terça-feira, 12 de maio de 2009
O BALÃO AOS HABITANTES DA LUA
O poema de Manuel Maria Barbosa do Bocage sobre as proezas do intrépido Capitão Lunardi está longe de ser o único, em língua portuguesa, dedicado às subidas aéreas. Em 14 de Março de 1819, os Robertson, pai e filho, fazem em Lisboa nova e espectacular demonstração. Foi o que bastou para que o poeta leiriense José Daniel Rodrigues da Costa (1757-1832, na gravura) escrevesse "O Balão aos Habitantes da Lua. Poema herói-cómico em um só canto", que se encontra transcrito numa edição de 2006 da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (introdução de Maria Luísa Malato Borralho e ilustrações de Délia Silva). Deixo um excerto, acrescentando que o resto pode ser lido aqui.
1.
Eu canto o Herói que voa sem ter asas,
Nas altas regiões de frio e fogo,
Que no corpo da Lua encontrou casas
Que não eram de pasto nem de jogo;
Que viu montes de gelo, outros de brasas,
Que indo buscar nas nuvens desafogo,
As dúvidas tirou à gente perra,
Que teima em que na Lua não há terra.
2.
Entre os Deuses da cega Antiguidade,
Escolherei um Deus não cousa pouca,
Um Deus de conhecida habilidade,
Daqueles que não têm cabeça oca,
A quem invoque e peça a caridade
De pôr conceitos mil na minha boca;
Não quero o Deus que tem cortado os mares,
Quero um que tenha andado pêlos ares.
3.
A ti, Mercúrio, invoco desta vez!
Porque és um Deus que tens pés e cabeça,
Com asas da cabeça até aos pés,
É bem que só a ti socorro peça;
Bem haja quem te armou e quem te fez,
Para seres o auxílio desta Peça!
Empenha quanto tens, Jovem sisudo,
Galero, caduceu, talares, tudo.
4.
E a vós, estouvadíssimos Lunáticos,
Homens que andais, com a Lua, assim caquécticos,
Pois que nas minhas obras estais práticos,
Vos dedico estes voos meus poéticos!
Quem pudera ter todos os Sais Áticos,
Para obrigar a rir os mais frenéticos;
Se estes versos achardes maus e horríficos,
Comprai, lede, rasgai, ficai pacíficos.
5.
Num bote, que de verga foi tecido,
Preso a um globo de gás inchado e cheio,
Sobe aos ares Robertson destemido,
Até que rompeu as nuvens pelo meio:
Girou no imenso espaço prevenido,
Sem conservar da queda algum receio;
Entrou na Lua (não é caso novo),
Mas pasmou vendo terra e tanto povo.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
O corpo e a mente
Por A. Galopim de Carvalho Eu não quero acreditar que sou velho, mas o espelho, todas as manhãs, diz-me que sim. Quando dou uma aula, ai...
-
Perguntaram-me da revista Visão Júnior: "Porque é que o lume é azul? Gostava mesmo de saber porque, quando a minha mãe está a cozinh...
-
Usa-se muitas vezes a expressão «argumento de autoridade» como sinónimo de «mau argumento de autoridade». Todavia, nem todos os argumentos d...
-
Cap. 43 do livro "Bibliotecas. Uma maratona de pessoas e livros", de Abílio Guimarães, publicado pela Entrefolhos , que vou apr...
Sem comentários:
Enviar um comentário