Porque sempre me interessei por temas de prospectiva, comprei no aeroporto de Newark, para ler na viagem de regresso, o livro "What's next: the experts guide. Predictions from 50 of America's Most Compelling People", de Jane Buckingham com Tiffany Ward, Harper and Collins, 2008.
O livro é muito desigual, mas impressionou-me sobretudo o texto de Harry Frankfurt, professor na Universidade de Princeton, sobre o papel e o futuro da filosofia (ele tem em português um livrinho sobre a "treta", tradução do original "bullshit": "Da Treta", Livros da Areia, 2006). Começa assim o seu ensaio intitulado "Sobre a filosofia":
"O papel dos filósofos consiste em procurar a clareza e a verdade. Não creio que os filósofos devam procurar um papel social ou político ou pensar neles próprios como intelectuais públicos ou sequer que tenham a responsabilidade de o ser. A sua responsabilidade principal é em relação à clareza e à verdade e à comprensão. Julgo que é muito importante ter isso sempre em mente, pois, de outro modo, todo o seu trabalho fica corrompido e infundido de objectivos e ideias que são contrárias ao seu objectivo natural.
Não penso que a filosofia alguma vez tenha tido uma grande audiência, pelo menos uma audiência que estivesse verdadeiramente comprometida a segui-la de uma maneira rigorosa. Os filósofos sempre tiveram um trabalho solitário, sem muito apoio ou participação do público. Não penso que os filósofos devam pensar que são responsáveis por promover ou fazer avançar o progresso social ou ideias morais. Isso tende a levar a conversa de "treta" em vez da aderência estrita aos requisitos da clareza, dos argumentos rigorosos, etc.
Muita gente tem a ambição de ajudar a tornar o mundo melhor (há mesmo muita gente devotada a isso), mas há muito poucos, como os filósofos, que têm um compromisso específico para com esses ideais mais austeros. É essencial que esse compromisso seja respeitado e mantido, em vez de ser abandonado ou diluído noutros compromissos em relação a outras ideias ainda que estas sejam também válidas e importantes, mas às quais outras pessoas se podem dedicar.
Há aqui uma separação bem adequada entre vários tipos de empreendimentos e uma das coisas que julgo tem sido infeliz nos mais recentes desenvolvimentos no mundo académico é que muitas universidades parecem pensar que têm a missão de melhorar a sociedade e melhorar o carácter moral dos seus estudantes - que têm de os ensinar a ser tolerantes e têm de lhes ensinar o valor da diversidade, e outras coisas boas. Estas são, de facto, coisas boas, mas a universidade tem uma missão diferente. Há muitas instituições na sociedade que têm por finalidade a melhoria das condições sociais. Mas não há nenhuma outra instituição além das instituições educativas, em particular as universidades, que tenham a missão de promover o respeito e a preocupação com a verdade e com a clareza e com a compreensão. Os filósofos deviam ater-se a isso."
Não comento (não sou filósofo como o Desidério!), mas os comentários são bemvindos...
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sociedade Civil
Sociedade Civil : Físicos - A Física pode ser divertida... é uma ciência focada no estudo de fenómenos naturais, com base em teorias, atravé...
-
Perguntaram-me da revista Visão Júnior: "Porque é que o lume é azul? Gostava mesmo de saber porque, quando a minha mãe está a cozinh...
-
Usa-se muitas vezes a expressão «argumento de autoridade» como sinónimo de «mau argumento de autoridade». Todavia, nem todos os argumentos d...
-
Cap. 43 do livro "Bibliotecas. Uma maratona de pessoas e livros", de Abílio Guimarães, publicado pela Entrefolhos , que vou apr...
26 comentários:
Eu vejo a questão de outra maneira:
Por um lado os filosofos têm estado demasiado ausentes do que se passa na sociedade, parece que até hà bem pouco tempo não eram unidos até haver um boato dos tempos do psd de querer eliminar definitivamente a filosofia do sistema de ensino.
Concordo que os filosofos não devem influenciar a sociedade para lhe dar um rumo nem criar lobbys como a padralhada vem fazendo desde tempos imemoriais.
Mas tambem não concordo que se devem fechar nas suas torres de marfim, porque se a filosofia se fecha na torre de marfim ganha bolo, degenera e torna-se uma especie de escolástica.
A filosofia a par da história e da sociologia é uma das mais importantes ciencias que a socidade pode possuir e usufruir, no entanto a filosofia para alem de estar actual e dever filosofar mais sobre esta época actual e menos sobre o classico e medievalidade, deve fazer parte dos curricula dos estudantes pré- universitários mas de forma não a dirigir consciencias ou massas mas apenasa ensinar a pensar que é esse o papel da mesma, mas os programas devem ser alterados, mais temas actuais e menos escolástica e classicismo.
A filosofia está em crise porque está deslocada da sociedade e ainda não reencontrou o seu lugar, por iso é normal os leigos perguntarem para que serve a filosofia nos dias de hoje..
«A filosofia a par da história e da sociologia é uma das mais importantes ciencias que a socidade pode possuir e usufruir»
lol
Sempre divertido ler estas tretas. Eu iria mais longe e colocaria a astrologia e a psicanálise nessa lista. Cruciais para a sociedade. E ainda falam da "padralhada"...
A filosofia é importante mas paga um preço elevado pela "gente de baixo calibre" que por vezes se aloja no seu seio e a utiliza para divulgar grandes tretas e por vezes coisas que nem para tretas servem como as veiculadas por Lacan/Derrida por exemplo.
Os filósofos devem baixar a bolinhas diante dos cientistas...
Anônimo;
Donde você supõe que vem a ciência? Não seria da filosofia?
Anna O.
Las palabras del amor.
Estas palabras
describen la noche,
y esta emoción
reside silente
en la luz de un
sombrero como
triste armonía de
una mágica suerte.
Francesco Sinibaldi
Mas é possível fazer alguma coisa que seja sem a filosofia? Sem um método de pensamento? Sem um raciocínio lógico? Sem um argumento? Todas as construções e sistemas que utilizamos para validar seja o que for tem como base algo que teve de ser pensado, analisado, validado, etc... como fazer isso sem recorrer à filosofia?
Como aplicar uma lei sem discutir ética, moral, julgamento, valores?
Como aplicar uma ciência sem discutir hipótese, tese, lógica?
Por algum motivo o mais alto grau de habilitação académica se chama PHD (Ph.D. - Doctor of Philosophy). O Doutoramento mais não é atribuído a quem defendeu uma tese com sucesso. Só quem demonstrou saber utilizar a filosofia, seja em que área do conhecimento tenha sido, é que obteve o grau!
Caro Carlos,
O primeiro comentário refere que os filósofos andam arredados da vida humana e prática. Este comentário é parcialmente verdade e é parcialmente verdade se pensarmos na realidade portuguesa. Se pensarmos na realidade inglesa ou americana e até mesmo australiana, tal comentário não se aplica.
Mas a verdade que a filosofia anda arredada da vida das pessoas em Portugal é confirmada pelos comentários aqui postados, visto que revelam grande desconhecimento do papel da filosofia, por exemplo, na ciência. Claro que grande parte da responsabilidade está na falta de produção filosófica em Portugal. Como compramos tudo feito não precisamos de criação e como não precisamos de criação não vemos qualquer utilidade na arte de pensar e no raciocínio crítico aplicado à vida e às ciências. Tenho defendido publicamente que os currículos dos cursos de filosofia em Portugal estão desactualizados e dão uma imagem muito má daquilo que a filosofia pode produzir enquanto actividade crítica. Estou convencido que a mesma realidade se aplica aos outros ramos do saber. No caso da filosofia e das ciências ditas humanas (classificação muito errada aliás), as más influências fazem-se sentir muito mais e a filosofia, em Portugal, está ainda muito minada pelo discurso pós moderno do relativismo, subjectivismo, etc… Mas não posso deixar de dizer uma coisa que me parece substancial para perceber o lugar da filosofia na vida das pessoas: quando falamos dos problemas filosóficos de forma clara e objectiva e ao mesmo tempo com rigor, de repente, praticamente toda a gente começa a discutir os problemas, mesmo que não tenha grande base para os discutir. E a prova disso mesmo é a quantidade de comentários que, por regra, este blog suscita sempre que o caro Desidério Murcho lança um problema filosófico. A filosofia é apaixonante porque incomoda, metendo-se directamente com as nossas crenças mais confortáveis. E aí, até nos irritamos a discutir os problemas.
Obrigado
Rolando Almeida
A Filosofia é uma disciplina que pretende analisar conceitos. A sua função é analisar a consistência e validade das teorias e das crenças. Esta análise permite que as nossas práticas sejam mais racionais. Fiz um Post sobre este tema em: http://agorasocial.wordpress.com/
Luís Rodrigues
A filosofia deve ajudar a mosca a encontrar a saída da garrafa onde se encontra encerrada...
dizia Wittgenstein
Caro Carlos
Há outros bons livros do Frankfurt que valem a pena. Além d'A treta (cá no Brasil saiu como 'Sobre falar merda') há a excelente continuação, 'Sobre a verdade', particularmente oportuna e importante nos dias que correm. Também há o 'As razões do amor', recém lançado, mas já este desconheço.
Respondendo ao musicólogo: Sim, é possível fazer várias coisas sem filosofia. Se reparar bem verá que a maior parte da humanidade, a maior parte do tempo, nunca filosofou. Filosofar não é simplesmente pensar, é pensar de um determinado modo, é um certo tipo de pensar.
Também é perfeitamente possível fazer ciência sem filosofar (como é igualmente possível viver sem fazer ciência, como, novamente, a maior parte da humanidade a maior parte do tempo fez). Há várias questões pontuais que dispensam a reflexão filosófica.
No entanto, conforme sobem-se os graus de complexidade e de abstração então passa-se a filosofar na mesma razão. Aqui temos uma justificativa para a filosofia: podemos viver sem filosofar e fazer ciências, mas "podemos" em que sentido? A civilização, as sociedades modernas não podem prescindir nem de uma nem de outra. O pensar pode ser bem ou mal orientado e, havendo filosofia rigorosa, séria, então há muito mais chance de sê-lo bem.
E agora falando ao Armando Quintas, obviamente há uma sutileza no texto de Frankfurt. Eu duvido que ele queira dizer que os filósofos devem se abster de pensar os problemas do mundo, quer dizer, os problemas da humanidade, os problemas sociais, morais etc. O problema é o *modo* como vamos pensá-los, os objetivos que temos para com esse pensar.
Porque primeiro é preciso entender, de maneira que o compromisso primordial é com a verdade. O resto decorre. Não temos de correr à rua como se o mundo fosse acabar esta tarde. Isso não ajuda, a história prova-o. Nós temos que tentar resolver esses problemas, mas com seriedade, rigor, honestidade e... cautela, sensatez e uma certa indiferença. Indiferença no sentido estóico, de resignação frente às nossas incapacidades e limitações.
A meu ver, "a filosofia está em crise" não porque está "deslocada da sociedade" mas porque uma parte gigantesca da filosofia e dos filósofos está descolada da própria filosofia. Justamente porque os filósofos e uma parte considerável (talvez a maior parte) dos estudantes adentra a filosofia já com a pretensão de mudar o mundo, de fazer a revolução amanhã de manhã, tendo eles já descoberto o que tem de ser mudado e por quê. A filosofia não está em crise, mas parece estar em crise porque há pouca gente a fazer filosofia e muita gente a querer fazer política, economia, ciência (veja-se os IDiotas) etc.
E como de costume, concordo com o Rolando Almeida.
Sds
Alex.
Caro Alex:
“[É] perfeitamente possível fazer ciência sem filosofar (como é igualmente possível viver sem fazer ciência, como, novamente, a maior parte da humanidade a maior parte do tempo fez). Há várias questões pontuais que dispensam a reflexão filosófica.”
Penso que faz aqui uma confusão, que é bastante comum, infelizmente até entre os cientistas. Não há ciência sem filosofia! Como diz Danniel Dennett o que existe é ciência que é feita sem examinar a sua própria bagagem filosófica. A grande maioria não se preocupa com a filosofia, porque simplesmente não vê necessidade dela no seu dia-a-dia profissional.
Quando alguém faz ciência hoje em dia, está (embora possa não o saber) a partir de reflexões filosófica – seja sobre a natureza do mundo, sobre a nossa possibilidade de conhecê-lo, sobre a própria natureza da actividade que pratica. Podemos até rejeitar a filosofia, mas para frustração de quem o faz, está ao mesmo tempo a usá-la, o que torna essa empresa fútil...
Cumprimentos,
José Manuel Oliveira.
Caros colegas,
Como alguém que vive no mundo acadêmico da área de exatas, devo declarar que vejo todos os dias pessoas fazendo ciência sem filosofia alguma: basta girar manivelas... Ou seja, no mundo moderno existe uma versão científica do operário retratado por Chaplin em seu "Tempos Modernos".
A filosofia é uma disciplina como qualquer outra. Com isto quero dizer que tem duas características (tem muitas mais, mas não interessam agora para a discussão):
1) Tem um método e através desse método procura encontrar a verdade do seu objecto de estudo, a saber, os conceitos.
2) A ciência só precisa da filosofia se encararmos a ciência dum ponto de vista interdisciplinar. A física não precisa, em primeira análise, da Biologia. Ou, para termos um exemplo que claramente a interdisiplinariedade apesar de não ser necessária pode ajudar bastante a obter bons resultados, a biologia e a sociologia. À primeira vista, não têm relação, mas a sociobiologia é das disciplinas mais importantes hoje.
Caro José Oliveira
Eu entendo o que diz e concordo, de modo geral. Porque tomo este 'fazer ciência' a que refere como a teorização, a pesquisa de ponta, as questões-limite.
Mas nem toda a ciência é feita aí. Há coisas muito mais básicas, corriqueiras, pontuais, sendo feitas. Pense em alunos de iniciação científica das graduações, por exemplo.
Eles pesquisam questões bastante restritas, que dispensam uma reflexão de natureza filosófica. E, ainda assim, é ciência.
A não ser que tomemos "filosofia" por qualquer pensamento, simplesmente tirar X de Y como sendo filosofar. O que não me parece lá muito apropriado.
E quando digo que é possível viver sem filosofar e fazer ciência espero ter-me feito entender que isso somente é possível em uma vida de subsistência, 'in natura' ou de senso comum.
Nas nossas sociedades, com os problemas que temos, o nível de especialiação e a educação que recebemos é impossível viver sem filosofar. Como querer progredir sem ciência. Básica, inclusive.
Um abraço
Alex.
NATASHA:A palanra filosofia significa o amor pela sabedoria,o papel dos filodofos é procurar a clareza e a verdade.a filosofia faz parte da história e da sociologia,ou seja e uma das mais importante matérias.
rodrigo...
ola estou fazendo uma pesquisa e queria saber segundo socrates, qual o papel do filosofo ?
agradeço desde ja se puder responder .
só sei que nada sei!!!
a filosofia é mãe de todas as ciencias A filosofia questiona e estuda os fenômenos da natureza e dos seres vivos de todas as eras. A Filosofia estuda o Homem enquanto animal e membro de uma sociedade. A Filosofia é amante das artes de criação, aja visto os talentos excepcionais nessa área que muitos filósofos demonstraram. A Filosofia é admiradora dos números, é só observar a destreza que os grandes filósofos tinham na área da matemática.
pra mim os filosofos nao passam de um bando de gays
Na primavera de 1983, quando Jacqueline Henry e Bob French os tradutores da excelente tradução francesa, começaram a trabalhar nos diálogos, chocaram logo de frente com um conflito entre o género feminino do nome francês tortue e a masculinidade da minha personagem Tartaruga. Devo, tristemente, mencionar que no maravilhoso, mas pouco conhecido diálogo de Lewis Carrol a que fui buscar estas personagens deliciosas (o diálogo Invenção a dias vozes no GEB), se lido com cuidado, à Tartaruga não é atribuido quarquer género. Mas, quando li pela primeira vez, a questão nem sequer me ocorreu. Esta era claramente uma tartaruga-ele. Caso contrário, teria sabido não apenas que ele era feminino como porquê. Afinal de contas o autor só introduz uma personagem feminina por uma razão especial, não é? Enquanto uma personagem masculina num contexto <> (por exemplo, filosofia) não necessita de qualquer raison d'être, umafeminina sim. E, assim, sem nenhuma pista sobre o sexo da Tartaruga, assumi sem pensar que se tratava de um macho. E desta maneira o sexismo invade silenciosamente os cérebros suscetíveis bem-intencionados.
Gödel, Escher, Bach - Laços eternos - Douglas R. Hofstadter
qual a função do filosofo em busca da verdade minha gente
Qual lugar do filósofo na cidade
Qual o papel do filosofo na cidade?
Exatamente, os filósofos levantaram as problemáticas, e os cientistas se dedicaram a provar as teorias com seus metodos cientificos.Assim nasceram a Psicologia, a Pedagogia, o Direito, etc
Sei
Lá aaaaaaaaaaaaaaaah hhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh hhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh hhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh hhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh hhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh hhhhhhhhhjjhhhhhhhhhhhhhhhhhjdkddhskshshshsksjdhsjshsjskshsjsjsebsjssjsjssbjs bshshshsjsjsjsjsbsvhavahshsss bsjsjsbhssbsj hsjsjvshjshhsievesvesebjeheeejeeejsjsjejejskskskskskskksskeksjkesskskks kdkdkdkdkdkdkzjbdjdgshssbsksksjsjsjjdoģķğnkdkdodjdbdhjdjdjd jdjdjdjdjdhbdvshsjehdjeejhehdjddjjrjejejeje
Neto Sampaio,vai ler um livro!!!!!!!!
Enviar um comentário