Duelo a garrotazos ou La riña, uma das Pinturas Negras que decoravam as paredes da casa de Goya, a Quinta del Sordo, actualmente no Museu do Prado em Madrid.
Santos Juliá, professor catedrático de História Contemporânea, ganhou o Prémio Nacional de História de 2005 com o seu livro sobre a guerra civil espanhola «Historias de las dos Españas» (Edições Taurus). O historiador foi agredido por militantes da «outra Espanha» na apresentação do livro, corroborando de certa forma o que escrevera: «O que aconteceu foi tão terrível, tão pleno de crueldade e, ao mesmo tempo, de heroísmo, que o modelo do historiador que tenta compreender as coisas, porém não emite um juízo moral, foi posto em causa pelos cultores da memória, que agora são os netos da guerra.»
Hoje defrontam-se novamente, desta vez nas urnas, os cultores da memória de uma velha Espanha teocrata e os que pretendem manter uma Espanha moderna virada para o futuro. Enquanto esperamos os resultados eleitorais, vale a pena ler na íntegra o artigo «The Battle of the 'Theocons'» no maior e mais influente semanário europeu, o Der Spiegel.
Um pequeno excerto:
«Os espanhóis irão às urnas para eleger um novo parlamento - e os católicos estão a lutar para levar os conservadores de volta ao governo. As reformas de Zapatero têm sido um espinho para a igreja. O arcebispo de Madrid lidera uma luta contra o aborto, o casamento homossexual e outras políticas.
Um homem baixo, de hábito preto e um pequeno solidéu vermelho vivo é actualmente o rival mais temido do primeiro-ministro espanhol, José Luis Rodriguez Zapatero. Ele é o arcebispo de Madrid e quer mais do que o domínio sobre as almas dos cada vez menos numerosos católicos fiéis nas igrejas da capital espanhola. O cardeal Antonio Maria Rouco Varela, 71, está determinado a forçar a política espanhola a subjugar-se de novo à igreja.
Na terça-feira (04/3), Rouco foi eleito tranquilamente presidente da Conferência de Bispos espanhóis, cargo que já deteve duas vezes, entre 1999 e 2005. Zapatero enviou-lhe um telegrama de congratulações apressado, no qual expressou a sua esperança de 'diálogo e cooperação' entre a igreja e governo. Mas, se o líder religioso mais influente da Espanha conseguir o que quer, não haverá nada disso. Em vez disso, Zapatero e os socialistas perderão as eleições parlamentares no domingo e os conservadores e Rouco voltarão ao poder.
O discurso de Rouco para 50 bispos, dois cardeais, líderes das organizações católicas e milhares de parentes e crianças que se reuniram há poucas semanas para uma 'celebração da família' na Plaza de Colon, no coração de Madrid, pareceu uma declaração de guerra. Ele disse que preocupa a igreja o facto das leis espanholas 'se subordinarem à declaração de direitos humanos da ONU'. Em conclusão, o cardeal exigiu nada menos do que uma 'civilização legal' completamente nova [completamente subjugada à igreja, certamente].
Um apelo à rebelião contra as forças de modernização
O que os católicos reunidos em Madrid ouviram de Rouco não foi nada menos do que um apelo à rebelião contra a liderança secular. O padre rígido da região da Galiza, no norte da Espanha, está a atacar os defensores do governo, e não apenas com palavras.
Desde que os socialistas chegaram ao poder na Espanha, o cardeal confrontador tem liderado energicamente exércitos de clérigos vestidos de preto pelas ruas. Padres e freiras reavivaram a tradição de séculos do clero espanhol de procissões atrás de crucifixos e estátuas de santos, mas com um toque moderno: hoje, caminham atrás de cartazes e veículos com altifalantes.»
domingo, 9 de março de 2008
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7 comentários:
YES! A espanha do futuro ganhou contra toda a campanha nojenta da igreja!
Zapatero ganha largamente aos teocratas do PP as previsões apontam entre 172-176 lugares. Com 175 lugares o PSOE tem maioria absoluta.
Vou ficar a cruzar os dedos pela derrota total dos sotainas.
Zapatero com maioria absoluta é um sonho :) Porque é que não temos políticos como ele aqui pelo cantinho??
Mais um episodio da luta pelo poder da muy santa madre igreja na sua cruzada contra a modernidade, ah que belos tempos esses da idade média e do antigo regime em que a igreja era senhora de tudo, suspiram os senhores priores quando imaginam o regresso desses "aureos" tempos..
Contra a modernidade marchar, marchar..
O que é preciso em espanha é que o governo tenha a coragem suficiente de meter na cadeia todos esses fascistas e meter a igreja no seu lugar.
Ainda bem que o psoe ganhou as eleições e parece haver ainda duvidas sobre a percentagem se tem maioria absoluta ou não, espero que sim, espanha moderna e progressista é boa vizinhança para portugal.
Por cá a camarilha da politica ou tá feita com os fascistas e com a igreja ou não tem coragem para os meter no sitio, o costume..
Avaliar um governante apenas por tudo aquilo que ele fez contra os interesses da igreja católica, é uma actitude perfeitamente fanática. A lembrar os "melhores" tempos das perseguições religiosas.
Este tema é um dos que tenho seguido com alguma atenção, porque sempre me preocupa quando a religião se envolve em política, já sabemos que isso sempre dá maus resultados. Por isso li a mesma notícia nos jornais espanhóis e tenho de fazer uma correcção importante. O que o Sr. Rouco disse foi que a lei espanhola não cumpre a Declaração dos Direitos Humanos (DDH), porque esta tem precisamente um artigo em defesa da família e a Igreja Católica pensa que os casamentos homosexuais e a legalizão do aborto são um holocausto para a família (se a memória não me falha holocausto foi exactamente a palavra usada por Rouco).
A situação é grave, mas Rouco não está tão louco que esteja abertamente contra a DDH, faz é uma interpretação desta com que muita gente não concorda.
Com vitória do PSOE, esperemos que lhe passe a Rouquidão...
Se o blog quer tratar de política faça-o abertamente. Aqui começa um post com a apresentação de um livro para depois dar uma guinada e discutir as eleições espanholas e bater na igreja.
Só os labels é que são honestos... Sinceramente, parecem aqueles padres que não sabem ter uma conversa normal sem começarem a evangelizar à força!
Será que os extremos se tocam?
Ó ricardo, deixe-se de beatices.
A vitória de Zapatero doi uma vitória da democracia contra o fundamentalismo catolcaico. Tão perigoso como o islãmico
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