domingo, 9 de março de 2008

António Barreto: a farsa da avaliação de professores

Mais palavras sábias sobre a avaliação de professores, hoje no Público:

Na impossibilidade humana de "gerir" milhares de escolas e centenas de milhares de professores, os esclarecidos especialistas construíram uma teoria "científica" e um método "objectivo" com a finalidade de medir desempenhos e apurar a qualidade dos profissionais. Daí os patéticos esquemas, gráficos e grelhas com os quais se pretende humilhar, controlar, medir, poupar recursos, ocupar os professores e tornar a vida de toda a gente num inferno. O que na verdade se passa é que este sistema implica a abdicação de princípios fundamentais, como sejam os da autoridade da direcção, a responsabilidade do director e dos dirigentes e a autonomia da escola. O sistema de avaliação é a dissolução da autoridade e da hierarquia, assim como um obstáculo ao trabalho em equipa e ao diálogo entre profissionais. É um programa de desumanização da escola e da profissão docente. Este sistema burocrático é incapaz de avaliar a qualidade das pessoas e de perceber o que os professores realmente fazem. É uma cortina de fumo atrás da qual se escondem burocratas e covardes, incapazes de criticar e elogiar cara a cara um profissional. Este sistema, copiado de outros países e recriado nas alfurjas do ministério, é mais um sinal de crise da educação.

32 comentários:

Anónimo disse...

Mais uma participação pública de quem não sabe, ou não quer saber, do que está a falar.
Maria

Armando Quintas disse...

depois de conseguirem vergar, humilhar, ridicularizar e reduzirem à impotencia os professores e as escolas públicas o que virá a seguir?
Estamos a caminhar para o abismo, o nosso "querido" socrates que tanta importancia dá à modernização, à formação não quer saber do ensino e deixa que isto se arraste assim? Talvez dando mais computadores portateis o pais se desenvolva, só demagogia e markting, o pais está preso por arames e continuamos a fazer de conta que nada se passa, apenas as operações cosméticas do dia dia.

Anónimo disse...

a maria pensa que sabe, não?

Diga lá então como é que é.

Eu vou passando para ver se sabe aplicar o que aprendeu na escola. Fundamentar as suas opiniões.

Aguardo pacientemente.

Um dos cem mil!

Manuel Rocha disse...

Hummm..."mais palavras sábias" !

Óptimo !

Que no RN se discorda das propostas do ME já se percebeu. Não se percebe é se discorda no principio ou no método, porque não vejo que as " palavras sábias " preferidas o esclareçam !

Por acaso ( hipótese agora absurda ) muito gostaria de ter lido " as palavras sábias " de VPV e AB antes desta "crise" ter sido desencadeada. Fica-se com a cândida ideia que nas escolas se tem vivido no nelhor dos mundos e que " finalmente " apareceu alguém a estragar tão proficua paz !

Face à "qualidade" das alternativas propostas pelos autores de tão sábias reflexões só apetece dizer Amém !

artur figueiredo disse...

É possível que o sistema de avaliação que está em cima da mesa seja mau e que tenha outros objectivos que não a melhoria do ensino. É possível, não sei. E costumo ter a opinião do António Barreto como lúcida e independente.

Mas o que me parece muito confrangedor é que ao fim de algumas semanas de debate sobre esta matéria não se consegue ouvir uma alternativa que seja ao sistema proposto. As críticas são muitas, frequentemente contraditórias, e os oportunismos políticos são ainda mais.

Mas há uma certeza que nada consegue encobrir: a qualidade dos professores varia entre o excelente e o péssimo. Algo deve ser feito para separar o trigo do joio… e a sociedade actual é a cada dia que passa mais exigente em todos os domínios.

Parabéns aos autores pelo primeiro ano deste excelente espaço de aprendizagem e diálogo

Ana Cristina Leonardo disse...

como mãe de família com filhas em idade escolar o que me causa espécie é o seguinte: vai a avaliação dos professores melhorar a qualidade dos programas, das instalações, das cantinas, das bibliotecas, dos recreios, dos objectivos e formas de ensino?
Cá para mim, quem não tem ideias burocratiza.

Carlos Medina Ribeiro disse...

As crónicas de António Barreto no «Público» (esta e as anteriores), podem ser lidas e comentadas no blogue onde as publica.

Anónimo disse...

Deixemo-nos de falsos moralismos e de querer tapar o sol com a peneira.

Não importa a virtude ou defeitos que este ou qualquer outro sistema de avaliação possuia. O verdadeiro problema é que nem todos os professores vão chegar ao topo de carreira e isso vai pessar-lhes no bolso.
Vão efectivamente ter de trabalhar para merecer receber mais. O que se pensarmos bem não é junto para uma classe que só trabalha 3 dias e meio por semana, e não está habituada, eles necessitam de dinheiro para ocupar todo o tempo livre, e não falemos dos mais de dois meses de férias que têm, coitadinhos são obrigados a estar de férias em Agosto e não podem escolher.

Dito isto tudo se alguem me quiser arranjar uma colocação como professor estou disponivel.
Fernando

Jam disse...

Costumo ler o blog De Rerum Natura com alguma frequência principalmente devido ao conteúdo científico, curiosidades, etc os quais considero bastante interessantes.
Mas digam-me uma coisa, não acham que já estão a exagerar nisso do sistema de avaliação dos professores no próprio blog? Uma vez, duas vezes chegam... Agora mais que isso, já cansa; para isso mais vale mudarem o tema do blog para "clube anti-maria lurdes".. Entendo que quase todos (senão mesmo todos) os autores do blog são professores, mas enfim..

Um aparte: apesar de não conhecer muito bem quais são os critérios de avaliação nem ter opinião, sei e nota-se muito bem que uma boa parte dos professores que foi à Marcha da indignação não sabe também a 100% os critérios, que só estão a recusar o facto de serem avaliados. Não neguem isto..

Já agora, parabéns atrasados e que durem muito mais :)

Nélinha disse...

A escrita lúcida, inteligente de António Barreto é sempre um prazer. Mas não pude deixar de ler algun comentários e, posto isto: sim, sou professora há mais de trinta anos e também fiz orgulhosamente parte dos cem mil. Não tenho qualquer filiação partidária ou sindical, nunca tinha participado numa manifestação e já ascendi ao topo da carreira, pelo que não me movem quaisquer interesses nesse sentido. E se alguém quiser ser professor é muito fácil: conclui a sua licenciatura, faz a profissionalização, o novo exame de ingresso na carreira (nota mínima de 14 valores) e concorre! E depois prepara-se para ter 35 horas de trabalho semanal(e não 3 dias e meio!),27 das quais com ponto horário, e com 8 de horário flexivel para preparar aulas, corrigir trabalhos, etc de 5 ou 6 turmas.Prepare-se para belas noitadas e fins de semana a trabalhar!

Anónimo disse...

Dada a excelente qualidade científica e filosófica deste blog,'ele'( que até é aniversariante!) não merecia a referência ao AB no seu melhor de ignorância. O AB não sabe do que está a falar, se soubesse, concretizava dizendo:
- onde falha a proposta do novo sistema de avaliação;
- como e em que medida o corrigir;
- se a falha é de tal dimensão que deva levar à sua substituição;
- por que outro sistema de avaliação o substituiria;
- que paraíso escolar (presume-se) é que este sistema vem quebrar;
- etc.
Eu, como professora há quase trinta anos quero ser avaliada. Porquê? Porque mereço trabalhar num sistema capaz de o fazer em vez de desconsiderar o meu trabalho equiparando-o a trabalho nenhum. Sim: porque os colegas que entraram na carreira quando eu e que nada deram ao sistema estão no mesmo escalão e ganham tanto quanto eu. Porquê? Por causa do nacional porreirismo que tranformou as escolas públicas num viveiro de medíocres. Estão a fingir que não sabem?
A propósito, a adesão do PSD e outras organizações políticas e sindicais à direita do PS, obedecem a uma agenta clara e concreta: destruir de vez o Ensino Público e cumprir a promessa feita ao Privado - financiá-los através do cheque-educação.

ff

Anónimo disse...

Eu sou professor e quero avaliação, mas não esta. Não aceito que os resultados dos meus alunos contribuam para a minha avaliação ( então a responsabilidade dos mesmos; e a dos encarregados de educação). Não aceito ser avaliado porque um aluno qualquer decide faltar à escola ( abandono escolar), ainda estou para perceber como posso ser responsabilizado por isso! Não aceito que os alunos deixem de reprovar por faltas! Não aceito ser professor e saber que no final do ano tenho que passar os alunos todos ( é o que acontece actualmente nos chamados cursos técnicos profissionais - nimguém reprova - 100% de sucesso ), se for preciso temos que ir buscar os alunos a casa. Quero avaliação, mas não esta!.!

JOSÉ LUIZ FERREIRA disse...

Caro Artur Figueiredo:
Se quer uma alternativa ao sistema proposto, aqui vai uma:
a) Anualmente os alunos preenchem anonimamente uma ficha em que classificam todos os seus professores com uma notação de 0 a 20, sendo válidas somente as fichas que contenham pelo menos uma classificação entre zero e cinco, uma entre seis e dez, uma entre dez e quinze e uma entre dezasseis e vinte. Esta classificação é junta ao registo biográfico do professor.
b) Anualmente os professores preenchem uma ficha em que classificam os colegas da mesma disciplina, com uma diferença: como o anonimato só é mantido se cada professor se classificar a si próprio, a ficha que cada um preenche deve conter pelo menos dois vintes.
c) De cada vez que um professor que queira progredir na carreira terá que requerer uma avaliação extraordinária para este efeito. Esta avaliação consistirá na prestação de provas públicas sobre os seus conhecimentos da matéria que lecciona, com uma ponderação de 50% (porque a coisa mais importante que se exige a um professor é que não seja ignorante); numa análise ao grau de coincidência entre as classificações atribuídas aos alunos e as notas obtidas por estes nos exames, nos cinco anos anteriores, com uma ponderação de 30%; a média das classificações atribuídas pelos outros professores da sua disciplina, nos cinco anos anteriores, com uma ponderação de 20%; e a média das classificações atribuídas pelos alunos, nos últimos cinco anos, com uma ponderação de 10%.
Poderá haver quotas para a progressão, mas nunca para a classificação (porque x valores são sempre x valores).

O problema com o sistema proposto é que tem 14 critérios, dos quais muitos incidem sobre competências não mensuráveis (o que escancara a porta a todas as arbitrariedades) e entre os quais não se inclui nenhuma prova em que se avalie se o professor tem ou não conhecimentos suficientes e actualizados sobre a disciplina que lhe cabe ensinar.

JOSÉ LUIZ FERREIRA disse...

«...que só estão a recusar o facto de serem avaliados. Não neguem isto...»

Car@ jam:
Ai nego, nego... Veja o que escrevi ao Artur Figueiredo.

Anónimo disse...

Anónimo das 14:58
Do que diz, só o 1º argumento se prende com avaliação (o resto é "tudo ao molhe e fé em deus"). Quanto ao 1º: se, como tenho ouvido, a progressão escolar se define por escola, por objectivos estabelecidos por essa escola, todos os profs dessa mesma escola estão sujeitos à mesma bitola. Logo, o seu argumento é irrelevante: trata-se de saber, face aos mesmos alunos "irresponsáveis e baldas" que professores obtêm melhores resultados. Não vejo, francamente, qual é o problema. Por mim, parece-me bem.
Também sou professora e francamente o que eu acho é que há demasiado "ruído" (o que talvez não seja mau, se servir para chamar a educação para o palco da discussão pública; infelizmente, o que se está a ver é a profunda ignorância dos nossos "crânios" sobre a matéria, que acabam de descobrir, e sobre a qual opinam com uma espantosa superficialidade)

Nuno disse...

O sistema de avaliação tem erros de certeza. No entanto não ouço ninguém a propor soluções alternativas pq os professores na realidade não querem avaliação nenhuma! E isso é totalmente inaceitável.
A conversa do "queremos avaliação mas não esta" é ridicula e não convence ninguém. Agora dizem todos isto pq sabem q a restante sociedade civil já não aceita esta situação. Eu como "civil" a ideia com q fiquei dos professores continua a não ser a melhor. Por muito que venham dizer o contrário o q a mim me transpareceu foi que os profs não querem que se separe o tigo do joio, foram instrumentalizados pelos sindicatos quando interessava A BEM DA ESCOLA E DOS ALUNOS, afastar os sindicatos deste processo pois estes querem é barulho, a manutenção de privilégios (eles chamam-lhes direitos adquiridos) pagos pelos contribuintes e a queda da ministra!
Então as notas dos alunos não são um dos critérios de avaliar sucesso do professor? Brincamos ou quê? Ou os profs são aldrabões e vão inflaccionar as notas dos alunos para eles serem bem classificados?
Aposto que mais de metade da manif não estava correctamente informada e limitaram-se a empreitar pelos ouvidos e a barafustar nmuitos dsem saber porquê, como fazem os tugas em tantas outras coisas! Prova disso foi a pergunta feita a um professor na manif "O que é que contesta na avaliação?” A resposta "Contesto a avaliação.”
Força Sra Ministra!

Anónimo disse...

Quem quiser ser avaliado como excelente só tem que se inscrever no PS e dizer amén a tudo o que este decidir. É assim tão difícil? É a pedagogia da desonestidade. Onde está a novidade? amp

artur figueiredo disse...

Caro José Luiz Sarmento,

Não me compete a mim avaliar as virtudes do sistema que propõe relativamente ao sistema que o ministério apresenta, mas concordará comigo que as várias horas de debate, entrevistas e notícias com que temos sido brindados nos últimos tempos sobre esta matéria não têm sido férteis em discussão séria e propostas concretas. Pasme-se que até se ouviram sindicalistas aceitarem o processo... mas para o próximo ano.

O processo interessa-me porque tenho filhos em idade escolar e custa-me que, afinal havendo tanta gente a desejar a avaliação de professores, não me tenha apercebido de manifestações realizadas nos últimos trinta anos a solicitar a implementação da avaliação de professores. Talvez se tivesse evitado muitos dos problemas do nosso ensino.

José Luiz Sarmento, diz em determinada altura "e entre os quais não se inclui nenhuma prova em que se avalie se o professor tem ou não conhecimentos suficientes e actualizados sobre a disciplina que lhe cabe ensinar". Parece-lhe, sinceramente, que esta tal prova seria pacífica entre os seus colegas professores?

Anónimo disse...

Os Professores só se mobilizam quando se apercebem que a promoção automática está em questão. Querem chegar todos as generais, como tem sido até agora, mediante horas de serviços e umas provas de avaliação básicas.
Como tal não pode continuar, revoltam-se.
E é preciso ponderar a indisciplina geral dos meninos e meninas...são os professores que aturam as birras dos mimados.

Anónimo disse...

Sou bastante mais novo do que muitos dos que já comentaram. Se acalhar alguns dos que há 30 anos ensinam foram meus professores. Mas enfim... cá vai. Nasci em meados dos anos 70 e não me posso queixar de ter tido uma má escola. No geral tive bons professores. Mas também tive alguns maus. Alguns autoritários e competentes. Alguns amigáveis e competentes. Alguns amigáveis e incompetentes. Alguns autoritários e incompetentes. Um pouco de tudo. Mas no geral até não foi mau. Acabei a Licenciatura. Não empatei. Fiz uma pós graduação. O meu primeiro trabalho foi como assistente na Univ. em que me formei. Rescindi o contrato e aceitei uma bolsa numa organização científica internacional. Fugi ao cerco dos professores que odiei (digo já que os universitários foram os piores que tive, na FCUL...) Cansei-me de contratos precários e rumei ao sector privado. Vivo fora de Portugal.
Pode-se dizer que o meu percurso foi fácil. Nasci num ambiente estável. Bom rendimento escolar. Acesso ao conhecimento sem sair de casa. sempre rodeado de livros. Amado. Tempo para brincar. Brinquedos para brincar. Enfim, boas condições de partida.
E agora vêm as probabilidades. Qual a probabilidade de eu, vindo de um meio favorecido, me despistar? Reduzida. Até parece que a escola onde eu andei andava bem. Um sucesso. Mas eu andei sempre em turmas escohidas. Tive professores maus mas apenas os que escolhidos num lado qualquer para preencher carências, sobretudo em informática e educação física. Mas as condições de partida determinam e muito as probabilidades de sucesso e insucesso. Tal como no "mercado livre". Mais livre para uns do que para outros dependendo das condições de partida, capital inicial. Até parece Física! Condições de partida...
Mas no meu tempo também havia abandono escolar, insucesso, alunos com carências familiares e económicas, etc. Desconheço se os professores eram avaliados... Mas muitas vezes desejei que o fossem. Principalmente os universitários, e pelos alunos. E porquê? Porque sendo crescidos podem fazê-lo. Porque de acordo com a distribuição normal, um universo de alunos avalia correctamente. Sim, há quem diga mal porque sim. Há quem diga bem porque sim. Mas é residual. No geral todos sabemos identificar os bons e maus professores. Todos recordamos os péssimos e os excelentes. Todos vocês se lembram deles. Se fossem chamados a fazer uma avaliação dos vossos antigos professores acham que eram capazes ou não?. Pois é mas aqui falamos do último degrau. E nos degraus inferiores? Com miúdos? Como se poderá confiar a avaliação dos professores aos alunos? E deverá o professor de matemática ser avaliado pelo de inglês? Com base em quê? Isto leva-nos a separar já dois tipos de avaliação. Sendo uma a dos conhecimentos técnicos. A mais fácil. Mas todos tivemos professores de elevados conhecimentos mas eram umas autenticas bestas. Seriam eles bons ou maus professores? E os que nunca precisaram de se aborrecer para impor respeito e dos quais todos gostavam? Mesmo os que reprovavam? E os que dóceis nunca tiveram controlo na turma? Como se avaliam todos estes parâmetros? O que é que faz dum professor um bom professor?
Será preciso introduzir testes vocacionais no acesso aos cursos para ensino? E as Univs. privadas que formam professores? Que qualidade têm? Lembro-me que colegas de matemática da FCUL não conseguiam tirar positiva de maneira nenhuma e ao mudarem-se para a privada do outro lado da rua passaram de repente de 8 para 16... Acabaram mais depressa e concorreram em igualdade. Igualdade?
Todos concordamos que a pedra fulcral do ensino são os professores. Que de alguma maneira têm que ser avaliados (tal como eu sou na empresa para a qual trabalho). Concordamos que, ao contrário do que aconteceu demasiadas vezes no passado, um tipo qualquer não pode tornar-se professor só porque sim, porque podia... muitos da vossa geração são professores porque sim... muitos não.
A avaliação dos professores, a qualidade do ensino, começa muito antes de se ser professor. Começa por se formar bons professores. Por avaliar vocações aquando do acesso à Licenciatura para ensino.
E por muito bom que seja o sistema, ter presente que existe uma coisa chamada distribuição normal e que sempre vão haver bons alunos. Maus alunos. Alunos com potencial mas desinteressados. Alunos mediocres mas esforçados. Alunos que não querem saber patavina. Alunos que mesmo a dormir tiram 20. Outros que acordados todo o tempo tiram 10. Etc.
Sabemos que por muito que se controle a qualidade dos que ingressam na carreira de ensino uns vão ser melhores professores do que outros.
E o problema não são nem nunca foram os alunos. Um aluno hoje é como o de ontem. Chega sem saber e espera sair a saber. E sei que uma parcela da avaliação dos professores tem que passar por estes. Mas não chega...
Cabe-vos a vocês, professores, lembrarem-se de quando eram alunos. Cabe-vos a vocês juntarem-se e lutarem. Cabe-vos a vocês exigirem que sejam avaliados. Cabe-vos a vocês informarem-se sobre o que vos impõem legislativamente, estudarem, proporem, criarem. Cabe-vos a vocês e só a vocês organizarem-se. Querem ser avaliados? Este projecto é mau? Porquê? Pode-se fazer melhor? Então ponham mãos à obra, mobilizem-se, criem uma "wikipedia" dedicada à elaboração do método de avaliação onde se compilem conhecimentos do que se faz noutros países, de experiências de intercâmbio que tiveram, etc. As democracias não se esgotam no voto... sejam criativos. Sejam inteligentes. Juntos têm energia potencial (mais Física) para derrubar qualquer governo. Mas saibam por que é que o estão a derrubar. Quando se juntam saibam porque é que o estão a fazer. Saibam que o estão a fazer para construir um sistema digno, um país digno em que os vossos filhos e netos possam crecer e desenvolver-se. Lutem para que muitos como eu não tenham que sair do país. Vocês, a geração dos meus pais, prometeram-nos um país, deram-nos sonhos e no fim é o que se vê. Tive que sair do país para poder ter o que me foi prometido... a forma que encontrei para ter um bocadinho do que a vossa geração nos prometeu e não cumpriu: construir um país. A luta dos professores não se pode reduzir à avaliação.
Todas as estruturas de um país dependem de vocês. Da qualidade dos médicos que formam, dos juízes que formam, dos engenheiros que formam, etc, dos professores que formam.
Juntem-se. Mas saibam porquê?
Avaliação dos professores? Para quê? Deixo a pergunta no ar. Mas bem sei que a consciência é uma coisa bem mais complicada do que à partida se imagina. Sejam criativos e inteligentes.

Anónimo disse...

" É uma cortina de fumo atrás da qual se escondem burocratas e covardes, incapazes de criticar e elogiar cara a cara um profissional."

E o Exmo. Sr. Prof. Dr. António Barreto encara cada um dos seus alunos quando os avalia?

Duvido muito.

Anónimo disse...

Já que aqui existem comentadores tão conhecedores do ensino gostaria de saber se posso educar os meus filhos em casa e mais tarde propô-los a exame.

Caso esta alternativa exista gostaria de saber onde posso encontrar informação mais detalhada.

Obrigado.

Anónimo disse...

Caro José.
Se reparar bem no que acabou de dizer vai ver que muitos fazem exactamente o que descreveu. Ajudam em casa a preparar os filhos para que estes passem nos testes.
Uns porque querem que os filhos sejam os melhores e muitas vezes nem os deixam ir para a rua "obrigando-os" a estudar quando se calhar deveriam estar a brincar.
Outros porque os professores são tão maus ou tão desmotivados ou ambos que se não o fizerem provavelmente os filhos vão ficar amputados.
Enfim um pouco de tudo.

Afinal o que disse até nem é irónico... acontece todos os dias, de graça, em muitos lares. E a pagantes em explicações...

Anónimo disse...

O problema da avaliação dos professores não se limita a um conjunto de regras que um qualquer Governo pseudo-democrata pretende implementar para dizer que está a fazer alguma coisa e tentar esconder o que se calhar já não tem remédio: Um sistema de ensino decadente. Um sistema nacional de saúde decadente. Um sistema de justiça decadente. Uma segurança social decadente. Um País decadente...
Como se consegue hoje avaliar um sistema de ensino decadente no qual a questão da avaliação dos professores acaba por ser uma preocupação menor?
Como avaliar um professor?
Quem fará a avaliação?
Em que moldes?
Farão os alunos parte da equação?
Com as notas dos alunos (mesmo sabendo que um aluno que tem uma determindada nota com um prof com outro diferente teria outra)?
Como se compara a avaliação de professores que trabalhamem escolas com boas condições e em escolas sem condições?
De escolas em bairros degradados e escolas e bairros pivilegiados?
Com um pouco de tudo? Com que pesos para cada item?
E o financiamento da escola pública?

Como se muda um sistema de ensino?
Como se muda um país?

Anónimo disse...

Provavelmente tenho metade da vossa idade mas acho que sei onde está o problema. Os problemas.
Palpita-me que muitos dos problemas foram criados por vós próprios. Acomodados ao longo dos anos. Habituados a votar sempre nos mesmos - ora roda bota fora - eleição após eleição.
E agora? como se descalça a bota.
Costumo dizer aos meus pais, e eles concordam, que a geração rasca é a deles, a vossa. Tiveram quase tudo na mão e...
O problema dos professores hoje é o acumular de muitos anos. De muitas lutas que não se fizeram porque afinal até não se está assim tão mal... e no fim do mês recebo o meu ordenado e quero lá saber... se querem que os passe eu passo e que se lixe, recebo na mesma... enfim... apenas a ponta do iceberg.
Aproveitem a actual mobilização dos professores para levar a luta mais além. Não é só a avaliação que é o problema...

Se calhar o melhor é voltarmos a concentrarmo-nos na termodinâmica (já que este é um blog científico, parabéns) e perguntar: Como é que se muda um sistema de ensino?

Anónimo disse...

Parece que há aí um grupo de anti-professores com análises mais superficiais que os livros da Margarida Rebelo Pinto, já para não falar dos factos errados.

Facto Errado 1: Os professores vão começar a ser avaliados. Há anos que a avaliação existe, meus senhores. Talvez não fosse a melhor, mas existia.

Facto Errado 2: Esta avaliação serve para premiar os melhores. Esa avaliação serve para provar os chicos-espertos e nesse aspecto, até é bastante parecida com muitas avaliações que se fazem por esse país fora.

Facto Errado 3: Esta avaliação serve para melhorar o sistema de ensino. Uma vez que não premeia os melhores, mas os que dão melhores notas, serve é para falsear as estatísticas. Como outro dos critérios é a diminuição do abandono escolar, os professores ver-se-ão forçados (como já acontece) a tolerar a indisciplina para que os "meninos" não se vão embora.
Mais: esta avaliação é tão burocrática e existe tantos preenchimentos de fichas, grelhas e afins que os professores acabarão por "roubar" às horas de preparação das aulas e apoio aos alunos para cumprir o processo de avaliação.

Facto Errado 4: os professores trabalham dois dias e meio por semana e têm 5 meses de férias. Aconselho estes "observadores da realidade" a concorrerem a esta profissão. Preparem-se para sofrer muito. Será uma boa experiência para abrir os olhos. Daqui a uns anos, quando a Economia melhorar e os actuais professores mudarem de profissão, com certeza sobrarão imensas vagas.

Facto Errado 5: Há 30 anos que não há mudanças na Educação. Esta é muito fácil de verificar. Peguem nos manuais escolares dos últimos trinta anos e vejam quantos falam na "reforma educativa actualmente em curso".

Vale a pena também perguntar o seguinte.

- Como pode ser aceitável que no final do 2º Período, o ME ainda não tenha definido como deve ser a forma como vai avaliar os contratados e os instrumentos? Se um professor entregasse os critérios de avaliação aos alunos, durante o 3º período?
- Se o Governo está tão preocupado com a qualidade da educação dos portugueses, por que é que desistiu de avaliar os alunos? E por que é que não investe na modernização das escolas aquilo que se prepara para investir em obras inúteis, como o TGV? E por que é que não diminui as turmas, para que os professores possam efectivamente ser professores, em vez de mediadores de conflitos?

Muito mais haveria a dizer, mas tenho trabalhos para corrigir.

Anónimo disse...

"Caro José.
Se reparar bem no que acabou de dizer vai ver que muitos fazem exactamente o que descreveu. Ajudam em casa a preparar os filhos para que estes passem nos testes."

Não é isto que pretendo saber. O que pretendo saber é se posso ensinar os meus filhos exclusivamente em casa.

Não acho que a escola (estado e privados) faça um bom trabalho a educá-los e visto ter os recursos (tempo e dinheiro) quero ser eu a educá-los até ao Universitário.

Isto é possível ou não?

Obrigado mais uma vez e agradeço uma resposta o mais objectiva possível.

artur figueiredo disse...

JM Pereira Silva,

Não querendo estar a induzi-lo em erro penso que não é possível a questão que coloca. Deduzo-o porque algumas pequenas comunidades que gostariam de educar os seus filhos vêem as suas crianças obrigadas à frequência da escola pública (ou privada). Era pelo menos o que acontecia há um par ou dois de anos.

artur figueiredo disse...

Nem sempre o que parece é.

É verdade ou não que a avaliação de professores que tem existido é uma palhaçada em que só não tira nota máxima quem não quer?

È verdade ou não que o DR 2 /2008 é de 10 de Janeiro e que, pelo menos, há meses se debate esta avaliação de professores?


É verdade ou não que os professores a avaliar este ano serão cerca de sete mil?

É verdade ou não que as notas dos alunos afectarão em 6,5% a avaliação do professor?

Porque é que a Confederação das associações de pais tem publicamente apoiado este sistema de avaliação? Terão eles o propósito de afrontar os professores, a escola e a sociedade?

Muitas das críticas à avaliação dos professores são difíceis de retirar do diploma que a regulamenta e mostram um enorme descrédito na instituição escola e nos órgãos que a compõem.

No entanto, basta-nos o bom senso para perceber que a burocracia não é produtiva e também não compreendo como é que uma nota pode estar dependente de uma quota.

alf disse...

Vi um documentário na TV2 que mostrava o sistema de avaliação na Bélgica. Muito simples. Têm um grupo de inspectores que avalia a Escola - métodos de ensino, resultados, etc.

Depois, o director da escola é que trata de escolher os professores que lhe garantem que a escola tem uma boa avaliação.

No fundo, é como os clubes de futebol: não é preciso avaliar os jogadores, pois não?

Trata-se, portanto, de estabelecer as concorrência entre as escolas.

Fernando Gouveia disse...

O único problema da mobilização dos professores foi ter ocorrido com um ano de atraso. E nisso os sindicatos têm muita culpa, pois quando estava em discussão o novo Estatuto da Carreira Docente não mobilizaram os professores para os seus verdadeiros problemas. (Pergunto-me se, com o silêncio, as cúpulas sindicais não protegeriam os seus interesses pessoais.)

O primeiro problema é o pré-requisito de ter DEZOITO anos de serviço para se poder candidatar a titular (Art.º 38.º, n.º 2, alínea a). Daqui resultou que professores reconhecidamente excelentes (com mais formação — p. ex., com mestrado — e com mais trabalho de qualidade desenvolvido nas escolas) não puderam sequer concorrer à titularidade, sendo passados à frente por outros mais fracos, mas mais velhos.

Como os quadros estão cheios, nos próximos 20 anos (pelo menos) não haverá mais titulares, ficando as escolas entregues àqueles promovidos à pressa para completar as vagas iniciais. Com a população estudantil a diminuir, quando estes primeiros titulares se reformarem (alguns só têm actualmente uns 40 anos), as vagas fecham e ninguém melhor os substitui.

E é assim que o Ministério da Edução diz querer promover o mérito! Na prática, o que fez foi passar a titulares aqueles que já estavam no topo da carreira e da tabela salarial (tendo lá chegado pela simples passagem do tempo), garantindo que nas próximas décadas não precisa de se preocupar (€€€) com a progressão dos restantes. A mão-de-obra barata está, portanto, garantida! Uma medida economicista, cinicamente disfarçada de promoção da qualidade e do mérito.

Repare-se que não discuto a exigência de um mínimo de anos de serviço (isto é, de experiência) antes da titularidade, mas convenhamos que com 5–10 anos já ninguém é propriamente inexperiente.
E se o Ministério tivesse efectivo interesse em promover a qualidade, então incentivaria a formação científica avançada dos professores (mestrados e doutoramentos, em vez de “acções de formação” da treta): por exemplo, um licenciado precisaria de 10 anos para poder candidatar-se a titular, mas a um mestre bastariam 8 anos e um doutorado chegaria lá com “apenas” 5.

Mas isso, claro, era se o Ministério da Educação quisesse mesmo promover a qualidade de ensino e motivar os professores para a formação contínua séria...

O segundo grande problema da avaliação dos professores (e de que ninguém fala) é a sua falta de transparência.

Segundo o Art.º 49.º do novo Estatuto da Carreira Docente, «o processo de avaliação tem carácter confidencial»: a cada ano, por escola, apenas são publicados «resultados globais da avaliação de desempenho de informação não nominativa». Ou seja, para além de saber a sua própria classificação, cada professor apenas sabe quantos Excelentes, Muito Bons, Bons, Regulares e Insuficientes foram atribuídos na sua escola, mas não quem obteve o quê.

Esta falta de transparência é muito perigosa. A divulgação pública dos resultados completos é o maior garante da justiça na avaliação. O sigilo promove as injustiças e os abusos: a fraude, o amiguismo e o compadrio.

Um exemplo. Ao Prof. Fulano foi atribuída uma classificação de Muito Bom, e, pela lista global, Fulano sabe que houve apenas um Excelente na sua escola. Pensando que essa classificação foi obviamente atribuída ao Prof. Sicrano (quase unanimemente considerado o mais competente da escola — eventualmente ex æquo com o próprio Fulano), o Prof. Fulano não acha que houve qualquer injustiça: as quotas só permitem um Excelente naquela escola, pelo que entre ele e Sicrano alguém tinha de se contentar com um Muito Bom. Azar: calhou-lhe a ele.
O problema é que o Prof. Fulano não tem à-vontade para perguntar ao colega Sicrano que classificação obteve ele (há um certo pudor nestas coisas). Se perguntasse, descobriria que o Prof. Sicrano também obteve um Muito Bom, e que está convencido que o Excelente foi para o Fulano... Se as classificações fossem publicadas detalhadamente, Fulano e Sicrano descobririam que o Excelente foi para o Prof. Magano, a léguas de distância em competência e entrega à escola, mas com a determinante vantagem de ser grande amigalhaço das pessoas certas no júri... Ou, com alguma probabilidade, se as classificações finais fossem totalmente públicas, o júri já não correria o risco de favorecer às claras os comparsas menos competentes.

Mas, claro, a transparência da avaliação só se justificaria se o Ministério da Educação quisesse mesmo retribuir o mérito e o empenho...

Fresquinha disse...

A grossa maioria dos professores é ignorante. Há professores de qualidade, há professores que deveriam estar a fazer outra coisa. Mas pagam bem ...
Sou totalmente a favor de que os professores sejam avaliados. Se todos os desempenhos de profissionais confundidos, de todas as áreas de actividade, são avaliados, porque não os professores ??? Ora essa ...
Quem não deve, não teme !

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