sentido de forçar os factos para os adaptar à teoria.

Não lhe atribuo a si essa maldade — e isso ficou bem claro. Mas o ilustre Autor do Leito foi para a cama com as cantigas das percentagens. A pergunta devia ser: quantos juízes há classificados somente de bom? Você é capaz de me dizer? Se não é, está a falar do que não sabe.

E já agora, para melhor compreensão (se é que há alguém a quem isso interesse): será porventura natural que um juiz, com os anos e anos de CEJ e de estágio, só possa "dar" o "suficiente"? (Já não falo do "medíocre", até porque para exercer se não dispensa a "revisão" do psicólogo). Estará porventura calculado quantos licenciados em Direito frequentam um psiquiatra porque depois de anos a fio de estudo intenso e dedicado se vêem excluídos por umas décimas na prova de acesso ao CEJ?

É tudo um mar de rosas, não é?


Escreveu M. Garcia, do Porto.

Rui Baptista disse...

Caro João Viegas:

Concedo que a culpa possa ter sido minha em não me expressar de maneira a não deixar dúvidas sobre a intenção que presidiu ao meu post.

E que intenção foi essa?

De forma alguma estabelecer um paralelo entre as avaliações dos professores e dos juízes. Profissões diferentes devem ser avaliadas de forma diferente.

Nada disso, portanto. .Apenas me limitei a dar conta das percentagens de juízes com boas e más informações de uma forma objectiva e documentada que não deixa dúvidas de um certo laxismo na respectiva avaliação devidamente fundamentado em casos picarescos de actuações de juízes transcritos de fonte segura, pela autora do livro em questão, Sofia Pinto Coelho, licenciada em Direito.

Sem querer, de forma alguma, falar em nome da supracitada autora, sem procuração passada e formação jurídica apenas compatível com o meu estatuto de simples amador desta apaixonante temática (ao ditado “de poeta médico e louco todos temos um pouco”, acrescentaria a de jurista), julgo ter sido essa a intenção da sua escrita.Mas só ela, e apenas ela, nos poderá dar uma resposta categórica sobre o assunto.

Como digo no meu post, no caso da avaliação docente, há anos que forcejo no pedido público de me serem facultados números dessas percentagens. Debalde! Todavia, dou de barato que se não afastariam substancialmente das percentagens obtidas no caso da magistratura judicial.

No “modus faciendi” dessas avaliações não podíamos estar mais de acordo. O processo avaliativo destas duas nobres profissões, do professor e do juiz, algo têm de comum: a sua subjectividade.Mais naquela profissão do que própriamente nesta. Mas essa dificuldade não deve dar azo, de forma alguma,de bola para cá bola para lá entre a tutela da Educação e os sindicatos como se de um jogo de pinguepong se tratasse para diversão de ambos os jogadores em períodos de lazer ou de fuga a um trabalho permanentemente procrastinado.

Seja como for e a título que for, a metodologia de avaliação de ambas as profissões deve processar-se sem a água benta do endeusamento dos demónios, que os há forçosamente, nos juízes e professores, também estes, com os seus esqueletos no armário que só são toleráveis se não colidirem com princípios éticos ou de um bom desempenho docente que retire Portugal do lugar de ser uma das carruagens da cauda do comboio do desenvolvimento económico e social de qualquer nação. Pisa têm-nos demonstrado isso mesmo!

Anónimo disse...

Caro Fartinho, nem eu diria melhor! Não há nenhum país que tenha melhorado significativamente o seu nível educacional baseado em avaliações de professores ou em criação de estatutos ( aliás alguns como a Finlândia reconheceram que a avaliação não alterava para melhor o ensino, só arranjava problemas administrativos e simplesmente deixaram de avaliar os professores com métodos ao estilo do que se tem querido impor).
Os problemas são outros, tal como disse, e enquanto não houver vontade de resolver os problemas nos programas, nos currículos, na avaliação de alunos e na indisciplina que grassa por aí, bem podem mudar de sistemas de avaliação 50 vezes (mais burocráticos ou menos burocráticos ) ou de criar 20 estatutos mais ou menos simpáticos, que não vamos lá!

António Silva

Rui Baptista disse...

Caro Fartinho da Silva:

Começo por evocar a opinião de Mário Soares ( e disto ele sabe por experiência própria dos tempos do Prec) sobre a actuação, ainda hoje, dos sindicatos, ao escrever: “Voltaram à instrumentalização dos sindicatos como ‘correia de transmissão’ do PCP” (“DN”, 25/01/2008). Desta forma simples se explica a ingenuidade ou militância dos professores quando, por sua vez, se fazem “correia de transmissão” da Fenprof.

Fala-me, o Fartinho da Silva, do mesmo vencimento de um professor do 2.º ciclo do básico e do ensino secundário. Por vezes, existem professores do 2,º ciclo com a preparação académica de uma licenciatura universitária. O mal reside em preparações académicas diferentes que se misturam em insólita promiscuidade num mesmo ciclo de ensino e em que um diplomado pelas escolas superiores de educação, em concursos para a docência , se superioriza a um outro de formação académica universitária, apenas, por um valor a mais da respectiva carta de curso.

Como sabe, inicialmente as escolas superiores de educação foram criadas em substituição das antigas escolas do magistério primário, com soberbas provas dadas na formação dos jovens escolares a seu cargo, mas que, pela escuridão da noite e de baionetas caladas, se apropriaram dum terreno que pertencia por direito, uso e tradição aos licenciados universitários.

E como se isso não bastasse, fui testemunha e contraditor, numa reunião na 5 de Outubro, na minha então qualidade de presidente da assembleia geral do SNPL, da intenção da secretária de Estado Ana Benavente em tornar extensiva a docência do 3.º ciclo do básico aos diplomados das escolas superiores de educação de cujo quadro docente fazia parte antes da sua nomeação para a governação.
Mas seja-lhe feita justiça. Como diz a sabedoria popular, “quem parte e reparte e não fica com a melhor parte ou é tolo ou não sabe da arte”. Da arte sabia ela. E que bem ela sabia!

Acredita mesmo, meu caro Fartinho da Silva, que, sem pôr em dúvida a idoneidade da actual ministra da Educação, algo vai mudar de substancial na reforma dos verdadeiros atentados feitos a uma Educação de qualidade em que “As Novas Oportunidades”, como foi dito pelo orador da sessão de debate e reflexão sobre o sistema educativo, promovida recentemente pelo PSD, nas instalações da Assembleia da República, e para a qual fui convidado, poderá pôr cobro a à situação uma dessas “diplomada”com equivalência ao 9º. ano de escolaridade lhe dizer: “Quando entrei nas “Novas Oportunidades” (ou “Novos Oportunismos”?) não sabia ler nem escrever. Hoje continuo sem saber ler nem escrever”. Ora, pior do que um país de analfabetos só um país de analfabetos diplomados. Seja a qualquer nível de ensino, da escola primária (para as pessoas saberem daquilo que falo) ao dito ensino “universitário” em cursos de fim-de-semana!

E para este estado de coisas todos tivemos uma quota parte de responsabilidade. Uns porque nada fizeram. Outros porque pouco fizeram. E terceiros por terem feito menos do muito que deviam ter feito para que a Educação se não atolasse no pântano profundo da sua declarada ignorância. Inverter a marcha deste “statu quo” é difícil, mas nada há que a boa vontade dos homens de boa vontade não consiga.

O primeiro passo está dado pela discussão pública destes assuntos. Outros passos terão que ser dados, iniciemos essa difícil caminhada. Como disse Obama: “we can”. E querer é poder.

Anónimo disse...

Professor Rui Baptista

Não cheguei a perceber se o ilustre professor (eu também em jovem fui professor, ganhava à peça, digo, "à aula", num estabelecimento do estado ou, se preferir, do Estado) leu com um pouco de atenção e interesse o meu desabafo. "Esclarece" agora, embora o não faça em diálogo comigo… (M. Garcia, mas se quiser chame-me Silva, desde que não traga cavaco atrelado) que apenas se limitara a dar conta das percentagens de juízes com boas e más informações (percentagens de quando? de que anos? fornecidas oficialmente por quem?). E no entanto, em momento anterior, havia aceitado como óptima a simples e banalíssima classificação de bom.
Então um bom é um óptimo?
Desculpe lá, mas assim não vale. Detesto argumentos de "autoridade", como os que você invoca, e estou no meu direito. Você é professor e escritor, tem, como diria o outro, "responsabilidades", já nem digo "deveres", porque desses disse eu o que pensava. Por mim, já desde os tempos de professor pagado à peça, habituei-me a usar a minha cabeça… Vou continuar a ler o De Rerum Natura, mas ponho fim ao "diálogo"… eu não saberia responder… Ainda assim, muito obrigado por me ter concedido um poucaxinho (reminiscências galegas continuadas com o meu nascer beirão) do seu tempo. M. Garcia.

joão viegas disse...

Caro Rui Baptista,

Pelo contrario, estava la bem explicado. Eu é que li depressa demais. As minhas desculpas.

O seu paralelo esta correcto. Digo mais, existe também noutro aspecto, confrangedor : os principais interessados (incluindo os sindicatos, se não estou em erro) admitirem que os resultados alcançados são globalmente maus.

A questão, definitivamente, é : "como fazer para mudar isto, de preferência rapidamente".

Rui Baptista disse...

Senhor Doutor Juís M. Garcia:

A coisa que eu menos desejaria era que pudesse pensar, ou, em si pairar a mera sombra de dúvida que fosse, de que eu não queria " entrar em diálogo" consigo, citado "verbo pro verbo" do seu comentário escrito com elevada cortesia que faria recair sobre mim a suspeita de uma má educação que não está na minha maneira de ser e por exemplos colhidos na educação familiar que me foi dada.

Na verdade, não me limitarei em conceder-lhe um "poucaxinho" (em linguagem beirã) do meu tempo. Bem pelo contrário, como poderá constatar. Pelo tempo dedicado à família que não me permite ser um "speed gonzales" da escrita (característica de Camilo que, ao que se diz, escreveu um livro num só dia para prover ao seu sustento sempre na corda bamba de uma economia acanhada de cabedais).

Apesar disso, estou a ultimar um post, intitulado "Ainda a avaliação dos professores versus avaliação dos juízes" em que dedicarei toda a minha atenção às questões por si levantadas (mas não tanto exaustivas como desejaria) para que não sejam consideradas coisas que não escrevi e de que não desejo, "ipso facto", assumir a paternidade.

Com a elevada consideração que me merecem a sua condição de juiz e de cidadão,
Rui Baptista

Anónimo disse...

Senhor Professor Rui Baptista

Bem haja pela sua generosidade e gentileza. Venha o seu post. É neste De Rerum Natura que eu encontro o que de melhor se dá a ler neste País. Por isso me atrevi a reagir… alguma coisa não me soava bem…

M. Garcia (simplesmente… p. f.)

Rui Baptista disse...

Senhor Doutor Juiz M. Garcia:

Só depois de publicado o meu post "Ainda a avaliação dos juízes e dos professores", tomei conhecimento do vosso pedido em ser tratado por M.Garcia, simplesmente.

Mas mesmo que o tivesse lido anteriormente, usaria o tratamento que lhe dou no meu post e a que me habituei em tempos que vêm de longe. Aceite, portanto, o meu tratamento por, como diz o povo, na sua sabedoria ancestral, "burro velho não aprender línguas".

Por este motivo, e pela confusão que me causa em os magistrados poderem não ser tratados com o devido respeito, socorri-me do arrimo de Padre António Vieira, já por mim citado no post acabado de publicar. E agora, outrossim, no aviso de Fialho de Almeida: “Não se exijam ao povo metamorfoses de hábitos que a tradição lhe inveterou secularmente”.

Rui Baptista disse...

Caro João Viegas:

Acaba de pôr o dedo na ferida e onde ela mais aberta de bordos está. Na verdade deixar tudo como está é pouco asséptico e até pode conduzir à respectiva gangrena.

Refiro-me como, certamente, já se terá apercebido, ao final do seu comentário: "A questão definitiva é como saber como mudar tudo isto, de preferência, rapidamente".

Assim é na verdade. Não é com reformas para deixar ficar tudo na mesma, ou mesmo pior, que se trata a palidez e a anemia de que sofre o nosso sistema educativo em que os seus responsáveis se contentam em pôr um pouco de carmim para disfarçar a situação que não resiste a um olhar mais atento.Ou seja, os seus responsáveis limitam-se a serrar serradura", expressão menos usada mas mais efectiva que o popular "chover no molhado".

Claro que tenho algumas propostas para discussão, mas uma discussão que não interessa aos sindicatos defensores de quanto melhor pior e aos seus princípios meramente mercenários como se o horizonte bem mais vasto de uma profissão havida como das mais nobres estivesse à mão de semear sem necessidade de ser abordada, sequer. Quanto mais resolvida.

Mas eu com a minha proverbial teimosia não desisti em a colocar a mim próprio, submetendo-o à apreciação dos interessados como os autores de comentários que aqui são feitos em clima de civismo apreciável e muito louvável.

Cumprimentos cordiais

Nan disse...

"A questão definitiva é como saber como mudar tudo isto, de preferência, rapidamente".
Tenho algumas ideias a este respeito, embora toda a gente costume dizer-me, quando as exponho, que estou ultrapassada.
1- Acabar de vez com a ideia de que aprender é divertido e de que a escola é um local de agradável convívio e reconhecer, de uma vez por todas, que estudar e aprender exigem esforço, concentração, dedicação, trabalho e podem não ser tarefas fáceis nem divertidas.
2- Habituar os jovens a pensar. Este é capaz de ser um trabalho de Hércules, porque as nossas crianças crescem em frente da talavisão e eu desafio seja quem for a pensar enquanto vê televisão. Obtém-se um bom resultado restringindo as horas de televisão até que as crianças aprendam a ler e o façam com desembaraço e gosto. Mas dá trabalho...
3- Racionalizar - tornar razoáveis - os programas escolares. Se a escola tiver que ensinar, desde o 1º ano, maneiras à mesa, educação alimentar, educação sexual, educação ambiental, educação financeira, educação para o consumo, educação para a saúde e não-se-sabe-mais-o-quê, com espaços dedicados no horário, fica muito pouco tempo para ler, escrever e fazer contas.
4- Reconhecer que, por muita tecnologia que se introduza no ensino, os únicos passos que comprovadamente resultam para aprender são ouvir, ler e escrever e o resto são flores.
5- Investir na formação científica inicial dos professores. As tretas pedagógicas não substituem uma sólida formção científica.
6- Reconhecer que a escola é um sistema em que há adultos e crianças e que os adultos, porque são adultos, em princípio detêm o poder e também a responsabiblidade. E ir transferindo uma parte desse poder e dessa responsabilidade, aos poucos, para cada aluno de forma que, ao deixar a escola, ele esteja capaz de olhar por si mesmo e pelos filhos que vier a ter.

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