A minha discussão com o Ludwig tem continuado viva (aqui e aqui e ainda aqui e aqui), e muitos leitores têm participado, defendendo uma e outra posição. Quero esclarecer neste post algumas ideias fundamentais.
Eu compreendo a ideia original dos que defendem a cópia sem compensação aos autores. De repente, parece um Eldorado Digital: a um custo mínimo, toda a gente vai poder ouvir Bach. Toda a gente vai poder puxar seja o que for da Internet e usufruir disso sem pagar. Não é maravilhoso? Como se pode ser tão casmurro que não se festeje tal coisa?
Esta é a ideologia do momento. É muito popular em muitos blogs e fóruns da Internet. É quase a ideologia oficial dos nerds. E eu atrevi-me a argumentar contra isso. Mas porquê? Porque o resultado final da cópia gratuita sem compensação aos autores não tem os resultados que os seus defensores pensam que tem. E este é o aspecto fundamental. Por isso insisti desde a primeira hora que não me interessa a metafísica do valor, a metafísica da cópia, nada disso. Nem isto interessa verdadeiramente aos defensores da cópia gratuita sem compensação aos autores. Este tipo de conversa é só uma tentativa de justificação de uma ideia que é defendida não por causa de tais justificações, mas porque se imagina que terá efeitos maravilhosos: toda a gente com acesso à cultura de borla, as grandes companhias e capitais a capitular finalmente perante o poder do Zé-ninguém. É quase bom demais para ser verdade. E o problema é que não é mesmo verdade.
É muito desagradável destruir sonhos bonitos. Daí que a discussão fique num impasse. Independentemente dos argumentos que qualquer pessoa possa apresentar, os defensores da cópia gratuita sem compensação aos autores não irão mudar de ideias, porque investiram num sonho o seu modo de vida, os seus afectos, e comprometeram a sua racionalidade. Não reagem à argumentação cuidadosa porque independentemente do que seja a realidade, querem manter o sonho. (E querem continuar a copiar coisas de graça.) É compreensível. Mas é um erro.
Os factos empíricos são estes. Quando oferecemos algo de graça na Internet e pedimos um donativo voluntário, só 1% aproximadamente dos consumidores paga. O mesmo acontece quando oferecemos um serviço como o Flickr, e depois pedimos dinheiro para ter certas funcionalidades complementares.
O que significa isto? Significa que para um criador poder viver de uma coisa dessas tem de atingir milhões de pessoas — para que o que 1% delas paga seja suficiente para viver disso. Logo, tais negócios só são viáveis para as grandes empresas: Google, Yahoo, Microsoft... não há assim tantas no mundo todo. É por isso que não há empresas pequenas, com apenas um engenheiro, a oferecer tais serviços. Nem software. Nem música. Neste modelo, só se pode viver de tais criações quando o que se faz atinge milhões de pessoas. Se o número de pessoas que usa o serviço for de apenas 20 mil, o criador não consegue viver do seu trabalho. Mas conseguiria, se todas pagassem uma ninharia. Isto tanto se aplica ao software como à música ou aos livros.
Quando surgiu a Internet parecia realmente um Eldorado Digital. Subitamente, os custos de distribuição de bens digitais estavam quase reduzidos a zero. Qualquer autor de um livro, de um software, de uma música, poderia vender directamente o seu trabalho na Internet. Mesmo que tivesse apenas mil fãs, isso seria em muitos casos suficiente para poder viver das suas criações. E isso seria bom, porque iria estimular a diversidade. Os criadores não teriam de trabalhar noutra coisa qualquer; poderiam entregar-se integralmente à sua música, ao seu software, aos seus livros. Não teriam de se preocupar muito com a chatice de saber como vão ganhar a vida — algo que só quem não viveu a vida toda à sombra da família ou do estado pode compreender. Poderiam dedicar-se a fazer o que melhor sabem fazer, e vender directamente o seu trabalho aos seus fãs. Não teriam de pensar em estratégias enviesadas para poder viver da sua música ou do seu software.
O sonho do Eldorado morreu cedo, com as cópias gratuitas sem pagamento aos autores. Mesmo que um criador faça algo que é usado quase diariamente por 20 mil pessoas, só 1% delas paga uns patacos voluntariamente. E isso não é suficiente para esse criador viver da sua criatividade. Terá de trabalhar numa universidade ou numa empresa — quer o seu trabalho tenha relação com a sua criatividade quer não. Isto é particularmente preocupante porque, historicamente, as pessoas que mais contribuíram para os avanços das ciências, das artes e da filosofia foram muitas vezes criadores independentes, que foram activamente excluídos das universidades. Como todas as instituições complexas e pesadas, as universidades e as grandes empresas tendem a repetir coisas, a ir por caminhos seguros, e não a ser inovadoras. A cópia gratuita sem pagamento aos autores produz monolitismo e estagnação porque os criadores independentes não podem viver do seu trabalho criativo. Para ter uma sociedade saudável e criativa é importante haver diversidade: criadores universitários, criadores empresários, criadores independentes. Defender que todos os criadores devem ser professores universitários, como se isso fosse uma coisa boa, é uma aberração.
Talvez não seja possível impedir as cópias ilegais. Mas aplaudir tal coisa, como se isso fosse um passo em frente para a humanidade, é uma palermice. Na verdade, é um salto atrás, e dos grandes. Um salto na direcção das grandes companhias ultrapoderosas, pois só elas sobrevivem neste tipo de economia. Um salto na mesma direcção que já foi seguida pela televisão aberta: os produtos são pagos pela publicidade, o que significa que somos bombardeados com publicidade a torto e a direito: hoje em dia, na maior parte da Internet falsamente gratuita, quase toda a largura de banda é consumida com publicidade. E quase todos os emails a circular no mundo são spam, que é apenas publicidade. No falsamente maravilhoso mundo digital gratuito, a publicidade impera. Chegará o dia em que um músico, para poder sobreviver sem trabalhar noutra coisa, tem de ser financiado pela Nike, e fazer publicidade à Nike no meio das suas músicas? Aplaudir este estado de coisas é uma das grandes ilusões do nosso tempo.
quarta-feira, 5 de março de 2008
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25 comentários:
Concordo plenamente com o raciocínio exposto.
Atrevo-me a aduzir uma outra razão para defender tal prática, que é uma certa ideia de poder e liberdade que se tem desenvolvido à margem de valores importantes e entre eles do direito à propriedade intelectual.
No entanto, se formos a ver bem, este comportamento nem é novo. De facto, ele só difere na forma e na escala da prática das reprografias da generalidade das universidades, onde , desde que existem fotocopiadoras, qualquer autor é copiado à saciedade com a “bênção” institucional .
Ou seja, a ruptura com o bom costume de respeitar a propriedade intelectual já estava feita...e os maus hábitos reproduzem-se facilmente.
Concordo com o post mas tambem temos que ver outros aspectos abordados, a maioria dos desenvolvimentos tecnologicos ou pertencem às grandes companhias ou são absorvidas pelas mesmas.
Eu gosto muito de ouvir musica, assim como toda a gente neste mundo e gosto de ouvir musica diversificada, mas não tenho posses economicas para comprar cds originais a toda a hora, nem filmes, nem software nem jogos nem outra coisa qualquer assim como a maior parte das pessoas do mundo, se há muita pirataria isso deve-se aos preços abusivos das coisas que são vendidas e que apenas 1 parte miserável vai para os autores, quem engorda são as multinacionais.
A questão da copia ilegal está mais na questão dos preços do que na questão do copiar porque é engraçado.
A publicidade serve tambem para viciar a sociedade em produtos que muitas vezes não pode comprar legalmente e por isso pirateia, é uma espada de dois gumes.
Depois temos que ter atenção à inovação tecnologica e aos abusos decorrentes da mesma, exemplo, um filme em vhs custava na moeda antiga três contos, um dvd com 1 filme que é muito mais simples de produzir e o material mais barato deveria custar o mesmo ou menos que o vhs, mas não com a ganancia das multinacionais custa mais, cerca de vinte cinco euros, quando os custos de produção são muito menores.
Se eles vendem 1 milhão de copias a esse preço, se baixassem o preço venderiam muito mais e teriam muito mais lucro.
Continuo a dizer que a o grande problema das copias ilegais é o preço dos produtos.
Não vou discordar. Vou apenas sugerir, focando apenas a minha experiência no caso dos livros, que tem havido pouca sensatez no incentivo ao download legal. Há uns tempos, em vez de encomendar um livro por via postal, decidi experimentar comprá-lo em versão digital. Deparei-me logo com um enorme absurdo: o preço era o mesmo. Isto não faz o menor sentido porque não há custos com o suporte físico. Enfim, mas lá fiz o download. Uma enorme complicação: só podia ler no meu próprio PC, só podia imprimir um número limitadíssimo de páginas, para poder ler noutro computador tinha de fazer um registo qualquer... Pouco tempo depois fui forçado a reinstalar o sistema operativo. Resultado: nunca mais consegui abrir o pdf do livro. Escusado será dizer, nunca mais repeti a experiência.
Pedro
Caro Manuel
A situação que descreve acontece apenas em países relativamente atrasados, que são sobretudo consumidores do que os outros produzem. Nas universidades inglesas que conheço não há essa fantasia das fotocópias piratas como em Portugal. Porque quando somos nós os criadores percebemos que a cópia pirata é um suicídio.
Caro Armando
O preço dos filmes e da música poderá ter alguma influência na pirataria, mas é diminuta. Por mais barata que seja a música ou os filmes, é mais barato ainda puxar de borla no bittorrent. E o argumento da falta de posses é muitas vezes hipócrita: falta de posses para comprar música, mas posses suficientes para ter computadores do último modelo, com todos os apetrechos caros, roupas caras e uma ligação à Internet de alta velocidade das mais caras, para poder puxar melhor a pirataria.
Acresce o seguinte: há na internet vários programas muito bons e baratos. Por vezes, os autores até deixam ao utilizador a escolha de quanto querem pagar pelo software. Ora bem, quantas pessoas pagam? É o mesmo número mágico: 1%, nas melhor das hipóteses.
Na verdade, se as pessoas não copiassem as coisas ilegalmente, as editoras discográficas não teriam qualquer problema em vender música na Internet -- e poderiam vender muitíssimo mais barato e mesmo assim ganhar o mesmo dinheiro ou mais. Mas com as cópias ilegais isso não é possível. Toda a atenção das editoras está no desenvolvimento de sistemas malucos como o dos iPods, que torna muito mais difícil (mas não impossível) a pirataria.
Em conclusão: grande parte das coisas más que temos hoje na nossa vida digital -- spam, publicidade, iTunes cheios de protecções irritantes, mais publicidade -- deve-se directamente à existência de cópias piratas de tudo e mais alguma coisa. Os livros ainda não foram muito afectados porque não dá muito jeito ler no computador livros inteiros. Mas lá chegaremos: há cada vez mais PDF ilegais a circular na Internet underground e se isto se generalizar acabam os livros que não sejam para 1 milhão de leitores -- isto é, os livros que em geral são lixo.
Caro Pedro
Tem toda a razão! Já me aconteceu o mesmo e acabei por desistir. Como eu disse na minha resposta anterior: essa é a resposta -- irrazoável -- dos editores. Procuram tornar a cópia difícil. E acabam por prejudicar as pessoas que pagaram, ao passo que os hackers e os criminosos que vivem do spam rapidamente eliminam todas essas protecções e metem de borla nos seus sites ilegais -- pejados de publicidade, pois é assim que eles ganham a vida.
Apesar de discordar com a "cópia pirata", parece-me que Desidério "culpabiliza" em demasia este acto. A simples eliminação deste acto lamentável não me parece que irá ter consequências tão benéficas como aponta mas será um forte contributo para os monópolios e oligopólios.
Se olharmos para factos vemos que as “cópias piratas” tem exclusivamente uma razão económica. Num país onde o salário médio ronda os 600 euros, acha mesmo que um português tem poder para comprar software original ao preço que se pratica no mercado?
Quanto à questão da música o problema não é das cópias, mas sim das editoras/distribuidas que são incapazes de ultrapassar o seu atraso tecnológico. Hoje qualquer músico coloca um excerto da sua música na Internet, grava CDs e vende-os por correio, neste contexto para que serve mesmo uma editora/distribuidora?
(E o recente problema dos argumentistasn nos EUA, será culpa das cópias ou das multinacionais?)
Quanto aos livros a questão é diferente, já que as platformas digitais estão longe de substituir o papel, (se alguma vez o vão fazer), no entanto temos as velhas fotocópias… É verdade que em Portugal se abusa das fotocópias, no entanto, basta olhar para bibliotecas universitárias portuguesas e vê-se que nem chegam aos calcanhares das suas cógeneres inglesas…. É curioso que também existem as “cópias autorizadas”, coisa que apesar de ter visto noutro país Europeu nunca vi em Portugal….
A “cópia pirata” é condenável, no entanto, não houve ideologia nem regime que desse mais cultura aos portugueses que este a distribuição pirata. Piazzola na sua juventude e probeza roubou uma cópia de uma pauta musical, acto condenável, mas quem tem coragem para condenar Piazzola?
"Quando oferecemos algo de graça na Internet e pedimos um donativo voluntário, só 1% aproximadamente dos consumidores paga"
Caro Desidério - este '1%' é um número baseado em estudos ou é apenas uma impressão sua? Pergunto porque não é nada essa a minha percepção. Sites como o Flickr (para utilizar um dos seus exemplos) parecem-me ter bem mais do que 1% de membros pagos - tentei procurar estatísticas oficiais, mas ainda não encontrei. E experiências recentes como o caso dos Radiohead também desmentem essa percentagem. Aliás, o caso dos Radiohead é bem interessante para esta discussão - ao disponibilizarem o último álbum ao preço que cada comprador escolhesse (incluindo o preço nulo) obtiveram um sucesso enorme e conseguiram fazer dinheiro. E para além disso, ainda colocaram o disco fisicamente à venda depois disso e voltaram a fazer dinheiro. Conheço muita gente que após fazer o download (pagando por ele em alguns dos casos), voltou a pagar para ter o objecto físico em casa.
Gostaria de acrescentar o seguinte... Foram poucos os autores/criadores que até hoje, viveram apenas das suas obras e os que fizeram na maioria dos casos viveram com dificuldades. Alguns exemplos:
1)A. Einstein enquanto desenvolvia as suas teorias, trabalhva no escritório de patentes.
2)Carlos Paredes foi tralhador num hospital em Lisboa enquanto compunha as peças.
3) Picasso pagou contas de café com quadros pois dinheiro já não tinha.
4) Pessoa quase não publicou enquanto vivo.
Será que hoje atingimos o "profissionalismo do criador" ou o "criador" já não quer pagar o preço da "sua obra"?
Caro Alvares
Obrigado pelo seu comentário, que me parece muitíssimo interessante. Talvez esteja mesmo na base de uma parte importante das posições de quem defende as cópias sem pagar ao criador.
No seu comentário fala de três artistas e de um cientista, com a ideia de mostrar que eles não puderam viver da sua criatividade. Isto é parcialmente falso, pelo menos para todos eles, pois viveram da sua criatividade, depois de se terem tornado famosos. Isso só não se aplica aos dois portugueses que cita (e é significativo que tenham sido portugueses).
Eu poderia acrescentar vários exemplos de pessoas que deram contribuições importantíssimas à humanidade — vivendo nas piores situações humanas, tendo de se sujeitar a trabalhos horríveis, por vezes passando fome e humilhação, para poderem ser criadores.
Mas a questão é esta: queremos que isso continue a acontecer? Sim, talvez. Dá um certo élan saber que o artista ou cientista ou filósofo é tão autêntico, tão autêntico, que passou as passinhas do Algarve para poder fazer o que depois todos agradecemos hipocritamente — desde que o agradecimento não envolva qualquer passagem de dinheiro da nossa carteira para a dele.
Mas para quem é assim tão engraçado essa situação do criador miserável? Para o criador? Não. Para o espectador. Para quem tem uma casa e um carro e um emprego certo e depois chega a casa, liga o computador último modelo carregado de software e música pirata, e declara: “Ah, estes criadores são mesmo autênticos! Um deles, para fazer este programa de compressão de dados, como não pode viver disto porque não lhe dou um centavo, trabalha num restaurante. E 20 mil pessoas como eu, se lhe dessem apenas um euro por ano, estragavam logo este élan, esta autenticidade! A vida é bela...” E depois o espectador desliga o computador, vai dormir e no dia seguinte, como não é um criador, vai para o seu emprego que dá dinheiro certinho ao fim do mês e que se corresse o risco de ficar sem ele por causa da cópia pirata, metia logo os sindicatos e os jornais e o mundo inteiro a protestar que isto assim não pode ser é tirar o pão da nossa boca tenho os meus filhinhos para criar.
Pois é.
E porque não virar a publicidade a favor do criador?
Acho que é uma solução mais do que justa. Já que ela nos inunda que o lucro venha para nós.
Podemos ver um vídeo de borla, ou sacar uma música de borla, se enquanto se faz o streaming, o pc passar um anúncio de 30 segundos.
O MSN já faz isso nos seus vídeos de notícias.
Eu não me importaria de ir ao sítio de um artista qualquer sacar a sua música, se para cada faixa tivesse de gramar com um anúncio sabendo que o lucro do mesmo revertiria em parte para o criador. Eu não me importo de a cada blogue que vou ler posts, clicar nas barras laterais de anúncios que lá estão. Talvez seja um samaritano dos tempos modernos.
Afinal de contas, também pus anúncios no meu blog e há pessoas que carregam neles. Um clique custa a alguém?
Acho que a publicidade pode ser um excelente meio de gerar receitas para o criador, sem grandes danos para o que usufrui.
O meu blog tem 75 visitantes por dia, dá-me em média 50 centimos por dia, porque 3 ou 4 clicam nos anúncios. Se eu tivesse 75 000 visitantes por dia, e consequentemente, 500 dólares por dia, se calhar conseguia viver só do blog. Da mesma forma, um criador que seja realmente um bom criador e que atinja uma margem razoável de visitantes, pode conseguir um lucro suficiente para as suas aspirações.
Caro Musicólogo
A publicidade é precisamente uma das respostas ao problema da cópia de borla. Foi por isso que surgiu o adware e o spam. E o caminho será cada vez mais esse, concordo.
Mas a questão é que não me parece que isso seja de aplaudir. É uma tanga e das grandes. Porque significa que 1) vamos viver rodeados de poluição publicitária, 2) a publicidade só é rentável se atingir muitos milhares de pessoas, o que obriga a fazer coisas popularuchas, tal e qual como na televisão aberta, no MSN, no Yahoo, etc., 3) os criadores estão a dar de comer às grandes empresas, quando poderiam constituir em si um mercado inteiramente independente da Nike, Apple, Microsoft e companhia. Você, como músico, poderia viver da música directamente, sem ter contribuir para o sucesso dessas grandes marcas, e sem ter de massacrar os seus fãs com publicidade — bastava que tivesse 10 mil fãs que lhe pagassem cada um 1 euro por ANO para lhe comprar 90 minutos de música. Não seria muito melhor?
Seria, claro. E isso é que seria o tal Eldorado que não vingou. O que me custa é que se aplauda isto, em vez de se dizer a verdade: é uma bosta.
Concordo integralmente com o Desidério. E atrevo-me apenas a avançar dois factos empírico.
Primeiro, hoje é mais rápido descarregar um ábum ou um filme da Internet do que ouvi-lo ou vê-lo. O ritual de comprar uma caixa, um pedaço físico, a que davamos valor porque custou dinheiro, desapareceu. Mas esse apego, esse valor que era dado ao objecto fazia muitas vezes o desfrute mais proveitoso. É esse mecanismo fornecido pelos preços que desapareceu.
Em segundo lugar, o último grande movimento musical foi o grunge de Seattle, no início da década de 90. Seguiu-se-lhe o pós-grunge, e a isso seguiu-se a... Internet. De lá para cá, vivemos um vazio total de qualidade na música. Os grandes músicos são os que já cá andam desde os anos 80 (vejam-se os The Cure, que vieram esgotar a data que têm em Lisboa), e as boas bandas novas contam-se pelos dedos de uma mão. Eu sei que é costume glorificar-se o passado e criticar-se o presente, mas neste caso parece-me incontestável que a música que hoje se faz é de fraquíssima qualidade. Senão, porquê o revivalismo 80's e 90's em festas, rádios, e nos gostos expressos por todos na própria Internet?
É incontestável o efeito que o Desidério refere. Sim, com a Internet democratizou-se o acesso à cultura, mas dificultou-se (em certos casos matou-se) a possibilidade de criar cultura nova de grande qualidade e em quantidade. Hoje, ou somos multinacionais ou somos amadores. E os exemplos do Pessoa, do Carlos Paredes ou de outros só mostram que é preciso uma "classe média" intelectual. A cópia pirata na Internet baniu-a.
Ricardo
Em relação as fotocopias de livros essas coisas maravilhosas! Para um estudante da classe media que esteja na faculdade e que ao longo do curso é capaz de ler mais de 50 livros diferentes (ou melhor ler os excertos dos livros) é impossível comprar todos os livros e com o preço das propinas sempre a aumentar!
Talvez depois quando já estiver a trabalhar poderei efectivamente comprar os livros, mas agora como estudante é impossível e o mesmo se aplica a musicas e software!
Caro Desidério,
muito bom texto. Não quer dizer que concorde com a sua solução, mas acho que tem razão. Tudo o que fazemos tem aspectos positivos e negativos; o Desidério aqui só invoca os negativos (eu prefiro considerar os positivos). Mas invoca bem.
De qualquer maneira, eu gostaria de o convidar a participar na discussão que se segue ao post http://5dias.net/2008/03/06/imagens-mentais/
(nos comentários ou com um texto aqui, como preferir). Não se amofine com o que lá escrevi sobre si...
Cumprimentos.
Caro Desidério:
Parece-me que não leu o meu comentário anterior. Não sou a favor da "cópia pirata", no entanto, acho que mais importante do que condenar o acto é compreendo-lo e corrigi-lo.
A justificação que apresenta, que a "cópia" tira o ganha pão do "criador" hoje em dia é falsa. Pela simples razão que quem tira o ganha pão do criador são os "intermediários", muitas vezes desnecessários e verdadeiros especuladores económicos. Basta ver quanto recebe um "galerista" por cada quadro que vende, comissões que chegam perto dos 40%, senão mais.
Outro exemplo interesante foi a recente greve dos argumentistas, que têm sido pagos pela distribuição online.
A "cópia" pode retirar "dinheiro" ao criador, no entanto estamos longe de isso ser significativo. A "cópia" tem profundas razões económicas de acesso à informação. Se a bibliotecas universitárias portuguesas tivessem a mesma qualidade das inglesas, haveriam tantas fotocópicas a circular em Portugal?
Se o poder económico fosse tão elevado como nos países nórdicos haviaram tantas músicas/filmes copiados?
Quantos CDs se compram num mês por 30 euros, o custo mensal de uma ligação à Internet em banda larga?
O que Desidério apresenta é um novo conceito da nossa sociedade o "criador capitalista". A escritora dos livros de Harry Potter tornou-se na primeira "escritora milinonária" apenas pela venda da sua obra. Não sou contra, nem a favor, apenas constato esta mudança na sociedade actual. Hoje temos cientistas dedicados em exclusividade ao acto cientifico e que vivem bastante bem, escritores milionários, etc...
No entanto, deixo-lhe a pergunta, será que um "criador" cujo o seu "ganha pão" depende exclusivamente da sua obra poderá ver um verdadeiro "criador"?
Desidério,
conhece certamente os estados do ciclo da perda emocional : choque/negação, raiva, negociação, depressão e aceitação.
Pois eu atrever-me-ia a dizer que o Desidério está actualmente no estado de raiva.
Ofereço-lhe este diamante em bruto para que se entretenha a (de)lapidar
http://www.openbusiness.cc/
talvez o ajude a passar rapidamente ao estado de negociação.
Leve os seus familiares consigo !
As (grandes) editoras/distribuidoras comem tudo e não deixam (quase nada). Inundam o mercado com os produtos sintetizados por elas, baseados em estudos comportamentais dos consumidores. A maioria da malta é demasiado sugestionavel pela publicidade e acaba por papar tudo. Grande parte dos artistas vive dos concertos ao vio e não da vendas. E os CD's não são nada baratos.
Que isto está mal, todos concordamos. Agora, partir daqui para dizer que cometer um acto ilegal é fixe porque estamos a lutar contra o sistema é que não. Dizer que não pagar por uma obra é uma maneira de ajudar o artista e a arte em si, é, como diz o Desidério, uma aberração hipócrita. Se querem ajudar os artistas peçam ao governo para tirar o IVA dos CD's. Ajudem os artistas a rebelarem-se contra as editoras até estas lhe darem uma percentagem justa dos lucros (oh, utupia!).
Usar publicidade para vender música não vai alterar o nível da qualidade musical. A Nike não patrocinará um Crumb porque é erudito, uma winehouse porque dá má imagem à marca, e assim por diante. Patrocinará a malta super-fixe, super-cool e super-jovem... Rsultado: Mais rhianna, mais d'zrt, mais tony carreira, avril lavigne e tudo o que venda, que é muito diferente de tudo o que é bom.
E essa coisa de um artista não poder viver da arte é toda muito bonita e muito romântica, mas apenas se for por decisão do próprio artista. "Ah, não consigo manter a minha honestidade artística porque o dinheiro gera uma espectativa em relação à minha arte", ok, tudo bem, arranja lá um trabalhinho que nã exija muito de ti e cria nos teus tempos livres. Mas obrigar toda a gente a ser assim é smplesmente uma parvoice e uma hipocrisia para quem brada a liberdade e a democracia do file sharing.
Caro Álvares
Não respondi ao seu comentário porque me parece que já respondi no próprio texto.
Não estou a culpabilizar a cópia pirata; não fiz qualquer apreciação moral dessa prática. Limitei-me a tentar explicar as consequências económicas que ela tem. Nada mais.
Eu acho perfeitamente compreensível que as pessoas prefiram pagar zero a pagar dez. Mas não me venham com discursos falsamente moralistas e libertários de que estão a contribuir para uma sociedade mais livre e aberta e democrática. Não estão. Estão apenas a ser egoístas, como é comum na espécie humana, e com isso a tornar impossível que os pequenos criadores possam viver do seu trabalho criativo. Você mesmo até acha que um “verdadeiro” criador não deve poder viver do seu trabalho. Porquê? Quer dizer que se uma pessoa gostar de mecânica de automóveis, pode viver disso; se gostar de dar aulas, pode viver disso. Mas se tiver o azar de gostar de música, tem de ser taxista.
Eu não estou sequer a discutir a imoralidade desta mentalidade aristocrática. Estou só a dizer que essa é a sociedade que temos cada vez mais: os pequenos criadores não podem viver do seu trabalho, as grandes empresas têm cada vez mais poder. Eu só estou a dizer que esta é a realidade e esta realidade não se harmoniza com os discursos muito ecológicos e politicamente correctos e libertários e meio anarquistas associados ao Open Source e ao Freeware e ao Bittorrent. O que eu estou a dizer é que estas pessoas são ignorantes, não pensaram bem na sustentabilidade económica das coisas e estão a contar lérias. O futuro digital não é melhor do que o passado analógico e pode até ser pior. E tudo por causa da cópia pirata. Não se trata de culpabilizar as pessoas; trata-se de explicar-lhes qual é a consequência disso que fazem.
As consequências económicas da cópia ilegal são as seguintes:
1) Os criadores independentes não podem vender a sua música na Internet, mesmo que seja por preços ridiculamente baixos, porque isso torna ainda mais fácil a cópia pirata.
2) Só as grandes empresas podem dar-se ao luxo de financiar os criadores porque têm esquemas de financiamento baseados na lei do 1% de pagantes. A consequência disto não é apenas a inexistência de criadores independentes, mas o tipo de criadores que serão apoiados pelas grandes empresas: têm de ser criadores que atinjam milhões de pessoas, para poderem ser lucrativos.
3) Os preços da música e do software não baixam como deveriam baixar se não houvesse cópias piratas. Sem cópias piratas seria muito fácil aos pequenos criadores competirem com as grandes empresas: punham o seu produto à venda na Internet, e como não têm custos gigantescos como as grandes empresas, poderiam vender por um décimo do preço. Imagine-se um criador de software. Faz um programa melhor do que as versões comerciais que custam 100 euros. E ele faz as contas e põe à venda por 10 euros. Porque tem razões para pensar que tem pelo menos mil clientes por mês — uma ninharia insustentável para a Adobe Systems Incorporated. Mas para ele é perfeitamente sustentável. E o que acontece? Compete de uma maneira incrível com a Adobe. E é claro que outros criadores farão a mesma coisa. Em vez de termos uma Adobe monstruosa e megalómana, teríamos vários criadores independentes competindo entre si e deitando abaixo as grandes empresas à americana. Mas nada disto pode acontecer por causa da cópia pirata e da mentalidade borlista da internet. O gajo mete o software à venda por uma ninharia, e três horas depois está uma versão pirateada no Bittorrent — que a malta depois puxa, usa, e proclama que está a contribuir para uma sociedade melhor. Isto é das coisas mais estúpidas do nosso tempo, que é pródigo nelas.
Parece que houve pessoas que ainda não perceberam algo: ninguém copia porque é fixe, as pessoas copiam porque não têm dinheiro para pagar, tão simples quanto isto!
Um dia que o salário médio português atinga o dobro ou o triplo do actual o gasto em cultura será superior e a quantidade de cópias baixará.
(A educação nisto tem um papel de extrema relevância...Pessoalmente ninguém me tira o prazer de uma bela ida ao cinema...)
Os originais não deixam de ter a sua saida comercial, qualquer pessoa sabe isso. Se a "cópia" tivesse um efeito tão dramático como se tenta passar, hoje não se vendiam CDs nem livros, o facto é que se vendem. Os concertos e os cinemas estariam vazios, o facto é que continuam encher salas, etc....
A diferença é as pessoas procuram dar dinheiro directamente ao artista/criador, não só porque é mais "ético" mas porque lhes sai mais barato. Os intervenientes no processo de comercialização são menores e o custo baixa!
Quanto aos pequenos artistas não poderem venderem as suas obras, pelas novas tecnologias parece-me falso... Basta ir ao MySpace e ver quantos pequenos grupos colocam excertos das suas músicas online....
Por outro lado, a ideia de quem mais perde com as "cópias" são os pequenos artistas parece-me totalmente falsa. Quem mais perde são os artistas de massas que mais facilmente vêm as suas obras "copiadas" e que por outro lado vêm a sua "obra" mais esgotada... Tal como se facilmente se copia, também se apaga....
E já agora deixemos de lado agora mais umas quantas ideias inocentes....
1)As "cópias em massa" não são de hoje, existem desde os sistemas de fita magnética,e,g., vhs e audio tape.
2)Muitas empresas ganham com as "cópias".... Quanto acham que facturam as empresas de material informática por este facto?
E os artistas?
Já pensaram que o famoso grupo "Gato Fedorento" chegou em parte onde chegou devido à quantidade sketchs copiados na Net?
E os Dvds deles, deixaram de ser vendidos por causa disso?
O facto, por muito que custe aos mais puristas, é que a consequência da "cópia", como muitas coisas na vida, é uma moeda de duas caras, apresenta um lado positivo e um negativo.
Quanto ao software, o caso muda de figura.... São raros os casos onde o lucro de software vem do utilizador caseiro, em geral vem da sua utilização comercial. O software para o utilizador comum tem sempre uma estrégia muito fechada por detrás. Porque cada computador vem com um Windows? Porque não se pode desenvolver programas para o iPhone?
Já agora chamo a atenção para uma ideia errada... Ninguém vai fazer um software melhor por menos dinheiro relativamente ao já existente. As grandes empresas têm centenas de trabalhores em todo o mundo a fazer um determinado software e isso tem um custo mas também tem uma qualidade....
Não sou defensor do modelo OpenSource porque acho demasiado "utópico", no entanto, existem já alguns modelos hibridos de licenciamento... Basta ver o Google Earth ou o MySQL, que permitem uma utilização "caseira" gratuita mas uma versão para empresas, mais completa mas um determinado preço.
E no software não podemos esquecer a questão das patentes americanas....
Há questões a serem clarificadas, o desiderio disse que os preços são elevados porque há copias piratas e as empresas precisas vender muito para recuperarem desse prejuizo das copias ilegais, mas dou o exemplo da microsoft, esta empresa vende por ano milhões de copias do windows, office e outros programas a preços astronomicos, não poderia vender-los mais baratos?
Aqui não a podem desculpar, trata-se de ganancia pura e simples! E depois há outra questões sobre as multinacionais, estas ao contrario do que seria de esperar, não nivelam a nivel do mercado, vejamos o exemplo da vodafone, em portugal por um serviço oferece x, em espanha ao lado onde os custos são semelhantes ou mais caros oferece o mesmo serviço por menor preço, porque não oferece pelo mesmo preço? O mesmo se aplica aos cds de musica, não sei bem qual a difença entre os dois paises mas sei dizer que em portugal 1 cd de musica que sai fica enternamente ao mesmo preço até ser vendido e em espenha ao fim de 1 tempos baixa de preço.. As multinacionais por serem isso mesmo jogam com as condicionantes de mercado, elas são os porcos de engorda do capitalismo, os nefastos intermediarios do sistema.
Então se a internet está tão desenvolvida porque não a usam os artistas para divulgar e vender a sua musica e os seus produtos sem intermediarios?
Aqui diria que os artistas não se actualizaram de forma a venderem o seu produto sem intermediarios, porque teoricamente isso é possivel.
Eu volto a dizer que não defendo a copia pirata, tambem assumo que a faço, mas tambem digo que não me importava de pagar 1 preço justo dentro das minhas posses pelo produto, mas as multinacionais não tem isso em consideração, para elas o mundo tem 1 só economia a do cifrão e esquecem-se das realidades nacionais.
Eu falo por mim, se as coisas fossem economicamente acessiveis eu não faria copias ilegais porque obviamente prefiro o original pois por vezes a copia vem em más condições ou danificada ou incompleta..
Em parte é uma questão de civismo mas em parte 1 questão económica.
Se realmente querem que isto termine então façam 1 coisa, destruam a internet mundial, ela que deixe de existir pois as copias ilegais não me parece que vão deixar de existir, 1 jogo de pc ou playstation a 50 euros, 1 cd de musica a 15 e 1 filme a 25 e software entre 100 e mais de 500 poupem-me mas para o nosso pais e para o nosso custo de vida isso chama-se roubo..
curiosa referencia a Bach. eu comecei a ouvir musica barroca influenciado por um senhor que era maestro e me deu uma ou duas copias ilegais de discos que tinha , continuei a descarregar ilegalmente musica barroca, mas depois de fazer a aprendizagem e saber o que era uma cantata, ou um concerto grosso passei a comprar a musica em suporte fisico.
O problema é que levei dois anos a aprender, se não fosse a net eu nunca teria comprado um unico cd.
A musica «classica» beneficia da net porque chega a muito mais gente e se formos pela regra do 1%, vai haver muito mais gente a aprender o que é o barroco e a comprar o suporte fisico
seguindo a linha do satanucho, pode ser que quem vai buscar a copia gratuita acabe por frequentar os concertos onde deixara' o dinheiro.
Qual e' o resultado liquido? Sera' que o numero de candidatos a frequentar concertos pagantes aumenta com o acesso livre 'as copias na Net?
MP-S
Na realidade o objectivo dos nerds (tal como referidos no artigo) é democratizar o acesso à música, literatura, e demais media. E o fenómeno é justamente ao contrário do que diz. As empresas mega-poderosas como as editoras musicais é que se vão ressentir, definhar e morrer. Hoje em dia actuam como simples intermediários, interessados não na qualidade ou na originalidade, mas sim no próprio lucro.
Dá o exemplo de Bach, é um bom exemplo. Toda a gente devia poder ouvir os clássicos, ler os clássicos, sem ter de pagar a empresas monopolistas que detêm os direitos.
Quanto aos artistas que têm de ganhar a vida, podem fazê-lo a dar concertos, conferências, através da publicidade (veja-se o modelo de negócio dos blogs de opinião e do youtube).
Se não está convencido, devia abrir os olhos para experiências recentes de comercialização de música sem intermediários. Os Radiohead puseram à venda o seu último álbum "In Rainbows" na Internet, o preço era o comprador que o escolhia. Mais recentemente os Nine Inch Nails disponibilizaram o seu trabalho de forma gratuita, vendendo de forma separada vários packs com a música em formato físico. O pack mais caro, esgotou em pouco mais de um dia, fazendo $750 000 para o autor.
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