quinta-feira, 19 de novembro de 2009

A morte de uma criança

Com a devida vénia, transcrevemos um trecho da bela crónica do médico João Lobo Antunes, com o título de cima, que saiu no jornal "Outlook" de sábado passado:

"Criou-se, assim, naturalmente, a convicção de que a morte de uma criança é algo de insólito, que só pode acontecer por desatenção, incúria ou crime. E a reacção imediata é a de procurar um culpado. A indignação atinge o seu ponto mais alto, quando se suspeita - a grande maioria das vezes sem razão -, que os culpados são os médicos ou, numa acusação mais vaga, os hospitais. Alguém comentava uma vez, que não podendo processar Deus voltam-se para aqueles de quem, aqui na terra, se esperam os milagres. O terrível equívoco da culpa necessária é aliás extensível a outras situações, indiferentemente da idade das vítimas, pela convicção comum que o progresso da ciência tornou a morte quase uma mera opção. Espera-se até eliminar a chamada "morte natural", aquela que tranquilamente leva consigo aqueles que morrem, simplesmente de terem vivido. Montaigne, no seu mais famoso ensaio, "Que Philosopher, c'est apprendre à mourir", contava que os romanos, em lugar de dizerem ele morreu, diziam ele viveu, e assim esconjuravam a morte."

3 comentários:

NCD disse...

Com a devida vénia, um sujeito que fala seriamente do que sabe e não se põe com piadolas que desqualificam os outros a um pensamento mitológico: http://tsf.sapo.pt/PaginaInicial/Portugal/Interior.aspx?content_id=1424796

Anónimo disse...

O facto é que a morte de uma criança,ou qualquer morte prematura,é um facto insólito!
As causas serão sempre a doença ou acidente, e em qualquer das situações,interveem agentes de cujos actos decorre responsabilidade.
Compreendo o que preocupa Lobo Antunes,mas se a responsabilização cega e generalista é um erro,
convem apurar com objectividade as consequências que decorrem do acto médico e hospitalar,especialmente num país que só muito recentemente acordou para esta situação.
Conhecer-se a fronteira entre a responsabilidade individual e institucional dos agentes da saúde e o inevitável,contribui certamente para sossegar Lobo Antunes.

Cláudia da Silva Tomazi disse...

E a romanização ?!

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