segunda-feira, 31 de março de 2008

Capacidades precoces







Quando aprendemos a distinguir o certo do errado? Qual o papel da formação e educação na nossa estruturação de valores? Sendo seres profundamente sociais, os membros da nossa espécie necessitam de aprender rapidamente o que fazer ou não e com quem estabelecer cooperação. Será possível que já nasçamos dotados de um conjunto de regras simplificadas que serão posteriormente modeladas e ajustadas? Ou tudo resulta de um longo processo de aprendizagem social?

Uma investigação recente com bebés de 6 e 10 meses, publicada na Nature em Novembro último, revela que algumas capacidades de avaliação social estão instaladas tão precocemente como os seis meses de vida. Tudo indica, pois, que já nascemos dotados de algumas capacidades de avaliação social.

Os investigadores apresentaram aos bebés uns filmes simples em que se observa uma figura geométrica com olhos (círculo vermelho), simbolizando uma pessoa, a tentar subir um monte e a escorregar, numa tentativa sisifiana de chegar ao cimo. Seguidamente, outro interveniente – outra figura geométrica com olhos, um triângulo, por exemplo – coloca-se por trás da primeira e ajuda-a a subir até ao cimo do monte. Noutra situação, uma outra figura (quadrado azul) coloca-se do lado superior e empurra o nosso sísifo para baixo, prejudicando-o e impedindo-o de subir o monte. A história torna-se interessante a partir daqui.


Depois destas sessões, os investigadores apresentaram bonecos semelhantes aos que se observaram nos filmes e deixaram que os bebés interagissem com eles. E estes escolheram para brincar sistematicamente o ‘ajudante’ em vez do ‘maldoso’.


Esta experiência não permite decidir se há uma apreciação assente apenas no contexto ou se há uma avaliação baseada na intencionalidade do agente. Poderia ser uma situação em que o quadrado cai em cima do círculo e este escorrega sob o peso. Neste caso não há intencionalidade. Para decidir se se trata de uma resposta contextual ou assente na intencionalidade, optou-se por apresentar uns filmes semelhantes aos anteriores, mas em que o circulo vermelho não tem olhos. Neste caso o contexto é o de um triângulo com olhos a empurrar um círculo para cima e, numa segunda cena, um quadrado azul com olhos a empurrá-lo para baixo. O círculo vermelho não representa um agente, já que não tem olhos.






Se estiver em causa apenas uma preferência por subidas como possível explicação dos resultados anteriores, as crianças não devem alterar as suas preferências. Se estiver em causa uma apreciação de intencionalidade social dos agentes - o triângulo amarelo ajuda e o quadrado azul prejudica – então é de esperar que as crianças deixem de preferir um dos bonecos relativamente ao outro se eles se limitam a empurrar uma ‘bola’ vermelha que não é um agente. E é precisamente o que acontece.

Quando o círculo se apresenta com olhos e é ‘ajudado’ ou ‘prejudicado’, os bebés têm uma preferência clara por brincar com os bonecos ‘ajudantes’. Quando ao círculo é apenas um objecto movimentado pelos agentes, não mostram qualquer preferência. Escusado será dizer que trocar as formas ou cores dos vários intervenientes não tem qualquer efeito.

O que estes resultados nos mostram é que mesmo numa fase pré-verbal, um bebé consegue avaliar diferencialmente quem realiza actos socialmente positivos ou negativos. E faz essa avaliação mesmo sem estar envolvido: tratou-se de uma interacção entre terceiros. Esta capacidade pode constituir um elemento basilar da elaboração de conceitos mais abstractos de certo e errado, que se desenvolverão mais tarde com a experiência social de cada um. Não é que a aprendizagem não seja importante, já que ela vai modelar esses conceitos. Mas, estes resultados mostram que nos envolvemos em formas de avaliação social bem mais cedo do que se pensava e que essa matriz vai ser determinante das classificações que atribuímos às acções dos outros.

8 comentários:

Anónimo disse...

O círculo vermelho não representa um agente, já que não tem olhos.

É preciso ter bastante admiração pelos argumentos de chacha que estes aldrabões utilizam só para sacar o dinheiro da bolsa de investigação.

O que estes resultados nos mostram é que mesmo numa fase pré-verbal, um bebé consegue avaliar diferencialmente quem realiza actos socialmente positivos ou negativos. "
Chamar a isto uma experiência científica é um insulto a quem realmente fez e faz ciência.


Claro que ainda demonstra mais. Demonstra que o bebés gostam de subir e já nascem com a noção do que é a gravidade e que é má.

Resta agora encontrar o gene que determina este comportamento e a explicação darwinista para a sua existência.

JSA disse...

A explicação em termos de evolução é simples: há uma predisposição em organismos complexos capazes de interacções sociais para a ajuda para com os vários elementos do grupo. Essa acção aumenta as possibilidades de sobrevivência do grupo e, consequentemente, dos seus indivíduos.

Em relação aos bebés também é simples: da mesma forma que aprendem a sorrir muito cedo para promover a interactividade e a afectividade dos pais, também aprendem rapidamente os mecanismos mínimos de interacção social, porque esses são os que permitem que sejam mais facilmente aceites no seio do grupo. Isto é tanto mais importante porque os seres humanos são, se não me engano, os mamíferos que nascem com o menos avançado estádio de desenvolvimento. Como li em tempos, um bebé recém nascido não mais é que um feto viável. Como tal, tem de desenvolver rapidamente mecanismos que lhe garantam a sobrevivência no grupo em que se encontra para que cuidem dele e possa sobreviver.

Já agora, esta frase «Demonstra que o bebés gostam de subir e já nascem com a noção do que é a gravidade e que é má» só demonstra falta de literacia. Leia lá o post e depare com a parte que diz «Quando o círculo se apresenta com olhos e é ‘ajudado’ ou ‘prejudicado’, os bebés têm uma preferência clara por brincar com os bonecos ‘ajudantes’. Quando ao círculo é apenas um objecto movimentado pelos agentes, não mostram qualquer preferência». Percebe ou é preciso metê-lo no explicador? Olhe que as crianças percebem bem...

Anónimo disse...

« só demonstra falta de literacia. Leia lá o post e depare com a parte que diz «Quando o círculo se apresenta com olhos e é ‘ajudado’ ou ‘prejudicado’, os bebés têm uma preferência clara por brincar com os bonecos ‘ajudantes’»

Aparentemente para si nem com explicadores lá ia e muito provavelmente vai continuar sem ir:

«Os investigadores apresentaram aos bebés uns filmes simples em que se observa uma figura geométrica com olhos (círculo vermelho), simbolizando uma pessoa, a tentar subir um monte e a escorregar, numa tentativa sisifiana de chegar ao cimo. Seguidamente, outro interveniente – outra figura geométrica com olhos, um triângulo, por exemplo – coloca-se por trás da primeira e ajuda-a a subir até ao cimo do monte. Noutra situação, uma outra figura (quadrado azul) coloca-se do lado superior e empurra o nosso sísifo para baixo, prejudicando-o e impedindo-o de subir o monte. A história torna-se interessante a partir daqui.»

O ajudante é definido como o que ajuda a subir. Percebeu? Existe uma identificação do que é ajudante com o que facilita a subida e do que impede a subida com maldoso.

«Quando o círculo se apresenta com olhos e é ‘ajudado’ ou ‘prejudicado’, os bebés têm uma preferência clara por brincar com os bonecos ‘ajudantes’.»

Qualquer pessoa capaz de ler português e com a capacidade intelectual de uma criança de 5 anos consegue interpretar isto, mas aparentemente para estudantes de doutoramento (numa qualquer área da treta como o seu discurso claramente evidencia) é pedir demais.


«da mesma forma que aprendem a sorrir muito cedo para promover a interactividade e a afectividade dos pais, também aprendem rapidamente os mecanismos mínimos de interacção social, porque esses são os que permitem que sejam mais facilmente aceites no seio do grupo.»

Antão explique lá a vantagem evolutiva da depressão pós-parto e da extrema dor envolvida no parto para eu me rir mais um bocadinho.
Aposto que já deve ter lido outra história da carochinha sem qualquer poder predictivo para justificar isto também.

Anónimo disse...

"Antão explique lá" => "Então explique lá"

Gralha. Peço desculpa pelo erro de edição.

JSA disse...

«para estudantes de doutoramento (numa qualquer área da treta como o seu discurso claramente evidencia)». Um aoutra coisa que evidencio é a capacidade de assinar os meus comentários.

Vamos lá a ver se lhe explico isto com calma que estou a ver que a sua capacidade está mesmo muito fraquinha (as outras crianças de cinco anos já teriam percebido isto). O caro anónimo diz «Demonstra que o bebés gostam de subir» o que implica que a pesquisa não demonstraria nada de especial. Os bebés gostam de subir e pronto. Mas o que a pesquisa demonstra é que os bebés só gostam de subir quando o objecto que sobe tem olhos, ou seja, é humanizado. Noutras situações não têm preferência especial. Uns escolhem subir, outros escolhem descer.

Só que depois, no seu segundo comentário, o anónimo já vem dizer «Existe uma identificação do que é ajudante com o que facilita a subida e do que impede a subida com maldoso», que é precisamente a conclusão da pesquisa. Ou seja, para si a pesquisa em si é irrelevante. Aquilo que procura é apenas a polémica parva. Como não estou para isso, vá você ler alguma coisa sobre o assunto e procure as razões para depressões pós-parto. Quanto à extrema dor, digo-lhe apenas que nem todas as mudanças evolutivas são vantajosas para todos os aspectos da fisiologia do organismo. Isto não o deve fazer pensar muito (apenas em como inventar mais uma treta qualquer para insultar anonimamente os outros), mas fica a sugestão.

JSA disse...

PS - não se preocupe com o erro de edição: todos os cometemos. Não o vou atacar por isso.

perspectiva disse...

Paulo Gama Mota diz:

"O que estes resultados nos mostram é que mesmo numa fase pré-verbal, um bebé consegue avaliar diferencialmente quem realiza actos socialmente positivos ou negativos."

Qual é a surpresa? A Bíblia diz que os seres humanos foram criados à imagem e semelhança de um Deus moral. Só quem desconhece esta realidade é que pode manifestar algum espanto face àqueles resultados.

Aqualung disse...

Ouvi no Clube de Jornalistas um dos convidados afirmar que um indivíduo ateu ou agnóstico não pode ser acusado de ser desprovido de moral mas o facto de pertencer a uma religião legitima um outro tipo de moral porque esta é partilhada por uma população.

Penso que foi o Padre Peter Stilwell quem afirmou tal barbaridade.

Por outro lado, penso que foi Santo Agostinho quem afirmou que a inocência das crianças apenas se deve à fraqueza dos seus membros.

Deus moral, que diz que devemos matar as mulheres dos nossos inimigos derrotados mas não as virgens, essas podemos guardar para nós...

Under God's direction, Moses' army defeats the Midianites. They kill all the adult males, but take the women and children captive. When Moses learns that they left some live, he angrily says: "Have you saved all the women alive? Kill every male among the little ones, and kill every woman that hath known man by lying with him. But all the women children, that have not known a man by lying with him, keep alive for yourselves." So they went back and did as Moses (and presumably God) instructed, killing everyone except for the virgins. In this way they got 32,000 virgins -- Wow! (Even God gets some of the booty -- including the virgins.) 31:1-54

http://skepticsannotatedbible.com/num/31.html#1

O corpo e a mente

 Por A. Galopim de Carvalho   Eu não quero acreditar que sou velho, mas o espelho, todas as manhãs, diz-me que sim. Quando dou uma aula, ai...