domingo, 15 de novembro de 2009

A SENHORA SARAMAGO RESPONDE AOS CRÍTICOS


Pilar del Río, a esposa, assistente e tradutora do escritor José Saramago, responde assim aos críticos de "Caim" numa entrevista a Anabela Mota Ribeiro e Clara Azevedo publicada na "Pública" de hoje:
"P- Como é que tem assistido à polémica que envolve Caim?

R- Estes colunistas de merda, tão jovens, submissos, obsoletos, em vez de pensarem: "Um tipo com 86 anos que enfrenta Deus, que enfrenta a sociedade... Que sorte ter um homem com esta capacidade de rebeldia!", perguntam: "Quem é? Quem escreve? Não gosto!" Estou indignada de ver o pouco livre que são os jovens, o quão convencionais são, o quão cansados estão. Estão assustados porque José tocou num livro sagrado. Mas quem disse que o livro é sagrado? Que mentes tão pequenas julgam a obra pública. Não conseguem ver a grandeza nem de uma ponte nem de um ser humano. Têm uns óculos que lhes deve dar para verem o tamanho do seu pénis... pequenino".

18 comentários:

Luís Bonifácio disse...

É uma verdadeira Espanhola Queirosiana.

alfredo dinis disse...

Não bastava já o confrangedor espectáculo de Saramago e os seus defensores ideológicos a proferirem afirmações inacreditáveis em matéria de hermenêutica bíblica, entra agora em cena Anabela Mota para continuar o triste espectáculo.

Valha-nos/lhes Deus...

Alfredo Dinis

Rui Baptista disse...

Com ironia quanto baste, é tão lindo e comovedor ver o amor serôdio do beija-mão de Saramago, e retribuido por declaração de amor público pouco convencional de linguagem, por uma mulher que tinha idade para ser sua filha.

"Deus os fez, Deus os juntou" para não se estragarem duas casas!

Anónimo disse...

As palavras da senhora falam por ela. E, se calhar, por ele.

rt disse...

Estão bem uns para os outros.

José Batista da Ascenção disse...

Hoje, já peguei na entrevista mais do que uma vez, e não acabei de lê-la. Não foi por falta de tempo, foi por sentir uma certa incomodidade, perante o que me parecem ser as questões mal resolvidas de uma senhora que há muito devia ter atingido um certo estádio de serenidade, que julgo mais ou menos obrigatório a partir de certa idade...

Manuel de Castro Nunes disse...

Por respeito para com o escritor, não posso deixar de passar por cima dos detalhes rocambolescos da resposta de Pilar del Rio. Seria, de resto, deslocar a atenção do essencial, aproveitando o âmbito e o alcance de um infeliz episódio jornalístico.
Porque a questão que se embosca na resposta de Pilar del Rio é, nem mais, nem menos, a da sacralidade.
Porque se Saramago ousou enfrentar Deus, tenham Vossas Mercês o cuidado de não enfrentar Saramago. Salomão não foi premiado com o Nobel.
A Bíblia não é um livro sagrado, senão para quem o sacraliza. É um livro e pronto.
Caim, todavia, também não é um livro sagrado.
E Saramago não foi o primeiro, nem o derradeiro a enfrentar Deus. Talvez até já venha tarde.
E se vamos entrar em meças, vamos medir livros. Os livros não se medem a palmo.

Rolando Almeida disse...

Há algumas questões levantadas que são interessantes.
1º será mesmo a Bíblia um livro sagrado? Por que razão é, então, sagrado? As respostas tradicionais a esta questão parecem-me discutíveis.
2º existe ou não direito das pessoas à heresia?
3º será que alguém pode ter a liberdade de se sentir ofendido por existirem pessoas que alegam que deus existe e que é bondoso?

brecke disse...

se deus realmente existe, porque é que faz alguns de nós ateus? BIG MISTAKE.

Infelizmente ele tb já não faz mtos homens assim, que vêem mais que os outros. deve andar distraído.

Roberto disse...

O livro, a escrita, a opinião, o Nobel e a existência de Saramago, são tão importantes porque de facto ele importa. Num país com tantas falhas na educação/formação da população é agradável assistir, mais uma vez, à discussão de um livro que a maioria só vê nos noticiários. É tão raro termos uma opinião formada e convicta sobre qualquer assunto que só devemos admirar quando alguém assume as suas convicções com tal certeza, nem que sejam contrárias às nossas.

Anónimo disse...

Comentários finíssimos e inteligentíssimos. Esta senhora é notável, de um recorte, um brilho, uma verve... O insulto "pénis-pequenino": originalíssimo.
(Até fiquei com pena do Saramago, ter que aturar uma Lola deste calibre...)

alfredo dinis disse...

Não creio que sejam as convicções de Saramago que constituam o problema. Continuar a afirmar que tudo se resume a não aceitar essas convicções parece-me equivaler a passar ao lado do problema que despoletou a polémica. Desde sempre houve pessoas que acreditaram em deuses e outras que não acreditaram. Desde o início do cristianismo houve quem aceitasse Cristo como Deus e quem não o aceitasse. Isso continua a acontecer hoje, e não me parece que seja motivo de polémica, seja qual for a pessoa que afirme a sua descrença. O mesmo no que se refere à natureza sagrada ou não sagrada da Bíblia. Saramago pode ter a este respeito as opiniões que quiser. Ninguém lhe nega esse direito. O erro de Saramago não se situa aqui mas sim ao nível da hermenêutica em geral, não apenas ao nível da hermenêutica bíblica. É esta a razão pela qual as maiores críticas às declarações de Saramago na apresentação do livro Caim não vieram dos crentes, católicos ou outros, nem dos bispos, católicos ou outros, vieram de pessoas que não têm nenhum interesse em defender Deus, a Bíblia ou a Igreja Católica. Quem não quer aceitar este facto e prefere continuar a lamentar que Saramago e o seu livro sejam apenas vítimas da intolerância religiosa, não entendeu, ou não quer entender, qual é o motivo da polémica.

Alfredo Dinis

Rui Baptista disse...

Em minha opinião (e como é sabido, as opiniões valem o que valem), a questão não está tanto nos pontos de vista da Senhora Dona Pilar mas na forma deselegante, e pouco senhoril, como as expressa em crítica azeda a quem ousa discordar do livro de Saramago que ela deseja havida como livro sagrado pelo Prémio Nobel atribuído ao seu consagrado autor. Haja coerência!

Rui Baptista disse...

Na penúltima linha do meu último comentário: havido (o livro) e não havida, obviamente.

Anónimo disse...

"e como é sabido, as opiniões valem o que valem"

O que quer isto dizer? Nunca percebi.

Gerson Machado de Avillez disse...

A senhorita começou legal, mas acho que misturou as sintonias pois o QI fica na parte de cima, e o tamanho do pênis independe para se definir o que é ou não sagrado. Não obstante, espero que respeite minha opinião e acho a Bíblia sagrada sim, pois o meu é grande! rs

Rui Baptista disse...

Anónimo (16 Nov., 21:11):

A Senhora Dona Pilar de Lanzarote conseguiu dar nas vistas e ser falada sem ser pelos melhores motivos, embora como mera aprendiza do senhor seu marido. Esta uma opinião pessoal que, como é sabido, vale o que vale. Vale tanto com a minha, a sua ou a do merceeiro da esquina.

Mas sinceramente não acredito que não saiba o que é uma opinião pessoal, correndo eu o perigo de estar a ensinar o padre nosso a um vigário. “In dúbio”, vou tentar dar-lhe um exemplo: se eu disser que não gosto do vermellho por questões políticas ou por ser do Sporting e não do Benfica, estou a emitir uma opinião pessoal - a minha.

Mas suponhamos que eu digo não gostar do vermelho por ser uma cor pouco propícia ao repouso, deixei de estar a emitir a minha opinião para emitir a opinião de outros: os homens da ciência que realizaram estudos sobre o assunto.

Mas debrucemo-nos sobre o pequeno naco de prosa da sua (da Senhora Dona Pilar) entrevista à Revista “Pública”. Sem duvida que essa entrevista não teria o impacto que teve não se desse o caso da associação da grandeza do ser “humano ao tamanho do seu pénis…pequenino”.

E mais não adianto por se tratar de uma opinião da Senhora Dona Pilar (e como tal vale o que vale) de natureza psicológica ou mesmo do âmbito da psiquiatria mas que posta desta maneira (uma simples metáfora?) pode fazer-nos resvalar para raciocínios glossados de uma maneira que me faria perder a razão da crítica feita à maneira reducionista e grosseira de tudo consubstanciar a uma relação fálica, a uma ponte e à grandeza do ser humano.

Nem eu, nem a Senhora Dona Pilar, segundo julgo, penitenciando-me, desde já por um hipotético erro involuntário, somos psiquiatras ou psicólogos. Mas talvez esta temática dê assunto para uma tese de doutoramento de alguém com conhecimentos de ciências humanas e de engenharia civil com a especialidade de construção de pontes. Quem sabe?

Haddammann Verão disse...

Posto aqui uma instrução aos imunes-à-crença, para que tenham pelo menos noção de se defender não só dos crentes/católicos, etc, desembestados a mando de mandantes espúrios, mas também dos maçons, e de todos os séquitos de canalhas que impetram escravidão à Sociedade Civil.
Pra começar dispense ser chamado de ateu. Ateu é um termo pejorativo, um rótulo desnecessário, que incita (o ambiente psicológico dos crentes) à discriminação aos sem-crença(s). A questão é intrincada, pois remete em importância à aceitação passiva do uso do têrmo deus escrito com D maiúsculo. O adulto e o infante podem confrontar imposições nesses feitios desmontando categoricamente os anuviados/poluídos em crenças. Mas não basta uma simples instrução; é preciso saber proceder e ter disposição para defender o procedimento. Numa escola, se o filho de um imune-à-crença escrever “deus” assim com d minúsculo -- (ainda mais agora com o(s) Estado(s) envergonhando acintosamente a laicidade com o intromentimento dos agentes teológicos nas escolas, nocivos à desenvoltura psicológica dos estudantes) – como e quem e o quê o defenderia a ele, aos pais e os amigos dele? Mas tem solução: Praticamente todos os infantes hoje têm celular (dispense-se esse negócio de câmera, isso só serve pra vigiar os “ferrados” pelo Regime Nazi-Pulhítico-Divino), então que ligue para um amigo, para os pais, e diga: “Hoje, na escola, vi-me na situação de dispensar o D maiúsculo no termo “deus” ao escrever uma redação”; ou mande um e-mail, por exemplo para haddammann@bol.com.br. Pronto. O que se tem a fazer? Dispõe-se personas categorizadas para acompanhar o suceder das covardias hediondas que vão espreitar e prejudicar o infante. O que acontecerá no ambiente desse infante? Com seus dias, suas notas, com as balinhas que compra na vendedora ‘boazinha’ que vende pipoca na porta da escola, com o emprego do seu pai, com os amigos que ficam perto e vão sendo quebrados, estropiados um a um (para causar, no infante e nos que pensarem em apoiarem-no, a impressão que carrega ‘maldição’, ‘azar’), com o serviço de limpeza defronte de sua casa, com a conta de sua mãe no banco, com o ir-e-vir no trajeto da escola, nos canais públicos “legais” em que lá se espera com avidez para sacralizar a desgraça, etc. Muito bem. Quando esses agentes pútridos encararem a conta do que fazem, e virem a fibra visceral da espécie Homo Sapiens sapiens faber psi vibrando pelo vigor de sua sobrevivência, aí ... definiremos o Desenlace.

UM CRIME OITOCENTISTA

Artigo meu num recente JL: Um dos crimes mais famosos do século XIX português foi o envenenamento de três crianças, com origem na ingestão ...